Uma Surpresa de Natal — ShortFic. escrita por Woodsday


Capítulo 4
Capítulo IV. – O fantasma do Natal Futuro.


Notas iniciais do capítulo

Ei girls, quero me desculpar - sinceramente -, pela demora da postagem, eu tinha planejado postar no sábado passado, porém, meu computador não concordou com essa ideia. Lamento mesmo a demora. Mas enfim, está aí.
Logo mais, vem o epilogo e quem sabe, um bônus. Enfim, espero que curtam o capítulo, e perdoem os erros e afins, eu ainda não procurei uma beta e estou tentando deixar o mínimo de erro pra vocês. Bom, aproveitem, comentem e recomendem?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/444814/chapter/4

– Nos encontramos de novo garoto. – A voz soou da poltrona ao pé da minha cama, e eu massageei as têmporas sabendo que teria que aguentar por um bom tempo o humor negro do velho Masen. Ele agora estava vestido elegantemente com um smoking, porém ainda segurava o charuto entre os dedos, e para minha confusão, um charuto apagado.

– Pois é. – Resmunguei desanimado. Definitivamente, essa viagem seria mil vezes pior do que as outras. – Você não devia, sei lá, estar vestido com um manto preto e ter um dedo esquelético apontando para as coisas? – Perguntei tentando conter o tom debochado da minha voz, sem sucesso, claro.

– Isso é para os filmes garoto. Filmes! – Ele se levantou e caminhou até o pé da cama. – Agora levante essa bunda branca daí, que temos muita coisa pra ver ainda. – Ordenou impacientemente e eu revirei os olhos me levantando e passando os dedos pelo cabelo.

– É muito ruim?

– Você está ferrado, garoto. – Ele sorriu com uma pitada de ironia e eu gemi internamente. – Agora feche os seus lindos olhos.

Bufei e obedeci ao seu comando, abri novamente os olhos assim que o som de talheres e de crianças invadiu meus ouvidos. Estávamos em uma festa, uma festa de casamento, eu encarei ao redor a procura de quem seriam os possíveis noivos e me surpreendi, assim que notei a noiva caminhar saltitante em nossa direção. Bom, não exatamente em nossa direção, mas sim do homem que estava atrás de nós.

– Espera... – Comecei chocado, tentando formular a frase para que ela saísse da minha boca. – Mike se casou?! – Praticamente guinchei.

O velho Masen deu dois tapinhas em minhas costas.

– É, ele casou. Desde o colegial o cara teve uma pequena queda pela bonitinha ali, e então, com você fora da jogada... – Eu arregalei os olhos em direção ao meu avô e o velho Masen gargalhou. – Não, você não morreu... Ainda. Mas estava preocupado demais em construir um império, então ele pôde se aproximar da Stanley sem correr o risco dela ir parar na cama do poderoso Cullen.

– O que?! Eu nunca pegaria a garota de Mike. – Resmunguei, observando ele e Jéssica se abraçarem e em seguida darem um selinho animado.

– Ah garoto, mas você já pegou. Três na verdade, o coitado ficou arrasado, mas ainda se manteve do seu lado. Ele não gostava tanto assim das garotas. – O velho Masen deu de ombros e eu o encarei chocado.

Eu não faria isso com Mike? Faria?

O velho sorriu para mim, quase em consideração.

– Relaxa agora, olhe só para ele agora, ele está feliz e pronto. E ainda terá três filhos, lindas crianças devo dizer, viverá até aos 80 anos, quando irá morrer por pneumonia, dois anos depois Jéssica também o fará.

– Mesmo? – Perguntei debilmente. Minha voz soou mais alta que o normal, devido ao som alto da música que tocava no salão.

– Claro, terão 9 netos, crianças espetaculares! Duas dela serão médicas. – Ele entortou os lábios quase em orgulho, e eu me mantive em silêncio, ainda sem saber direito o que falar. Porém, apesar de ainda estar chocado com as últimas revelações, eu fiquei feliz por Mike e Jéssica, Mike com toda certeza merecia a felicidade, eu ainda podia me lembrar da cena que presenciei na sala de sua casa, junto da Sra. Newton. E agora, vendo-o dançar com Jéssica, me senti internamente aquecido por ver que ele encontrou alguém com quem dividir toda a vida.

– Eu estou aqui? – Perguntei ao velho Masen, era uma pergunta completamente inútil, claro que eu estava aqui, eu jamais perderia esse momento da vida de Mike, estávamos sempre juntos...

– Não. – O velho Masen cortou meus pensamentos, e eu o encarei, franzindo as sobrancelhas em confusão.

– Não?

Ele balançou a cabeça negativamente.

– Por que?

O velho Masen deu um sorriso debochado e ergueu o charuto como se fizesse um brinde, e eu arqueei uma sobrancelha, estava impaciente pelo motivo.

– Porque como eu, meu caro. Você estava ocupado demais com negócios. – Ele respondeu e logo me deu as costas caminhando pela festa em direção a uma das portas dos fundos. Eu respirei pesadamente por um minuto e passei a mão pelos cabelos.

– Mas que droga. – Sussurrei para mim mesmo e me apressei para alcançar o velho Masen. Assim que atravessamos a porta, todo o som se cessou e estávamos agora em um hospital, era um corredor silencioso, exceto por meia dúzia de pessoas, pessoas estas que reconheci como minha família.

Emm andava de um lado para o outro, enquanto passava a mão pelos cabelos, meu pai o acompanhava com os olhos, e os cabelos loiros já estavam quase brancos, assim como os olhos e mãos continham algumas rugas em evidência. Esme, também com alguns fios brancos estava sentada ao lado de uma garota, de talvez quatro ou cinco anos, a garotinha de cabelos cacheados e castanhos balançava os pés para frente e para trás, ansiosamente.

– Quem é ela? – Apontei para a garotinha.

– Melissa Cullen. – Respondeu ele, e eu observei seus olhos sorrirem em direção a Melissa, que ergueu uma das mãozinhas e acenou diretamente para nós. Abri a boca chocado.

– Ela pode nos ver? – Perguntei em um fio de voz, ainda fitando a garotinha que nos encarava como se fosse uma cena comum do dia-a-dia. Talvez fosse.

– Melissa é especial, não é como as outras crianças. Será uma grande mulher. – Sorriu satisfeito, e então olhou para mim novamente. – Ela é a filha de Emmett e Rosalie, tem oito anos de idade. Você não a conheceu, porque abandonou completamente a sua família, e agora, seu irmão está ali, esperando pelo nascimento das próximas filhas. Gêmeas. - Ele sorriu animado, porém, tudo que eu já havia parado de ouvir.

– Eu... Fiquei tudo isso sem vê-los?

– Ficou, Edward. Você renegou os próprios pais em um evento beneficente, e então, eles nunca mais se intrometeram em sua vida, e você não os procurou para pedir desculpas.

– Isso é horrível... – Murmurei encarando Emm sorrir para o médico que havia se aproximado dele e do papai. – E a Bella? – Perguntei temendo a resposta.

– Calma filho. Chegaremos nessa parte. – Respondeu seriamente e começou a caminhar pelo hospital, Melissa ainda acenou se despedindo e eu respondi seu gesto meio cambaleante. O velho Masen caminhou mais um pouco pelo longo corredor e nós entramos em uma nova porta, era uma sala de balé, onde uma garotinha dançava, ela tinha os olhos azuis e os cabelos eram negros, era uma coisa fofa e carismática.

– Quem temos que ver aqui?

O velho Masen apontou para as primeiras fileiras com a cabeça, e eu vi Ang ao lado do namorado, eles estavam de mãos dadas e Angela observava a garotinha com um sorriso bobo nos lábios.

– Espera, Ang é mãe?! – Perguntei chocado.

– Na verdade, ela é mãe pela terceira vez, mas você não poderia saber disso, primeiro porque deixou de prestar atenção nas palavras da sua amiga, e também porque na tarde do recital da filha de Angela, você a despediu.

– Eu a despedi? Por que eu faria isso com Angie? – Indaguei realmente - e mais uma vez - confuso, encarando meu avô, ele sorriu debochadamente.

– Porque, apesar de você ter se tornado um quarentão resmungão, cruel, inflexível, frio, arrogante...

– Tudo bem, entendi. – Ergui as mãos, fazendo-o se calar e ri. – Eu me tornei uma pessoa horrível, por isso despedi Angela?

– Não, a despediu, porque ela não quis faltar ao recital da filha para ir a Londres com você.

– Eu fiz isso? – Me espantei comigo mesmo, no diabos eu havia me tornado? Que tipo de homem eu era? Em um tipo de pessoa que faria isso com Angela? Justo Angie? A quem eu sempre havia considerado como uma irmã mais velha. Será que eu havia perdido todos os meus valores? Não era possível. – Eu não fiz isso. – Neguei sem ter total certeza em minha voz. Infelizmente, eu já não sabia mais que tipo de pessoa eu era no futuro.

– Você fez. Mas isso é passado... Ou melhor, futuro. – Ele começou em tom sombrio e logo em seguida de um sorrisinho, pela piada sem graça, que eu realmente não havia entendido, suspirei infeliz. – Futuro? Não entendeu? Futuro, passado, eu aqui... – Ele ainda tentou mais um pouco e eu neguei com uma careta, não fazia o mínimo sentido. – Bom, porque não vamos até as próximas pessoas uh? Aposto que elas tem muito mais a oferecer.

– Quem veremos agora? – Perguntei realmente temendo a ideia do que meu futuro representava, e agradecendo ele ter desistido da ideia das piadas.

– Veremos sua querida e doce, Isabella. – Abriu um sorriso enorme e cheio de sarcasmo e eu revirei os olhos. Realmente, vovô pensava estar em um circo, ou melhor, eu estava em um circo dos horrores, e o velho Masen, era o apresentador da atração principal. Minha vida, desgraçada por mim mesmo. – Isabella, como parte da sua vida, terá uma aparição especial essa noite. – Ele disse depois de um momento, as luzes do teatro, foram se escurecendo lentamente, e então, tudo não passava de um breu, eu não via e tampouco sentia alguma coisa.

– O que quer dizer com, especial? – Perguntei depois de um momento, sem ter certeza que o velho ainda estaria ali para me responder.

– Quero dizer, que não veremos um único fato de sua vida, mas sim dois ou três, eles o ajudarão a encontrar o caminho, e principalmente, a dar o valor certo a ela, porque a cada segundo da vida de Isabella, ela estava ligada á você.

As palavras ditas por ele, pareceram pesar quilos no ar, como se do nada a situação tivesse tornado mais tensa e preocupado.

Eu assenti inutilmente e as luzes começaram a se clarear na mesma proporção que escureceram, lentamente. O que me ajudou a focar a vista, não houve aquele incomodo de um clarão repentino.

Conforme a luz se instalava no local, eu pude começar a ver com clareza o lugar onde eu me encontrava. Era uma casa diferente, não parecia a casa de Esme e Carlisle, ou a da Charlie e Renné, mas eu sabia que tinha haver com Bella, então talvez fosse a sua própria casa, ou a de Lahote. Provavelmente a primeira, desde o colegial Bella dizia que gostaria de ter sua própria casa, mesmo que fosse perto dos pais. O lugar onde nos encontrávamos era uma cozinha grande e ampla, e fazia sol lá fora, um sol radiante nada característico de Forks, eu encarei pela janela as diversas árvores rodearem o lugar, e abaixo da enorme janela, um canteiro de tulipas das mais variadas cores, acompanhados de alguns anões e tartarugas, de enfeite, claro. Isso ainda não tinha ficado completamente absurdo.

– Claire, pode por favor, pedir também uma remessa de bonecos de casamento? – A voz invadiu a cozinha e eu a observei entrar, vestida com um traje cozinheiro, e os cabelos preto em um rabo de cavalo firme. Ela tinha uma expressão dura, as sobrancelhas franzidas no que eu sabia ser impaciência e irritação. Usava scarpins pretos e altos, e pude notar os jeans por baixo do vestido. As mangas da roupa estavam dobradas, e um guardanapo de pano pousava em seu ombro.

– Mas senhorita Swan... Eles simplesmente dizem não ter mais! – A garota, que imaginei ser Claire, de cabelos lisos e negros, não era muito mais alta, e carregava uma prancheta e uma caneta. Ela andava apressadamente atrás de Bella. E parecia realmente nervosa.

– Isso não me importa, Claire! Eu tenho cinco entregas somente para esse mês, e preciso dessas porcarias de noivinhos! Então dê meia volta, grude naquele telefone, e me arranje os malditos noivinhos! – Ela colocou as mãos na cintura, e pude perceber a garota arregalando os olhos e tremendo levemente ao assentir. Ela saiu correndo pela porta, e eu sorri observando uma Bella furiosa e mandona, que me era desconhecida até então. Bella suspirou, e passou os dedos pelo rabo de cavalo, então bateu as mãos umas nas outras e começou a abrir os armários rapidamente, provavelmente para começar a sua mais nova criação.

– Isso... Isso foi quando? – Perguntei com um sorriso brincando nos lábios, um sorriso que eu não entendia, mas escapava dos meus lábios. Encarei mais uma vez a cozinha, era muito bem equipada, e aos poucos, novas pessoas com aventais foram chegando e preparando as coisas rapidamente. Eu nunca havia visto como funciona um cozinha profissional, mas era mesmo atordoante, eles se moviam para todos os lados.

– Três meses depois do natal. E da sua visita furada ao seus pais. – Ele respondeu simplesmente, sem comentários e acréscimos. Eu agradeci por isso. E continuei encarando embasbacado a enorme cozinha de Bella. Um dos funcionários dela, me atravessou e eu encarei meu estomago sentindo a costumeira sensação de desconforto.

– Chefe?! Há uma entrega especial! 600 bem-casados para esse fim de semana, parece que o antigo bufê furou, e fomos recomendados! – Ele gritou para Bella, que imediatamente parou de bater em uma massa e o encarou chocada.

– O que?! Oh meu Deus! Não podemos perder essa! Johan, Carter! Vocês dão conta do movimento? – Ela encarou dois rapazes por cima das panelas.

– Claro, chefe! Deixa com a gente! – Um deles respondeu animado.

– Ótimo, o resto de vocês, preparem os bem-casados! Isso nos trará lucro e fama! É o que precisamos no La Vie, vamos, vamos. Mãos a obra e a massa! Tempo é dinheiro! – Ela agitou batendo as mãos, e com um sorriso enorme brincando nos lábios. – Nichols, cuide dessa massa, vou terminar esse pão, e logo pego na encomenda!

– É pra já chefe! – A moça de pele morena que atendia pelo sobrenome Nichols, sorriu e se aproximou pegando o lugar de Bella no balcão e cozinha estava novamente a todo o vapor.

Eu encarei fascinado toda a disposição do serviço de Bella, quer dizer, eu sempre achara que cozinhar era uma besteira e que ela perderia tempo com isso, eu me lembro de dizer que ela fizesse disso um hobbie e arrumasse algo que a desse lucro. Revirei os olhos para mim mesmo, que grande idiota eu fui, podia-se ver que Bella era muito boa no que fazia, era uma excelente chefe, administradora e o principal, todos gostavam dela.

– Ela é sensacional, não é garoto? – O velho Masen sorriu beliscando um dos doces com os dedos. – E cozinha que é uma beleza! Está feito o cara que se casar com essa aí. – Ele riu com a voz rouca. - Enfim, acho que você precisava ver como ela não tem nenhuma necessidade da sua presença. - Ele gesticulou em direção ao movimento da cozinha. - Ou do seu dinheiro, mas ainda assim. Se importa o bastante, para lhe preparar biscoitos.

Eu engoli o amargo que se instalou em minha garganta e concordei com um assentir de cabeça. Era a verdade, afinal.

– Bom, vamos para o próximo momento da vida senhorita Swan, ou devo dizer Lahote?

A informação seguinte, parou com um assombro em minha cabeça, eu já podia saber qual seria o próximo momento e a vontade incontrolável de sair correndo me fez praticamente travar no lugar, de qualquer modo, não foi preciso andar, ou fazer qualquer coisa. Aos poucos, minha mente foi clareando do choque, e eu me notei na praia, uma praia que estava chuvosa, porém, eu reconheceria, era La Push, haviam cadeiras brancas, muitas, e um tapete vermelho que ia em direção a um altar. Era um casamento, mas especificamente, o casamento de Bella. Uma banda de música, estava em cima de outro altar de madeira, um pouco atrás das cadeiras, nós esperamos ali, pacientemente, por vários minutos, até os convidados se aproximarem aos poucos, meus pais, a mãe de Bella, ao lado do altar, os amigos da cidade, os amigos da família, de quem eu ainda me lembrava. Uma morena desconhecida, Alice e Rosalie atravessaram o tapete, Rosalie estava grávida, uma barriga pequena, quase imperceptível, e encarando em volta, onde nossa família estava, julguei ainda ser da primeira filha, Melissa. Alice estava lá também, pequena e linda com o mesmo vestido lilás e leve de Rosalie, eram vestidos delicados, com alcinhas bordadas e caldas esvoaçantes que iam até os joelhos. Jacob também entrou no tapete e parou ao altar, ao lado de Emmett e Jasper no altar. Provavelmente, eles eram os padrinhos e madrinhas do casal.

Paul atravessou o caminho, um sorriso gigante e nervoso se mantinha em seus lábios, ele usava um terno branco com um rosa vermelha, e andava de um lado para o outro. Emm e Jacob de minuto em minuto lhe diziam palavras de conformo, coisas como, “ela não vai fugir” “ela o ama, relaxe um pouco”. Foi impossível controlar a inveja avassaladora que me invadiu assim que a marcha nupcial clássica começou a tocar. Bella estava linda, os cabelos estavam presos em uma trança lateral complicada, ela usava uma flor na lateral do cabelo, as sandálias - provavelmente obras de Alice, - cheia de bordados brancos eram acompanhados de um vestido branco, também com bordados, um decote delicado, e uma cintura justa, que realçavam seu quadril com um ângulo perfeito. Ela estava simplesmente maravilhosa, e vinha ao lado de Charlie, com um sorriso pequeno e contido nos lábios, eu franzi as sobrancelhas confuso, ela não estava feliz?

– Bella, ela... Não está feliz? – Perguntei para meu avô, e ele descruzou os braços, me encarando com a mesma expressão séria.

– Ela o ama. – Declarou.

– Paul? – Perguntei tentando conter a dor em minha voz. Era dilacerante saber que Bella amava outro homem, ainda que, eu soubesse que isso aconteceria um dia.

– Não, a você Cullen. Ela ama você, julgo eu, que sempre amou. Vocês foram destinados a estar juntos desde o começo de tudo. Porém, nessa mesma tarde, Alice e Rosalie a aconselharam a ligar para você, ela parecia triste, como pode ver agora. E ela ligou. – Ele fez um pausa, provavelmente, querendo ser dramático.

– E o que eu fiz, para ela estar se casando agora? – Perguntei em voz baixa, eu tinha um medo absurdo das palavras que sairiam de sua boca nos próximos segundos.

– Você disse que ela deveria seguir a própria vida, e parar de se importar tanto com a sua.

Dei um passo cambaleante para trás, o ar faltando dos meus pulmões imediatamente, e eu não imaginei que a notícia me causaria essa reação. Porém, eu estava assustado, chocado e principalmente, arrependido por algo que eu não havia feito ainda. Bella estava casando, e a culpa era minha, exclusivamente minha. Novamente eu a tive, e novamente a perdi. Eu era um filho da mãe, idiota. Era isso, que eu era. Eu controlei o nó em minha garganta e o velho Masen não disse mais nenhuma palavra, o casamento continuava a acontecer, e eu não tinha mais condições de vê-lo, mas estava preso a essa situação, eu tinha que ver o casamento acontecer, gostando ou não. Lohote segurou as mãos de Bella, e ela sorriu para ele, houveram os votos, os “sim’s” e a famosa frase.

– Se alguém tem algo contra esse casamento, diga agora ou cale-se para sempre.

Um momento de silêncio pairou sobre os convidados, eu quis gritar algo como “Eu, eu tenho!” mas sabia que seria inútil, ninguém me ouviria. Bella encarou os convidados com os olhos insondáveis, e tanto Rosalie, quanto Alice suspiraram frustradas quando ninguém se manisfestou.

– Se é assim... Eu os declaro, marido e mulher. Pode beijar a noiva, rapaz. – O ancião disse novamente, e Lohote se aproximou de minha Bella unindo seus lábios ao dela. Desviei os olhos, encarando as flores ao chão, para não precisar ver a cena horrível.

O velho Masen não disse mais uma palavra se quer, somente começou a andar em direção a areia, seguindo a direção da praia, e eu o acompanhei, ainda ouvindo o som das palmas e felicitações. Eu era um imbecil, um maldito imbecil que perdeu a mulher que ama, e porque? Por qual motivo especifico? Por algo que eu já tenho de sobra nos dias de hoje?

Eu estranhei quando começamos a adentrar a floresta, porém, não me pronunciei, somente segui o velho. O ar estava mais gelado e mais denso, e como mágica – o que fazia muito sentido nesse sonho louco -, as arvores foram cessando lentamente, e então estávamos em um corredor de hospital, estava escuro, provavelmente por ser o horário de dormir, notei com certo receio que era um hospital publico, haviam algumas pessoas cochilando nos corredores, parentes, talvez.

– O que veremos aqui? – O velho Masen me olhou, com um sorriso debochado.

– Você.

Pisquei duas vezes assimilando sua resposta.

– Eu?! Nesse tipo de hospital? – Arqueei a sobrancelha em descrença. – Impossível, só se eu tivesse virado um mendigo, eu virei um?

– Cale essa boca, rapaz. Apenas observe.

Revirei os olhos impaciente com o velho, mas me limitei a fazer o que ele disse. Nós andamos por mais alguns metros, e passamos por alguns quartos, notei, por uma das janelas que estávamos em Seatlle, o principal hospital da cidade talvez. O velho parou em uma das portas, estava fechada, número 756, ele fez um gesto com as mãos, como quem faz as honras e me indicando para que abrisse as portas.

Eu devo ter ficado talvez uns dois minutos encarando aquela maçaneta, provavelmente cheia de germes, quantas enfermeiras teriam tocado ali? Mas bem, não era por isso que eu não queria tocar na maçaneta e abrir aquela porta, era exatamente por medo, eu estava morrendo de medo do que encontraria do outro lado da porta. Eu me encontraria a beira da morte? Ou sem um braço, uma perna? De qualquer modo, eu sabia que meus irmãos estariam ali, talvez dormindo, já que o quarto parecia silencioso demais.

Por fim, criei coragem e girei a maçaneta dourada, a porta de abriu lentamente com um rangido estranho e macabro. O quarto estava escuro, e vazio. Ao não ser pelo corpo na maca, era um homem velho, talvez por volta dos 50 ou 60 anos de idade. Tinha algumas rugas e estava cheio de fios nos braços, ligados a soros e remédios, provavelmente, respirava por aparelhos também. Eu me aproximei da cama de hospital, pensando que talvez esse fosse Carlisle, mas se fosse, ele estaria rodeado por amigos. Porém, assim que me aproximei o bastante para encarar a parte do rosto que o monitor clareava, me chorei completamente.

O homem naquela cama, era eu.

Uma versão idosa e debilitada de mim mesmo, e terrivelmente sozinho. Era uma visão deprimente. Por falta de palavra melhor.

– O que eu tenho? – Perguntei ao velho Masen, que ainda se encontrava atrás de mim, apoiado displicentemente na parede e de braços cruzados.

Ele não me respondeu, ao invés disso, uma enfermeira entrou no quarto, acompanhado de uma mulher, era Bella. Os cabelos castanhos agora estavam na altura dos ombros, e ela parecia ter por volta dos 40 ou 45 anos, o que me fez duvidar se eu estava realmente velho, ou somente descuidado. Estava vestida elegantemente com um vestido beje e um sobretudo preto por cima. Carregava uma bolsa enorme nos ombros, e uma chave e celular nas mãos.

– Oh Deus! – Ela suspirou levando as mãos ao coração. – O estado dele é grave?

– Bom, ele está em coma induzido... – Começou a enfermeira encarando Bella. Ela estava compadecida pelo meu estado. – Esperamos que em uma ou duas semanas ele tenha alguma melhora. A batida foi realmente grave, mas não há nenhum coagulo.

– E sequelas? – Perguntou baixo.

– Só será possível saber quando ele acordar. Para um homem de quarenta e cinco anos, ele não está reagindo como o esperado. Provavelmente, não se alimentava bem e tampouco praticava exercícios.

– Provavelmente. – Concordou Bella com um aceno de cabeça. – Sabe como foi a queda?

– Analisando o quadro, provavelmente, de escada. Ele tinha muitos hematomas nas costas e pernas. Além de ter fraturado uma ou duas costelas. – Ela se aproximou da maca onde eu estava deitado e regulou os remédios, então se voltou para Bella. – Sabe algo da família dele? – Perguntou.

– Na verdade não, eu estava em Seattle a trabalho, não consegui entrar em contato com nenhum dos irmãos ainda. – Ela respondeu, claramente mentindo.

– Ele vai se manter nesse hospital mesmo?

– Provavelmente, eu não tinha contato com Edward há mais de 20 anos, não posso dizer se ele tem uma sócia, ou esposa, filhos ou até mesmo assistente. Não entendo porque meu nome estava nos contatos de emergência.

– Talvez não esteja atualizado. – Ela deu de ombros. – Bem, você pode entrar em contato com a família dele?

– Posso conversar com os irmãos. Não ficarei na cidade mais do que essa noite.

– Mas senhora..?

– Lahote. – Bella respondeu, o que me fez constatar que ela ainda estava casada com o tal Paul.

– Senhora Lahote, pode haver emergências, não é de bom tom deixa-lo sozinho.

Bella suspirou.

– Eu lamento, mas preciso voltar para casa, tenho um marido e três filhas para ver e cuidar. Estou viajando há duas semanas e estou com saudade deles. Lamento mesmo... – Ela deu dois passos em direção a porta. – Vou dar noticias a família dele. – Me deu uma ultima olhada. – Espero que ele melhore. – Declarou friamente e saiu do quarto deixando somente seu perfume para trás, encarei chocado o lugar onde a pouco, ela tinha estado. Bella tinha agido assim mesmo? Como se não se importasse... Será que eu a havia magoado tanto em seu casamento? Ou será que havia feito muito mais coisas ruins ao longo da vida?

Aos poucos, o quarto a nossa volta foi rodando, o velho Masen estava parado ao meu lado, parecia um carro em alta velocidade em que as imagens pareciam borradas e desfocadas, impossíveis de distinguir. Quando tudo finalmente parou, dei um suspiro de alivio, eu estava realmente ficando enjoado depois da minha visão quase morto e da frieza da Bella, e dessa ultima viagem.

No entanto, nada me enjoou mais do que a visão a minha frente.

Era o túmulo dos meus pais, juntos.

Carlisle Cullen e Esme Cullen

O enjoo tomou conta do meu estômago, e eu respirei fundo para recuperar o controle, não era possível, quando foi que isso aconteceu? Quando foi que eu perdi meus pais? Quando foi que aconteceu?

Eu apontei para as lápides, lotadas de flores, e abri a boca, esperando poder dizer algo, mas nada saia dos meus lábios, eu estava chocado demais para dizer qualquer coisa. Antes que eu percebesse as lágrimas grossas e salgadas escorreram por entre meus lábios, meu corpo pesou mais do que eu esperava e meus joelhos cederam na grama fofa. Enquanto eu ainda encarava as lápides juntas.

– Sinto muito, garoto. – O velho Masen disse, e pareceu sincero. Sua mão pousou sobre meu ombro. – Sei que é terrível, mas ainda temos uma última coisa a ver.

Eu assenti passando as costas da mão pelo olhos, tirando os vestígios humilhantes do meu fracasso como ser humano, e me levantei acompanhando o velho Masen e me perguntando o que seria a próxima coisa chocante e dolorosa que eu veria. Eu nunca fora do tipo sentimental, mas era difícil lidar com tantas situações exasperantes e simplesmente me manter tão firme.

Ainda no cemitério, provavelmente o de Forks, nós nos aproximamos de uma nova lápide, era um enterro. Ao contrário do que seria comum, não haviam pessoas lamentando, só haviam cadeiras pretas vazias, e mais outras três pessoas naquele lugar.

Um coveiro, um padre e Alice.

Minha irmã estava ali, estava ainda esbelta, apesar da idade. Alice era a mais velha, os cabelos estavam brancos, e os olhos com rugas, ela usava um vestido preto e um casaco por cima, segurava um guarda chuva acima da cabeça, foi só então que eu notei que estava mesmo chuviscando, uma leve garoa, mas que até então, eu não havia me dado conta.

O padre dizia palavras de consolo, e Alice chorava copiosamente.

– Quem morreu? – Perguntei ao velho Masen, mas ele não me respondeu, o padre continuou falando, e falando coisas abençoadas e gentis sobre a alma da infeliz pessoa que morreu sozinha. – Quem? – Perguntei novamente, mas outra vez, ele não me respondeu.

O caixão, fechado foi posto dentro da cova por dois homens, e a idosa Alice se aproximou lentamente, jogando lá dentro uma tulipa branca.

– Sentirei saudades, Edward. – Disse baixinho.

Eu engoli em seco, dando dois passos vacilantes para trás, e caindo na terra molhada, na beirada da cova, meus olhos estavam arregalados, e Alice ainda chorava ao meu lado, eu abri os lábios, mais uma vez inutilmente, nada saia deles. Eu estava ali dentro daquele caixão, e só quem comparecera ao meu enterro fora Alice. Somente Alie, estava ali por mim, nem Jasper, nem meus sobrinhos, ou Bella, ou meus irmãos. Eu estava sozinho, morto e sozinho.

O velho Masen se aproximou, e se sentou ao meu lado, espalmando as mãos em minhas costas, a esta altura, eu já estava de joelho na terra, aquela lama escorregadia sujando todo o meu pijama.

– É, meu caro Edward. Saímos desse mundo do mesmo modo que entramos nele, sozinhos.

A voz dele soou mais longe do que eu gostaria, e a frase bateu contra uma parede de reconhecimento em meu cérebro. Ele tinha toda a razão.

Quando eu menos esperava, o velho Masen forçou as minhas costas e me fez cair com as caras no caixão duro, eu soltei um grito preso na garganta, mas que logo foi abafado por amontoados de terra que eram jogados até mim. O buraco parecia duas vezes maior do que realmente era, e o velho Masen, em pé lá em cima, parecia mais assustador do que no começo da noite.

– Descanse em paz, Edward.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpem os erros, me avisem caso ainda aja algum.
Espero que gostem.
O final ficou bem parecido com o de "A Christmas Carol", mas achei apropriado.
"Nós entramos no mundo sozinhos e saímos dele, sozinhos." Uma citação de Grey's Anatomy que eu mudei as palavras.
Até o próximo.