(CDZ)Diligit quod transcendit escrita por Mione St


Capítulo 12
Cap. 11 Um amor que supera até mesmo a Morte /-/ Alívio


Notas iniciais do capítulo

Oficialmente este é o último capítulo, pois o próximo é o epílogo...



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Fiquei branca e nada disse. Interpretando meu silêncio como espanto, ela continuou.
Mila: Estou no hospital e ele está prestes a ser examinado. Preciso de você, Eliza.. Preciso de uma amiga forte.
Eu tremia segurando o telefone. Encontrei forças para dizer:
Eliza: Estou indo para aí. Ligue para Shaka. Estou a caminho.
Mila: Certo. Obrigada.
Quando ela desligou, eu me descobri tremendo o corpo de inteiro. Então... se aquilo não tinha sido um sonho, se tinha sido um futuro alternativo e agora estávamos mudando o passado...
Por que me lembrei de tudo?
Não tive tempo para ponderar aquela pergunta. No hospital, fiquei consolando Mila, sabendo que estava vendo uma reprise de algo que já havia acontecido. Exceto... exceto que daquela vez tudo terminaria bem para Mila e para Mu. Eu sabia disso. Eu me lembrava daquilo.
Mila chorava, inconsolável. Eu apenas olhava para o relógio. Sabia que dentro de pouco tempo Mila saberia do estado de Mu. E sabia que ele sobreviveria. Mas eu estava preocupada. Pensava em Shaka.
Ele chegaria dentro de qualquer instante e eu não sabia como seria o reencontro com ele. Aparentemente, eu me lembrava, apenas eu e mais ninguém. Como seria encarar Shaka, se lembrar das declarações que trocamos e ver ele ser frio e hostil comigo novamente? Será que eu conseguiria resistir?
Abraçada a mim, Mila continuava chorando.
Mila: O que farei sem ele, Eliza? O que farei?
Eliza: Você não irá ficar sem ele. Ele vai sobreviver. Você vai ver.
Mila: O acidente foi grave. Os médicos não nos dão esperanças.
Eliza: Acredite em mim, Mila. Ele ficará bem. Ele sairá daqui bem, sem sequelas e vocês irão ter um filho juntos. Como sempre foi o sonho de vocês. Como vocês sempre quiseram.
Shaka: Mas eu nunca pensei que viveria para ver esse dia... Eliza Hankotsu sendo otimista? (Shaka se aproximou de nós) Que milagre.
Eu o encarei. E não vi nenhum reconhecimento em seu rosto. Nada. Como eu temia, apenas eu me lembrara. Senti vontade de chorar. Mas eu não iria ficar sofrendo. Iria seguir em frente, como jurei que faria.
Eliza: Você sabe... (eu disse sem expressão) as pessoas mudam.
Ele me encarou de uma maneira estranha.
Shaka: Certas pessoas nunca mudam.
Eliza: Ceticismo nunca foi sua praia, Virgon. Do contrário, como seria psiquiatra?
Ele não me respondeu. Mila aproveitou o momento para interromper a discussão.
Mila: Não briguem agora. Mu está mal e preciso de meus dois amigos aqui. Por favor.
Shaka e eu assentimos, optando por uma trégua temporária. Deus, como eu poderia aprender a conviver com isso novamente? Tinha me acostumado a me sentir próxima dele, a amá-lo sem reservas e saber que ele me amava. Como eu poderia agir como sempre agi, com minha frieza e descaso e ver ele agir assim comigo? Por que, por que eu me lembrei?
A compreensão se alastrou como um veneno poderoso. Aquele era meu castigo. Eu sabia que um dia iria ter que pagar por todas as minhas ações, mas não pensei que o preço fosse tão caro.
Sentada do lado de Mila, segurando sua mão, assumi novamente minha postura fria e distante. Teria que pagar? Tudo bem, eu pagaria. Mas apenas Deus e ninguém mais além dele, teria noção do meu sofrimento. Shaka não saberia nunca. Tudo voltara ao normal. Ele nunca saberia o quão profundamente eu poderia sofrer por ele.
Mila apertou minha mão com força, me fazendo sair dos meus pensamentos.
Mila: Ele vai ficar bom, não vai?
Eliza: Claro que vai. Ele ficará bem. (disse eu confiante)
Shaka me olhou estranho. Eu sabia o motivo, mas não me importei. Aos olhos dele eu agia como um ser humano, confortando Mila e sendo sua amiga, lhe dizendo palavras bondosas. Em outros tempos, eu teria sido mais dura. Em outros tempos.
As horas passaram. Já eram cinco horas da manhã. Eu sabia o que aconteceria agora. Shaka diria que era melhor todos descansarmos, Mila se negaria e eu e ele iríamos embora. Então, as oito da manhã ela teria notícias de Mu. Não deu outra. Shaka encarou nós duas, que dormíamos juntas e disse gentilmente, nos acordando.
Shaka: Acho que devemos descansar. Estamos há muito tempo aqui.
Mila: Não. Eu não saio daqui enquanto não souber notícias de Mu.
Ele olhou para mim.
Eliza: Acho melhor eu ficar. Se algo sair errado... ela precisará de um amigo aqui.
Por que eu fiz isso? Não sei. No fundo, eu tinha medo que Mu não se salvasse. Então, ao menos eu poderia evitar a repetição de tudo aquilo.
Será que foi por isso que eu me lembrei?
O tempo continuou a passar. No fim, Shaka resolveu ficar também, sem motivo aparente. Eu adormecia e acordava na sala de espera do hospital, sentindo o olhar dele sobre mim. Parecia que me avaliava. Parecia um teste.
Amanhecera. Mila se encontrava dormindo, em total desconforto em sua cadeira.. Eu havia acordado, me recomposto com um café e agora encarava o sol nascer, pensando que um dia muito diferente do que eu vivera estava nascendo. Ainda que Mu morresse, o que eu duvidava que fosse acontecer, minha permanência e a de Shaka no hospital mudaria todo o sentido da história de Mila. Mas bem no fundo eu sabia que eu não tinha imaginado nada. Que estava fazendo aquilo que esperavam que eu fizesse.
Ouvi os passos e olhei para o relógio. Estava na hora. O veredito se eu estava louca ou não. Shaka também encarou para a porta e viu a médica que se aproximava. Mila dormia, tentando encontrar um pouco de paz no sono. A médica se adiantou para nós.
Médica: Quem aqui é parente de Mu Carneiro?
Fiz um sinal para ela esperar e acordei gentilmente Mila. Ela me fitou, desesperada e apavorada.
Eliza: A médica está aqui, Mila. Quer dar notícias sobre o Mu.
Mila: Notícias do Mu? (ela acordou imediatamente) Como ele está? Eu sou a esposa dele!!
Ela se ergueu afoita e se adiantou até a médica. A médica a fitou..
Médica: É parente de Mu Carneiro?
Mila: Já disse, sou a esposa.
Eliza: Ela é a esposa. (confirmei cansada) Como ele está?
A médica nos fitou novamente. Seguramos a respiração. Seria tudo um sonho louco... ou não?
Médica: Acho melhor sentar-se, senhora Carneiro.
Mila se sentou. Estava assustada. Será que más notícias estavam por vir?
Médica: Bem, seu marido... ele sofreu um sério acidente. Quando chegou aqui não acreditamos que tinha alguma chance de sobreviver.. Tentamos fazer de tudo claro, apenas porque sentimos que era nossa obrigação, mas não porque acreditávamos que ele ia sobreviver.
Mila nada disse. Eu apenas fitei minhas mãos.
Médica: Operamos ele com cuidado, acreditando que ele não resistiria. Mantemos ele sob vigilância, aguardando o momento em que ele iria morrer. Entretanto... ele apresentou uma recuperação surpreendente. Não só reagiu aos procedimentos médicos mas também irá se recuperar inteiramente. Não houve sequelas nem danos permanentes. Apenas um machucado no ombro que curará em breve. Ele está perfeito.
Mila chorou. Ela simplesmente começou a chorar e me abraçou. Eu apenas sorri, dividida entre a felicidade e a agonia. Mu estava bem, Mila ficaria bem, mas e eu? Aquilo não havia sido um sonho, eu não tinha enlouquecido. Como eu sobreviveria agora?
Mila: Ele está bem. Ele está bem. Eliza, ele está bem.
Eliza: Sim, ele está bem. Eu disse que ele iria ficar bem.
Ela se desvencilhou de mim gentilmente e fitou a médica.
Mila: Posso vê-lo?
Médica: Ele ainda está dormindo e ficará sob observação em um tempo. Mas já está fora de perigo e em um quarto privado. Poderá ficar com ele se quiser, mas recomendo que descanse antes um pouco.
Tal sugestão era uma piada. Até parecia que Mila ia descansar enquanto não vesse Mu.
Mila: Não, eu quero vê-lo. Dormirei no sofá do quarto, se for necessário.
Médica: Certo. Então a senhora siga-me por favor. Os demais recomendo que descansem. Só posso permitir que uma pessoa entre no quarto. Vocês poderão ver o paciente amanhã.
Eliza: Certo. (olhei para Mila) Ligue se precisar de mim. Embora acho que não vá precisar.
Mila apenas sorriu.
Quando eu e Shaka fomos embora, Mila se dirigiu ao quarto de Mu. O quarto era simples, o legítimo quarto de hospital, com uma cama para o paciente e um sofá para um parente. Mu já estava lá, dormindo em um sono profundo. Não estava ligado a nenhum aparelho, estava apenas tomando soro. Mila suspirou aliviada. Tudo ficaria bem.
Ela se aproximou da cama dele. Tocou sua mão e sorriu. Por um longo momento achara que o perdera, mas agora ele estava ali. Vivo. O milagre se realizara e eles ficariam juntos. Até que a morte levasse a ambos, porque nem mesmo a morte conseguiria separá-los.


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Notas finais do capítulo

E daqui uns minutinhos o epílogo



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