Chovia muito naquela noite fria de começo de inverno. A atmosfera estava agitada naquele local e pelo jeito nada agradável. Ela parecia aflita andando de um lado para o outro e gritando palavras frias que diziam respeito ao filho que estaria esperando do namorado, enquanto este em pé, ao lado da porta, parecia irritado à ponto de explodir.

— Eu nunca terei esse filho! - Cuspiu as palavras com tamanho despreso - Não quero meu corpo todo deformado depois de ter trabalhado duro para deixá-lo perfeito!

— Se importa mais com seu corpo do que com uma criança, Karin?! - Ele parecia não acreditar - É o nosso filho que está aí!

— Não! - Gritou - É o seu filho! - Virou-se bruscamente para encará-lo com tamanha raiva nos olhos - Irei abortar essa criança estúpida!

Ele a olhou incrédulo com sua atitude. Não esperava isso da namorada mesmo sabendo que era muito vaidosa e praticamente louca por estética.

Por um minuto a discussão parecia ter terminado. Sem saber o que fazer ela se pôs a chorar, encostando na fria parece branca. Ele ainda calado, aproximou-se e tentou tocá-la, ela o repeliu desviando.

— Podemos dar um jeito nisso juntos. Sei que podemos. - Ele tentou acalma-la, mas foi em vão.

— Eu não quero... - Murmurou baixo, levantou a cabeça e o olhou - Vou embora.

Rapidamente pegou sua bolsa em cima do criado mudo e andou à passos largos até a porta, deixando o quarto.

— Onde vai, Karin? - Ele perguntou indo atrás.

— Onde acha? - Ela irônizou, descendo as escadas com pressa e apanhou as chaves do Infiniti G preto, em cima da mesa de centro, na sala, e abriu a porta da casa.

— Você não pode sair assim, na chuva. - Ele disse, segurando seu antebraço esquerdo. - Você não precisa fazer isso, Karin!

— Escuta, você sabe como tudo isso está sendo difícil pra mim?! - Se livrou da mão que a segurava - Não, Né?! Sempre teve uma vida tão fácil e despreocupada, já eu, trabalhei duro para chegar onde estou agora! E não é por causa de um filho estúpido e seu ainda, que vou desistir de tudo!

Ela se virou novamente e antes de sair ainda ouviu as ultimas palavras que ele dissera:

— Se você ir, nunca mais volte...

Ela ficou calada na hora, porém, assim que recuperou o folego, disse por último:

— Não me siga! - E saiu.

A chuva havia ficado forte, e os grossos pingos chocando-se violentamente contra o vidro do carro não a ajudavam muito, pois deixavam a visão embassada demais. Mesmo assim, ela dirigia em alta velocidade chegando aos duzentos e oitenta quilometros por hora na estrada bastante escorregadia. Olhou pelo retrovisor avistando a BMW 3-Series prata logo atrás.

— Eu disse para não me seguir!

Pisou fundo no freio com os Escarpins vermelhos e fez uma curva perigosa nas ruas de Kyoto, entrando na contramão. Ouve uma forte busina seguida de uma freda brusca, e depois um estrondo alto. De Longe, viu o carro da namorada, todo em chamas, sendo arrastado por um longo caminhão que parecia ter dificuldades para frear naquele asfalto escorregadio. Espantado com a cena que acaba de ver a morte da namorada, acabou se ditraindo e quando voltou sua atenção já era tarde. Outro estrondo ensurdecedor. Havia chocado seu carro contra um Hatch Compacto verde claro que voou com a violenta batida dando uma cambalhota no ar e meia ao chegar no solo, onde parou de ponta-cabeça.

Naquela noite, dois acidentes ocorreram. Seguido de morte instantânea em ambos. Um de uma jovem de vinte e seis anos, modelo riquissíma e famosa, que teve o carro de extremo luxo incendiado após bater em um caminhão grande que, não teve muitos danos, apenas o motorista se machucou pouco. Outro, de um rapaz, vinte e oito anos e boxiador, que bateu em outro carro fazendo-o voar e parar de ponta-cabeça, deixando dois mortos e um ferido.