POV Steve

Os dias se passaram muito rápidos, e o primeiro dia de aula é amanhã. Eu não entendi o comportamento de May, após o nosso beijo. Será que fiz algo que a magoasse? Tentei me lembrar de algo que eu possa ter feito, mas nada me veio à mente. O que quer que seja, eu preciso consertar. Aquela garota me intriga... E aquele beijo não sai da minha mente.

Meus pensamentos foram interrompidos com batidas na porta. “Espero que seja a May”- pensei, tentando ajeitar minha roupa.

– Pode entrar! – falei, mais alto do que necessário. Como eu estava deitado, não pude ver quem entrou. Mas essa pessoa, ou melhor essa garota sentou na beira da cama. E era a Tiffany. Ela parecia um pouco indecisa, como se estivesse decidindo se iria falar algo ou não. Eu confesso que fiquei um pouco curioso, já que ela não conversava muito comigo.

– Você já está se sentindo melhor? – ela falou.

– Sim, os remédios ajudaram bastante. – falei. Eu realmente estava bem, os pontos já não doíam mais, e eu conseguia andar direito sem gritar de dor. – Você quer me falar mais alguma coisa? – perguntei, tentando saber o que ela queria me falar. Ela suspirou, e passou a mão no cabelo.

– Na verdade, eu quero sim. Eu sei que existe algo a mais entre você e a May. Nem tente esconder isso, está completamente na cara. Você e o Ethan. Ela está naquele quarto faz muito tempo, sai de skate sem avisar, só volta de madrugada, e não está comendo direito. Eu não sei o que você ou o Ethan fizeram, e nem quero saber. Mas é melhor vocês conversarem com ela. – ela falou, tudo de uma vez, como se fosse perder a coragem de dizer a qualquer momento. Eu fiquei apenas parado ali,olhando pra ela, remoendo aquelas informações, sem saber o que dizer. Mas foi aí que eu tive um pequeno plano.

– Hum.... tudo bem, eu vou falar com ela. – falei.

– Mas nem ouse dizer que fui eu quem te falei alguma coisa!

– Minha boca é um túmulo! – eu falei. Ela apenas deu um sorriso forçado, e saiu, sem me dizer mais nada.

Eu quero ver a May resistir ao plano...

POV May

O primeiro dia de aula é amanhã, e eu não estou nem um pouquinho animada. Eu não vou fazer amigos. Isso eu já sabia.

1° A Tiffany é um ano mais nova que eu, então eu só vou vê-la em alguns intervalos.

2° Eu sou tímida demais pra falar com alguém.

3° Eu estou muito deprê.

Eu estou saindo pra andar de skate quase o tempo todo. Sempre que eu estou chateada com alguma coisa eu faço isso. O skate me faz sentir livre, me faz sentir liberdade, como se não existisse mais problemas. Só quem anda de skate vai me entender.

Estou deitada no meu quarto faz três horas. Não comi, não bebi, não fiz absolutamente nada. Eu estava pensando em tudo e nada ao mesmo tempo, quando ouço alguém bater na minha porta. Não digo nada, na esperança de que essa pessoa vá embora. Mais batidas. Desisto, e levanto para abrir a porta. Era a Tiffany. A última pessoa que eu gostaria de ver naquele momento.

– Ai meu Deus! O que aconteceu com você??! – ela falou, com uma cara de espanto e nojo ao mesmo tempo. Acho que ela devia ter razão de estar assim. Meu cabelo estava completamente sujo e seboso, meu rosto estava vermelho, meus olhos inchados, eu estava com um pijama largo, sujo de chocolate e cheio de bolinhas e uma pantufa velha. Eu estava uma mendiga.

– AMANHÃ É O PRIMEIRO DIA DE AULA!! – ela falou, desesperada. – Vamos! Vista uma roupa decente!

– Porque? – eu falei, completamente com preguiça.

– Você precisa ficar bonita! Anda vamos! Eu pago o salão, a comida, qualquer coisa!! – ela falou, praticamente me empurrando da cama. Eu realmente não queria chegar com essa aparência, no primeiro dia de aula, mas que se dane. Não há ninguém que eu queira impressionar. Mas ela estava insistindo tanto, que eu resolvi levantar e tomar um banho. Lavei bem o cabelo, tirei a sujeira do corpo, e tentei tirar um pouco da sujeira das unhas, que já estavam descascando. Quando eu saí, eu já estava um pouco melhor. Mas ainda com preguiça de fazer escova, então eu simplesmente resolvi deixar o cabelereiro cuidar disso. Coloquei uma roupa qualquer e saí da mansão com a Tiffany.

Nós saímos de táxi, como sempre. Nenhuma de nós duas tem idade o suficiente para dirigir. Depois de uns vinte minutos de puro tédio, chegamos ao tal salão. A Tiffany, (como o prometido) pagou o taxista, e com uma boa gorjeta. Quando entramos eu fiquei admirada. O salão era todo rosa, e parecia um palácio, cheio de espelhos e mulheres fazendo o cabelo, as unhas, fofocando, e lendo revistas de moda. O ar tinha um cheiro adocicado de perfumes femininos. Eu estava tão deslumbrada que nem reparei quando eu a Tiffany chegamos a um balcão, onde tinha uma mulher falando no telefone e anotando alguma coisa na prancheta, quando a Tiffany abriu a boca pra falar algo, ela fez um sinal com a mão para que nós esperássemos. Achei um pouco rude, mas achei melhor ficar quieta. Depois de mais meia hora, vendo a mulher falar, e rir, sem nem se preocupar com a gente plantada esperando, dei um cutucão no ombro dela. Ela parou de falar, e olhou pra mim com cara feia. Não me importei.

– Escuta aqui, eu e minha amiga estamos esperando aqui a meia hora vendo você falar nessa merda de celular. Tiffany, pode falar o que você quer. – eu falei, tudo de uma vez. Não sou uma pessoa muito paciente. A mulher me olhou espantada, como se o que eu tivesse dito fosse uma ofensa.

– Hmm... Eu vou querer duas manicures, duas pedicures, um cabelereiro. – ela falou. Olhou pra mim de cima a baixo. – Duas limpezas de pele, e tudo completo. – a moça anotava tudo apressadamente, olhou para nós duas, e saiu do balcão. Quando eu ia começar a falar que a gente ia ter que esperar mais, ela voltou. Com um cara lotado de maquiagem na cara, e seis mulheres que pareciam ser modelos.

– Tiffany... Pra que tudo isso? – eu falei, meio espantada.

– Cabelo, unhas da mão e do pé, limpeza de pele, maquiagem, e depilação. – ela falou, como se fosse pouco.

– Não flor, isso é só pra você. Me agradeça quando acabar. – ela deu um grande sorriso, saiu saltitando, e se sentou num enorme sofá de couro branco.

– E entón querrida? O que vai querrer? – o cara cheio de maquiagem falou, num sotaque francês muito engraçado. Eu olhei para a Tiffany e ela estava lendo uma revista, ela levantou os olhos e viu que eu estava confusa.

– TRANSFORMAÇÃO COMPLETA PAUL! – a Tiffany gritou pro cara. Ele olhou surpreso e feliz pra mim. Gritou alguma porcaria em francês pras mulheres, e elas vieram correndo me fazer sentar numa cadeira grande e acolchoada. O Paul veio por trás misturando uma tinta estranha, e quatro mulheres mexiam nas minhas mãos e nos meus pés. Até que não era tão ruim assim. Minhas unhas estavam todas ruídas, e meu esmalte tava descascando, porque eu estava depressiva demais pra mudar. Uma mulher veio e disse que enquanto meu cabelo tivesse pegando a tinta, eu ia ser depilada e ia fazer tratamento de pele. Eu não estava nem aí, podiam pintar meu cabelo de verde, eu não ligo. Depois de três horas, meu cabelo foi relaxado, picotado, e cheio de mechas. Minha pele estava lisa, macia e cheirosa. Minhas unhas da mão estavam gigantes e pintadas de vermelho, as do pé estavam perfeitamente alinhadas e pintadas de branco neve. Eu estava diferente. Estava até bonita. Durante todo o processo, as moças serviam doces e coquetéis açucarados, e a Tiffany aceitava todos. Depois que acabaram tudo, fui procurar ela. Mas ela tinha sumido. Procurei em todos os lugares, até que parei no banheiro. Ele era enorme e luxuoso, com uma decoração impecável. Andei um pouco, e ouvi um som de alguém vomitando em umas das cabines. Quando eu cheguei perto da cabine, ela se abriu e eu vi quem era. Era a Tiffany.

– Você está bem? – perguntei preocupada. Ela me olhou de olhos arregalados. – Quer que eu chame alguém?

– Não! Porfavor! Não chame ninguém! Eu estou ótima.

– Mas....Você está passando mal!

– Na verdade...Eu não estou....É que eu faço isso por que eu quero...- ela falou, sussurrando, envergonhada. De inicio, eu não havia entendido, mas depois eu percebi.

A Tiffany era vítima de bulimia.