A Caçadora - A Supremacia escrita por jduarte


Capítulo 23
De Volta às Origens - £


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente, mil desculpas pela demora!!! Mas espero que gostem!!!
Beijoooos,
Ju!



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Mais uma vez, quando acordei, estava sozinha. O lugar onde o lobo estava ontem ainda estava quente, o que indicava que ele tinha saído há pouco tempo. Um barulho na cozinha fez com que eu parasse no meio do caminho. Parte de mim queria que fosse o Guiador que - finalmente, depois da conversa de ontem – tivesse preparando seu café da manhã, ou até mesmo vagando pela casa, pensativo, talvez até arrumando uma maneira de me mostrar quem realmente era.

Esses pensamentos me encheram de alegria, fazendo-me pular da cama e praticamente correr até a porta. Parei antes de a abrir, respirei fundo algumas vezes para conter a excitação.

Será que meu lobo estava do outro lado da porta?

A abri com toda a minha força e fui na ponta dos pés até a cozinha, e dei de cara com Jeremiah fazendo seu café da manhã. Meu corpo se encolheu em desapontamento.

– Bom dia! – ele disse animado. – Está tudo bem?

Minha cara não deveria estar a melhor.

– Tudo sim... – respondi num muxoxo. – Só estou cansada.

Ele assentiu mesmo que soubesse que eu estava mentindo. Havia uma tensão na sala, como se os dois tivessem algo para falar, mas não tivessem ao mesmo tempo.

– Isso chegou pelo correio. – Jeremiah finalmente disse, puxando um envelope de detrás de seu corpo. – Olhe, Helena, sei que o que fizemos foi errado, e eu entendo se você tiver a maior vontade de esmurrar nossa cara, mas saiba que não foi de propósito. Tem coisas muito maiores do que você consegue entender acontecendo no momento. Não julgue Fitch agora, ok? Ele não está se comportando como antes.

Eu senti como se sua frase fosse deixada no ar, não terminada, e isso me incomodou. Peguei o envelope de suas mãos e quando li de quem tinha vindo, meu coração pulou duas batidas.

As siglas pretas THM foram o suficiente para que as palmas de minhas mãos começassem a suar.

Abri sem delongas.

“Querida Helena Jameson,

Favor comparecer à THM para sua admissão no dia 27 de Dezembro às 13:45 do horário local.

Atenciosamente,

Sr. White.”

Um arrepio percorreu minha coluna. Não de medo, mas sim de felicidade.

Finalmente voltaria a trabalhar com algo que eu sabia fazer de melhor.

Sorri enquanto lia e sentei-me na bancada da cozinha, cruzando as pernas para relaxar melhor.

– Notícias boas? – ele perguntou, mas eu já tinha uma leve noção de que Jason e Edward não eram os únicos a conseguir ouvir meus pensamentos, e exatamente por isso assenti.

– Vou voltar ao trabalho. – respondi com um largo sorriso, quase indo de orelha a orelha.

Estiquei os dedos em direção à cafeteira e ela levitou até perto do armário de xícaras. Abri o armário com uma levantada de dedos, tirando de lá minha xícara preferida. Não custava muito fazer esses “truques”. Coloquei o café na xícara e a trouxe para mim, fazendo questão de colocar a cafeteira no lugar onde achei.

Jeremiah parecia um tanto quanto chocado, com a boca levemente aberta, mas quando percebeu que eu o olhava fez questão de se recompor em segundos.

– Edward está em casa? – perguntei, já praticamente sabendo que a resposta seria negativa. Era muito cedo e Jason sairia para correr com Jeremiah e os outros metamorfos. Eu esperava que Edward também estivesse lá.

– Está dormindo no escritório.

Quando um ponto de interrogação praticamente se fez escrito em minha testa, Jeremiah deu de ombros.

– Ficou até tarde vendo alguns documentos importantes.

Achei melhor levar minha xícara de café para Edward, e desci da bancada, caminhando em direção ao escritório no final do corredor.

A porta estava ligeiramente aberta, Edward com a cabeça deitada na mesa de madeira, alguns papéis estavam espalhados por ela, mas seguramente firmes embaixo de suas palmas. Sua respiração parecia pesada e ritmada. A janela do escritório estava aberta, o que fazia parte da neve entrar e se espalhar pelo chão de madeira. A fechei de leve, para que Edward não se assustasse.

Ele nem ao menos se mexeu.

Caminhei até seu lado, deixando a xícara de café apoiada cuidadosamente em cima da mesa, e acariciei seus cabelos de leve, deixando que ele acordasse quando estivesse pronto.

Seus olhos escuros foram os primeiros a abrir rapidamente, em modo de alerta e ele levantou a cabeça bruscamente.

Quando seus olhos se focaram em mim, ele suavizou suas feições, voltando para o estado sonolento.

– Ah, é só você. – ele disse e bocejou logo em seguida.

Ri de leve.

– Ficou até tarde ontem? – perguntei e ele pegou a xícara que eu estendi em sua direção, bebericando de leve, sentindo o líquido o aquecer por dentro.

– Mais ou menos. Fiquei revendo alguns dos seus documentos. Precisamos acabar com Drake logo.

E eu soube que era hora de contar sobre Josh.

– Edward, eu tenho outro irmão. – ele nem ao menos esboçou reação alguma.

– Eu sei.

Abri a boca para dizer que não o queria bisbilhotando minha cabeça, mas a fechei.

– Sua cabeça é muito bagunçada, Helena, e eu não gosto de entrar para descobrir o que você guarda de mim.

Minha boca se fechou em uma linha reta e dura.

Isso significava que ele já sabia do Guiador que vinha me visitar.

Edward somente me olhou e eu senti como se ele pudesse ver através de todas as mentiras que eu mantinha escondidas dele. Isso fez com que um rubor crescesse em minhas bochechas.

– Olha, eu não vou julgar você. Se você quer ter um metamorfo conhecido dormindo em sua cama, chame seu irmão. – ele disse, levemente estressado.

Engoli seco, e sentei-me na cadeira na frente da mesa.

– Jason sabe? – perguntei.

– Não. – sua resposta foi rápida e cortante. – E não espere que seja eu a contar. – ele acrescentou.

– Eu sei que é errado, Edward, mas...

– Sabe mesmo, Helena? Ou você gosta de ser um brinquedo para ele? – Edward explodiu. Ele levantou da cadeira e passou a mão pelo cabelo preto, exasperado.

Fiquei em silêncio. Eu não gostava do tom de voz que Edward estava usando comigo. Fazia com que eu me sentisse como lixo.

Ele caminhou até mim, abaixou-se a minha frente, e me olhou como se estivesse falando com uma criança desobediente que tivesse acabado de sair do castigo.

– Helena, você pode fazer o que quiser, mas não deixe que isso afete sua vida profissional. – ele disse. E mais uma vez eu não entendi nada.

Quando abri a boca para protestar, Edward largou minhas mãos que ele segurava fortemente e foi para trás da escrivaninha, tirando uns papéis de lá, me estendendo.

– Consegui a tradução para você.

Um traço de confusão se passou em meu rosto.

– Como conseguiu isso, Edward? – perguntei.

Temia a resposta.

Ele deu de ombros, mas se encolheu e acabou tremendo de leve.

– Você não precisa saber de tudo, Helena.

Eu tive que me preparar para contar para Edward que Kaus tinha me beijado. Edward era como um irmão para mim, e eu me negava a esconder algo dele.

– Edward, eu fui me encontrar com Kaus, para saber como ele poderia me ajudar, e ele acabou me beijando. – disse tudo num fôlego só.

Ele não olhou para mim e deu de ombros.

– Não vá se engraçando com Kaus, Helena. A empresa que trabalhamos agora não atura traições. – suas palavras foram suaves, e mesmo que me causassem um arrepio na coluna, eu sabia que eram verdadeiras.

Eu engoli seco. Edward sabia exatamente como me atingir. Eu tinha medo que ele acabasse descobrindo que não era a primeira vez que eu me encontrava com Kaus, e certamente não era a primeira e nem última vez que eu me pegava pensando em como seus lábios pareciam macios demais, suaves demais.

Ter contado para Edward sobre tudo, ou pelo uma parte do todo, foi o que me manteve sã pelo dia. Ele me tratava como uma protegida, e apesar de ter dito palavras duras, porém verdadeiras, ainda assim se mantinha preocupado com a minha saúde, e principalmente com minha sanidade mental.

– Não preciso de ajuda para levar nada. – murmurei sem jeito pela décima vez enquanto colocava as armas no lugar e algumas dentro de minha mala, assim como a balestra pesada de aço que Edward tinha me dado no Natal.

– Você é uma garota. – ele disse quase como se isso fosse um tipo de insulto.

Me virei para encará-lo um tanto quanto chocada com o que tinha acabado de sair de sua boca, e ao invés de ter se desculpado como ele geralmente fazia, Edward deu de ombros.

– Vá se ferrar. – eu disse um pouco mais alto, e ele sorriu.

E então eu entendi.

O filho da mãe só tinha feito aquilo para me irritar.

Soquei seu braço o mais forte que pude e ele nem ao menos saiu do lugar. Meu punho doeu com o impacto, mas fingi que não. Não daria mais um motivo para ficar todo preocupado comigo e ativar o modo “IRMÃO” para cima de mim.

Franzi o cenho quando vi Edward colocando mais uma arma em minha bolsa já lotada, e em seguida mais uma.

– Ei, eu só vou fazer um teste, não é como se eu estivesse me preparando para uma guerra.

Edward olhou profundamente em meus olhos e beijou a ponta de meu nariz.

– Confie em mim, docinho, estamos rumando em direção a uma guerra armada.

Suas palavras fizeram com que eu me arrepiasse completamente. Tudo parecia muito frio, terrivelmente tenebroso. O quarto de repente pareceu o lado de fora da casa. Agarrei meu casaco e o vesti.

Edward ignorou meus protestos quando colocou mais algumas coisas em uma mala extra.

Estávamos saindo em uma viagem de férias e eu não sabia?

Minhas mãos suavam e incontrolavelmente, toda vez que eu olhava para o relógio da sala e os minutos passavam, menos tempo eu parecia ter para apreciar um único momento sozinha, sem ter que me preocupar com a empresa de olho em mim o tempo todo.

Isso me deixava aterrorizada!

Sim, eu estava com os nervos à flor da pele por estar voltando ao trabalho, mas ainda assim tinha a sensação de que não era uma coisa muito inteligente de se fazer. Ezra tinha me impedido de voltar antes, alegando que eu precisaria estar nas minhas melhores condições, tanto mentais quanto físicas, e que era para eu estudar todos os livros da biblioteca particular de Theodore.

Desde que havia posto os pés na casa não ousara tocar em nada que estivesse dentro do escritório de Theodore. Me parecia um lugar sagrado demais para que eu simplesmente entrasse, sem conhecimento nenhum de sua história. Eu era a estranha.

Estava frio, por conta da nevasca na noite anterior, e as calçadas inteiramente brancas deixavam uma sensação de “frio do Ártico”. Eu não me surpreendia mais em ver que as pessoas ignoravam toda aquela neve e simplesmente seguiam sua vida, indo correr e praticar exercícios ao ar livre. Estava absurdamente frio até mesmo para respirar mais pesadamente. Se não tivesse que ir trabalhar, certamente ficaria embaixo do cobertor, lendo um de meus livros preferidos, ou quem sabe fuçando nas cartas de Emma para Theodore que tinha guardado em minha cabeceira.

Coloquei a arma no cinto e arrumei o suéter cinza que insistia em incomodar na parte da gola, e passei os dedos pelos fios de cabelo, deixando-os modelarem o cabelo sem graça e sem vida que caía em uma cascata marrom e lisa demais por minhas costas.

– Tem certeza que tenho que usar isso? – resmunguei me observando pelo espelho da sala, enquanto Edward ria e arrumava a própria roupa.

– Não estamos mais em Sleepy Hollow, Helena. Se você aparecer vestida de moletom, tenho certeza que Ezra vai reconsiderar seu cargo.

Revirei os olhos.

– Isso é completamente desnecessário.

Ele riu.

– Bem vinda a sua nova vida: um lugar onde ninguém faz suas vontades. – Edward murmurou em meu ouvido, deixando claro que estava de gozação com minha cara.

Forcei uma risada.

– Muito imaturo? Sim.

Arrumei mais uma vez a gola e decidi deixar para lá, uma vez que ela se recusava a ficar no lugar, colocando um sobretudo por cima que ia até o meio de minhas coxas. Eu podia estar vestida para uma “entrevista de emprego”, mas não largava meu coturno.

Saímos de casa, entrando no carro desconhecido. Quanto mais avançávamos para a empresa, mais o bolo em minha garganta crescia.

Jason tinha ido correr com Nate, que, por algum motivo desconhecido, decidira passar um tempo em minha casa, e fazer amizade com meu irmão. Ele simplesmente se convidara ao aparecer com duas malas de roupa, com um sorriso no rosto, dizendo abertamente: “Olá, família! Estou em casa!”.

Eu não gostava disso.

Eu não gostava de Nate.

E eu tinha certeza que Edward abrira a boca e lhe contara sobre tudo que eu não sabia. E isso definitivamente era a coisa que mais me deixava irritada.

A corrida de Nate não era para se exercitar e sim para fazer uma “ronda” em volta da casa. E como Jason tinha se transformado em um metamorfo, ele não tinha problema algum em fazer de meu irmão seu ajudante.

– Você acha que Kaus está bem? – perguntei aleatoriamente e senti os olhos de Edward fixos em mim. Afundei um pouco no banco de couro.

Amaldiçoei minha grande boca, e falta de noção por não ter percebido que minha mente também estava “destrancada”. Se Kaus se machucasse eu seria a culpada. Afinal de contas, eu tinha contado que estava me encontrando com Kaus. E eles fariam de tudo para persegui-lo.

Bufei de leve, fingindo estar irritada e não totalmente frustrada.

Kaus não se machucaria. Ele era um demônio novamente.

Pensar nisso fazia minhas mãos suarem e meu coração se acelerar.

Como ele tinha voltado a ser um demônio?

Edward estacionou a frente de um prédio de vidro e concreto, alto e imponente, o mesmo que tínhamos comparecido a uma reunião, há alguns meses.

O mesmo que eu tinha entrado correndo e gritando para saber mais sobre o desaparecimento de meu irmão.

Meus joelhos fraquejaram. E se Ezra me mandasse para casa novamente? E se eu nunca mais pudesse trabalhar?

Engolindo seco e indo atrás de Edward que já tinha saído do carro, pendurei-me em seu ombro e deixei que ele me seguisse. Entramos pela porta da frente e a moça atrás do balcão, na recepção, somente nos lançou um olhar significativo, voltando a se concentrar em algo no blazer que usava, limpando freneticamente uma coisa que não parecia nem estar ali.

Apertei ainda mais Edward. Fomos em direção ao elevador e ele esperou que todos saíssem em seus devidos andares para apertar o último andar. As portas prateadas se abriram, revelando uma sala ampla e limpa, digna de um chefão, com direito até mesmo a uma estante repleta de livros com lombadas coloridas, e com os títulos impossíveis de se ler.

Eu tinha estado em uma sala completamente diferente.

– Fique aí, ok? – ele pediu, deixando-me perto dos livros.

Estiquei a cabeça para vê-los e sorri de orelha a orelha.

– Como entramos? – perguntei, colocando as mãos para trás, balançando meu corpo pra a frente e pra trás.

Edward me lançou um olhar que não pude distinguir e bufou.

– É pela estante, não é? – sussurrei animadamente, tocando ainda mais nos livros, puxando-os de leve para ver se algum deles revelaria uma passagem secreta.

Um barulho de algo se arrastando pelo carpete claro encheu meus ouvidos. Me virei para a origem do som e meu queixo foi ao chão. Edward havia tirado um quadro pequeno e digitava alguns números em um aparelho parecendo estar preso na parede. Os bipes dos números ficaram mais altos e uma voz robótica e monótona disse:

“Edward Holt, bem vindo de volta.”

Seu sorriso era mais largo do que poderia ser, e eu mordi os lábios. Ele esticou a mão pra mim, me incentivando a dar alguns passos em sua direção. A voz disse novamente:

“Helena Jameson, seja bem vinda. Que seu primeiro dia seja maravilhoso.”

E então ficou tudo em silêncio.

– O que foi isso, Edward? – peguei seu braço novamente, vendo a parede a nossa frente se dividir em vários pedaços, liberando uma passagem larga e clara.

– Essa é RIU.

RIU?

Rastreador de Informações Úteis.

­Balancei a cabeça e sorri levemente afetada.

– Não temos essas coisas em Sleepy Hollow.

Quase pude vê-lo revirando os olhos.

– Estamos em Manhattan, Helena. Tem muitas coisas que você não viu enquanto trabalhava . – sua voz tinha um respingo de diversão e, irritantemente, eu não conseguia entender o porquê.

Entramos na passagem e a porta atrás de nós se fechou quase sem ruído algum. A nossa frente, mais uma senha foi precisa, mais uma vez a voz repetiu tudo o que já tínhamos ouvido e nada mais. Pensei que fossemos ficar presos dentro daquela passagem para sempre. Já começava a ficar com falta de ar quando a parede branca abriu. O pessoal que cuidava dessa empresa não sabia o que eram? Elas eram bem mais eficazes do que simples paredes.

Quando ela se abriu, fiquei completamente estática, em choque pela visão que se estendia a minha frente.

Estávamos dentro de uma arena para treinamentos, enorme e larga, tendo salas com janelas para qualquer pessoa ver, espalhadas pelo local. Parecia muito maior do que toda a estrutura do prédio permitia. Não tinha nenhuma janela que desse para ver o lado de fora. Mas diferentemente do pequeno hall que estávamos anteriormente, eu não me sentia claustrofóbica.

– Uau. – exclamei, colocando as mãos juntas, impedindo que elas tremessem pela excitação que percorria minhas veias e me atraía para as salas.

As pessoas vestiam roupas escuras que pareciam confortáveis, enquanto manejavam armas enormes e davam socos em sacos de areia. Em cima das pequenas salas havia placas com letras escritas em preto: “Armamento”, “Condicionamento Físico”, “Condicionamento Mental”, “Treinamento Inicial”.

Meu sorriso se espalhou ainda mais quando vi Ezra se aproximando de nós, com as mãos para trás e semblante suave, diferente do que eu tinha visto da última vez que tínhamos nos encontrado.

– Helena, vejo que decidiu vir hoje! – ele disse animado.

Revirei os olhos enquanto cruzava os braços em cima do peito.

– Por mim teria vindo há semanas. Mas você não me autorizou, lembra?

Ezra riu e pude ver uma covinha afundar em sua bochecha. Apesar do sorriso estampado no rosto, era nítido o semblante sério que ele mantinha escondido nos olhos azuis.

– Preciso voltar à ativa. – respondi.

Ezra pareceu satisfeito com a resposta, pois sorriu ainda mais.

– Ótimo. Mas precisaremos lhe tratar como qualquer novato. – ele avisou.

Levantei as mãos me rendendo.

– Faço qualquer coisa pra voltar ao trabalho, Ezra.

Minha resposta fez com que ele levantasse as sobrancelhas, como se estivesse intrigado.

– Isso é bom. Muito bom, na verdade. Mas antes de começar a treinar terá de fazer uma análise com o psicólogo da empresa.

Balancei a cabeça assentindo. Se passar em um psicólogo só para ele dizer que eu não insana era o preço a se pagar para voltar à ativa, então eu faria sem questionar.

Ezra bateu uma mão na outra, e sorriu mais abertamente, se direcionando para Edward desta vez.

– Edward, por que não leva Helena até minha secretária para fazê-la assinar os papéis da admissão?

Meu companheiro segurou meu braço e sussurrou:

– Quanto mais rápido assinar, mais rápido poderá usar uma arma. – ele parecia ter previsto que eu não gostaria nem um pouco de assinar o documento.

Em Sleepy Hollow não tínhamos precisado assinar nada, por que em Manhattan era preciso?

– São normas da empresa, Helena. – ele murmurou lendo meus pensamentos.

Revirei os olhos e me deixei ser puxada, enquanto admirava tudo a minha volta. Tudo era cinza, branco e preto. Um símbolo no chão era semelhante ao do Selo Presidencial. Éramos autorizados a usar aquele símbolo? Andamos apressadamente até uma porta – finalmente uma porta e não uma parede – que ao se abrir, revelou uma grande sala com cores amarelas suaves e delicadas, com móveis de madeira cor de mogno e estofados escuros. Parecia ser uma sala calma e quando uma moça roliça se levantou de detrás da mesa no centro da sala, tudo se alegrou. Ela trajava um vestido vermelho e um lenço escuro no pescoço e sorria, enquanto estendia as mãos em minha direção.

Nos aproximamos ainda mais e ela chacoalhou minha mão.

– Olá, querida! Seja bem vinda. – a mulher disse com a voz calma. Era possível ouvir o tom amigável, o que fez com que eu relaxasse. Abria boca para responder e ela continuou: - Sou Prisma, a secretária, mas pode me chamar de Pris. Não sabia se viria hoje mesmo, mas já estou com toda a papelada. Se quiser assiná-la agora...

– Ezra me mandou assinar todos os papéis necessários, para que eu já começasse a treinar... – eu disse com a voz levemente ácida, sem intenção.

Ela balançou as mãos, me interrompendo.

Mordi a língua para me impedir de continuar falando.

– Foi o que pensei. Sente-se.

Sentei-me na cadeira macia enquanto Edward permanecia de pé, com as mãos para trás e peito estufado. Uma postura completamente diferente da que tinha em Sleepy Hollow. Muito diferente da postura que eu conhecia.

Pris enfiou a mão embaixo da papelada em cima da sua mesa e me entregou, assim como uma caneta, indicando os lugares que eu teria de assinar.

– Aqui. – ela apontou e eu rabisquei meu nome. – E aqui. – mais um rabisco.

Quando terminei, ela simplesmente sorriu mostrando seus dentes levemente amarelados e arrumou as folhas enquanto as batia na mesa, alinhando-as. E esticou novamente a mão para mim, que eu peguei sem hesitar.

– Seja bem vinda à sua nova empresa!

Fui obrigada a sorrir mesmo que não estivesse com vontade de fazer tal coisa.

– Obrigada, mas não temos que fazer um juramento e nem nada disso? – perguntei.

Edward pigarreou.

– Oh! Não! Preferimos que as pessoas nos mostrem que valem a pena no dia-a-dia, e não com um juramento idiota.

Fiquei em silêncio enquanto assentia roboticamente.

Eu tinha feito um juramento em Sleepy Hollow.

“Proteger e cuidar a qualquer custo. Não hesitar em cobrir seu companheiro. Não hesitar em matar.”

Mesmo que o último juramento tivesse sido veementemente ignorado por mim, eu tinha cumprido todos os outros. Seria estranho trabalhar para uma empresa que você não tem nenhum comprometimento.

Pelo menos para mim seria.

Pris se acomodou na cadeira atrás dela novamente, e se concentrou nos papéis a sua frente, empurrando os documentos que eu tinha acabado de assinar para uma gaveta, trancando-a.

– Boa sorte no primeiro dia, Helena. Espero que sobreviva. – sua voz foi doce, mas ela não olhou para mim, continuando a fuçar em uma das diversas pilhas de papel em cima de sua mesa. E isso foi o que mais me amedrontou.

Me virei para Edward e o puxei pelo braço, querendo sair dali o mais rápido possível.

Os pelos de meus braços se arrepiaram. Eu sentia a necessidade de voltar para casa e me enfiar embaixo de um cobertor. De nunca mais voltar.

Encostei a cabeça na parede quando saímos da sala, respirando fundo numa tentativa de me acalmar.

– Ela é assustadora. – balbuciei.

Ouvi Edward rir.

– Não. Pris é só doce demais.

Abri os olhos o encarando.

– Ela é uma pessoa doce medonha.

Ele levantou uma das sobrancelhas escuras e grossas, e sorriu.

– Isso porque ainda não viu o Sr. White.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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