A carta a frente era clara, como água. Katerina havia partido para se juntar ao lorde Niklaus. Suas letras eram suaves e perfeitas sobre pergaminho amarelado e novo.

"Pequena Caroline,
Sinto por não ter lhe dito antes o porque de minha partida, mas de fato a notícia me pegou de surpresa. Eu queria muito poder ter contado isso à você, mas você estava dormindo, e não queria te acordar considerando seu estado de saúde.
Você sempre será minha melhor amiga. Venha algum dia me visitar. Deixei alguns vestidos que fiz para você, está no guarda-roupas, ao lado direito, já que não pude me despedir, espero que me perdoe e que meu presente lhe recompense.
Lorde Niklaus é um ótimo rapaz, ele me faz me sentir única. Acho que encontrei a paz depois que tiraram meu bebê de mim.
Bem... eu vou me despedindo, eu te amo.
Nunca se esqueça disso.
Com amor, Katerina Petrova."

As lágrimas já escorriam livremente por meu rosto e funguei fundo, sorrindo por ela estar feliz, afinal era o que eu mais queria. Nunca tive um filho tirado de mim, talvez nunca poderia entender sua dor, mas eu podia ver a tristeza estampada em seus olhos quando ela estava sozinha. Sorri mais uma vez, convencida de que ela ficaria feliz com o novo par que arrumara, e eu esperava que eles fossem felizes juntos e que pudessem ter um filho, que desta vez não fosse tirado de suas mãos.

Limpei as lágrimas e fui até minha escrivaninha, pegando um novo pergaminho e a pena, tentando desenhar, sabendo que não sairia nada mais do que rabiscos. Arfei ao sentir uma forte pontada no estômago, como naquele dia no baile e apertei a barriga, esperando que assim aquele desconforto passasse. Minha visão ficou embaçada, talvez pelo rápido choro de alegria que eu tivera antes. E então tudo passou, rapidamente, e respirei em alívio, voltando a atenção para o pergaminho.

Minha boca estava escancarada ao ver a bela imagem que estava a minha frente. Sem sombra de dúvidas aquilo era um perfeito desenho de um artista com um talento e tanto. Era uma bela mulher. Os cabelos eram longos e cacheados, caiam em pesados cachos constratando perfeitamente com o vestido longo, muito simples, porém que delineava suas curvas. Em seus olhos tudo o que se podia ver era um puro vazio que era um tanto perturbador. No canto direito, no rodapé, vi um nome jamais visto por mim, Lilith. Mas o que mais estava me deixando atordoada era ver que fora eu quem fizera aquela obra magnífica. Mas como? Nunca consegui desenhar nada além de rabiscos que até mesmo Sammy poderia fazer melhor.
Como eu poderia fazer aquilo?!

A porta se abriu e virei para meu pai, vendo-o sorrir para mim.

– Como está?

– Porque não me acordaram quando Katerina partiu?

– Ela preferiu que continuasse a dormir. Vocês eram grandes amigas.

– Ainda somos grandes amigas. - corrigi, ainda atordoada. Ele se aproximou e sua reação foi como a minha, de incredulidade.
– Você fez isso?

– Acho que sim. - respondi, não me sentindo nada ofendida por sua reação. Tudo o que eu sabia fazer além de cantar era tocar, apenas isso. Mas desenhar?

– Está incrível! - sorriu animadamente. - Porque não pendura em sua parede?!

– Eu não... pensei nisso. - admiti.

– Vou pedir a Pedro uma moldura que se encaixe. Quero que faça uma réplica, pois colocarei em meu quarto! Magnífico! - saiu radiante.
Enruguei o cenho e balancei a cabeça.

Mas e como estaria Katerina agora? Ela estaria bem?