“Espero não ter te atrapalhado em nada.”, eu disse mexendo os meus pés contra o asfalto. Olhei para os lados da rua deserta, temendo que minha madrinha chegasse e visse. “É que era realmente importante.”

Ethan assentiu se recostando no carro e cruzando os braços.

“Eu sei.”, ele respirou fundo abaixando os olhos – que momentaneamente estavam azuis demonstrando que a sua imparcialidade que tentava expressar em seu rosto neutro era mera fachada. “Jordan, se você está arrependida do que aconteceu na noite passada, irei compreender. Passei dos limites dessa vez. Você está com Drake e eu deveria dar o braço a torcer. O problema é que quando te vi tomando aquele tiro, percebi como era fácil te perder, não para outro cara, mas para alguma fatalidade. Você é uma princesa e sempre estará no alvo de algum maluco. Eu precisava de você viva em meus braços uma última vez antes de convencer a mim mesmo de dizer Adeus.”

Pressionei os lábios juntos, sabendo que poderia começar a chorar a qualquer momento. Esse era o meu maior paradoxo. Todas as vezes que via Ethan queria bater nele, chorar por ele e depois amá-lo. Passei as mãos por meus cabelos escuros e suguei todo o ar possível, sentindo minha garganta áspera.

“Eu te amo.”, sussurrei jogando-me em seus braços e sentindo o seu cheiro. Ele beijou o topo de minha cabeça. Funguei, passando as mãos com força por meu rosto. Afastei-me, querendo olhar em seu rosto triste e magoado. De qualquer maneira aquilo seria uma despedida. “Ethan, eu vou embora.”

Seus olhos azuis se arregalaram.

“O quê? Não! Você não pode ir embora por minha causa, por favor!”, ele pediu pegando em minha mão e entrelaçando os nossos dedos. Os dele tremiam. “Eu me afasto, nunca mais olho para você. Só não suma novamente.”

Foi ali que tive a total certeza de um fato: Aqueles dois meses que passamos separados não tinha apenas destruído a mim, mas a ele também. Toquei em seu rosto com a ponta dos dedos, pensando no tempo que havíamos perdido separados por uma cultura que estava enraizada ou por mágoas do passado. Eu deveria tê-lo amado mesmo com os seus defeitos, almejando que ele fizesse o mesmo.

“Eu preciso ir, Ethan.”, disse mesmo que não estivesse convicta disso. “Não é por você. Essa decisão é por conta da coroação. Meus pais estão aterrorizados com o que aconteceu e, sinceramente, eu também. Tenho que me preparar para o que está por vir.”

Tive que me calar, pois tinha o risco de mudar de ideia e dar a ideia de fugirmos. Era exatamente o que eu queria. Fugir para longe de toda essa loucura e ser apenas a Jordan, não a Princesa Jordana. O segundo motivo para eu ter me calado foram as lágrimas descendo pelo rosto de Ethan, acompanhadas por sua boca que se abria e fechava, sem saber o que dizer. Sim, ele concordava em minha proteção, todavia isso mudava de perspectiva quando uma distância não determinada estava sendo colocada entre nós dois.  

Nossos olhares se cruzaram, pré- determinando os nossos próximos movimentos. Quando percebi, meus braços estavam ao redor de seu pescoço e os nossos lábios se uniram com paixão, ardor, saudade e lágrimas. Essa história de amor deveria ser mais fácil e ter menos choro, só que se fosse assim, não seria nossa. Ele apertou minha cintura, puxando-me com paixão contra o seu corpo e encostou sua testa na minha enquanto acalmávamos nossas respirações e nossos corações.

“Eu te amo, Jordan.”, ele segurou meu queixo e ergueu meu rosto. “Não tem distância ou tempo que mude isso, e nós sabemos que isso é verdade.”, com a outra mão ele afastou o cabelo do meu rosto e limpou as lágrimas de meu rosto. “Se for para escolher, prefiro que fique longe e segura.”

Mordi o lábio inferior.

“Não se esqueça de mim.”, pedi com um fio de voz.

“Nunca, Jordan.”

Dei um sorriso fraco.

“Sabe uma das coisas que eu mais amo em você? Nunca me chamou de Princesa ou de Jordana.”, acariciei a sua bochecha e o beijei com leveza. “Isso não é um Adeus.”

Ele assentiu.

“Quando nos encontrarmos novamente estarei te esperando com rosas e chocolates, como deveria ter sido quando nos reencontramos.”, beijou minha testa e suspirou se mexendo. Dei um passo para trás. “Acho melhor eu ir antes que sua madrinha nos veja e tenhamos outro momento constrangedor.”

Eu ri alto.

“Não vá embora sem falar comigo.”, ele pediu entrando no carro e estendeu a mão na minha direção. “Tenho que me despedir quando realmente for a hora certa.”

            “Nunca iria embora sem falar com você.”, peguei sua mão e apertei os seus dedos. “Eu te amo.”

            “Não tanto quanto eu.”, ligou o carro.

Dei um passo para trás, deixando que ele se afastasse e olhando como uma retardada. Quando ele sumiu na esquina, virei-me para entrar em casa sem reparar em outro carro que estava estacionado a duas casas da minha. Não até a pessoa sair dele e vir na minha direção com toda a raiva do mundo, dando um tapa em meu rosto. Toquei em meu rosto olhando assustada para Annice.

“Não acredito que fez isso com Drake!”, ela esbravejou. Fechou as mãos em punho, pressionando os braços contra o corpo. “Você é uma vadia! Ele te deu todo o amor e carinho que precisava e você só o usou como estepe!”, continuou berrando.

“Annice...”, suspirei. “Não espero que você entenda.”

“E não irei mesmo.”, ela se virou. “Vai ser bom você ir embora. Na verdade teria sido melhor se nunca tivesse aparecido.”

Isso me irritou profundamente.

“Ah é. Para que você pudesse ser a tão esperada Rainha Dark e poder ficar com Drake!”, berrei de volta, fazendo-a parar de andar. “Acha que nunca reparei, Annice? O jeito como você olha para ele? Não jogue sua frustração para cima de mim se não conseguiu o homem que queria.”

Ela me olhou por cima dos ombros.

“Você não merece nada do que ele te deu.”, respondeu entrando no carro e dando partida.

E enquanto ela se afastava para o outro lado, eu fiquei pensando que ela realmente tinha razão.

                                                           ******

 “Então, você e ele estão juntos?”, Drake perguntou calmamente.

Fechei os olhos, sentindo as lágrimas descendo com força por minhas bochechas. Pus a mão na boca, reprimindo um gemido de dor, e assenti. Ele se levantou do sofá e passou as mãos pelos cabelos escuros. Estava despedaçada por estar magoando ele. Levantei-me, porém não ousei me aproximar. Sabia que era a última coisa que eu poderia fazer nesse momento.

“Eu sinto muito.”, sussurrei. Ele me encarou firme. “Não pense que eu não te amei. Você me reconstruiu quando eu mais estava destruída e me guiou por um caminho que eu estava perdida. Só que é ele, Drake. Sempre foi ele. Com os defeitos e todas as coisas ruins, meu coração é teimoso o suficiente para pertencer a apenas uma pessoa. Ethan.”

Ele concordou.

“Espero que ele te faça feliz, senão terei que matá-lo.”, disse sério. Meus olhos se arregalaram. “Sou seu guardião, Princesa Jordana. Tenho que prezar pela sua segurança e de seu coração. Qualquer um que ameaçá-la, terá consequências.”, ele suspirou e se virou para a porta. Vi a tensão em seus ombros e reprimi o desejo de tocá-los. “Tenho que ir. Precisa de mais alguma coisa, Princesa?”

“Drake...”, lamentei pela dor mascarada. Pressionei os lábios. “Não. Pode ir.”

Ele foi. E de alguma maneira eu sabia que ele não voltaria.

                                                                       ****

“Princesa Jordana.”, Alex me cumprimentou.

Dimitri permanecia tenso ao meu lado enquanto eu apertava a mão de Alex. Tinha que resolver só mais isso antes de ir embora em paz. Não sabia que meus pais seriam tão rápidos com os meus preparativos, porém ali eu estava, uma semana depois em direção ao aeroporto para pegar um jato particular para um lugar que nem imaginava existir.

“Tenho que ser breve, Alexander.”, eu disse. “Estou indo embora para me proteger, porém retorno antes da coroação e quero resolver a situação de seu povo.”

Ele fez uma mesura.

“Obrigada, Princesa.”, agradeceu.

Sorri.

“Tenho que me portar como uma rainha, certo?”, fiz uma mesura. “Até mais, Alex.”

“Até, Princesa.”

Entrei no carro junto com Dimitri, esperando encontrar o restante da minha jornada.

                                                                       ****

“Princesa Jordana, temos que ir.”, o piloto Tobias me avisou.

Mordi o lábio inferior e passei as palmas das mãos suadas por meu vestido verde esmeralda. Quem iria comigo seria Dara, Tobias – que além de piloto era um dos Guardiões da minha mãe – e Felicity – Guardiã do meu pai. Eles realmente deveriam parar com essa divisão de guardiões. Todos já estavam dentro do avião, tirando os meus pais, Dimitri e Megan que estavam comigo do lado de fora. Já tinha me despedido de Christina no dia anterior, porém Ethan não estava mais em casa.

Olhei para os meus pais.

“Posso esperar mais cinco minutos?”, pedi.

Meus pais se entreolharam e minha mãe suspirou.

“Querida, sinto muito. Mas é perigoso ficar aqui por muito tempo. Pode atrair muita atenção.”, pegou em minha mão. “Vocês se encontraram em breve, eu prometo.”

Engoli a seco.

“Tudo bem.”, olhei para o avião. “Está na hora de embarcar.”