Não queria abrir os olhos e me decepcionar por toda a noite anterior ter sido apenas um sonho. A luz do sol atravessava minha varanda e esquentava minha pele pernoitada. Algo na minha expressão deve ter me deletado sobre estar acordada, pois a próxima coisa que senti foram dedos macios roçando levemente em minha bochecha. Não consegui mais reter a vontade e abri os olhos, deitando-me de lado.

Meu sorriso praticamente tomou conta de meu rosto a me ver de frente com os olhos verde esmeraldas de Ethan. Minha alegria só hesitou um segundo antes de se manifestar por meu peito, por conta da preocupação que sua expressão possuía.

“Você está bem?”, ele sussurrou.

Estiquei minha mão e toquei em seu maxilar, sentindo a barba por fazer.

“Claro. Estou bem. Dolorida, mas bem.”, coloquei meus cotovelos no colchão e ergui meu tronco. “São que horas?”

Ele deu de ombros, se levantando também. Estiquei minha mão e peguei meus óculos na mesa de cabeceira, pondo-os. Arfei quando me vi de frente para o corpo de Ethan e o quanto ele perfeito. Não fui capaz de parar de admirar até que ele terminasse de se vestir. Seu cabelo loiro estava despenteado e quanto mais ele passava os dedos, mais desordenado ele ficava. Ethan percebeu meu olhar e sorriu.

“O que houve?”

Balancei a cabeça.

“Nada.”, puxei o lençol mais para cima, vendo-o analisando o meu corpo. “Você é perfeito.”

Ele abaixou os olhos e deu um sorriso triste.

“Depois de tudo o que fiz com você, deveria saber que perfeito é a última coisa que sou.”, ele suspirou, mantendo os olhos no chão e pôs as mãos no bolso. Nunca tinha visto-o tão inseguro. “Não vou ficar impressionado se me disser que está arrependida por ontem e...”

Ele nem percebeu quando me levantei e parei na sua frente. Meu ombro ainda doía um pouco por conta do tiro, mas preferi ignorar a dor para tocar em seu rosto. Ele me encarou.

“Você é perfeito para mim e ontem foi perfeito.”, disse com a voz firme. “Nós passamos por coisas difíceis e cada uma delas me fez te amar ainda mais.”

Seus olhos verdes – que estavam começando a ficar azul – se arregalaram com as minhas palavras. Eu também estava. Entretanto era verdade. Por mais que ele tenha me enchido com palavras duras quando descobriu o que e quem eu era, ele tinha sido criado assim. Não poderia achar que algo diferente aconteceria. Era como pedir a um judeu amar um nazista depois de sua família ter sido dizimada no holocausto. Era possível, porém quase impossível.

“Eu também te amo.”, ele me abraçou e deu um beijo em minha testa. “Você é perfeita demais.”, sua voz saiu quase como um lamento. Apertou-me ainda mais contra o seu corpo e eu envolvi meu braço em sua cintura.

Nos beijamos com calma e paixão. Quando percebi, estava de volta na cama e o lençol longe do meu corpo. Meu coração acelerado com cada toque e ansiando pelo próximo. Era assim que meu corpo mostrava que pertencia apenas a ele. E que os problemas ficassem para depois.

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Nunca fui tão boa em escapadas, já que não tinha muitos amigos para escapar e sair. Por isso não fiquei tão impressionada quando meu pé fez o degrau ranger. Fiz uma careta, olhando para minha mãe que estava sentada na mesa de costas para mim, tomando seu chá e folheando seu jornal. Perguntei-me internamente se era da sociedade ou das pessoas do lado de fora.

“Bom dia, Jordana.”, ela me cumprimentou sem se virar.

Endireitei a coluna.

“Bom dia, mãe.”, caminhei até a mesa e me sentei ao seu lado tentando parecer o mais natural possível, mas sentia que tinha uma placa em cima de mim dizendo: NÃO SE ENGANE, ELA FEZ SEXO. Corei com esse pensamento. “O que tem de novo na Sociedade?”

Ela fixou os olhos dourados em mim.

“Não vai chamar Ethan para tomar café conosco, Jordana?”

Uma morte lenta para viagem, por favor.

Cocei a cabeça e pensei na possibilidade de me fazer de desentendida, porém minha mãe era uma vidente. Ela já deveria saber desde a semana passada que Ethan estava no meu quarto. Sem dizer nenhuma palavra, levantei-me da mesa e subi as escadas novamente, indo buscá-lo.

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“Rainha Rosemary”, Ethan cumprimentou minha mãe com uma mesura.

Ela sorriu, se levantando de sua cadeira e retribuindo. Achei incrível o jeito como Ethan fazia isso, não por obrigação, mas por respeito. Porque ele foi aprendido e apreciava minha mãe. Duvidava muito que meu pai fosse receber o mesmo tratamento. Ele puxou a cadeira para mim e se sentou ao meu lado, pegando uma xícara de café.

“Dormiram bem?”, minha mãe perguntou casualmente.

Quase saiu café pelo meu nariz, mas Ethan mantive a postura. Por mais que suas bochechas e seus olhos azuis denunciassem a seu constrangimento.

“Sim, Rainha, obrigada por perguntar.”

Minha mãe fixou os olhos brincalhões nele.

“Não precisa me chamar assim, Ethan.”, ela disse suavemente. “Dentro de casa sou apenas Rose, a mãe de Jordan.”, seus olhos castanhos se estreitaram. “E você?”

O rosto dele ficou ainda mais vermelho.

“Eu o quê?”

Rose ergueu uma sobrancelha. Quis entrar debaixo da mesa e cavar um caminho até o inferno.

“O que você é da minha filha? Por que ela tem namorado.”

Passei as mãos por meu rosto.

“Perdi a fome.”, eu disse levantando-me. “Vamos, Ethan. Te levo até a porta.”

Minha mãe ergueu a mão, me impedindo.

“Espere, Jordana. Estou interessada em ouvir essa resposta.”

Ethan se levantou e eu pensei que ele iria seguir o meu conselho, seguindo-me até a porta. Porém ele parou na frente de minha mãe e estufou o peito, tomando fôlego – e coragem.

“Eu a amo, Rainha. Por mais que tenha agido como idiota antes, não teve nada que eu fizesse que tivesse mudado esse sentimento.”, aproximei-me dele e peguei a sua mão. Ele me olhou com um pequeno sorriso. “Vou esperar que ela resolva a sua situação e escolha com quem quer ficar. E se eu ainda tiver o privilégio de ser o que vai ter o seu coração, juro guardá-lo como se fosse parte de mim.”

Eu fiquei sem palavras. Só tive a concepção de que o amava ainda mais.

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Depois do café da manhã praticamente desastroso que tivemos, achei mais que justo quando Ethan quis ir embora. Iriam dar falta dele e ainda tinha que fugir dos olhos ágeis de Dimitri. Obviamente Christina sabia onde o irmão passou a noite, mas nem por isso contaria para todos. Ainda por cima contando a história complicada que eu me encontrava.

Estava me ajeitando para encontrar Dimitri para o treinamento quando a voz de minha mãe me impediu. Congelei, por pensar que ela teria uma daquelas conversas sobre sexo comigo. Fechei os olhos e me preparei mentalmente, virando-me para ela. Rose estava com as mãos na frente do vestido e a expressão séria.

“Seu pai e eu conversamos.”, ela disse com suavidade. Engoli a seco, pois da última vez que escutei isso não foram boas notícias. “Achamos que sua proteção está se tornando ainda mais difícil agora que se tornou uma notícia pública.”, ela se aproximou e pegou na minha mão. “Querida, iríamos contar isso quando estivesse preparada, mas você está entregando seu coração e se despedaçando.”, ela respirou fundo.

“O que houve, mãe?”, ela estava bloqueando seus pensamentos.

“Você vai embora daqui.”