“Ethan, o que você está fazendo aqui?”

Era estranho vê-lo fazendo alguma coisa tão familiar quanto pular a minha janela e ficar deitado na minha cama enquanto lê uma revista antiga de moda. Era tão familiar que chegava a ser incomodante. Mordi o lábio inferior, desviando os olhos dos seus. Ele se sentou na cama e pôs a revista de lado.

“Esqueci-me de te dizer que minha cor favorita é azul.”

Isso me fez rir. Não tão alto para que não alertasse Megan, mas o suficiente para fazê-lo sorrir. Suas bochechas ficaram coradas e ele passou as mãos pelo cabelo, nervoso. Tive que por minhas mãos sobre a minha boca, para finalmente o riso se cessasse. Realmente, aquela era a pior desculpa que eu já havia escutado em toda a minha vida.

“Você veio até a minha casa quase uma hora da manhã e pulou a janela apenas para me dizer que sua cor favorita é azul?”, perguntei levantando uma sobrancelha.

Ele assentiu.

“E vim perguntar se você não quer ir a um lugar comigo.”, ele ofereceu.

Foi então que eu percebi as suas roupas. Estava com uma camisa de gola V preta e jaqueta de couro – o que me fez comparar o seu estilo com o de Drake -, calças jeans escuras e tênis da Nike. Seus cabelos ondulados estavam bem mais organizados do que geralmente eram. E o seu perfume estava inundando meu quarto e me fazendo ficar tonta.

A adrenalina que eu pensei que estivesse morta voltou a me inundar e eu dei um salto até o meu armário, procurando por alguma roupa que me fizesse ser uma companhia aceitável ao lado de Ethan. Meu bom senso estava gritando que aquilo era errado. Além de estar saindo escondida de casa, estava saindo com meu ex-namorado.

Sorri.

Eu realmente tinha sangue Dark.

Saí do quarto, prometendo estar pronta em cinco minutos, o que eu cumpri com veemência. Parecia que uma parte adormecida estava despertando lentamente, com a ideia de sair com Ethan. Uma parte que eu deveria odiar, mas que eu estava deixando assumir o controle. Porque eu sempre dava chance para reagir com a minha parte Carmim. Estava na hora de Jordana Dark ter a sua chance de aparecer.

Quando fiz 16 anos, Megan achou que estava na hora de melhorar o meu guarda roupa. Mesmo que tivesse repudiado aquilo na época, estava agradecendo com todas as minhas forças por Meg ter me forçado a ficar quase 5 horas no shopping comprando roupas que eu nunca pensei que usaria.

Sai do banheiro com os saltos scarpin pretos na mão direita e na ponta dos pés, para que Megan não me escutasse. Parei em frente a sua porta e deixei que minha mente vagasse por seus pensamentos. Dei um salto para trás ao perceber o que se passava em sua mente e recoloquei a barreira em seu devido lugar.

Meu rosto estava completamente corado quando entrei no quarto. Ethan parou de andar de um lado para o outro e me encarou, ficando com a boca aberta. Eu tinha posto um vestido preto colado que destacava todas as minhas curvas – mesmo que fossem poucas – e tinha alças finas, mas que não ousavam sair do lugar.

O colar que Drake me deu estava pendurado em meu pescoço, como um lembrete de que eu não poderia fazer nada demais. Além de me divertir. Tinha posto brinco de pérolas, por não gostar de coisas muito exuberantes. Sorte que o efeito da cura de Dara durava mais tempo do que a de Dimitri. Então não precisava usar óculos, mesmo que daqui a algumas horas eu pudesse estar enxergando tudo embaçado.

Meu cabelo estava soltou e ondulado e eu o tinha penteado o suficiente para que parecessem cortinas negras em contraste com minha pele pálida. Em meus lábios tinha passado um batom vermelho – cortesia do meu lado Dark – e em meus olhos, apenas um delineador e lápis, para destaca-los.

“Nossa.”, foi tudo o que Ethan disse, mas foi o suficiente para me deixar orgulhosa. Ele se aproximou e me estendeu a mão. “Foi uma boa ideia não ter posto os saltos ainda. Por que eu tenho certeza que sua madrinha não iria aprovar que saíssemos á essa hora. Então para não servos pegos...”, ele apontou para a janela e sorriu. “Eu vou à frente e te pego, ok?”

“Tudo bem”

Não, não estava tudo bem. Isso tudo trouxe um deja vú em minha mente, de dois meses atrás, quando eu pulei aquela janela e fui para pensar na vida e acabei sendo perseguida por um bando de Dark. E por Nara. Tentei não tremer enquanto me aproximava da janela. Parei apenas para pegar uma bolsa preta e guarda dinheiro e documentos.

Quando viu que eu estava pronta, Ethan se posicionou na minha janela e olhou para baixo com um meio sorriso. Eu sabia que pular de lugares alto era comer tomar sorvete para Ethan. Olhei para o meu vestido que só ia até a metade de minhas coxas e por um segundo me arrependi de tê-lo posto.

Mas então uma ideia tocou a minha mente. Segurei o meio sorriso, até que Ethan pulou e eu escutei um baque surdo no meu quintal. Me inclinei na janela e o vi passando as mãos pela jaqueta. Olhou para cima, sorrindo e me estendeu os seus braços. Seria muito infantil dizer que passei algumas noites sonhando com esse momento? Pois eu sonhei.

“Pegue”, eu sussurrei para ele e joguei meus sapatos e minha bolsa.

Enquanto ele se preocupava em catar os objetos espalhados pelo jardim, sentei-me na janela e pus minhas pernas do lado de fora. Vi a escuridão tomando conta da minha rua, mas isso não me deu medo. Antes que pudesse hesitar, empurrei-me janela a baixo. Caí em um baque surdo, agachada e joguei meus cabelos para trás, ainda sorrindo.

Ethan tinha a boca aberta, com um grito contido. Então, seus olhos começaram a se tingir lentamente. Fingi ignorar aquilo e peguei os meus sapatos de suas mãos e os calcei. Arrumei a bolsa em meu corpo e pus as mãos em minha cintura. Fiquei feliz por ter saído dos meus convencionais 1,65 de altura. Dei um passo à frente e vi os olhos dele queimando em azul.

“Vamos procurar um táxi.”, ele disse lentamente. Começamos a caminhar lentamente pela rua, por conta dos meus saltos. “E no caminho você pode me contar como você conseguiu pular de um jeito tão prático... e sexy.”

Sorri, olhando para frente.

“Você realmente não vai querer saber, Ethan.”

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“Queremos ir para a Dark Paradise, por favor.”, Ethan disse dando as instruções ao motorista de táxi. Então voltou a se recostar no banco de trás ao meu lado. “Já disse que você está bem bonita? Na verdade, está perigosamente sexy.”

“Ethan...”

“O que foi?”, ele arregalou os olhos em falso espanto. “Não posso dizer que uma amiga minha está bonita ou sexy?”

“Não se você for hétero.”, respondi.

Isso o fez sorrir e se aproximar mais. O espaço era limitado, então só pude chegar um pouco para trás. Sem que eu esperasse, sinto sua mão acariciando minha coxa exposta. E, ao contrário do que aconteceu com Drake mais cedo, minha pele se arrepiou e tive que segurar um gemido. Ethan ficou sério e ficou tão perto que senti seu peito roçando no meu, enquanto respirávamos.

“Não sou gay, Jordan.”, ele disse baixo com a voz rouca.

“Eu sei.”, respondi em um sussurro.

Ah, eu sabia muito bem. As lembranças de nossos limitados beijos ainda dançavam por minha mente. E nenhum deles tinha sido muito educado. Sua mão apertou minha coxa, me fazendo fechar os olhos. Senti seu nariz na curva de meu pescoço e suspirei. Como ele poderia ter tanto controle sobre mim? Me fazer sentir tanto com tão pouco?

Meu coração e meu pulmão trocaram de lugar por alguns segundos, e eu me senti tonta. Seu cheiro invadia minhas narinas e eu perdi o senso do que estava acontecendo. Até que sua mão roçou em meu cordão, enquanto tentava tocar o meu cabelo para puxar meu rosto de encontro o seu.

Recuei.

“Se comporte, Ethan.”, eu disse e dei um tapa em sua mão que estava em minha coxa. “Você disse que seríamos amigos, confidentes. Não amantes.”

Ele ficou me encarando por alguns segundos, apenas absorvendo as minhas palavras. Então piscou algumas vezes, fazendo com que seus olhos voltassem a ser verde. Ethan assentiu e passou as mãos pelos cabelos loiros. Mordi o lábio inferior. Eu poderia ter aproveitado mais um pouco e ter feito aquilo por ele.

Mas parecia que meu lado Dark não tinha me controlado o suficiente para que eu traísse Drake. Talvez por sua fidelidade estava em meu namorado Dark. Passei os dedos por minha coxa, quase que inconsciente do meu movimento. Minha pele parecia que estava pegando fogo, então abri a janela, sentindo o vento da noite tocando minha pele corada.

“Como anda o relacionamento de Christina e Dimitri?”, perguntei, tentando desviar a atenção dele do que acabou de acontecer.

E do que iria acontecer. Nem ousei olhar para o motorista.

“Eles estão indo.”, Ethan disse. O encarei. Ele tinha a testa franzida, como se tivesse dúvida do que estava falando. “Christina que me aconselhou á ser seu amigo. Tentar começar de novo. Ela está fazendo isso com Dimitri e parece que está funcionando. Eles saíram para jantar ontem e minha irmã voltou com um grande sorriso nos lábios.”

Eu sorri, imaginando que a folga que dei á Dimitri realmente tinha valido á pena. Ficaria muito feliz se eles se acertassem de vez. Antes que pude expressar os meus pensamentos, o motorista parou o carro e Ethan sorriu.

“Chegamos.”