Ain't No Way We're Going Home escrita por snowflake


Capítulo 22
Polaroid


Notas iniciais do capítulo



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Sabe quando você simplesmente acha que nada mais de ruim pode acontecer? Que já ocorreu tanta desgraça na sua vida, que nada mais pode fazer piorar?
Era assim que eu pensava antes de receber aquele telefone do Hospital Central de Kingsland.

Talvez nem todo mundo passe por isso. E eu espero que ninguém passe por isso.
A única pessoa que eu sabia que se importava comigo, apesar de tudo.
A única pessoa da minha família que eu amo com todo o meu coração.
Sangue do meu sangue.
Morta.

Char estava morto. E eu ainda não acreditava.

Meu irmão. Nós nos vimos crescer. Vimos uma ao outro, errar, acertar, consertar os erros (um mais que o outro).

Eu estava ao seu lado em seu último suspiro, isso me alivia um pouco.

Eu segurava sua mão, e ele pulou, abrindo os olhos verdes rapidamente.

— Aus... – ouvi ele falar, antes de fechar os olhos novamente e o aparelho ao meu lado, que antes apitava ritmicamente, soltar um som contínuo e claro.

Seu peito , que antes subia e descia, para e nenhum ar entra em seu corpo mais.

Eu paro por um momento, tentando raciocinar o que está acontecendo.

Levantei-me correndo e vou ao corredor atrás de alguém.

Só uma coisa passava pela minha mente.

Por favor, não me deixe.

Infelizmente, o universo nunca gostou muito de mim, e nem em um momento de pânico ele ficou do meu lado.

No momento eu estou de frente para o mar, ainda na casa de Dez em Cocoa, sentado na areia. Em algumas horas vamos voltar para Miami, onde Char será cremado lá. Ele sempre quis se previnir, então ele tinha em sua conta bancária uma parte reservado somente para isso.

Estranho, não é? Até parece que ele já sabia que seu fim estava próximo.

— Oi. – a morena senta-se ao meu lado. – Nós já vamos ir.

Somente concordo e continuo olhando para as ondas que se quebravam na areia.
O vento balançava nossos cabelos, e o céu estava cinza.

— Eu escrevi mais uma parte daquela música. – ela tenta. – Quer ouvir?

Olho para seu olhos castanhos. Ela não sentia pena, ou dó de mim. Ela só estava querendo me ajudar a esquecer.

Esquecer.

— Quero. – faço um falso sorriso, ela comprime os lábios, abrindo o caderno que eu não percebera em suas mãos.

— “I know exacly what you feel and doesn’t matter what you say. I see the sun begin to set and we’ve gotta get away.” – ela lê para mim, e sua voz me acalma.

— Ficou boa. – admito, sem nem mesmo prestar atenção a letra.

Ela me abraça de lado, apoiando seu rosto em meu ombro.

— Obrigado. – digo.

— Pelo quê? – Ally questiona.

— Por tentar me fazer feliz, e conseguir. – falo, olhando novamente em suas orbes castanhas. – Eu te amo.

— Eu te amo mais.

E eu beijo seu lábios sem gosto.

O ruivo nos chama. Nós vamos embora.

Subo na caçamba junto da morena, Trish e Dez estão na cabine interna, conversando baixo, e sérios.

Ally sentasse perto de uma das “paredes” da caçamba, escostada nela, e eu de frente para ela, na outra “parede”.

Encostamos nossos pés. Do mesmo modo como fizemos antes de toda esta tragédia acontecer.

Tragédia.

Ally encosta sua cabeça na cabine da caminhote, e seus olhos estão longe.

Como ela é linda.
E ela nem tem noção do quanto é linda.

Ally foi e é, com toda a certeza do mundo, a melhor coisa que já aconteceu comigo.
Ela é a minha esperança, a minha luz do final túnel escuro.

Começo a pensar no ocorrido com Char (por mais que doa muito ainda).

Ele salvou a vida do amor da vida dele.

Eu faria o mesmo pela morena?

Não tenho dúvidas que eu a amo, como nunca amei ninguém. E vejo como me equivoquei ao pensar que além de Char ninguém se importava comigo.

Ela faz de tudo para que eu me sinta bem, ela me faz feliz.

Gostaria de tocar alguma canção, mas infelizmente o meu violão foi baleado por Rocky. Aquele filho da puta me deve tanta coisa...

Aproximo-me da escotilha, abrindo-a.

— Trish. – a latina vira o rosto para mim. – Pode ligar o rádio?

Ela assente, ligando o aparelho. Uma música calma e rítmica que tocava, teve seu som abafado por uma voz.

E agora” – a voz do locutor soa em todo o carro. – “Uma das mais bonitas músicas de New Order”.

Uma batida animada, envolvendo guitarra e bateria começa.
A voz do vocalista emite um “Uh” contínuo e suave.
Realmente uma longa introdução, mas boa de se escutar.

É do tipo de música que te faz querer voar. Que você ouve, querendo que ela dure para sempre, pois ela te faz bem.

— Nossa! – Dez exclama, reconhecendo a canção. – Meus pais ouviam esta música o tempo todo. Eu tenho ainda o disco desta banda em casa.

— Provavelmente os meus também tinham. – acrescento.

Dezmond faz uma curva, entrando na Rota 95, e ela estava vazia. Somente nós, com New Order tocando bem alto.

Levanto-me, ficando de braços abertos.

Olho para Ally, e ela está sorrindo para mim. Sorrio de volta.

A música entre em meus ouvidos, eu fecho os olhos e me sinto vivo.
Finalmente achei a felicidade que faltava.
E achei essa felicidade na música.

A heaven, a gateway, a hope
Just like the feeling inside, it's no joke

Nunca me senit assim antes.

Era algo como voar, ou quando você está apaixonado. Algo que faz você sentir frio na barriga.

Olho para Ally novamente, e ela está em pé, ao meu lado, com as mãos em cima da caminhonete. O céu já começava a abrir, e o sol nas nossas costas nos esquentávam. Ally senta-se na caçamba, e eu a acompanho.

Olhamos para o fim do sol diário juntos, de mãos dadas e mais felizes.

Como é bom aproveitar o momento de sol depois de toda a tempestade emocional que passamos.

O carro sobe e desce pelas pequenas lombas da estrada, escondendo a luz amarelada do sol por alguns momentos.

Ally parece ter uma ideia, e agarra sua mochila, abrindo-a e procurando algo.

Ela tira uma câmera estranha, que eu não reconheceria se não fosse o fato da foto sair da máquina assim que ela capturou a imagem.

— Desde quando você tem uma polaroid?

Ela sorri, balançando a fotografia rapidamente para secar.

— Eu ganhei de Dallas no meu aniversário. Pensei em trazer e acabei me esquecendo de usá-la.

Ela olha para a foto.

— Ficou boa. – admito.

Ela procura mais alguma coisa na mochila, retirando de lá uma caneta preta.

— “O mais belo pôr-do-sol”. – ela dita, já escrevendo embaixo da foto.

— Por que “A. e A.” no final? – questiono, vendo a foto.

— Nós dois. Austin e Ally. – ela sorri, olhando a foto. – Eu sempre faço isso. Assim eu me lembro quem estava comigo quando eu tirei a foto.

Sorrio também, abraçando-a.

E nós ficamos assim, até Miami.

—————————————————————————

— Acordem! – ouço a voz da latina nos chamando. – Vamos! Nós já chegamos em casa!

Abro os olhos, meio tonto. Está escuro. É de noite e está um pouco frio. Eu e Ally dormimos abraçados na caçamba durante a viajem.

A morena continua desacordada.

— Ally. – balanço-a. – Acorde.

Ela resmunga, abrindo os olhos.

— Vamos logo! – Trish se irrita, e sai caminhando.

Dou uma pequena risada. Saio da caçamba, já levando minha mochila, e morena vem atrás de mim. Caminhamos até a casa da família De La Rosa, para nos despedirmos.

— Pode levar a Blue hoje, Austin. – Dez indica, entregando-me a chave da caminhonete.

— Blue? – Trish e Ally perguntam, em unissolo.

— É. – ele assente. – Blue, a picape que vocês estavam a menos de cinco minutos.

Alicia revira os olhos, acompanhada de Trish, que faz uma expressão estranha e volta a conversar com Ally na sala.

— Mas... – questiono. – Sua casa é a mais de nove quarteirões daqui. Não me diga que...

Ele coça a nuca, sorrindo.

— Muito bem cara. Finalmente tomou jeito. – sorrio, feliz por Dez.

Desde que eu conheci Trish, Dez começou a falar dela para mim, e eu já comecei a desconfiar de algo. Noite passada ele me contou que falou sobre Carrie para a latina, e ela simplesmente surtou. Ele saiu machucado, mas eu só via um sorriso em seu rosto.

Carrie é, na realidade, prima de Dez. Ela é, se não me engano, dois ou três anos mais velha que ele, e faz Medicina da faculdade da Califórnia. Carrie vai vir passar o Natal conosco, então Dez resolver distorcer os fatos rapidamente. Só espero que não dê nenhuma merda no final.

— Eu vou indo. – a morena anuncia, abraçando Trish. – Tchau. Até sábado, no baile.

— Até. – a latina retribui o carinho.

Ela se despede de Dez do mesmo modo.

Quando ela se prepara para me abraçar, eu a corto.

— Eu posso ir com você, se quiser.

— Não precisa Austin. Eu posso ir sozinha. – ela sorri, me abraçando.

— Mas está escuro, e eu estou com a picape, posso te levar de carro. – insisto.

— Não precisa. – ela olha nos meu olhos, dando-me um selinho. – Até sábado.

Finjo aceitar e abraço-a novamente.

— Nos vemos sábado. – ela finaliza, indo até a porta.

Pela janela totalmente de vidro bem na frente, vejo-a passar na frente da casa, em direção a sua rua.

Uma melodia de piano, seguida de uma batida com guitarra e bateria começa a tocar e eu olho para os lados, procurando de onde vem o som.

“It’s not the end of the world
In fact it’s not even the end of the summer
But thank god the TV is on”

— É o celular da Ally. – Trish comenta. – Este é o toque de Dallas.

Ela acha o aparelho em meio as almofadas do sofá.

— Eu levo para ela. – pego o aparelho e saio porta a fora.

Corro em direção que ela se foi.

Há esta hora o celular já havia parado de tocar.

Avisto a garota de longe se equilibrando no meio-fio da calçada. Ela esticava os braços e as pernas de acordo com os passos que dava. Ela parecia tão infantil, tão... Adorável.

Alguns carros que passavam na rua escura, iluminavam a morena com seus faróis.

Ei lindinha! – um homem grita, diminuindo a velocidade do carro no outro lado da rua.

A morena continua se equilibrando na calçada, mas manda o dedo do meio para ele. Sorrio com a reação dela.

Aproximo-me dela, caminhando lentamente.

— Olá Austin. – ela fala, antes que eu me pronuncie.

— Como sabia que era eu? – questiono, andando ao seu lado.

— Foi apenas um palpite. – e ela continua se equilibrando no meio-fio.

— Você esqueceu seu celular na casa de Trish. Eu só vim aqui lhe entrgar. – douo aparelho a ela. – Só vim aqui lhe entrgar. – dou o aparelho a ela.

Ally vira seu rosto para mim, e sorri. Pega o objeto, colocando o celular no bolso da calça.
E ela continua no meio-fio.

— Tenho que voltar. – digo, já me virando. – Tchau. – aceno, mas ela segura minha mão, antes que eu saia.

Ela não está mais no meio-fio.

— Tchau Austin. – e ela beija meus lábios docemente.

Até sábado. ela sussura em meu ouvido, antes de se afastar mordendo o lábio inferior, e continuar andando no meio-fio.

Meu dia começo tão mal, mas terminou tão bem.


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Notas finais do capítulo