Silêncio Devastador escrita por Lady Spugna


Capítulo 2
I. Silêncio


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouco, mas está aqui!
Espero que gostem!



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— Já era de se esperar sua falta de amigos. — Disse subitamente um idoso com uma longa barba que trajava vestes bem antigas à um garoto que se encontrava jogando xadrez sozinho em um tabuleiro grande. — Sua cabeça está melhor, Lucius?

Ele ia entrando pela portinhola de um porão polvoroso, fitando atentamente um corvo de negro de olhos escarlates sangues. O velho apenas notou que o animal também o observava, sem tirar os olhos, até mesmo quando dava um passo. Parecia que o corvo estava com uma sede de sangue insaciável, ele pensava.

— Tio, não é hora para gracinhas. — Respondeu o garoto, ríspido, fazendo uma jogada com o cavalo negro no xadrez.

O tio de Lucius deu uma risada de leve pela total ignorância de seu neto. E passou a encarar o garoto. Pessoas normais não jogavam xadrez sozinhas.

— Você não me respondeu, Lucius. — O tio-avô insistiu pela resposta do neto resmungão, se sentando junto à ele, que já começava outro jogo de xadrez. O garoto revirara os olhos.

Lucius realmente não queria responder, então apenas prosseguiu com seu jogo.

— Como você tem conhecimento do que ocorreu ontem à noite? — Indagou Lucius um pouco indócil, fazendo com que o velho risse novamente. — Você nunca aparece por aqui. E quando aparece só vem buscar alguns de seus artefatos estranhos.

Seu tio movimentou seu bispo branco no jogo. O garoto de cabelos negros percebera que ele havia caído em sua emboscada, e dera levemente um sorriso, movimentando glorioso sua torre.

— Você sabe. Eu sei de tudo que acontece por aqui, e também voltei por outro motivo. Amanhã é seu aniversário. — O idoso olhara para o relógio, ele marcava 23:00. — Ou melhor, daqui a uma hora, apenas.

— Você perdeu. — Lucius novamente o ignorou, agora fazendo sua jogada final. — Xeque-mate. Foi o jogo mais rápido que já tive com você.

— Aceito minha derrota, afinal, nunca ganhei um jogo contra você.

Lucius deu um sorriso vitorioso e seu tio-avô se levantou. Caminhando lentamente pelo porão, passando o dedo pela mobília, tomando a conclusão de que Lucius que sempre se trancafiava lá nunca havia feito sequer uma limpeza por ali. O tanto de poeira que podia se ver estava em um patamar junto a uma casa abandonada.

— Deveria limpar esse lugar de vez em quando. — Sugeriu o avô, deixando Lucius um pouco furioso, porém, este não demonstrara. — Está imundo! Nem sei como esse corvo consegue viver por aqui. E você então, é um sedentário com seu pai.

Os olhares e a expressão do garoto se encheram de fúria, isso fez com que o velho ficasse com uma fisionomia mais séria. Conversas com a palavra "pai" no meio nunca fizeram Lucius se sentir bem, afinal, fora abandonado pelo seu pai, que havia sumido sem deixar rastros.

O garoto se levantou da poltrona em que estava e foi até seu tio. O corvo se agitara dentro de sua gaiola, como se quisesse sair de lá.

— Lucius, eu não tenho mais tempo. — O grisalho pegou uma caixa de tamanho médio, enfeitada, e colocou em frente à Lucius. — Feliz aniversário!

O moreno encarou o presente. Seu avô nunca lhe dera presentes antes. Era sempre um tapa nas costas ou algo do tipo, e também, Lucius mal se importava com presentes, na maioria das vezes eram coisas supérfluas que ele nunca iria nem sequer tocar.

Lucius não poderia rejeitar de qualquer jeito. Pegou o presente e se concentrou em abri-lo. O seu avô dera um sorriso, dessa vez foi diferente, agora ele dera um sorriso glorioso como os de seu neto.

Antes de o abrir, o garoto notara que havia uma carta no embrulho, então quis lê-la.

— Mas que diabos é essa carta, velhote? — Perguntou um pouco confuso com as palavras que haviam escritas no começo, pareciam de outra língua que ele mesmo nunca havia ouvido falar.

Mas quando se virou percebeu que o idoso não estava mais lá, mesmo ele que era bem observador não conseguiu perceber quando ele havia saído. Lucius não dera muita importância a isso, apenas quis logo ler aquela carta estranha.

Abrira rapidamente, e nela estava escrito em letra legível, era possível entender.

"Querido, Poltergeist;

Parabenizo-o por ter caminhado até aqui. Este presente será o necessário para erradicar aqueles que trazem a destruição com sua tranquilidade.

Liberte-o, seja-o, no entanto, nunca se esqueça: O silêncio é o único que você deverá temer."

Após ler, Lucius ficara sem entender. Aquele velho era um louco. Agora ele teve um pouco de curiosidade em saber o que se escondia dentro daquela caixa de presentes decorada. Coisa boa não poderia ser, ele pensava.

O moreno desembrulhou rapidamente a caixa, e logo em seguida a abriu.

No momento em que ela fora aberta, um brilho forte fez com que seus olhos ofuscassem de dor. Mais um pouco e ele poderia ficar até cego com a quantidade de luminosidade que se esvaía cada vez mais de dentro daquela caixa, iluminando aquele porão escuro que Lucius tanto era acostumado.

Era inimaginável, entretanto, Lucius não achara que poderia ser real. Só podia ser uma das invenções de seu avô, claro. E toda a luz desaparecia aos poucos, deixando um pequeno brilho que se parecia uma poeira a cair sobre o porão inteiro, como se fossem minúsculas penas.

Os olhares de Lucius haviam perdido totalmente o foco e seu coração palpitava rapidamente. Aquilo fora inesperado, até mesmo para ele.

Dentro da caixa, então, só se via um vaso vetusto, bem acabado; e um pequeno aspirador de pó de mão, vermelho, com pequenas escritas em prateado dizendo: Poltergeist.

O menino, embora um pouco assustado, dera uma risada alta. Seu tio queria mesmo o fazer limpar aquele porão. Para que mais seria a utilidade do aspirador de pó? E para que um vaso? Colocar florzinhas para o porão ficar "agradável"? Nada mais fazia algum sentido ali.

Sem mesmo querer saber o real motivo daqueles objetos, Lucius colocou o vaso em cima de uma bancada na qual a gaiola do corvo estava em cima. O animal encarou ferozmente o objeto, como se ele fosse uma presa.

"Franz está estranho", pensou Lucius, pegando o aspirador para o examinar. Ele era comum, como todos os outros. O que estava te incomodando era o fato de ter sido chamado de "Poltergeist". E também o fato daquele sonho estranho que ele tivera na noite passada. Por que sua cabeça parecia que doía mais agora? Por que ele não se lembrava de ao menos ter ido dormir naquele dia? Eram muitas as perguntas, contudo, seu orgulho não o deixaria comentar sobre isso a ninguém.

Lucius se manteu em silêncio para ouvir o barulho do forte vendo que batia em uma janelinha coberta por uma cortina. Aquilo o relaxava um pouco, todavia, ele sabia que algo ainda o incomodava.

Um ar pesado dominava o porão. Era agoniante. O garoto percebera que aquele porão não estava como ele era antes. Uma aura negra parecia estar dominando aquele lugar, mas não se sabia de onde ela vinha.

O moreno se aproximou do vaso, deixando o aspirador de lado. Aquela impressão estranha pareceu que vinha daquele objeto. O vaso não parecia mesmo ser normal. Até mesmo Franz, seu corvo, havia percebido isso.

Ele resolveu verificar, olhando dentro do pequeno vaso. Era negro, como um abismo sem fim. Não parecia ter um fundo. E estava sujo e empoeirado. Era idiotice de sua cabeça, mas ele pôde sentir que havia algo estranho saindo de lá de dentro.

O corvo se agitou. Era uma fumaça de cor estranha, como a de um incenso. O garoto começou à tremer, se imaginando o porquê de um medo bobo de um vaso. Ele era forte, mas não poderia negar que aquele vaso era extremamente sinistro.

Quando se aproximou para o pegar, a fim de examiná-lo melhor, de dentro do vaso se esvaiu algo, que voara rapidamente para o teto, deixando rastros de sua passagem.

Um rosto de expressão maliciosa surgira em meio àquele alvoroço, perante ao rosto de Lucius, que agora esta com a respiração bastante ofegante.

— Lucius... — Balbuciou a criatura deixando ecos simultâneos. — Poltergeist. — E depois rira do medo do garoto percebido pela sua tremedeira que cedeu novamente.

"É impossível, eu não estou com medo!", pensou Lucius tentando se convencer de que aquilo não era real.

A criatura ria maliciosamente, voando pelo quarto e destruindo tudo à sua volta, deixando os escombros caírem em cima de Lucius, o ferindo.

Involuntariamente o garoto pegou o aspirador de cima da bancada. Aquilo era um fantasma, ele tinha quase certeza disso, apesar de que ele não acredita nesse tipo de bobagem.

Pode-se perceber na fisionomia daquela quimera que ao pegar o aspirador ela ficara bem séria. Lucius, embora estivesse com medo e bastante trêmulo, presumiu que deveria lutar contra aquela coisa, antes que ela destruísse aquele porão junto com ele dentro.

— Vai me atacar, poltergeist? — O fantasma caçoou dando uma risada em ar zombeteiro, e em seguida voou para o teto novamente, mas agora lançando lâminas pouco visíveis no rosto do garoto, que não conseguiu desviar. Ela havia errado de propósito, só acertando nos cantos de seu rosto, pois Lucius percebera que ela estava apenas o subestimando.

— Eu tenho que atacá-lo, mas como? — Lucius pensou alto, quis imaginar que estava dentro de um livro, sendo o protagonista, ele achava que isso o ajudaria à agir mais rápido.

O garoto posicionou seu aspirador com o fantasma na mira. Percebera que um vento forte o impedia cada vez de arrumar a posição de seu aspirador. Era como se ele fosse empurrado para trás contra sua vontade.

Enquanto Lucius demorava à atirar, o fantasma apenas continuava destruir o local. E isso estava piorando a situação, cada vez que os escombros caíam em Lucius ele ia perdendo cada vez suas forças de ficar de pé.

— O poltergeist tem medo de atacar, é? — O fantasma zombou novamente, rindo. — Estou cansada de esperar!

— Eu odeio ser subestimado! — Lucius pressionou o botão de ligar do aspirador, torcendo para que o que ele pensou que iria ocorrer desse certo.

Quando o aspirador fora ligado todo o vento que batia contra Lucius fora sugado. Neste ataque o aspirador brilhou, junto com as forças que sugavam todo aquele vento, e bruxuleava, fazendo com que o fantasma ficasse desgovernado.

Conforme todo o vento e os restos de escombros iam desaparecendo, a criatura, agora furiosa, ia se evaporando lentamente.

Lucius estava cansado, não conseguia se manter em pé. Cambaleou para trás, soltando o aspirador no chão, e caiu em seguida, tentando se levantar novamente. Era um fracasso, mesmo tentando ele não conseguia, e sabia que não poderia perecer ali, só que seus olhos já perdiam a nitidez. Ao forçar vira que a criatura estava ali ainda, só que deformada, parecia estar um pouco fraca.

De qualquer modo a criatura estava viva. Aquele certamente era o fim. Não havia surtido efeito aquele ataque, não importava o quão determinado Lucius estivera. O menino achara que fora imprudência de seu avô, mas também queria desculpar dele por ser tão rude às vezes.

A quimera rira novamente, agora bem mais alto, se preparando para dar seu ataque final. O garoto apertou forte seu braço esquerdo, no qual o sangue não parava de se esvair.

— Nenhum maldito poltergeist pode me derrotar! — Gritou o fantasma, furioso, e logo em seguida berrara alto, fazendo com que os ouvidos de Lucius ardessem.

Em questões de segundos, Franz se libertou da gaiola que estava jogada no chão. Conforme saía, ia se transformando em uma forma humana. Seu corpo era em cor cinza, forte. Ele havia chifres encaracolados em seus cabelos negros cor de abismo. E assim como o corvo que era, seus olhos eram escarlates-sangue, e asas negras e brilhantes se sobressaíam de suas costas.

O corvo voou com uma expressão bem séria, indo em direção ao fantasma, junto de uma foice de lâmina negra, impedindo o fantasma de dar seu ataque. Lucius não podia acreditar no que seus olhos cansados viam.

— Faz muito tempo, Franz. — O fantasma disse, revidando o contra-ataque de Franz. — Derrote-me se for capaz!

— Não estou aqui para ouvir suas provocações inúteis, Helena. — Repreendeu Franz, se defendendo sem fazer muito esforço.

Helena se enfureceu e começou à berrar, fazendo com que surgisse uma bola de ar em frente sua boca. Depois, fechou os olhos e pareceu conjugar uma magia em voz baixa.

— Não seja tola, Helena. — Zombou Franz anulando sua magia com as mãos. — Eu não caio em seus truques.

Sem esperar Helena dar outros de seus ataques, Franz avançou com sua foice e cortou-a no meio. Com o veneno contido na ponta, Helena, berrou de dor enquanto o veneno se espalhava a torturando.

Franz voltou ao chão, se curvando diante de Lucius, que estava tentando fazer seus olhos acreditarem no que ele havia visto.

Helena se evaporava junto aos gritos, até que sumiu definitivamente.

— Bem-vindo ao novo mundo, mestre. — Saudou Franz dando um sorriso súbito.


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Notas finais do capítulo

Adorei escrever esse capítulo, realmente!!
Muitas coisas estão misteriosas, mas isso vocês vão descobrir no próximo capítulo!
Comentar não fará o dedo de vocês caírem, haha. Mas enfim, até a próxima! Espero que tenham gostado.



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