Uma aliança nada política escrita por D C S Martim


Capítulo 3
3


Notas iniciais do capítulo

Tentei fazer um pouquinho maior. Estou postando muito rápido, mas não fiquem mal acostumados, não é sempre assim! Aproveitem a leitura.



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Dam continuava adormecida, e isso começara a irritar o príncipe asgardiano. Ele já sentia o tédio infiltrar-se dentro da pele, espalhando-se pela corrente sanguínea, provocando asfixia. E seu rosto adormecido o provocava, não de uma maneira boa. Era como se debochasse de seu castigo.

–Deus, isso é impossível!

Ele caminhou em direção a ela e abaixou-se até ficar bem perto. Ameaçadoramente perto ou tentadoramente perto, a opção que ela preferisse. Sorriu em expectativa, até que conseguisse controlar a expressão, tornando-a séria.

–Ei. Ei! – lembrou-se de não gritar. Aquele som parecia rasgar as camadas de tempo e espaço, parecia tortura-lo mais que os anos de silencio e confinamento naquela sala demoníaca.- Ei!

Ela abriu os olhos.

–Uh. – gemeu, empurrando seu rosto para longe, o que o pegou de surpresa.

Ela simplesmente não se importou.

Seus olhos pareciam mais claros. Não realmente mais claros, como se a cor se houvesse alterado, apenas mais límpidos, mais tranquilos. Loki franziu a testa, achando improvável que privação de sono fosse o que ocupava sua mente antes e que um longo cochilo fosse a solução para o problema. Mas o que se passava naquela cabecinha obtusa naquelas poucas horas de sono (embora lhe parecessem uma eternidade) era um mistério.

–Por que você foi presa?

–Essa não é a melhor maneira de começar uma conversa, príncipe de Asgard.

–Um príncipe? Em uma cadeia? Não faça piadas.

Ela sorriu.

–Eu não chamaria isso aqui de cadeia. Não se parece nada com a cela onde eu estava. Com nenhuma das celas onde fiquei.

–O que me leva de volta a minha pergunta, por que você foi presa?

Ela suspirou, irritada.

–Você me acordou pra isso.

–Você nem deveria ter dormido.

–Estava tentando te deixar feliz. – ela deu um sorriso que desmentia sua afirmação.

–Existem maneiras mais eficazes de fazer isso do que caindo no sono.

–Eu ficaria feliz de ouvi-las depois.

–Está flertando comigo, Dam?

–Não. Estou tentando fazê-lo calar a boca, se não se importar.

Ele ficou genuinamente chocado. E impressionado. E irritado. Deu um sorriso contido e usou seu tom de príncipe.

–Conte-me por que foi presa. E por que se empenha tanto em esconder.

–Não estou escondendo nada. Fui presa porque matei um soldado.

–Você matou um soldado? Você? Um soldado? – desdenhou.

–Não me julgue por minha compleição física, e eu não te julgo pela sua.

Ela ergueu as sobrancelhas sarcasticamente e ele sorriu.

–Muito justo. Eu reconheço minha falha.

–Estou bastante impressionada. Você está pedindo desculpas.

Loki sorriu mais ainda.

–Não seja estúpida. Eu jamais faria uma coisa dessas.

Dam suspirou.

–Eu matei o guarda sim, e foi por uma boa causa. Mas eu não tinha a intenção de matá-lo.

–O que quer dizer?

–Foi legitima defesa.

–E por que você está presa, então?

–Por que ele era um guarda do palácio real de Asgard, e eu não sou ninguém.

–E ele agrediu você?

–Pode-se dizer que sim.

–O que isso significa?

–O filho da puta tentou arrancar minha roupa.

Ele pigarreou e franziu as sobrancelhas, visivelmente desconfortável.

–Um guarda asgardiano fez o quê?

Ela soltou o ar em uma risadinha seca.

–Não me sinto muito confortável falando sobre isso, mas foi uma tentativa de estupro, sim.

–E você veio parar na cadeia por causa disso?

–Exato.

Ele franziu as sobrancelhas.

–Eu não sou a pessoa mais indicada para falar sobre justiça, mas isso parece errado até pra mim. Um homem tenta tocar seu corpo contra sua vontade e você é presa. Até mesmo um Gigante de Gelo pode ver a falha nisso.

–Você está se esquecendo da parte onde eu o matei.

–Foi legitima defesa.

–EU SEI! Informe seu pai, quando tiver tempo.

–Meu pai está morto.

–Estava falando do outro pai.

–Ele não é meu pai.

–Sorte sua. Aquele velho babaca me colocou na cadeia.

–A mim também.

Ela sorriu.

–Parece que temos pelo menos uma coisa em comum.

–Essa conversa está me dando dor de cabeça. Volte a ficar em silêncio, Dam.

O sangue ferveu nas veias de Dam, mas ela não respondeu. Esperou acalmar-se o bastante e começou a caminhar pelo quarto, mas não em silêncio.

–Eu estava dormindo. Estava dormindo em silêncio. Você me acordou, você me obrigou a falar sobre algo em que eu não estava particularmente interessada em falar, você fez perguntas. Volte você a ficar em silêncio, meu príncipe.

Loki sentiu-se excitado pelo tom de voz arrogante dela.

Seu príncipe?

–Eu sou asgardiana.

Ele ponderou a respeito.

–Faz sentido. Eu gosto disso.

–Massageia seu ego e faz bem para sua masculinidade.

Seu comentário sarcástico fez com que ele soasse patético, mas Loki não respondeu. Aproximou-se dela lentamente, como se fosse devorá-la e sorriu, bem próximo a seus lábios, sentindo as pupilas dilatarem-se e a respiração ofegar. Sentiu vontade de mordê-la.

–Eu não questionaria minha masculinidade se fosse você.

Dam sorriu como se estivesse se divertindo muito, também ofegando um pouco e mantendo os olhos presos aos lábios do príncipe.

–Eu não me atreveria.- o comentário soou como um desafio.

–Melhor assim.

Loki obrigou-se a caminhar para longe.

Dam também tinha uma imaginação fértil. Sabia que deixar-se ficar no mesmo quarto que um homem atraente como Loki por tempo integral era praticamente garantia de que algo no mínimo previsível iria ocorrer, mas quem era ela para dizer ao Poderoso Thor que aquela não era exatamente uma boa ideia?!

Além do mais, apesar da irresponsabilidade e do perigo, como dissera a Loki, ali era exatamente onde queria estar. E tinha seus motivos.

–Como foi seu julgamento?- ele quebrou o silêncio cricrilante usando um tom de voz mal humorado.

–Injusto. Eu ficaria presa por mais de vinte anos se Thor não resolvesse interferir.

–Thor interferiu?

–Sim.

–Por que ele faria isso?

–Porque quando o Pai de todos me perguntou se eu queria dizer algo em minha defesa, eu achei que seria uma boa ideia informa-lo de que eu nem havia batido com tanta força assim.

Loki riu.

–Esse me parece o tipo de coisa que atrairia o favor de meu irmão.

Dam deu de ombros.

–Eu só disse a verdade.

–E então ele tomou seu lado?

–Não, ele riu. E depois foi expulso da corte. No final do julgamento ele pediu permissão para me escoltar até o alojamento, e foi me fazendo perguntas.

–Que tipo de perguntas?

–Sobre minha vida, sobre minhas expectativas para o futuro, o que me trouxera a Asgard, mas eu não pude dizer muito. Não tenho expectativas, não tenho grandes objetivos. Tenho lições de vida e escolhas.

–E depois disso ele te defendeu?

–Parece que sim. Eu não estava lá.

–Que tipo de escolha você deu a ele para que tomasse seu partido diante de Odin?

Ela esboçou um sorriso triste.

–Eu não dou escolhas a ninguém, infelizmente. Nem a mim mesma. Elas simplesmente tem que ser feitas.

Ele sentiu que aquela era uma conversa muito profunda, e não estava disposto a prosseguir com ela. Nem estava Dam. Loki piscou.

–Pelo menos você conseguiu alguma coisa?

–Três anos com você, e então estou livre para ir para onde quiser. Sem compromissos.

Sem compromisso pareceu bom. Sem compromissos pareceu ótimo.

–Três anos é muito tempo.

–Não pra mim. Já tive que esperar muito mais que isso para muito menos.

Ela correu os olhos ao redor do quarto.

–Só tem uma cama.

–Parece que sim.

–Não caberemos nós dois ali.

Ele ergueu as sobrancelhas.

–Está sugerindo que eu devo deixar você ficar com a cama e arrumar algum outro lugar pra dormir? –seu tom de voz era descrente, quase raivoso, fazendo com que Dam gargalhasse.

–Mais uma vez, eu não ousaria. Consigo dormir muito bem na cadeira, obrigada. Se você me arrumar um cobertor...

Ele atirou um rudemente em direção a ela.

–Obrigada. – resmungou.

Ele decidiu que também era hora de deitar-se. Apagou as luzes e atirou-se sobre o coxão macio. Contra todas suas expectativas mal-humoradas, ouviu-a ressonar um "boa noite" que o pegou desprevenido.

Era a coisa mais suave que alguém lhe dizia em meses.

Ele não retribuiu o cumprimento.


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Notas finais do capítulo

E então, tolerável? Muito clichê? Um pouquinho estúpido? Espero que tenham gostado, apesar de tudo. Sugestões ou algo do tipo? Algo do tipo está bom pra mim. Sério mesmo.



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