Reckless escrita por Moony, Bela Barbosa


Capítulo 2
Capítulo 1 - A Festa


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoas



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Consegui enfiar numa mochila roupa suficiente para viver o resto da minha vida na casa da tia Maisie, mas meus parâmetros de exagero só se alarmavam quando a bolsa rasgava e isso não tinha acontecido. Ainda.

Mas tinha um problema: Eu precisava me arrumar para uma festa sem fazer parecer que estava indo para uma festa. Era isso ou entregar a cabeça do Ben numa bandeja pra tia Maisie, afinal ela não ia gostar nada de saber que seu filho estava na farra quando deveria estar estudando.

Por esse motivo, coloquei um vestido mais folgado, não muito social e preto, o mais básico possível. Completei com um Converse da mesma cor e passei um pouco de maquiagem para disfarçar as olheiras. Não tinha muito costume com vestidos e maquiagens, talvez por não ter crescido num ambiente muito propício para isso. Minha infância foi ao lado do Ben e do Matt - filho da tia Hannah, que foi fazer faculdade na França -, então a coisa mais feminina com que tive contato na infância era uma luta por um cinto. E não estou falando do que acontece numa loja tipo Prada ou Gucci, mas sim dentro dos ringues, no MMA.

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Ouvi alguém bater na porta e pedi que entrasse.

— Já está pronta, querida? - Tia Maisie perguntou dando um salto para dentro do quarto - Uau, você fica bem de vestido! Poucas vezes te vi usando um.

— É, estou... mudando alguns velhos hábitos - Menti sorrindo, mas me sentindo estranhamente feliz pelo elogio.

— Fico feliz que esteja. O táxi já está lá fora, é melhor ir logo.

Assenti e dei um beijo na bochecha dela, sussurrando um "obrigada" em seu ouvido. Contudo, antes de sair, lembrei-me de algo que tinha de fazer.

— Tia, você sabe onde está minha mãe? Quero me despedir dela.

Maisie fez uma careta e sorriu em seguida.

— Ela foi ao mercado comprar um daqueles alarmes portáteis de janela, sabe? Quer se certificar de que seu pai não vai chegar nem perto daqui. Mas quando ela chegar, posso dizer que você mandou beijos.

Resumi minha resposta num "ok" indiferente. Essa não seria a primeira e nem a última das loucuras da minha mãe, como daquela vez em que ela comprou uma focinheira para os filhos do vizinho, que não tinham nem um ano completo. Ou daquela outra vez em que espantou um bandido lá de casa com a hélice do ventilador. Não sei se o que assustou ele foi a hélice ou a minha mãe no seu estado raivoso, mas sei que o cara foi embora apavorado.

Tomei o táxi e em no máximo 12 minutos, estávamos diante da absurdamente grande Universidade de Southampton. Ela parecia um prédio histórico lindíssimo na frente de um lago não muito grande e um pátio com uma enorme escadaria e alguns jardins.

— Não demore, ok? Só vou esperar você por dez minutos, mocinha - Anunciou o taxista quando estacionou do lado de fora do campus da faculdade.

Já mencionei que odeio quando me chamam de mocinha? Me faz sentir uma pré-adolescente de 12 anos outra vez e detesto lembrar dessa fase.

O som vindo do salão de festas era praticamente ensurdecedor, capaz de estremecer o vidro do táxi mesmo a metros de distância. Bufei por ter que aguentar toda aquela barulheira, mas adentrei aquele lugar na esperança de achar Ben de primeira. Não preciso nem dizer que isso não aconteceu.

Quanto mais eu andava, mais me assustava com aquelas pessoas; quase fazendo orgias em plena pista de dança. Alguns se drogavam num canto, outros vomitavam de tão bêbados enquanto outros trocavam carícias extremamente provocantes pelas paredes. Confesso que tinha medo de andar mais por ali e acabar encontrando Ben numa situação pior do que aquela, então, frustrada, eu desisti e fui me sentar num banquinho à beira do bar.

Apoiei o queixo entre minhas duas mãos sobre o balcão com uma cara de cachorro abandonado e comecei a cogitar a ideia de ficar até o fim da festa vendo os outros irem embora até descobrir onde o Ben estava, e depois disso arrancar seu pênis infeliz por ter me feito esperar tanto. Quando pensei nisso, o bar man, um cara careca todo tatuado, veio na minha direção com um sorriso torto.

— Vai querer alguma coisa?

— S-Sim - Respondi hesitante - Uma coca, por favor.

— O quê? - Ele perguntou com o cenho franzido.

— Uma coca-cola, senhor! - Aumentei o tom causando gargalhadas no bar man e no cara esquisito que estava sentado no banquinho ao meu lado - Qual é a graça?

— Se veio numa festa como essa para pedir um refrigerante, é melhor cair fora! Tem uma colônia de férias na outra quadra, é o lugar ideal para mocinhas como você - Retrucou o tatuado fazendo minhas bochechas ferverem de raiva.

— Não sou uma mocinha! - Gritei impetuosamente (por mais que não fizesse tanta diferença por causa do barulho) - Tenho dezessete anos, seu panaca de uma figa!

— Uma criança como você não deveria estar xingando desse jeito, quer que eu conte aos seus pais? - Verbalizou em meio a muitas e muitas risadas. À essa altura, eu já estava vermelha como o meu cabelo.

— Vai tomar no meio do seu...

— Ela vai querer uma vodka. - Interrompeu-me uma voz grossa e despreocupada.

Olhei para onde vinha esse som e vi que era o cara do meu lado, observando-me pelo canto do olho. Ele não devia ser muito mais velho que eu e tinha cabelos rebeldes e castanhos. Não pude ver a cor dos seus olhos por causa do jogo de luzes piscando naquele salão, mas sabia que eram claros. Possuía o maxilar um pouco saliente e o rosto magro, o que lhe davam uma aparência mais máscula. Sua pele era extremamente branca e se estivéssemos em 2007, eu diria que ele era gótico por usar uma roupa toda escura. Por alguma razão, sua energia era um pouco misteriosa e sua expressão um tanto debochada, como se eu fosse a piada da noite.

— Eu sou menor de idade, não posso beber isso! - Sussurrei para ele assim que o bar man se virou para preparar a batida.

Um sorriso de canto desenhou-se em seu rosto e deu mais um gole na sua bebida colorida que eu ainda não decifrara o que é.

— Não se preocupe, não é para você. - Disse levantando-se do banco, pegando a vodka que o bar man acabara de colocar no balcão e perdendo-se naquela multidão insana.

Quando virei-me para encarar novamente o tatuado, uma garota loira e baixinha se aproximou dele e o cutucou.

— Tá na hora do meu turno, Travis. - Falou a garota, desanimada.

Travis tirou o avental e a loirinha o vestiu, dando espaço para que ele saísse de trás do balcão. Lancei um olhar mortal na direção dele antes que fosse passar perto de mim, o que fez ele ir para bem longe.

— Oi, eu sou a Claire - Ela se apresentou com um sorriso de orelha à orelha. Por alguns segundos, me perguntei o porquê de Claire ter feito isso - Sabe, você parece não ter gostado do Travis e eu também o odeio, então acho que podemos nos entender.

Sorri para ela e nós duas apertamos as mãos. Finalmente alguém que parecia gentil no meio desse caos!

— Você estuda aqui, Claire? - Tentei puxar assunto de imediato.

— Aham, segundo período de Administração. Mas você não me é familiar, não deve estudar aqui... é namorada de algum universitário?

— Não, não, eu sou apenas prima de um deles. O Ben Watson, conhece? - Perguntei na esperança de que ela soubesse aonde ele possa estar.

— Conheço sim, o que cursa Direito, não é? - Assenti - Eu o vi perto do banheiro masculino não faz muito tempo.

— Obrigada, Claire, agora me sinto bem menos perdida.

Ela riu.

— Por nada. Só não chegue muito perto daqueles caras, ok? São barra pesada - Falou apontando para um grupo formado por uns sete homens no meio do caminho que ligava o bar ao banheiro masculino - Conheço todos dentro desse campus, e acredite, você não gostaria de conhecê-los.

Fiz uma careta.

— Conhece mesmo? Sabe da reputação que o Ben tem por aqui? - Perguntei rindo e Claire chacoalhou a cabeça positivamente.

— É meio galinha, mas é gente boa. Seu primo é até bem popular, e mesmo sendo bem desorganizado, é um bom aluno.

— Uau... - Balbuciei procurando outra pessoa sobre quem eu pudesse obter informações. Estava começando a gostar desse jogo - E aquela garota ali?

Apontei para uma morena de joelhos no meio da pista. Havia um homem na frente dela segurando seus cabelos de forma que seu rosto ficasse bem no meio de suas pernas. Que cena nojenta, eca!

— Aquela ali é a Brittany Groom. É a maior vadia de Southampton, talvez até da Inglaterra. Já deve ter transado até com o Príncipe William, essa criatura! - Claire e eu gargalhamos quando ela disse isso.

Varri o salão com os olhos em busca de mais uma 'vítima' para ser rotulada por Claire quando encontrei, num canto vazio, o mesmo garoto alto e de cabelos castanhos que impediu o barman de levar uma surra minha há alguns minutos. Ele fumava e parecia entediado.

— E aquele ali? - Apontei para o rapaz e Claire contorceu a face numa careta.

— Daniel Woods. Tome cuidado com ele, é o pior tipo de pessoa que pode encontrar por aqui. É arrogante, prepotente e pior: vende drogas!

Arregalei os olhos assustada. Ele tinha, de fato, um ar misterioso e distante, mas não pensei que fosse algo tão grave. Um traficante de drogas? Quase não acreditei.

— Nossa... - Esbocei surpresa - Valeu por esclarecer um pouco as coisas, Claire, agora vou atrás do Ben. Nos vemos depois.

Retribuí o sorriso que ela me lançou e rumei ao banheiro masculino, onde, aos poucos, podia enxergar o rosto conhecido de Ben ficar mais nítido. Ao passar pelo grupo do qual Claire me alertara, senti o olhar de um deles queimar minhas as costas à medida que eu andava, como se estivesse me analisando. Ignorei e consegui encontrar Benjamin, finalmente.

— Lizzie! Uau, você cresceu! - Exclamou com um enorme sorriso.

— É, uns dois centímetros quem sabe - retruquei com falso desânimo e ele sorriu, maroto.

— Você entendeu o que eu disse - o bêbado do meu primo disse em tom malicioso - Enfim, quer logo as chaves ou vai esperar um pouco mais aqui? A festa está maneira, e posso te apresentar para um monte de gente bacana.

— Sabe, eu adoraria - Menti descaradamente -, mas tô morrendo de dor de cabeça. Sabe como é, TPM. - Ben colocou a língua para fora e revirou os olhos, fazendo-me rir.

— Então está bem, mas você fica me devendo uma saída, fechado? - Assenti enquanto o via tirar o molho de chaves do bolso e me entregar - E antes que vá embora, um conselho: não fale com nenhum cara que encontrar por aqui, são todos marmanjos imbecis que só querem te comer. E se precisar, me chama.

Ri de suas observações e ele se despediu de mim com um beijo na testa.

Enquanto tomava o rumo da saída, ia fazendo uma listinha das coisas ruins que poderiam ter acontecido e das que tinham acontecido de fato.

— Ser sequestrada x

— Se drogar x

— Fazer amigos x

— Encontrar o Ben V

— Ser estuprada x

— Apagar e acordar com um tigre e dois prostitutos x

— Ouvir música ruim x

— Tomar uma bebida envenenada e ir parar na Índia como atendente de telemarketing x

É, até que não foi tão mal assim.

Finalmente, me aproximava da porta e era tomada por uma certa alegria de ir embora. A sensação de missão cumprida me causava uma impressão de que qualquer descanso agora, além de necessário, era merecido. Foi quando, subitamente, senti uma mão grande me puxar pelo braço, de forma a fazer-me virar para o lado oposto ao que ia e encarar nos olhos quem quer que fosse que tivesse feito isso.

— Indo embora tão cedo, lindinha? - Perguntou o autor do puxão.

Era um homem particularmente muito bem apessoado. Loiro dos olhos verdes, entretanto com um inefável bafo de cachaça

— Quer companhia?

— Não a sua, obrigada - Retruquei lembrando do que Ben havia dito.

Soltei-me de sua mão áspera, mas ele puxou-me novamente, dessa vez usando os dois braços. Comecei a ficar um pouco assustada; as seguidas atitudes daquele homem eram um tanto violentas.

— Calma, eu não fiz nada para você!

— E vai continuar sem fazer no que depender de mim. Agora me deixa ir embora! - Devolvi secamente, tentando me soltar sem sucesso enquanto o rapaz abria um sorriso sacana.

— As irritadinhas são as melhores...

Quando ouvi aquelas palavras saírem daqueles lábios imundos cheirando apenas a álcool, me desesperei de verdade. Ele não iria me deixar ir com tanta facilidade.

— Me solta, seu nojento dos infernos! Socorro! - Tentei gritar, mas era inútil.

As pessoas ao redor eram apenas outros homens que observavam a cena com naturalidade e os que estavam mais distantes, jamais escutariam por causa da música de muito mau gosto que tocava em altíssimo volume. Extraordinariamente, eu não conseguia me mover nem sequer para exprimir o horror de me encontrar naquela situação. Era um estado de atonicidade tão crônico, que me encontrava estática.

Senti meu coração disparar quando minhas costas abruptamente se encontraram com a parede de trás e a boca nojenta do imbecil que fazia aquilo comigo encontrou meus lábios e os comprimiu num beijo horroroso e forçado, que me fez sentir sua língua grotesca roçar nos meus dentes insistentes em bloqueá-lo.

Eu berrava e me debatia contra ele e seus braços fortes, mas era quase impossível que eu vencesse, e já me sentia completamente envolvida por aquele animal. Suas mãos então me viraram de costas e novamente me pressionaram contra a parede, o que fez minha cabeça bater e talvez até doer mais do que os braços violentamente agarrados por ele.

Minha respiração ficava mais descompassada a cada milésimo de segundo que eu sentia seu corpo se pressionar contra o meu, obrigando nossos corpos a se tocarem. Mesmo por cima da calça dele e do meu vestido, eu fui capaz de sentir um volume mais ou menos na altura do meu bumbum, que ele inescrupulosamente roçava ali sussurrando impiedosamente ao meu ouvido que aquela seria a melhor experiência da minha vida.

Estava em pânico, apavorada, mas mesmo assim não conseguia nem demonstrar o horror daquilo tudo que estava acontecendo. Era um estado quase de resignação, no qual eu não sabia dizer se continuaria com minha dignidade preservada.

Quando eu finalmente senti minhas pernas tremerem e, sem ter escolha alguma, sem sequer estar ciente do que acontecia ou podia acontecer, literalmente me dei por vencida: Amoleci o corpo e tristemente permiti que os toques forçados dele me alcançassem. Era uma briga de forças na qual eu não estava apta a lutar. Qualquer resquício de liberdade e autonomia que eu sentia sobre o meu próprio corpo acabava de ser destruído.

Suas mãos asquerosas iam deslizando pelas minhas pernas por debaixo do vestido e me apertando, me trazendo para mais perto dele à medida que tudo o que eu sentia eram solavancos e chacoalhões para satisfazer suas necessidades ou simplesmente seus prazeres.

Em situações desse tipo, de extremo estresse, há pessoas que são influenciadas pela adrenalina a raciocinarem mais rápido e encontrarem formas mais práticas de sobrevivência e há aquelas que, pelo mesmo motivo, congelam e não têm nenhuma atitude ou reação. Infelizmente, eu pertenço ao segundo tipo. Não conseguia falar, nem chorar, nem sair correndo dali para o lado de fora e simplesmente me enterrar no jardim. Fiquei parada me sentindo humilhada e envergonhada.

Em mais um gesto abominável, as mãos daquele homem tocaram minha calcinha e pude sentir seus dedos nojentos me apertarem. Eu já não sabia até que ponto as imagens e sensações geradas na minha mente eram reais ou ilusórias, apenas sentia uma agonia fora de série naquele instante.

Foi quando não mais que de repente, uma figura alta e esguia apareceu o lançando para longe de mim sem fazer muito esforço. Eu já não senti mais seu corpo violando o meu ou seu calor e suor envolvendo meu corpo e aquilo já era o paraíso perto daqueles instantes de aflição.

— Solta ela, Brian, a menina não é pro seu bico! - A mesma voz que ouvi ao meu lado no bar se pronunciou e eu soube exatamente quem havia me salvado do tal Brian.

Era Daniel, o mesmo vendedor de drogas de quem Claire me falara.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Mereço ser apedrejada? lol Pode ter ficado meio chatinho, mas a história se desenrola a partir do próximo, mas só vou postar se tiver mais reviews ihskshjd bjs