Reckless escrita por Moony, Bela Barbosa


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Bem, a história é quase toda narrada no ponto de vista da Eliza. Só pra explicar: os pais dela se separaram e ela foi morar com a mãe em Southampton, na Inglaterra, que é a mesma cidade em que vive o Daniel. Espero que gostem do prólogo, por mais chatinho que seja ♥



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Eu já tinha perdido a conta de quantas caixas haviam sido transportadas apenas para o meu quarto. Era realmente muita tralha acumulada em singelos 17 anos de vida - os quais vivi em Birmingham, minha cidade natal.

Saí de lá não por vontade própria, mas porque tive de escolher entre ficar com meu pai - um panaca que traía a minha mãe com a secretária - ou morar com a dona Sally, minha mãe - que sofria de distúrbios bipolares e sérios problemas psicológicos, mas pelo menos tinha bom senso -, e é claro que optei por morar com ela em Southampton, onde reside parte da nossa família.

Não era fácil desapegar do lugar e do estilo de vida que você levou desde que aprendeu a fazer cocô, mas eu costumo gostar de mudanças e aquela não era a primeira e dificilmente a última. Não entendam mal, só não sou muito fã de caixas, poeira e minha mãe berrando no meu ouvido uns 30 palavrões novos cada vez que dizia que não queria sair de Birmingham.

Minhas duas tias - Hannah e Maisie - já estavam lá para nos ajudar com a mudança e minha mãe ainda chorava copiosamente. Eu já estava cansada de tentar consolá-la, porque 10 minutos depois ela sorria e dizia que planejava se livrar do meu pai desde que casaram. Cada louco com suas manias, né.

Fui conhecendo a casa aos poucos assim como minha mãe e minhas tias. O imóvel havia sido dado para nós pela empresa em que minha mãe trabalha, a qual foi responsável pela transferência dela. Era no estilo inglês mais simples e adorável que se possa imaginar: uma casa pequena toda de madeira com detalhes em concreto branco. Tinha algumas janelas de vidro e portas, mas devidamente cobertas por venezianas. Era um cantinho confortável, devo admitir. Alguns acabamentos eram feitos em mármore e pedra-sabão, assim como a cabeceira da cama que agora era minha. Parecia uma casinha antiga muito calorosa.

Depois de checar o quarto, a primeira coisa que fiz foi entrar no lavabo que ficava bem perto da entrada. Me olhei no espelho só para confirmar se tinha ou não olheiras no meu rosto, apesar de que mais parecia que tinha um rosto nas minhas olheiras.

Tia Maisie chegou na porta do banheiro com um sorriso compreensivo para mim, como se entendesse perfeitamente o que eu estava passando.

— Tia, eu tô parecendo um panda, né? - Perguntei arregalando os olhos para dar ênfase às olheiras.

Ela riu.

— Um panda ruivo e muito magrelo, aliás. - Respondeu - Sua mãe tá que não para de chorar... e agora?

Bufamos quase em coro e eu olhei para ela, pensativa. Não tinha ideia do que fazer.

— Eu não sei, tia, já tentei de tudo. Já fiz torta pra ela, já tentei marcar um encontro pela internet, marcar um chá com as amigas antigas ou procurar um grupo de ajuda, mas ela não aceita. E está assim há meses - Acabei desabafando, mesmo sem querer. Mas não tinha problema, afinal, tia Maisie é uma daquelas pessoas capazes de curar um coração com um único olhar - Às vezes eu me sinto presa aqui, sabe? Como se a tristeza dela passasse pra mim...

Maisie suspirou.

— E o que acha de passar essa primeira semana na minha casa? Você sai e se livra um pouco desse ambiente, dessa tensão... - Sugeriu e eu comecei a cogitar a ideia com uma certa esperança.

— É uma boa ideia, mas será que mamãe deixaria?

— Ela vai ter que entender - Piscou com um dos olhos - Se quiser, pode ir para lá agora. O Ben tá na faculdade; eu ligo pra um taxista da minha confiança e ele te leva até lá para pegar as chaves e depois te deixa em casa. Pode ser?

Assenti sem hesitar. Se tia Maisie não estivesse lá, eu poderia entrar em combustão espontânea causada pelo cansaço emocional e físico de toda aquela história. O Ben de quem ela falou é meu primo predileto e nos damos extremamente bem desde sempre. Seria bom passar algum tempo com ele e até quem sabe fazer alguns amigos.

— Ótimo, Lizzie, é melhor ir arrumar suas coisas que eu já vou chamar o táxi.

Sorri e fui correndo atrás das minhas malas para organizar algumas peças e levar pra casa da tia Maisie. Incrível como todas as suas roupas legais somem quando você quer achá-las e você só encontra blusas rasgadas que te fazem parecer uma sem-teto e aquele vestidinho horroroso de babado que sua mãe fez você usar no natal de 2010. Bufei procurando alguma coisa que dissesse "Oi, tudo bem? Eu sou nova aqui e quero fazer amigos", mas o máximo que achei foi "Olá, não precisam sentir pena".

Resolvi ligar para o Ben, para não pegá-lo desprevenido. Ele podia estar em aula, e no máximo iria desligar e me retornar mais tarde.

(Ligação)

Alô?

— Bennie? Oi, é a Lizzie. - A voz dele se perdia em meio a uma barulheira caótica ao fundo - Tá tudo bem? Você pode falar agora?

Liz! É claro que eu posso falar agora, é que... tá rolando uma festa, mas dá pra falar. Vocês já chegaram?

Festa? Mas ele não estava na faculdade?

—Chegamos sim, mas vou passar uns dias na sua casa e preciso pegar as chaves com você. Está na faculdade?

— Sim e não... quer dizer, to na faculdade, mas acabaram dando uma festa e você me conhece, né - Terminou com uma risada marota.

— Tudo bem, então daqui a pouco passo aí. Até mais.

Beijos, Liz, até.

Tu, tu, tu...

Suspirei um pouco infeliz com a ideia de ter que encontrá-lo numa festa. Não sou a pessoa mais sociável do mundo, gosto mais da calmaria de ler um livro ou assistir um filme, mas talvez não fosse ser tão ruim.

O pior que pode acontecer é me forçarem a provar drogas, me sequestrarem e me obrigarem a aderir à vida de prostituta, ou quem sabe eu fosse só estuprada. Sintam a ironia.

Mas não deve ser tão ruim. Não pode ser tão ruim.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Por favor, não esqueçam de comentar! Muito obrigada por lerem, beijos :*