" Hoje nada corre bem. Parece que o mundo inteiro se virou contra mim e quer me deitar a baixo. Logo de manha, mal abri os olhos, pressenti que nada ia correr bem. A chuva e o vento lá foram transmitiam-me uma certa melancolia. Bem me parecia que não me devia ter levantado hoje da cama, devia ter-me fingido de doente... Devia mesmo. Mas tinha de ir ao jogo... que humilhação. Nós, a equipa da Odaiba, tri-campeões, perdemos por mais de metade dos pontos contra uma equipa que o ano passado estava em décimo lugar. Para além da negativa que recebi do teste de Matemática, ainda descobri que a minha mãe vai viajar durante uma semana inteira. Uma semana sozinho... bestial, ninguém merece sentir-se assim, devo ser o ser mais infeliz deste mundo".

Takeru que estava até então deitado na sua cama levanta-se e dirige-se para a secretária. Senta-se na cadeira e abre um livro de notas azul que estava lá e pega na caneta para começar a escrever:

" Nunca pensei que algum dia fosse escrever uma coisa assim mas... só de pensar em ti ... já nem sei o que faço. És a única que dá vida ao meu sorriso, a dona do meu coração, a razão pela qual o meu céu é azul... Hikari, está letra é para ti... por tudo o que significas e por tudo o que és para mim..."

Ele então fecha os olhos e começa a imaginar uma melodia. Sim, uma melodia. Não a letra, apenas a melodia, porque a letra, essa ele já a tinha escrita no coração.

– Takeru... - Uma voz vinda da porta do seu quarto o distrai do que ele estava a fazer. - Preciso de falar contigo, mano.

– Yamato? - Ele vira-se para trás. - O que estás aqui a fazer? Pensei que tivesses ensaio da banda.

– E tinha... mas vir aqui é mais importante que isso, é que aconteceu uma coisa que... devias saber.

Este mistério todo estava a assustar Takeru. Mas o que teria acontecido de tão grave assim para Yamato ter vindo de propósito falar com ele?

– O que se passou?

– Tem haver com a Hikari e o Taichi e ... acho que ela precisa imenso de ti neste momento e devias ir lá ter com ela.

– Mas ela está bem? O que se passou, Yamato? - Ele fica assustado, pensando que alguma coisa de mal poderia ter acontecido á " sua" menina.

– Ela está bem... quer dizer... mas ao menos. É que a avó deles faleceu e acho que neste momento é de ti que ela precisa mais.

– Porque não disseste antes? - Ele rasga a folha de papel que tinha no caderno e guarda no bolso. - Desculpa Yamato mas... eu tenho mesmo de ir lá.

– Na boa, moço. - Yamato sorri. - Vai lá, ela precisa mesmo de ti.

Takeru apenas sorri e corre quarto fora. A chuva caia grossa lá fora, mas nada disso o parava. Não tinha tempo de pensar em si mesmo naquela altura, pois a menina que ele mais amava estava a sofrer nesse momento e ele queria chegar a casa dela o mais rápido possível.

" Como pude ser tão egoísta? E eu que pensava que o estava mal... sou tão parvo. Claro que não era a pessoa mais infeliz do mundo. E ela... que nem me disse nada sobre a avó hoje na escola só para não encomendar... ela é que tem motivos para sofrer e não eu. Ela precisa de mim e é isso que vou fazer. Vou fazer de tudo para ver o lindo sorriso dela ainda hoje... Meninas boas como ela não merecem chorar."

Ele ia pensando ao mesmo tempo que corria. Em pouco tempo lá chegou, todo molhado e cansado... mas chegou ... e era só isso que importava. Tocou na porta e em pouco tempo ouviu passos a vir abrir.

– Takeru? - Disse ela quando viu o menino, todo molhado parado na frente dela. - Porque estas aqui?

– Porque quero estar contigo... agora e sempre... sei que estas a sofrer e que precisas de mim... não escondas mais nada de mim, sei o que aconteceu e ... só quero que saibas que estou aqui sempre para ti...

– Entra... - Ela abre-lhe passagem para a sala e os dois sentam-se no sofá.

– Obrigado Takeru... - Ela lança-se nos braços dele como se não houvesse amanhã e começa a chorar.

Takeru, sem saber o que fazer, começa a cantar a letra que tinha escrito á pouco momentos atrás:

" Quero-te mostrar o que está ao nosso redor,

Quero-te levar a um mundo sem dor,

Quero-te mostrar que nada nos pode separar,

Quero-te ensinar o quão lindo é amar

Quando achas que eu te amo,

Eu amo-te mais que isso,

És a minha força, tudo o que eu preciso,

O teu "bom dia" ao acordar é fundamental,

O dia torna-se melhor, o brilho do sol é natural"

E depois de cantar a letra toda, eles ficam uma boa parte de noite em silencio... simplesmente abraçados...

As vezes pensamos: " Estou mesmo mal, odeio a minha vida". Nesta história Takeru compreendeu que, apesar de ele estar mal, muitas pessoas poderiam estar ainda pior, e que devemos estar atentos ao que nos rodeia. Devemos ter mais atenção aos outros, porque parecendo que não, um sorriso engana, e engana bem. Mas ele conseguiu deixar isso tudo de lado para ter uma única coisa: o sorriso verdadeira de Hikari. O sorriso mais lindo do mundo na sua opinião. E tudo porque a ama.