Ouviu um choro alto e abriu os olhos, virando na cama. Olhou por entre as cortinas e viu mamãe entrando no quarto, caminhando até o berço de Catarina.

_ Pronto amorzinho, mamãe chegou. – sussurrou mamãe, pegando a irmãzinha do berço e começando a balançá-la – Quietinha, se não vai acordar a Belle.

Ficou piscando os olhos de maneira sonolenta, enquanto ouvia mamãe cantarolar para Catarina, esperando que ela dormisse. Fechou, abriu, fechou, abriu, fechou.

Acordou de novo, ouviu resmungos. Afastou as cortinas da cama, se levantando e correndo até o berço. Catarina estava piscando os olhinhos, cheios de lágrimas. Ela ia chorar e acordar a mamãe de novo.

_ Num chora Cat, num chora. – pediu, colocando o braçinho por entre as grades do berço – Deixa o papai e a mamãe dormi.

A irmãzinha virou a cabeça para ela, piscando os olhos úmidos. Acariciou a cabeçinha da neném, cantando a musiquinha que a mamãe cantava quando fazia eles dormirem. Catarina piscou mais devagar, até que voltou a dormir. Ficou com medo que ela acordasse de novo e sentou na poltrona da mamãe amamentar. Abraçou a almofada, observando a irmã dormir. Sentiu os olhinhos pesados. Não podia dormir, não podia, não...

_ Belle? – carinho na cabeça – Princesa, porque você tá aqui?

_ Cat chorou. – tentou focar os olhos no papai – Ia acoda vocês.

_ E você cuidou dela? – papai perguntou, a pegando no colo.

_ É.

_ Muito bem. Agora dorme na caminha, papai vai trocar ela. – deitou na cama, papai lhe deu um beijo, fechou os olhos.

_ Belle? Belle? Acorda Belle. – abriu os olhos, Miguel estava de joelhos na sua cama – Vamo chama o papai e a mamãe pa brinca?

_ A Cat tá nanando? – perguntou, se levantando. Foi até o berço, vendo que a irmãzinha estava piscando – Você acodou ela.

_ E daí?

_ Ela fica acodando o papai e a mamãe a noite toda. Eles precisam dormi. – bronqueou o irmão – Acende a luz.

O irmão foi acender a luz, enquanto colocava o braçinho no berço, segurando a mão da irmãzinha. Começou a cantar, enquanto o irmão sentava do seu lado. Catarina encarava eles dois, segurando seus dedos.

_ Quer baixa a gade? – perguntou Miguel. Ele pegou os ganchinho escondidos e soltou, e a grade caiu – Pronto, agora a gente pode bincar com ela.

_ Ela tá com fome? – perguntou, vendo a irmãzinha fazer bico.

_ Não sei.

_ Chama a mamãe, chama a mamãe. – Miguel saiu correndo, enquanto segurava a mãozinha da irmãzinha – Não chora Cat, não chora.

Mas a Cat chorou, alto. Tentou acalmá-la, mas ela tava chorando muito. Começou a chorar também, quando alguém a abraçou.

_ Pronto amorzinho, calma. – mamãe a abraçou, beijando seu rosto – A Cat tá com fome, por isso ela tá chorando. Não fica assustada.

_ Você e o papai acodaram? – papai entrou no quarto, a pegando do colo da mamãe.

_ Tudo bem princesa, já tava na hora de acordar. – papai a abraçou apertado, enquanto mamãe pegava a Cat – Vem, o papai vai fazer panquecas para você e pro Miguel, enquanto a mamãe dá de mamar para a Cat.

Papai desceu com ela no colo, porque ela estava chorando. Ela não queria que Cat chorasse e acordasse o papai e a mamãe. Eles ficariam cansados e não iriam brincar com ela e Miguel.

_ Senta aqui, você vai ajudar o papai a fazer panquecas, tudo bem? – concordou, coçando os olhinhos – Miguel, deixa a TV baixa.

Papai pegou os ingredientes. Ele lhe deu um ovo, para que ela quebrasse. Ela quebrou, sorrindo. Gostava de cozinhar com o papai e a mamãe, mesmo que eles não estivessem fazendo muito isso depois que Catarina tinha nascido. Vovó Margot sempre trazia tudo pronto.

_ Você quer panqueca com requeijão? – perguntou papai, abrindo a geladeira.

_ E chocolate. – ela apontou a Nutella, que papai pegou – Pode?

_ Só um pouquinho, para a mamãe não ficar brava. – papai abriu o potinho, deixando ela colocar o dedinho. Ele colocou o dedo, e os dois lamberam juntos – Nosso segredo, tá bom princesa?

_ Tá bom papai. – sorriu, enquanto ele começava a fritar as panquecas. Ficou balançando as perninhas, enquanto papai perguntava sobre a escolhinha. Fazia tempo que ele não perguntava da escolhinha e nem ele, nem mamãe, iam buscá-los. Vovô Silvério disse que era porque eles estavam cansados.

_ Prontinho. – papai pegou o prato de panquecas – Quer comer na sala, vendo TV com o Miguel?

_ Pode?

_ Hoje sim. Hoje é sábado. – papai sorriu, colocando-a no chão. Ele colocou as panquecas, o requeijão, a Nutella e suco de laranja em uma bandeja – Vamos?

Ela foi com o papai até a sala, e os dois sentaram no chão. Miguel sentou ao lado deles, e papai a colocou no colo. Eles comeram as panquecas, assistindo Sítio do Pica-Pau Amarelo.

_ Papai, nosso anivesaio pode ser do Sítio? – pediu Belle – Queo sê a Emília.

_ Calma princesa, ainda falta um tempo. – papai riu, beijando a cabeça dela. Ela deitou no ombro do papai – Quer mais panqueca?

_ Eu quero. – Miguel estava com a boca cheia, e ela e papai riram. Papai colocou requeijão nas panquecas e enrolou, dando uma para ela, uma para Miguel e comendo uma.

_ Guardaram uma para mim? – mamãe veio para a sala com Catarina dormindo no colo. Abraçou papai, não queria ver a irmãzinha – Que foi Belle?

_ Não queo acoda a Cat e faze ela chora. – mamãe colocou Cat no cestinho, indo para o chão. Sentou do seu lado, pegando ela do colo do papai. Ela abraçou mamãe, porque mamãe cheirava gostoso.

_ Você cuida muito bem da Cat, sabia? – ela negou – Você cuida sim. A Cat chorou porque tava com fome, não porque você fez alguma coisa.

_ Vedade?

_ Verdade. – mamãe confirmou – Agora... Posso comer uma panqueca?

_ Pode. – deu panqueca para a mamãe, com bastante requeijão. Mamãe se sujou quando foi morder, e todos eles riram.

_ Vem aqui pivete. – papai puxou o rosto da mamãe, lambendo o rosto dela.

_ Eca. – Miguel tampou os olhos porque papai e mamãe se beijaram, mas ela não fechou. Achava bonito o papai e a mamãe se beijarem.

_ Querem mais suco? – papai colocou suco nos copos, enquanto Miguel assistia o Sítio.

_ Mamãe, falei po papai que queo festa do Sítio. – contou para a mamãe, que sorriu.

_ Você vai ser a Emília. – concordou, sorrindo – Combina... Você é uma bonequinha. – mamãe fez cosquinhas em sua barriga, fazendo-a rir.

_ Papai, vamo come com chocolate. – pediu Miguel, e papai concordou, abrindo a Nutella. Começaram a colocar nas panquecas, e ela e mamãe comeram juntas.

_ Belle, você sujou o rosto. – mamãe beijou sua bochecha, sujando de chocolate – Tá vendo, tá sujo.

_ Você que sujou mamãe. – Miguel riu, mas papai puxou ele, sujando seu rosto – Papai, para.

_ Opa, tá sujo. – papai e mamãe riam, então ela e Miguel riram também. Comeram várias panquecas com chocolate, até que elas acabaram.

_ Crianças, querem ir passear no parque? – perguntou mamãe – Agora que a Cat tomou as vacinas, ela pode ir pra rua.

_ A mamãe pode jogar bola? – mamãe negou – Tá bom... Mas o papai pode?

_ Pode. – papai confirmou, levantando com Miguel – Vem campeão... A Belle ajudou a fazer a panqueca, você vai ajudar o papai a limpar.

_ Tá bom. – Miguel pegou o prato, enquanto papai pegava o resto. Mamãe levantou, indo pegar Catarina.

_ Vem Belle... Vamos trocar você e a Cat. – mamãe estendeu a mão para ela, e ela pegou. Gostava de andar de mão dada com a mamãe.

No quarto, mamãe colocou Catarina no berço, e pegou uma roupa em sua cama.

_ Pode ser essa? – mostrou um short azul da Hello Kitty com uma blusinha branca.

_ Pode por o tênis rosa? – perguntou, indo até mamãe para ela tirar seu pijama.

_ Pode sim. – mamãe a ajudou a troca de roupa – Quer me ajudar a escolher a roupinha da Cat?

_ Pode sê o vestido de pincesa? – perguntou. Mamãe sorriu, indo até a cômoda e pegando o vestido – Posso ajuda?

_ Pode... Senta ali na sua cama. – mamãe pegou Catarina, levando a irmãzinha para sua cama. Deitou a bebê, sentando ao seu lado – Muito bem... A mamãe vai te ajudar, tá bom?

Mamãe a ajudou a trocar a roupa da irmãzinha. Era difícil, a irmãzinha era mais mole e delicada que a boneca, e tinha que tomar cuidado com a cabeçinha dela. Mas ela conseguiu trocar a roupa, e ficou feliz.

_ Você brinca com ela enquanto a mamãe troca de roupa? – perguntou mamãe, e ela confirmou. Mamãe pegou Catarina e deu lhe deu a mão, as três indo para o quarto da mamãe. Ela e Cat ficaram na cama, enquanto mamãe trocava de roupa. A irmãzinha gostava quando ela se escondia atrás do paninho e reaparecia, fazia a irmãzinha rir. E isso a fazia rir também.

Logo, papai apareceu e foi trocar de roupa com a mamãe. Ela ouvia os dois rindo, e isso a deixava feliz. Desde que a irmãzinha havia nascido, o papai e a mamãe só cuidavam dela ou dormiam. E agora, eles estavam rindo e se beijando, e ela gostava disso. Gostava de ver o papai e a mamãe felizes.

A irmãzinha choramingou, chamando sua atenção. Voltou a brincar com a irmãzinha, e ela voltou a rir. Miguel apareceu e sentou ao seu lado. Explicou como brincar com a irmãzinha e ele gostou. Agora eles conseguiam brincar com ela. Antes, ela só chorava e dormia. Agora ela ria deles.

_ Todo mundo pronto? – mamãe saiu da porta, e ela estava linda. Estava com um short azul e uma blusinha branca. Estava parecida com ela.

_ Mamãe, tamo parecida. – sorriu para a mamãe, que lhe sorriu de volta.

_ Então vem aqui. – mamãe estendeu os braços para ela, e a pegou no colo – Vamos tirar uma foto?

Mamãe foi com ela até o espelho, e a arrumou no colo. Pegou o celular e colocou na câmera.

_ Posso apeta?

_ Pode. – ela apertou o botão do celular da mamãe e tirou uma foto delas – Ficou linda.

_ Eu gostei.

_ Eu também. – papai apareceu sorrindo – Vocês duas estão muito bonitas.

_ Eu queo também. – Miguel apareceu correndo.

_ Então eu vou pegar a Cat e vamos tirar uma foto todos juntos. – papai foi pegar a irmãzinha, que estava acordada. Papai e Miguel estavam iguais, de bermuda azul e camiseta preta. Só a irmãzinha estava diferente, com o vestido de princesa que ela tinha escolhido.

Mamãe segurou a irmãzinha, e o papai pegou ela e Miguel no colo. Mamãe ergueu o celular e todos eles disseram “X”. Só a irmãzinha que bocejou. Devia estar com sono de novo.

A cadeirinha da irmãzinha era muito grande, mas ela e Miguel já sentavam em uma pequena. Era só uma almofada embaixo do bumbum, para eles ficarem mais altos. A Catarina ficava no meio, e sempre dormia quando estavam no carro. Mamãe e papai ficavam na frente, e papai sempre pegava a mão da mamãe enquanto dirigia.

A mamãe sempre colocava músicas que o papai chamava de “velhas”, mas eles todos cantaram junto, muito alto, mesmo que a Catarina estivesse dormindo. Ela não acordava.

O parque era muito legal. Tinha muitas crianças correndo, muito adultos passeando, muitos cachorros brincando. Miguel correu com o papai atrás da bola, mas ela não queria correr atrás da bola. Ela queria ficar com a mamãe, porque sentia falta de ficar com a mamãe.

Ela e mamãe sentaram embaixo de uma árvore, a mamãe colocou um cobertor no chão, para deitar a irmãzinha. Catarina tava dormindo, de novo, mas era bom. Assim a mamãe podia ficar com ela.

_ Mamãe, cê conta historinha? – pediu, deitando no colo da mamãe, para ganhar cafuné. Adorava quando a mamãe fazia cafuné.

_ Que historinha você quer? – perguntou mamãe, fazendo cafuné.

_ Qual você quise. – bocejou, porque cafuné lhe dava sono.

Mamãe deu risada, mostrando o sorriso. Achava o sorriso da mamãe tão lindo. O papai falava que tinham o sorriso igual. Então tinha um sorriso lindo também?

Mamãe contou a história dos três porquinhos, da Branca de Neve, da Cinderela, e depois contou uma história nova. Era de uma menina que jogava bola e de um menino “fraldinha”, de como ela tinha salvado a vida dele e ele salvado o coração dela. Não sabia de onde vinha a história, mas a achou linda, e mamãe também parecia achar, porque chorava quando terminou.

_ Tranqueira, cê tá bem? – papai sentou do lado da mamãe, todo suado. Mas a mamãe não ligava, porque abraçou ele.

_ Só contando histórias para a Belle. Contei a do fraldinha e da maloqueira. – papai sorriu para a mamãe e deu um beijo nela.

_ Poque vocês bejam na boca? – perguntou, vendo os pais rirem.

_ Porque nós somos casados. – explicou mamãe, fazendo carinho na sua cabeça.

_ Mas o tio Kev num é, e ele beja. – ela observou, e papai e mamãe riram de novo.

_ É assim, quando você tem um namorado ou marido, você pode beijar ele na boca. – explicou mamãe – Mas isso quando você for mais velha.

_ Só depois dos 30. – avisou papai.

_ Fabinho, cala a boca. – mamãe gargalhou, dando uma cotovelada no papai. Ela não entendeu, mas riu também. O 30 vinha depois do 7? Ou era depois do 17?

_ Papai, mamãe... – Miguel veio correndo, todo suado – To com fome.

_ Também, já tá na hora do almoço. – mamãe se assustou, olhando Catarina – E a bichinha nem se mexeu. Tá hibernando.

_ Tá um dia gostoso para dormir ao ar livre. – papai concordou – Que tal irmos comer fora? Vamos no restaurante, comemos, e depois podemos ir na casa da vovó Irene.

E foi assim pelo resto do dia. Papai e mamãe levaram eles almoçar, e deixaram eles comerem o prato infantil, que vinha com brinquedo. A mamãe tinha dado de mamar para Catarina no carro, enquanto papai secava ele e Miguel com uma toalha. Eles se encheram de perfume e mamãe falou que eles pareciam gambás.

Eles passaram a tarde na casa da vovó e do vovô, com as duas vovós e os dois vovôs. E a dida, o dido, o Rafa... E como a dida não largou a irmãzinha, o colo da mamãe ficou todo para ela, enquanto os meninos brincavam com o papai, os vovôs e o dido.

E a noite, mamãe deu banho nela. Quem tava dando sempre era a vovó Margot, mas mamãe resolveu dar naquele dia. Papai estava com a irmãzinha e Miguel, assistindo TV no quarto. E ela e mamãe estavam na banheira, tomando banho juntas.

_ Belle... – mamãe a virou, fazendo ficarem uma de frente para outra – Vamos ter uma conversa séria, tá bom?

_ Tá.

_ Filha, eu sei que a mamãe e o papai estavam meio... Ausentes ultimamente. – o que era ausente? – A gente não tava dando atenção para vocês, ficando atrás da Cat e tudo mais... E você e o Miguel sabem que era porque ela ainda era muito pequenininha, não é?

_ Sei. – mamãe parecia triste, e ela não queria isso.

_ E eu vi que você tava levantando a noite, para fazer sua irmãzinha ficar quietinha, para eu e o papai dormirmos. – mamãe acariciou seu cabelo, sorrindo – Você é uma irmã muito boa. E uma filha também. Eu queria falar que eu to orgulhosa de você.

_ Bigada. – ela sorriu para mamãe, que sorriu de volta.

_ E agora que a Cat tá com 40 dias, vai ficar mais fácil para o papai e a mamãe terem mais tempo com vocês, tá bom? Eu e ela vamos buscar você e o Miguel na escola, todo dia. – ela abraçou mamãe, que retribuiu – Eu te amo, tá bom?

_ Também te amo mamãe.

Depois do banho, eles jantaram macarrão que o papai fez. Ficou meio grunhento, mas a mamãe disse que amou, e ele ficou feliz. Então, ela e Miguel também disseram que amaram, e ele ficou mais feliz ainda.

Quando mamãe foi dar de mamar para Catarina, fez isso na sua cama, enquanto ela estava deitada. Enquanto a irmãzinha mamava, mamãe contou uma historinha. Os olhinhos estavam pesados, mas não queria dormir. Começou a piscar.

Abre, fecha, abre, fecha, abre, fecha...

_ Boa noite princesinha.