American Idiot escrita por Raquel C P


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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Annabeth

Andei muda pelo estacionamento coberto do colégio, seguindo Percy Jackson o mais longe possível. Vesti novamente a jaqueta branca com a insígnia da Half Blood, realmente estava ficando frio e não estava disposta a passar por isso. Olhei para as costas do moreno a minha frente, marcada por uma camiseta verde sem mangas. Dei de ombros, que esse idiota passasse frio também.

Depois de alguns minutos ele parou na traseira de um dos únicos carros no estacionamento, um Prius preto. Enquanto me aproximava lentamente do veiculo ele jogava sua mochila preta no porta malas.

– Perdeu a mochila?

– Deixei no armário. Andar até minha casa com todos aqueles livros nas costas é desnecessário.

– Ainda bem que não vai mais ter andar. – Ele disse batendo o porta malas sem me olhar. Revirei os olhos.

– Uma pena que isso seja por sua causa. – Ele riu. Imbecil.

– Vamos emburrada.

Ele andou até a porta do motorista e entrou. Eu, relutantemente, abri a porta do passageiro e sentei no banco de couro. O carro era moderno, com um painel grande cheio de utilidades. O cambio era automático e o controle do aparelho de som era no volante. Olhei para cima e vi o grande teto solar fechado. Percy colocou o cinto e esperou eu fazer o mesmo. Desperta, enlacei-me com o cinto.

– Depois eu que sou lerdo... – Ele resmungou enquanto ligava o carro. Fechei a cara, essa viagem seria realmente muito longa.

O silencio predominou no carro, até que Percy decidiu quebra-lo.

– Então... Annabeth Chase... – Estremeci ao som rouco do meu nome em sua boca. – Onde mesmo você mora?

– Na 33 com a Quinta Avenida.

– Empire State?

– Ao norte dele.

Ele assentiu e continuou a dirigir pela Quinta Avenida. O silencio predominou novamente no carro. Nenhum dos dois sentia vontade de quebra-lo e em menos de dez minutos, estávamos próximos à trigésima terceira rua. Porém, ele passou-a, seguindo pela Park Avenue.

– Hey, Cabeça de Algas. – Ele me olhou com um misto de felicidade e espanto. Um sorriso brincava em seus lábios. – Minha casa é para lá. – Apontei com o polegar de onde viemos.

– Cabeça de Algas? De onde veio isso?! – Ele riu sorrindo largamente. – Eu sei que passei da sua casa sabichona, estou indo para outro lugar.

Encostei com força no banco do carona.

– Vai me sequestrar agora? – Ele continuava sorrindo. E que sorriso. – E não me chame de sabichona.

– Tudo bem... – Ele me olhou de lado. – Sabidinha.

Revirei os olhos. Idiota.

– Onde vamos?!

– Calma, não vou te sequestrar, não valeria a pena. – Ele me irritava cada vez mais. – Vamos dar uma volta. Vai ser divertido.

Revirei os olhos. Será que era tão difícil assim só me levar pra casa?!

Bufei.

– Rabugenta.

– Imbecil.

– Esta com fome? – Que mudança repentina de assunto. Dei de ombros.

– Tanto faz.

– Eu estou morrendo...

Depois de alguns minutos ele entrou em um McDonald’s e parou na pequena fila de carros que dava para o drive thru. Olhei para o seu perfil, iluminado pelo letreiro amarelo do fast food e pelas lanternas do carro. Levantei uma sobrancelha.

– Essa é a sua ideia de diversão?

– À noite esta só começando. – Ele virou para mim. – O que vai querer?

Desviei o olhar.

– Estou sem fome.

O carro da frente andou, e nós seguimos com o Prius para fazer o pedido.

– Boa noite. Qual o pedido? – A atendente perguntou, alterando o olhar entre a prancheta e o Percy constantemente. Ri silenciosamente. Inacreditável.

– Ah... dois milk shakes de baunilha com cobertura de chocolate, duas caixas de nuggets e duas batatas fritas grandes, por favor.

– Hmm... vinte e cinco e 99.

Percy estendeu o dinheiro e a moça devolveu o troco, olhando-o nos olhos e corando fortemente. Eu ri novamente.

– Obrigado. – Ele agradeceu andando com o carro. A moça o seguiu com os olhos e a minha risada saiu mais uma vez, só que menos contida. O moreno sorriu e me olhou.

– Qual a graça? – Será que ele realmente não percebia? Lerdo... E muito inocente.

Balancei a cabeça.

– Nada. Mas por que de tanta comida?

– Para nós ué. – Joguei as mãos para o alto.

– Mas eu disse que estava sem fome!

– Aham, sei... – Ele se inclinou para fora da janela e pegou os pedidos, depois os jogou no meu colo. – Segura aí. E não comece sem mim.

– Vamos logo. – E com essa deixa ele deu partida no carro e voltou para a avenida.

Depois de menos de cinco minutos ele parou o carro próximo a entrada do Central Park, porém, esta estava deserta. Olhei para os lados, isso era estranho. Percy desligou o carro.

– Por que aqui é tão deserto?

– É uma entrada antiga do parque, as pessoas não vem mais aqui então esta tecnicamente fechado.

– E... isso não seria ilegal? – Ele riu e eu sorri.

– Só se nos pegarem. – Ele levantou os braços e abriu o teto solar. Por ele era possível ver as poucas estrelas do céu de New York, agora totalmente limpo, consequência da chuva que predominou na manha e parte da tarde. O cheiro de terra molhada invadiu o carro e junto com ele um vento frio que me fez estremecer.

– Aqui é mais frio. – Eu comentei.

– É sim, consequência das arvores eu acho. – Ele olhava para o céu iluminado apenas pela lua e estrelas. Era engraçado como naquele lugar, pouco afastado da cidade, dava a sensação de deslocamento do mundo em que vivíamos. Era como um mundo paralelo no meio de New York, o qual para chegar era só atravessar algumas ruas.

Percy abaixou o seu banco ficando deitado.

– Aqui. – Ele pegou uma coberta de lã xadrez em verde, vermelho e preto no banco de traz. Eu franzi o nariz. Um cobertor em um carro não é muito conveniente. Ele revirou os olhos, minha expressão devia ser mais clara do que eu imaginava. – Eu trago ele sempre comigo, gosto de vir a noite para cá. Sozinho. – Mesmo assim balancei a cabeça. – O carro nem mesmo é meu Annabeth! – Eu sorri.

– Não é isso Cabeça de Algas. Você esta sem nada para se cobrir, pode ficar, eu estou com a jaqueta.

Ele ponderou.

– Acho que podemos dividir. – Eu aceitei. Estava realmente ficando frio.

Deitei também o meu banco e soltei os meus cabelos, deixando-os cair em cascatas pelos meus ombros. Olhei junto com ele pelo mesmo buraco, era uma boa sensação. Ele passou o cobertor e nos cobrimos das pernas para baixo. Percy estava com as mãos atrás da cabeça e eu descansava as minhas sob a barriga.

– E de quem é o carro? – Não nos olhávamos, não sabia sua expressão.

– É do meu padrasto, ele me emprestou hoje para ir à escola. Sorte sua.

– Não é um sacrifício tão grande assim andar até a minha casa.

Ouvi sua risada.

– Não é por isso. Eu tenho uma moto, acho que você não gostaria muito de andar nela.

Eu sorri.

– Realmente, seria apavorante.

Ficamos alguns minutos em silencio até Percy encostar em meu braço. Um choque passou por todo o meu corpo me fazendo ficar levemente tonta. Virei a cabeça e encarei aqueles olhos verde mar.

– Ah... – Ele pigarreou. – Pode me passar o milk shake?

Eu desviei o olhar.

– Claro. – Disse pegando desajeitadamente a bebida no meu colo. – Aqui. – Entreguei um para ele e comecei a tomar o meu. Pequei uma das batas e apoie no banco entre meu braço esquerdo e meu corpo, comendo-a com a mão direita e deixando o milk shake do outro lado, da mesma forma. Eu estava realmente muito confortável. Percy esticou a mão e começou a comer junto comigo e rapidamente a primeira batata acabou então partimos para a segunda.

– Há quanto tempo esta na Half Blood? – Ele perguntou entre goles.

– Cinco meses... eu acho. – Falei desanimada.

– Veio de onde?

– Eu morava em São Francisco com o meu pai...

– E se mudou por quê? – Eu franzi a testa.

– Quantas perguntas. – Virei para olha-lo. Ele deu de ombros e voltou a beber. Eu soltei o ar pesadamente. – Meu pai se casou de novo e aminha madrasta é uma tremenda de uma megera, sem falar que meus novos “irmãos” são insuportáveis. Então, quando fui convidada para estudar na “maior e mais cobiçada escola de toda a América”. – Falei citando o discurso do nosso diretor no primeiro dia de aula. Percy riu. – Decidi vir morar aqui com a minha mãe...

Ele pegou mais uma babata.

– Pelo menos conseguiu se livrar. Veja pelo lado bom.

– Eu não queria ter que me livrar.

Ele deu de ombros.

– Não tem o que fazer sobre isso.

Ele tinha razão.

– E você, há quanto tempo estada lá.

– Cinco anos.

– Ultimo ano? – Ele balançou a cabeça.

–Penúltimo, tenho 16. – Olhou para mim e sorriu. Arregalei os olhos também o olhando.

– Bom... você parece mais velho. – Ele deu de ombros.

– É o milagre da natação.

– Você realmente gosta daquilo né? Vi você nadando e... impressionante.

Ele sorriu largamente

– Obrigado. Momento histórico em que Annabeth Chase me elogiou. – Eu voltei meus olhos novamente para as estrelas e peguei os nuggets.

– Só não acostuma. É quase impossível acontecer de novo.

– Vamos ver. – Ele disse, também olhando para o céu e pegando mais comida. – E sim, eu amo nadar. É o que quero para a minha vida.

– Espero que dê certo... seu treinador, ele parece querer que dê certo também.

Ele riu.

– É por que ele não é só o meu treinador. – Ele deu mais um gole no milk shake. – Ele também é meu pai. Meu pai biológico e um dos fundadores da escola. Meus pais também são separados.

– Ah, entendi. Tem mais preção.

– Eu sei, mas não reclamo. Ele é um ótimo treinador, e fora de casa ele deixa de ser meu pai. Acaba dando certo para mim.

– Entendi... – Joguei fora a caixa e peguei a ultima para dividirmos. – Só uma coisa, por que nunca te vi nas aulas? Também estou no penúltimo ano.

Ele deu de ombros e virou a cabeça para mim novamente.

– Deve ser por que você esta sempre emburrada e concentrada em seus cadernos sem prestar atenção em nada ao redor.

Corei levemente.

– Você prestou muita atenção.

– Só porque me interessei.

Ficamos em silencio. Um encarando o outro, verde misturado a cinza. Acho que ficaríamos assim pelo resto da noite, nesse conforto de olhares, se não fosse pelo meu celular tocando histericamente.

Desviei o olhar, novamente meio tonta. Mas o que é isso?

Sentei e procurei o celular nos meus bolsos, peguei-o e teclei todas as teclas até acertar e tender.

– Alô?

– Annabeth, onde você esta? – Fechei os olhos e suspirei.

– Desculpe mãe, eu já estou indo para casa, perdi a noção do horário.

– Venha imediatamente pra cá e teremos uma conversa. O clube de xadrez não dura tanto tempo – Sua voz era severa.

– Desculpe, estou indo. – Desliguei o telefone e abri os olhos. Encrencada. De novo.

Virei o rosto e o moreno me olhava sentado, a coberta ainda sobre nossos corpos.

– Minha mãe. Tenho que ir para casa. Esse dia esta uma loucura... – Abaixei a cabeça e coloquei-a entre as mãos, sentindo o pequeno galo de mais cedo. Sorri escondido.

– Eu provoco essa sensação nas meninas. – Ele disse enquanto levantava o banco e ligava o carro. O teto solar já estava fechado. Eu revirei os olhos.

Em alguns minutos estávamos na minha rua e apontei para onde ele deveria parar em frente ao condomínio de prédios que morava.

Eu tirei o cinto e olhei para ele, sem reação.

– Ah... então até mais Percy.

Ele sorriu.

– Até mais Annabeth. E o meu nome é Perseu... Percy é só apelido.

Dei de ombros.

– Eu já sabia. Está atrasado.

– Bobona

– Besta.

Encaramo-nos por mais alguns segundos, até que decidi parar com essa bobeira e virei o rosto, abrindo a porta do carro e colocando uma das pernas para fora. Virei o rosto para ele novamente, o qual me encarava e estava levemente inclinado sobre o meu acento.

– E... obrigada Cabeça de Algas.

Ele sorriu.

– Por nada Sabidinha.

Então fechei a porta e andei a passos largos até a entrada do meu prédio, ciente de seus olhos em mim. Assim que abri o portão o Prius partiu devagar pela rua, virando a esquerda na bifurcação. Sorri bobamente. Mas que dia foi esse? Balancei a cabeça e respirando fundo. Andei em direção ao castigo que me esperava, sempre com a mente preenchida por aqueles olhos verdes.


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Notas finais do capítulo

E então? :P