You escrita por Lchaan


Capítulo 2
File #2: Now, Two Souls To Call... For all... In time.


Notas iniciais do capítulo

Gente! Obrigada pelos reviews lindos que recebi e por terem animado a ler essa fic :3
Sinto muito por ela estar lenta... Mas minha inspiração está fluindo exatamente assim t.t -Aceito dicas kkkk

Então... Boa leitura >//
Nota 1: Mudei o nome dos capítulos, por que os escrevi ouvindo uma música chamada 'One More Soul to the Call'... E achei legal o modo como ficou o novo título >//



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A porta abriu-se subitamente, assustei-me, olhei para o rosto que surgiu de repente em minha frente, olhos arregalados e resquícios de lágrimas, parecia transtornado, com certeza a doença o havia pegado de surpresa, percebi em sua mão direita uma aliança prateada, deve ser comprometido com alguém.. Ele ainda não tinha um suporte de soro para carregar ou acesos fáceis às intravenosas, obviamente, novato.

"Por que você está aqui?!"-Disse, percebi sua respiração descompassada, os olhos ainda estavam arregalados, as lágrimas acumulavam-se em seus olhos.

Não respondi.

"Vá embora!"-fechou a porta com força.

Não me importei, sei bem como é duro o primeiro dia. Minto. Confesso que me senti um bobo, mas agora, pensando melhor na situação, Raito Yagami passava por uma situação muito difícil e devia se acostumar e lutar contra ela... Não pensaria em jogar xadrez antes dessa aceitação... Faz sentido.

Voltei ao meu quarto e sentei-me sobre a cama, liguei a tv. O relógio do noticiário mostrava 20:00, daqui a uma hora estaria tomando meus remédios noturnos e me preparando para dormir, em meu interior, agradeço por isso estar acabando...

Uma hora... Foi suficiente para eu observar todo o movimento do quarto em frente ao meu.

Observei Kayle entrando e saindo daquele quarto muitas vezes, quase sempre parecia nervosa e, talvez até, desesperada, sem saber o que fazer com a dor, em todos os seus sentidos, do novo paciente.

Algumas vezes ouvi soluços... Para o novato, era como se tudo o que ele amasse e fosse estivesse realmente ruindo e se quebrando, não havia mais chão abaixo de seus pés... Não podia conter as lágrimas ou a si mesmo...

Tudo cessou quando Kayle entrou com uma injeção, a qual confirmei ser um calmante, devido ao que se deu posteriormente: ele dormiu.

Longos minutos depois ele recebeu o seu novo companheiro inseparável, mesmo dormindo, Raito recebeu em sua veia seu primeiro coquetel de remédios da quimioterapia.

Observei tudo isso com o recosto da cama há um pouco menos de noventa graus, não que eu fosse um sádico ou algo do tipo, mas pela primeira vez eu via a situação de um ângulo diferente... Eu estava preocupado.

Ao ver que o movimento cessou, apertei a campainha, que sempre fica ao lado da cama, chamando uma enfermeira... Não é surpresa que Kayle tenha vindo... Não é?

Ao abriu a porta, sorriu o melhor que pode, eu apenas a observei.

"Olá! Precisa de algo?" -sorria.

"Não.. Só quero saber se esta tudo bem.." -continuei encarando-a.

"Ele dormiu, esperamos que esteja mais calmo quando acordar amanha de manha..." -suspirou e fixou seus olhos verdes nos azulejos do chão.

"E você?"

Antes de responder, levantou os olhos sem esconder sua surpresa, sorriu como se estivesse orgulhosa de mim, finalmente respondeu - "Cansada... Mas... É sempre difícil quando alguém chega assim... Ainda mais quando é tão novo...Espero que ele seja tão forte quanto você L!" -sorriu- "Quem sabe se vocês forem amigos" - ainda sorria olhando para mim.

"Kayle...Por que insiste que sejamos amigos?" -olhei para minhas próprias mãos repousadas sobre as minhas coxas, eu sabia que ele estava nervoso pelo primeiro dia, mas algo dentro de mim teimava em dizer que não seríamos amigos... Seria minha insegurança?

Aproximou-se, pegou uma das minhas mãos, seus olhos encontraram os meus e disse docemente o que, em meu íntimo, eu já sabia: "Quando eu vou pra casa... Nunca sei se quando volto meus pacientes continuam aqui ou..." -abaixou os olhos por alguns segundos, ela sabia que não precisava terminar a frase- "Então... Tudo aqui tem que ser rápido... Foi por isso que falei dele pra você... e de você pra ele...Por que... Eu acho que você poderia compartilhar sua força... Poderia ajudá-lo e mostrar que aqui não é o inferno que parece ser.... Que estar aqui... Pode ser bom! Já que é a única escolha... Que não seja um martírio!" -suspirou-" Você sabe o quanto é difícil estar aqui sozinho... E você precisa de amigos também Lawli...Como ele é da sua idade... Eu pensei que..." -sorriu.

Apenas assenti, agradeci-a pela visita e ela se foi apagando as luzes ao sair. Não tardou até que eu dormisse.

Ela tinha razão... Naquele lugar você nunca sabia se quando acordasse seu 'colega de corredor' ainda estaria lá.... Naquele lugar o tempo corria mais rápido... Kayle sabia disso e apenas quis tornar a convivência de 'colegas de corredor', digamos... Divertida. Não foi um fato isolado, fazia isso com todos os pacientes, de todas as alas... Não foi difícil saber por que as crianças gostavam tanto dela.

Acordei, as cortinas ainda estavam fechadas, uma música baixa soava, segui-a e encontrei o meu celular, a muito esquecido, em minha mala. Uma mensagem... Nada importante... Só a operadora... Mais uma vez. Um sorriso meia-boca surgiu, ironia?Sarcasmo? Raiva?

Chequei as horas e joguei-o de volta na mala.

7:30

“Eu tenho que parar de acordar tão cedo..” –suspirei após pensar alto.

Alcancei o livro que ainda não havia terminado de ler, estava sob o jogo de xadrez... Ah.. O novato.. Eu deveria ir vê-lo mais tarde? E se ele...Realmente não quisesse me ver?!... AH! Droga... Lá vou eu de novo pensando que ele não quer ser meu amigo e que só vou atrapalhá-lo... Lá vem meu pessimismo... Uma vez mais me mostrar os motivos pelos quais não tenho muitos amigos.. Respiro fundo esperando que esses pensamentos logo saiam da minha cabeça, felizmente batidas na porta os espantam do meu cérebro...

Batidas na porta às 7:30?! Kayle só traz meu café às 8:00... E mesmo assim.. Ela não espera que eu vá abrir a porta ou gritar para que entre, se sente ‘em casa’, abre a porta, entra e ainda senta na maca.

Coloquei o livro sobre o xadrez portátil. Levantei-me pensando em quem poderia ser. O nome de todos os médicos e enfermeiros me passaram pela cabeça, todos os nomes que eu conhecia.. Exceto aquele.

Abri a porta, era ele: Raito Yagami.

“Ah...Oi..Desculpe incomodar tão cedo mas...”-levou uma das mãos aos ombros massageando-o de leve, com o ato, denunciou o quão tenso e nervoso estava pela situação em que se encontrava- “Ontem... não fui gentil com você” –sorriu sem jeito.

Assenti, era estranho.. Eu não sabia o que dizer... Percebendo isso o garoto continuou: “Eu.. Sou Raito Yagami” –como um típico japonês fez uma reverência.

“L”- imitei seu gesto anterior.

“Eru..” –levantei o olhar, encarando-o interrogativamente- “No Japão.. Eru” –sorriu novamente. Verdade... Não há o fonema L naquele país –“Posso te chamar assim?” –Novamente assenti. E ele ainda sustentava aquele sorriso sereno nos lábios. Ficamos em silêncio algum tempo... Percebi que o tempo que passei sozinho naquele local me tirou a capacidade de conhecer e conversar com pessoas. Eu ficava desconfortável e o induzia a sentir-se assim também... Lastimável..

“Eu..vou pro meu quarto... Desculpe incomodá-lo tão cedo” –novamente uma reverência. Girou os calcanhares, vi-o dar um passo lento.

Eu, com certeza, parecia um idiota.

“Hm” – grunhi tentando chamar sua atenção, funcionou, moveu o pescoço e olhou para mim, ainda de costas, sorriu. Aquele sorriso de novo... Será que ele é mesmo tão sereno quanto aparenta ser?! Talvez ele só seja... Contido.

“Hm?”-respondeu sorrindo.

“Você..” –não consegui manter meus olhos nos dele, desviei-os para o chão –“Sabe jogar xadrez?” –Virou-se de frente para mim e caminhou de volta à entrada do meu quarto.

“Fui campeão de um torneio de xadrez no primário... Adoro jogar xadrez” –sorria.

Liberei a passagem – sim, eu estava parado em frente à porta desde o momento em que a abri-, encarou como um convite para entrar, entrou.

Equilibrei a maca para que ficasse reta, sentei-me sobre meu travesseiro e ele sentou-se no extremo oposto da cama. Abri o tabuleiro flexível jogando as pecinhas sobre a cama. Peguei os peões pretos e ele os brancos, em alguns segundos já havíamos organizado as peças. Começou.

“Você é inglês não é?” – olhava para o tabuleiro.

“Sim , de Londres... E você é do Japão..certo?”-olhava para ele, mas, frequentemente, desviava os olhos para o tabuleiro quando me encarava.

“Sim, da região de Kantou...Já foi ao Japão?”-moveu a rainha.

“Sim, adoro Anko¹...”

“Verdade?” –riu- “Não sou muito fã de doces... É minha primeira vez na Inglaterra”-olhou pra mim.

“Intercâmbio?” –olhei pra ele. Assentiu, sorriu. –“Quantos anos tem?”

“Dezoito... E você?”

“Vinte e três”

“ÉEh?!” –olhou-me incrédulo. –“Você não parece mais velho que eu!” –riu. Não o culpo... Sou mesmo mais baixo e mais magro que ele. Sorri.

Movi um peão.

Silêncio.

“Eru... você conseguiu mesmo se curar?” –olhava para o rei em sua mão.

Olhei para ele, seus olhos cor de chocolate estavam perdidos enquanto olhava para a peça branca a sua frente. Algo em sua memória o fez lembrar-se da doença e do local em que se encontrava –e possivelmente- o fez imaginar o estado que ficaria.

“Sim...” –encarei-o-“E você consegue também”

“Será Eru?” –olhou pra mim. Assenti.-“Me disseram...Que vou perder os cabelos e..vou ficar fraco... Por isso me trouxeram pra cá..” –olhou pro rei colocando-o no tabuleiro.

“Você está com medo?” –coloquei meu polegar sobre o lábio inferior. Assentiu olhando para o tabuleiro.- “Seu cabelo crescerá de novo...” –seu olhar se perdeu novamente no jogo pouco abaixo de nós, peguei em sua mão para trazê-lo de volta a realidade, mirou-me com os olhos um pouco mais abertos, estava surpreso... Encarei-o e disse: “Tenha força, vai ficar tudo bem... Você também vai conseguir e... somos amigos agora” –assim que percebi o que fazia, soltei sua mão e mirei o tabuleiro, envergonhado movi minha peça. Há tempos não ficava sozinho com alguém além da Kayle...

“Amigos” –olhou pro tabuleiro, sorriu. –“Eru... Sua peça favorita do xadrez... É o cavalo?” –riu.

Olhei pra ele, ri.

“Finalmente consegui Eru!” –sorriu.-“Mas, deixa eu tirar esse sorriso do seu rosto..” –moveu o bispo e..-“Xeque-mate!”

“Naa! Parabéns” –sorri. Olhei para o tabuleiro.. Eu estava enferrujado até no xadrez!

Olhei pra ele e sorrimos um para o outro. Voltei minhas atenções para o tabuleiro e voltei a organizar as peças.

“Acho que as pretas me dão azar” –ainda sustentava meu sorriso.

“Azar né?!” –riu. Pegou o celular e nele viu as horas. -“Hm...Já são 8:15” –olhou pra mim. Fomos mesmo bastante rápidos. –“Vou ao meu quarto... Tenho que me trocar e organizar minhas coisas” –sorriu.

“Okay”- dobrei o tabuleiro e comecei a guardar as peças dentro dele.

“Mais tarde volto pra conversarmos mais”-levantou-se-“afinal, ainda não sei seu nome” –sorriu, caminhou até a porta e saiu fechando-a gentilmente em seguida.

Vi-o caminhar até seu quarto através da minha janela, assim que chegou a seu quarto acenou para mim, levantei meus dedos num aceno breve e ele fechou as persianas. Com certeza se trocaria. Coloquei o xadrez de volta no móvel após pegar meu livro e colocá-lo sobre a cama, só então atinei para uma coisa: mais de 8:00 e Kayle ainda não havia trazido o café?! Seria o dia de folga dela?! É uma boa possibilidade...

Teria me preocupado –e até pensado- um pouco mais se aqueles cabelos ruivos não surgissem no fim do corredor trazendo um carrinho com bandejas, sorria encarando-me do fim do corredor.

Passou no quarto em frente ao meu, entrou, deixou a bandeja, creio que conversaram um pouco também... Afinal, ela demorou a sair e se dirigir a meu quarto.

Quando chegou, entrou sem cerimônia, com o sorriso que sustentava desde o momento em que a vi, colocou a bandeja gentilmente sobre minha cama.

“Bom dia L!” –disse.

“Bom dia...” –respondi pegando a bandeja e depositando sobre meu colo. –“Demorou... Achei que não fosse seu turno hoje” –alcancei o suco de laranja e bebi um gole.

“E não era” –sorriu –“Mas, resolvi trocar com um amigo pra ver como seria o primeiro dia dele” –olhou para o quarto a frente –“Além disso... Eu não poderia me adiantar e atrapalhar o jogo de vocês” –soltou um risinho.

“Ah..” –abaixei a cabeça e sorri levemente –“Entendi... Você viu né?” –assentiu.

“Quem ganhou?” –perguntou enquanto reorganizava o carrinho que trazia. Apontei para o quarto da frente, olhou-me com certa surpresa e soltou um sorrisinho em seguida. –“Ele é legal?” –assenti. Sorriu ainda mais –“Que bom que vocês poderão ser amigos...” –olhou para mim, ainda sorria... Eu sabia o que aquele sorriso significava... Certamente Kayle estava me dizendo: “Que bom que não estão mais sozinhos, L”.


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Notas finais do capítulo

¹- Doce de feijão *w*
E então.. gostaram? *-* -Espero que sim! :3
Vou tentar postar o próximo o mais rápido possível :3
Kisu :*
Obrigada por lerem