Dê uma chance a ele. Dê uma chance a ele.

Essas palavras não saíam da minha cabeça. Will era um cara realmente legal e não era segredo pra mim que o mesmo me achava bonita, além disso me tratava como uma princesa mesmo que ainda pontuasse cada palavra com um sorriso sedutor. Eu tinha que tomar uma decisão agora.

Como eu estava com o pé enfaixado fiquei fora da educação física obrigatória para todos, então ganhei um horário livre na quarta á tarde. Eu precisava chegar até o Will e dizer que sim, eu ficaria com ele.

Infelizmente, era a época das chuvas o que me fazia escorregar em todo canto com a maior facilidade do mundo, mas nem Reyna e nem o clima me impediram de andar três setores até a área da piscina.

– Will! – gritei quando o vi terminar a corrida de obstáculos.

– Piper! – ele falou surpreso e com a respiração meio falha por conta do esforço – Pensei que com esse tornozelo você não precisasse fazer educação física.

– Na verdade, eu não preciso. Eu só queria falar com você.

– Sobre aquele negócio de ficar com você? – assenti em afirmação – Não tem que fazer isso de me dar o fora gentilmente, já me contaram sobre você e o Jason.

Na minha mente soou o alarme de “Merda! Merda! Merda!” e eu tentei me lembrar se havia algo significativo a ser descoberto entre Jason e eu. A escola toda já sabe do precipício de Jason por mim, então não era. Beijo com ele? Também não, até porque o último foi atrapalhado por Leo e eu não sei dizer ainda se isso foi bom ou ruim. O que seria?

– Desisto. Do que você tá falando garoto? – perguntei cansada de imaginar mil boatos falsos por segundo na minha cabeça.

– Vocês estão namorando, e você conseguiu esse tornozelo porque estavam se pegando na floresta pra ninguém descobrir.

Eu pisquei. COMO ASSIM, JOVEM? Foi um choque tão grande que eu não sabia se ria ou se perguntava de onde saiu tamanha mentira. Fiquei com a segunda opção.

– Solace, você está cheirando tang? – e foi aí que eu comecei a rir.

– Não. Todos já sabem, Pipes. A Drew falou pra todo mundo.

– Will, eu estou solteira, na pista, entendeu? Só namoro com personagens literários e atores de TV que nem sabem meu nome. Eu e Jason não temos nem uma unha em comum.

– E por que ela pôs isso em todas as redes sociais que ela tem? – ele disse desconfiado.

– Porque ela não tem cérebro e o único comando que sabe exercer no corpo e rodar bolsinha na esquina. – ele me olhou espantado por eu estar xingando ela – Digamos que Drew Tanaka é uma idiota e eu já a conheço de longa data.

– Longa data?

– Você vai entender depois. Eu te ligo, tá? Só que antes eu tenho que falar com um certo alguém plastificado.

– Hmmm... Então, okay.

Comecei a andar irritada para onde Drew estivesse. Sério, se ela queria Jason podia pegar a vontade, mas que ao menos deixasse Will pra mim. Como ela ousa manchar minha imagem por um cara que já cansou de dar um fora nela?

Milhões de xingamentos se passaram ela minha cabeça e, principalmente, onde eu enfiaria aquele celular rosa enjoativo dela, aposto como ela fez aquilo como vingança por tê-la enfrentado no fim de semana.

Meu celular vibrou em meu bolso. Uma chamada que atendi sem nem ao menos checar quem era.

– Alô?

– Pipesss. – falou Jason em uma voz arrastada – Eu já disse que te amo?

– Qual o seu problema, Grace?

– Você. Por que você não me ama?

– Jason, você tá passando bem?

– Claro que sim, eu juro que só tomei uma dose.

– Você está bêbado?

– Quem está falando com você, amorzinho? – ouvi uma voz irritante falar.

– Quem é? – perguntei.

Ouvi o telefone sendo puxado do outro lado da linha.

– Oi, quem, awwwwn, quem tá falando? Jay não faz assim. – ela reconheci ser Drew de um jeito manhoso para Jason.

– Foi engano. Adeus. – e desliguei usando um sotaque francês só pra não dar mais um prazer a Drew.

O que Jason estava fazendo com Drew, e por que ele tinha me ligado? Sem contar que ainda estava bêbado.

Pus meu telefone no bolso confusa. A raiva havia passado e perguntas rondavam minha cabeça. Talvez um bom livro me desse a solução.

Caminhei até a biblioteca pensando em procurar algum livro indicado em alguma das aulas que tive ou os que Reyna me aconselhara certo dia.

Como se meu dia não pudesse piorar, a chuva me pegou no meio do caminho. Comecei a caminhar mais rápido, ou tentei, pois a muleta me impedia de acelerar meu ritmo. As gotas de água começaram a ficar grossas e rápidas me fazendo ficar molhada. Faltava pouco para chegar na biblioteca onde tinha um banheiro que talvez eu pudesse me secar depois.

De repente ouvi um relâmpago passar pelo céu iluminando as nuvens e em seguida um trovão. Meu corpo tremeu de medo e eu aumentei meu ritmo. A biblioteca estava a apenas alguns metros, se eu fosse rápida tudo daria certo.

Minha visão estava ficando embaçada por tanta água ao mesmo tempo tentando entrar no meu olho, era uma sensação agonizante demais.

Ande mais rápido, vamos! Ande mais rápido! Meu subconsciente gritava sem para enquanto milhares de matérias jornalísticas sobre pessoas mortas por fenômenos da natureza trespassavam em conjunto.

– Piper? – ouvi alguém falar atrás de mim.

Eu queria parar, mas tudo já estava no automático,não conseguia desacelerar mais.

– Cara, me espera. Você vai cair, garota! – percebi ser Will me alertando.

Não pare! Não há tempo! Minha mente continuava a dizer. E eu a obedecia por pensar em quantas árvores estavam ao meu redor aumentando minhas chances de ser atingida pelo raio.

– Preciso chegar na biblioteca. – falei pra mim mesma.

Chegou a um ponto em que eu fechava a maior parte do tempo meus olhos para a água não me deixar cega. Minha velocidade não diminuíra e eu quase podia ver a biblioteca me esperando.

Por que a chuva tinha que me pegar a exatos 15 prédios do prédio com cobertura mais próximo? Não fazia sentido.

Minha muleta bateu em falso contra um piso já com limo e me fez escorregar. Meu braço deu um jeito que com certeza deixara o local roxo pelo impacto e meu tornozelo que quase não doía mais voltara a doer infernalmente. Eu só posso ser a pessoa mais azarada do mundo mesmo.

– O que aconteceu?! – Will exclamou ao passar por mim. Havia me esquecido que minutos atrás ele estava me chamando.

– A muleta apoiou no limo, e eu caí. – respirei fundo tentando engolir a dor lancinante – Meu braço da muleta tá doendo e meu tornozelo também. Como eu vou sair daqui agora?

Já havia me entregado ao choro da dor e da circunstância. Seria pedir demais pra ele me carregar até a biblioteca se você contar com o fato de como o tratei feito lixo enquanto tentando fugir da chuva.

– Tá doendo muito? – ele perguntou preocupado e eu só chorei e afirmei com a cabeça - E o que você sugere?

– Eu só quero ir pra biblioteca, ou um lugar seco e seguro de raios.

Era tão claro o desespero em minha voz que eu já não me sentia a garota forte que enfrentou Drew alguns dias atrás e que agora tentava acabar com cada passado fantasma que tivera.

– Eu te carrego até a biblioteca.

– Não! Eu não mereço, eu fui grossa com você há menos de 15 minutos atrás e eu sei que eu tô desesperada, mas não quero sua ajuda.

– Dane-se! Você vai ficar doente e machucada!

Ele então forçou meus braços ao redor de seu pescoço e as minhas pernas em seu quadril. Minhas muletas estavam no espaço entre minha barriga e a costa dele. Tudo doía sem fim.

Com um impulso, me vi sendo carregada por ele até a biblioteca. Eu não prestava nem pra ter amigos legais. Me sentia explorando da boa vontade dele.

– Não precisa me ajudar. – supliquei novamente com meu instinto de justiça.

– Você tá delirando. Eu não vou te deixar aqui. De um jeito ou de outro é minha amiga.

Amiga. A palavra ecoou no meu ouvido. Ele me considerava uma amiga agora, mas há alguns dias ele queria ficar comigo. O mais estranho é que aquilo agradou meus ouvidos de algum jeito, e não a bomba que eu pensei que explodiria no meu estômago.

– Obrigada. – sussurrei.

– As ordens. – pude sentir através de suas bochechas o sorriso que ele deu.

Pouco depois chegamos á biblioteca, ambos encharcados pela chuva que continuava a cair de modo torrencial.

Will me colocou na poltrona no fundo da sala antes que eu pudesse descer de suas costas. Com todo o cuidado do mundo, ele elevou meu pé no braço do móvel onde eu estava sentada e olhou pro meu braço que ao invés de roxo escorria um filete de sangue por ter ralado em algum local.

Rapidamente andou até o banheiro masculino e demorou alguns instantes até voltar com três papeis. O primeiro seco, o segundo molhado e o outro molhado com uma textura diferente.

Will passou o papel molhado com textura diferente por cima do local e eu notei ser sabonete pelo modo como ardeu, depois o molhado de água e por último o seco dando o toque final.

– Já pode ser médico. – comentei agradecida.

– Talvez quando meus fãs pedirem pra eu parar de cantar e ajudar eles eu o faça. – falou sorrindo.

– Obrigada. – agradeci novamente pelo modo como ele estava cuidando de mim.

– É pra isso que os amigos servem, certo?

Aquela palavra novamente.

– Will. – o chamei – Você só me vê como amiga mesmo?

– Eu percebi isso há pouco tempo, desde que Drew falou sobre o suposto namoro seu e de Jason eu notei como vocês parecem ser realmente um casal.

– Nós já fomos, - revelei – não somos mais.

– Deveria dar uma chance a ele. – fiquei chocada ao ouvir ele falando isso.

– Até você? – ele riu e me abraçou tomando cuidado com o braço ferido.

– Eu tenho que ir. – ele sussurrou – A gente se fala depois?

– Uhum. Mas ainda está chovendo. – alertei.

– Adoro banho de chuva.

X X X

– Graças aos deuses! Por que está molhada? – Reyna exclamou quando me viu entrar no quarto.

– Eu peguei chuva.

– Fiquei te esperando esse tempo todo. Como assim você ficou com o Will Solace?

– Como você sabe? – eu estava surpresa. Reyna não sabia que eu tinha ido falar com Will.

– A Drew postou no Instagram dela marcando o Jason. – ela me mostrou o celular.

A foto publicada era Will e eu na biblioteca. Eu estava na poltrona de um jeito despojado e Will apoiado de joelhos. A cabeça de Will num ângulo meio de lado e de costas, a minha cabeça também inclinada, mas para o outro lado e meus olhos fechados, talvez, na hora que tiraram a foto fosse quando eu fechei os olhos pela agonia que o sabonete fez arder no corte. Quem não tivesse um contexto pensaria que estávamos nos beijando na biblioteca e a legenda dizia “@JGrace se você gosta da Piper pq ela ta beijando o Will? Xoxo”.

– Mas eu não beijei o Will! – exclamei.

– Não é o que parece. – ouvi a voz dele sair do banheiro.

– Ele está aqui? – perguntei a Reyna e ela assentiu.

– Ele que me mostrou. Eu... Leo tinha me chamado, adeus.

A porta bateu quando ela saiu e vi Jason se aproximar.

– Isso foi porque não te beijei? – perguntou com escárnio.

– Não.

– Então por que beijou ele?

– Eu. Não beijei. Ele. – falei.

Ele bufou.

– Então quem estava beijando ele na foto? Seu clone?

– Ninguém beijou ninguém! – exclamei exasperada – Ele estava cuidando de mim porque eu me machuquei.

– Não foi isso que aconteceu! – gritou de volta e me senti arrepiar.

– Foi a única merda que aconteceu. Agora me diz o porquê de me ligar bêbado e com a Drew? Por que fica se roendo de ciúmes se estava com ela?

– Ela que embebedou. – ele explicou.

– Perfeito! Você tem sua estória e eu a minha. Acredito em você tanto quanto acredita em mim, feliz?

– Como eu vou saber que não está mentindo? – ele disse derrotado.

– Por que se eu tivesse mentido, você já estaria porta a fora e não dentro do quarto, e quer saber de outra? Não sei nem porquê estou te dando satisfação!

– Desculpe. – sussurrou.

– Você é um idiota. Acredite na vadia, você já está fazendo isso.

Eu estava sendo dura, mas já tinha deixado a situação ir longe demais.

– Desculpa.

– Quando você realmente estiver dizendo isso porque acredita e não porque tem medo de me perder venha falar comigo.

– Mas...

– Tchau, Grace. – suspirei – Você é um idiota.

E ele saiu acabado. E eu estava mais do que ele porque primeiro duvidara de mim e segundo porque ele podia ter ficado ali como um rebelde e me arrancar um beijo que faria com que eu finalmente decidisse se era quilo que eu queria. Mas não foi isso que aconteceu.

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Pessoas que leem minha outra fic Baila Comigo, aqui está o trailer!

VÃO LÁ NO MEU ASK E ME PERGUNTEM SOBRE A FIC, SOBRE MIM, SOBRE PROJETOS FUTUROS!! MEU ASK