Dois dias. – Quase três - Já se faziam dois dias que o Chris não falava comigo. – E eu não falava com ele.

Hoje é terça e provavelmente vou ter que encarar o garoto como havia feito o dia anterior. Tudo bem, vamos ficar com raiva da Lucy, mas vamos deixa-la explicar o ocorrido, certo? Claro!

A sorte nunca está ao meu lado.

– Lucy. Lucy? Lucy! – Ashley estalava os dedos em minha frente fazendo com que eu voltasse a prestar atenção ao meu redor e saísse de meus pensamentos. – Você não voltou mesmo a falar com o Chris? Já são dois dias e se for contar com sábado são três! Hoje faz quatro. Vai falar com ele.

– Não. Eu não vou, ele não precisa de mim. Eu não preciso dele e assim a vida segue. – Errado.

Eu só queria ir pra casa e dormir.

– Vamos pra aula. – Digo levantando da mesa do refeitório e mudando de assunto.

Ashley deu de ombros e fez uma cara de reprovação.

E bom, nós quase – quase – chegamos à sala. A não ser pela Ashley que parou para falar com o Chris. Ele me ignorou e parou a garota no meio do caminho.

É claro que eu não ficaria ali vendo o garoto me ignorar com a minha amiga. Então, eu sai andando e puxei Bryan comigo.

Eu pude notar um pequeno olhar mortal de Chris para Bryan. Mas o que eu posso fazer?

**

Chris e Ashley conversavam há minutos no corredor, aquilo me corroia todinha. Aquilo era uma discussão?

Eu andava em direção aos dois quando vi uma pessoa igual ao Charlie. Aquilo deveria ser minha imaginação. Ignoro o ocorrido e paro de frente para Ashley.

– O que aconteceu aqui? – Digo nervosa.

– Ainda bem que você chegou! Toma. – Ashley disse empurrando Chris para cima de mim.

– Como assim? – Pergunto confusa.

– Pede para o brigão aí te explicar. – Ashley falou e saiu andando.

– E então? – Isso estava muito confuso.

– Esquece não te interessa. – Chris falou por fim e me largou com uma cara de “que porra foi essa?” no corredor.

**

– Lucy, vamos logo! – Ashley me apressava para irmos logo para o refeitório.

– Ahn, não estou com fome e você? – Ela negou com a cabeça. - Vamos para o pátio da escola? Por favooor. – Digo fazendo uma carinha tipo, ”por favor, ou eu te mato, amiga”

Ela revirou os olhos e me puxou para o pátio.

– Você chega a ser insuportável, meu Deus.

– Obrigada. Eu também te odeio amiga. – Digo sorrindo ironicamente.

E então sentamos em um banco que havia ali no pátio. Bryan havia nos visto e então se despediu dos seus “amigos’’ e andou em nossa direção.

Que ótimo, um Bryan pra me perturbar logo hoje.

Ele senta ao meu lado e eu deito minha cabeça em sua perna.

Eu queria muito poder dormir no momento.

– Lucy cadê o Chris? – Bryan perguntou confuso.

– Eu não sei, eu nasci colada nele pra saber onde ele vai estar a cada segundo?

Ele abriu a boca para me responder, mas foi interrompido por Ashley.

– Que aglomeração de gente é aquela no portão da escola? – Ashley perguntou animada.

– Treta talvez, guria?- Digo seguindo a animação da garota.

E então lá se vai três malucos indo assistir uma briga.

A não ser por... POR CHRISTOPHER ESTAR BRIGANDO. De inicio eu iria fingir que nem tinha visto e ia embora – Mentira. – Mas depois eu pude notar com quem o garoto brigava.

Charlie.

O que ele fazia ali?

– De novo esse menino tá brigando? Achei que tivesse explicado tudo para ele! – Ashley falou com raiva.

Como assim de novo?

Empurro todos que estavam em minha frente e me jogo no meio de Christopher e Charlie. Os dois estavam ofegantes e com sangue respingando pelo rosto todo. Chris estava cheio de hematomas e sangue pelo rosto e o braço. Charlie estava pior, muito pior. Braços todos roxos, rosto inchado e repleto de sangue. Pernas cortadas e sabe lá Deus onde mais esse menino havia se machucado.

Logo após isso pude ver uma faca sendo puxada da mão de Charlie, Chris havia puxado dela.

Isso era um banho de sangue?

– CHRISTOPHER! QUE MERDA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Eu gritei no meio dos dois. Todos nos encaravam perplexos e chocados com o que viam.

– Caçando borboletas não viu?- Ele disse com o seu tom de ironia mais sacano que podia existir.

– Vai se foder. – Digo segurando na mão do garoto. Ele hesitou e estranhou por segundos minha ação, mas aceitou segundos depois. – Porra Charlie, e você? O que faz aqui? Eu falo com você depois. VAI EMBORA.

Ele me encarou relutante e ignorou minha ordem.

Ele queria apanhar de mim agora? A resposta era obvia, é claro que era sim.

– AGORA. – E então ele saiu do lugar de cabeça baixa. Apenas ignorei e voltei minha atenção para o garoto que apertava minha mão mais do que nunca. – Chris... Ai droga. Vem comigo.

Lucy e Bryan me ajudaram a andar com Chris na escola. Eles entenderam que eu precisava me resolver com ele e também ajudar ele com todos os machucados.

Nós estávamos de licença para ir para casa. Eu havia explicado que eu poderia cuidar dos machucados já que ele não queria ir a um hospital fazer curativos.

E então é aqui que estamos. Em minha casa - Meus pais estão no trabalho então estamos livres de perguntas no momento. - jogada no sofá da sala com um Chris machucado.

Eu com uma maleta de curativos em meu colo e um Chris choramingando pela dor que sentia enquanto eu fazia os ditos curativos.

– Ai meu Deus, Christopher! Fica quieto cacete. – Digo encarando o garoto que estava com uma cara de dor engraçada ao meu lado.

Eu pensei em rir por alguns segundos, mas lembrei de que não era uma boa hora.

– É tudo culpa sua. – Chris falou jogando uma mecha de cabelo para trás de meu rosto.

– Minha? Por quê? – A raiva era clara em minha voz.

– Eu tenho vontade de quebrar a cara dele desde o ano passado quando ele inventou essa história de ainda amar você e você ainda fica com ele - Chris disse relutante e bravo.

– Nossa! Isso tudo é ciúmes, Foreman? - Provoco.

– Eu? Claro que não. Mas é que você é minha– Ele diz dando ênfase no "minha'' - E não pode me trair.

– Amor, eu não sou SUA e eu não te namoro pra poder te trair, não é? – Sorrio.

Ele sorri também.

– Você que não sabe das coisas.

Uau, eu namoro e não sei. Que mundo é esse, gente? Nem todo ferrado o menino para de sacanear com a minha cara.

Mesmo todo machucado, Chris não ficava feio. Até ficava melhor.

Não, eu não havia pensado nisso.

Balanço a cabeça tentando esquecer esse pensamento. Infelizmente Chris havia notado isso.

– Pensando bobagem Lucy?

– Não sou você. Eu preciso te explicar tudo o que aconteceu. – Chris ia abrir a boca para dizer que ‘’não quer ouvir porque não interessa a ele e bla bla bla’’ mas o corto antes que isto aconteça. – E antes que me interrompa, faz o favor de calar a boca!

Ele havia ouvido tudo atentamente e não havia dito nada por minutos.

Pelo menos ele sabia o que havia acontecido agora.

– Você não é o tipo de pessoa que parece ter pena de alguém Lucy. – Chris disse depois de um longo tempo em silêncio. – E eu sei que você não sente guria.

– É isso ai, colega. Era o efeito da bebida - Digo finalizando o curativo. - E nunca mais entre em uma briga com ele, idiota. Tá pensando o quê? Na próxima eu que vou socar você. - Digo batendo no braço do garoto com raiva.

– Ai sua doida. Ele saiu mais machucado que eu, eu te garanto. Ah, adoraria ver você me batendo. - Ele sorri

Sorrio de volta.

– É sério.

E então ele me abraçou.

– Me desculpa.

– Me desculpa também. – Digo o abraçando de volta.

**

Chris estava melhor. Havia me feito sair de casa para passear com ele às dez da noite.

Que menino normal.

Eu ainda não sabia o motivo da briga. E ele também não queria me dizer. Eu preferi deixar quieto.

Eu observava as estrelas, híbridas e desordenadas de um céu não muito diferente dos outros. – E do nosso mundo. - A lua conservada no céu, exuberante, afinal, ela deixava qualquer noite sempre mais bonita. – E ela sempre estava lá, sempre. Diferente de outros.

Chris andava ao meu lado seguro em minha cintura. Eu sei que ele não faz essas coisas por mal.

Ele é assim e eu adoro isso.

Estamos em paz e eu sei que é por pouco tempo. É só Chris ter outra crise e tudo muda.

Sempre muda.