As Crônicas dos semideuses - O Destinado escrita por Greek, Safira Jackson


Capítulo 3
Nunca se deve confiar em caroneiros




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Gostaria de dizer que tudo foi uma beleza, que não houve problemas nenhum no caminho e que consegui chegar à escola são e salvo. Afinal, um pouco de sorte eu deveria ter, certo? Errado. Quer dizer, consegui chegar à escola, mas não do jeito como estava acostumado.

Quase no final do caminho, o motorista foi surpreendido por um homem já de idade, com um casaco que ia da cabeça aos pés (apesar de estar fazendo uns vinte e oito graus lá fora), e seus olhos estavam ocultos por um par de óculos escuros. Suspeito? Sim, claro. Afinal, volto a dizer, estava quente lá fora. Não que eu me incomodasse com calor, sou filho de Apolo. Nasci para ser quente, literalmente.

De qualquer modo, o que eu mais temia aconteceu. O cara pediu carona.

– Por favor- dizia ele-, ajude-me.

Pessoas normais não dariam carona, ainda mais em Nova Iorque. Isso seria insensato. Mas é claro que nosso motorista tinha que ser gentil o suficiente para parar, né? Fala sério. E, como se não bastasse, o velho tinha que se sentar ao meu lado.

Durante um único minuto tudo estava na mais perfeita paz. E, quando o colégio já estava no campo de visão, uma bomba de gás explodiu.

Todos caíram e tossiam por causa do gás. Ninguém gritou, provavelmente por estarem entorpecidos pela bomba. Prendi a respiração, cambaleei até a porta do ônibus e, no momento em que eu ia abri-la, alguém me puxou. O velho com o sobretudo. Ele tirou os óculos e pude ver o que estava escondido: seu único olho castanho.

Maldito, pensei.

O ciclope simplesmente exibiu os dentes amarelos. Consegui notar que também segurava a respiração.

Tentei caminhar até minha mochila onde estava a minha faca de bronze celestial. Ao chegar no meu banco, o monstro me empurrou para o lado. Caí em cima de um adolescente que já havia desmaiado.

Naquele momento, como um bom herói, eu deveria retirar os mortais inocentes dali, mas acontece que estava um tanto quanto ocupado. Além do mais, estava quase morrendo segurando a respiração.

Mais uma tentativa, mas falhou quando eu abria a mochila. O ciclope me derrubou.

Àquela altura, todos já estavam desmaiados. Não seria diferente para mim. Minha visão começou a escurecer. Meus pulmões doíam. O ar tentava escapar. Só me restava uma escolha: respirar.

No momento em que inalei aquela fumaça senti alívio e desconforto. Caí de joelhos, tossindo por conta da fumaça. O monstro sorriu. Não parecia muito desconfortável em relação a respiração presa.

Quando já estava quase desfalecendo, Tique resolve me dar uma forcinha. A porta do ônibus é quebrada e Kayse entra lá. Ela tossiu umas três vezes até pensar em prender a respiração.

O ciclope olhou para trás confuso. Kayse não perdeu tempo, jogou sua adaga com precisão e, antes que o monstro pudesse pensar em correr, dissolveu-se em pó dourado. Kayse me encarou.

– Venha- disse ela, um pouco rouca.

Saímos do transporte escolar. Eu quase caí se não fosse por ela ter me segurado.

Naquele momento em diante eu tive certeza de duas coisas. A primeira: nunca se deve confiar em caroneiros. A segunda: nunca, em hipótese alguma, irritar Kayse. O resultado pode ser letal.

De qualquer maneira, nós dois precisamos correr. O que realmente não foi muito fácil. Chegamos até a loja de celulares e Kayse me encarou.

– Sério?- Kayse apontou para o ônibus que agora oficiais entravam com máscaras.- Por que você só entra em encrencas?

– Hei!- protestei.- Dá um tempo, ok? Estou passando por sérios problemas.

Ela suspirou e murmurou em grego antigo. Era bom vê-la, mas também estava começando a me irritar com ela. Como ela podia falar daquele jeito comigo? Ela nem sabia pelo que eu havia passado nessa última hora.

– Só me diga, pelo amor do Olimpo- disse ela-, que você não recebeu uma visita de algum deus.

Deus? Pensei. Não, imagina. Somente de uma pomba que falava.

Devo ter feito alguma careta por que Kayse me olhava com a testa franzida. Suspirei.

– Sim. De Afrodite.

Sua expressão ficou indescritível.

– E... o que ela queria?- Perguntou-me.

Eu já ia pegar a minha mochila, só que aí lembrei-me de que a havia deixado no banco do ônibus.

Xinguei-me pela burrice.

– Você vai me matar- disse eu.- Mas eu preciso da minha bolsa.

Ela levantou uma sobrancelha.

– E precisa dela por quê...

– Por causa da carta da deusa- falei.

Quase fui morto pela minha melhor amiga. Sabe, as vezes Kayse exagera quando o assunto é "descontar a raiva". A filha de Deméter me deu vários tapas, fracos é claro, nos ombros.

– Eu vou te matar- ela prometia.

Depois de vários tapas e pedidos de desculpas, a discussão se encerrou. Agora, Kayse olhava para o transporte escolar.

– Está bem- disse ela-, sabe de alguma forma para recuperarmos sua mochila?

Encarei-a.

– Infelizmente sim.


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