Lúcia acordou ainda meio exausta pela manhã, a impressão que tinha era de que havia dormido minutos e não horas, mas não podia ficar na cama e dormir mais um pouco, pois hoje era seu primeiro dia de aula após as férias de verão e não queria chegar atrasada.

Tratou logo de levantar e se aprontar, para logo em seguida descer as escadas apresadas para tomar o café, trazia nas mãos seu material escolar. Passando rapidamente pela sala viu seu pai sentado na poltrona lendo o jornal, uma de suas mãos segurava uma xícara de café fumegante.

Na sala de jantar encontrou sua mãe que terminava de colocar a comida na mesa, seu irmão Edmundo já estava comendo despreocupadamente, seu uniforme da escola estava perfeitamente imaculado, parecia a própria calma e tranquilidade em pessoa.

Sua presença era quase uma ofensa à calma que pairava no ar, ela definitivamente não parecia fazer parte dessa alegoria, mas no momento Lúcia estava apressada demais para dar atenção a isso.

– Bom dia mãe, bom dia Ed. – Ela cumprimentou enquanto pegava uma maçã na mesa.

Antes que ela pudesse dar às costas a mãe chamou-lhe a atenção:

– Espere. Seu irmão vai te acompanhar até a escola.

Lúcia não contestou a mãe, apesar da pressa, apenas esperou o irmão terminar de tomar café e aproveitou para comer mais alguma coisa. Logo os dois estavam saindo de casa e seguindo para a escola que não ficava muito longe dali.

Durante o caminho ambos permaneceram em silêncio, cada qual com seus pensamentos. Edmundo pensava em futuros trabalhos escolares, aulas e professores, já Lúcia continuava a relembrar o pesadelo.

Chegando ao grande prédio da escola, Edmundo acompanhou a irmã até a entrada e seguiu para a sua sala. Entrando em sua sala Lúcia avistou os muitos rostos já conhecidos, nenhum deles era mais do que um colega de turma, pois seus amigos com quem podia falar sobre batalhas e grandes aventuras haviam ficado em Nárnia.

Com um suspiro ela foi até um lugar mais ao fundo e sentou-se. Todos os alunos que já estavam na sala ocupavam-se em conversas particulares, então ela aproveitou para abrir seu caderno de desenhos e começou a rabiscar um novo desenho.

– Lúcia? – Alguém a chamou.

Ela ergueu a cabeça automaticamente, havia sido pega de surpresa, a voz que a chamara pertencia a um garoto que estava bem a sua frente, seus traços não lhe eram conhecidos, mas o olhar, ela tinha impressão de já tê-lo visto muitas vezes.

– Desculpe. Como sabe meu nome? – Ela encarou o garoto.

– É um belo desenho esse que está fazendo. – O garoto comentou olhando para o caderno de desenho.

Lúcia tratou de fechar e guardar o caderno, ela havia desenhado Aslam, o grande leão que ainda lhe parecia cheio de mistérios, mas não queria ter que explicar isso a um estranho.

– Nunca vi um leão como esse nos livros de ciências. – O garoto voltou a falar.

– Desculpe, mas você não respondeu minha pergunta. Como sabe o meu nome? – Ela questionou na defensiva.