A Areia Vermelha escrita por Phantom Lord


Capítulo 4
Capítulo 4, Morte na Esperança




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Eu não me importei com o fato de que Seneca queria dar um pouco mais de Katniss Everdeen ao público. Na verdade, eu assisti aos jogos durante as primeiras horas e o que percebi é que, assim como aconteceu com Finnick Odair, as câmeras estavam muito focadas na rotina de nossa amiga de capa flamejante. Ali dentro ela parecia tão aflita e solitária que quase não era mais possível perceber a sua glória como "A garota em chamas". As multidões da Capital desejavam ardentemente que ela se jogasse nos braços do garoto do 12, Peeta Mellark porque afinal, depois daquela patética revelação de que ele a amava, ambos se confirmaram como os favoritos de Panem.

Aos poucos para mim se tornou claro que Everdeen era uma garota esperta. Ela estava a frente de todos os outros, porque era extremamente egoísta. Isso contribuiu para que sobrevivesse nos primeiros dias, mas conforme o tempo passa lá dentro da Arena, ela fica cada vez mais inquieta.

Seneca me diz que pretende fazer uma piada.

_ Vamos queimar a garota em chamas.

Nós rimos enquanto eu me delicio imaginando a cena. E tudo se sai ainda melhor do que eu imaginei. Incêndio florestal e esferas de chamas voando para todos os lados enquanto a menina pulava como um macaco treinado de um canto para outro. Ela é desajeitada, tropeça a cada dois passos, mas é ágil o suficiente para se esquivar de uma ou duas esferas...não tão rápida. Sua mão e perna agora queimam quando ela recebe um pouco da matéria quente e borbulhante que explode de uma das esferas e ela está sentada, contorcendo o rosto.

Dias se passam, com a rotina entediante dos Jogos Vorazes. Capital está silenciosa, já que os cidadãos passam a maior parte do dia vigiando Katniss Everdeen pelas telas em suas casas. Minha própria neta contempla Everdeen como se esta fosse um animal exótico. Ela está se saindo muito bem, na arena. Eu soube que recentemente ela derrubou uma caixa de teleguiadas sobre alguns competidores que a perseguiam. Uma brilhante ideia, devo admitir e Katniss finalmente conquista minha atenção.

Ela se junta a uma garota bem nova, de pele e cabelos negros. A pequena é esperta e conhece muito mais do que eu sobre plantas. Me sinto ingenuo ao observá-la colhendo folhas desintoxicantes. Imagino que Katniss Everdeen planeje matar a tal Rue assim que ela perder sua utilidade para ela. Um plano muito bom que ela silenciosamente tem traçado enquanto a pobre menina dorme.

E de alguma forma a esperteza da garota em chamas começa a me incomodar.

Há algo nela que me lembra alguém. Eu descubro quem é esse alguém quando repito para mim mesmo o que tenho observado na Srta. Everdeen.

_ Maquiavélica. Astuta. Atenta à tudo. Egoísta.

E tem aquele detalhe pequeno que eu percebi desde o início. Katniss é carismática. Tem o toque teatral que a Capital adora e acredita tão cegamente e a garota sabe disso porque tem usado frequentemente quando sabe estar sendo vigiada. O alguém com quem Katniss Everdeen se parece sou eu.

Inesperadamente, o fim de Rue chega. Ela foi capturada e morta. Penso que Katniss se sentirá aliviada por não ter sujado as mãos, mas ela subitamente cai em prantos e me desperta uma gargalhada. Ela está convincente, chorando como uma garotinha mimada que tem a boneca arrancada de seus braços. A Capital com certeza se comoverá e cairá em prantos também. Mas Katniss está realista demais em seu choro. Seu teatro está tão bem feito que eu mesmo mergulho em silêncio. E só então, depois de enfeitar a pequena Rue com flores, ela faz o gesto. O gesto que me traz à memória o cheiro de ferrugem, lama e fumaça...Revolução.

Me levanto, correndo pela primeira vez em anos. Nas minhas veias corre sangue fervente. Aos poucos eu sou tomado pelo medo. Três dedos no ar. Eu sei o impacto que aquilo terá nas pessoas. Quando, pela primeira vez na história dos Jogos Vorazes alguém realmente parece lamentar pela morte de um oponente. Everdeen tem cheiro de fumaça e ferrugem e lama. Ela exala revolução, desde o início. Mas eu estava distraído. Eu não lhe dei a atenção que precisava. E agora ela dá a todos uma mensagem curta com um simples gesto.

_ Esperança._ ouço a sua voz em minha cabeça e passo meus dedos pelos meus cabelos brancos, furioso.

Onde está Seneca Crane? Preciso dizer a ele. Preciso que ele a pulverize. Preciso apagar a chama antes que ela vá além do meu controle.

Mais tarde, eu e ele estamos em meu gabinete. Eu fito a bandeira de Panem tremular ao vento que assopra pela janela.

_ É a ideia dela._ começo a explicá-lo, mas ele não parece compreender. Não quer compreender._ Eu devia ter notado antes. Uma ótima atriz, provavelmente treinada desde pequena para atuar. E aí a irmã dela é selecionada e ela se voluntaria. Sabe o que é isso, Seneca?

Ele apenas faz um gesto negativo com a cabeça.

_ Conspiração. Katniss Everdeen é uma conspiradora. Eu quero que você investigue toda a vida dela. Mais atenção aos detalhes, por favor. Investigue cada uma das pessoas que teve contato com ela. Espalhe câmeras no interior e exterior do Distrito 12. Vamos iniciar um programa de vigilância.

Seneca parece assustado, como se eu estivesse dizendo loucuras. Burro como é, este pobre homem não percebe a grandeza dos planos de Katniss, mas eu sei. Somos iguais, eu e ela. Eu sei do que ela é capaz. Começo a perceber com mais atenção. Desde então, meu olhar está sempre vigiando-a na tela da mansão. Seneca agora está muito ocupado, eu mesmo quase não o vejo. Além de coordenar os jogos, ele tem investigado, junto com uma equipe de investigadores, a vida da família Everdeen.

As informações chegam até mim aos poucos. Descubro que o pai de Katniss morreu num acidente nas minas. A Sra. Everdeen não trabalha, o que me causa certa desconfiança. Ninguém daquela família esbanja saúde mas me parecem saudáveis o suficiente para que eu suspeite de que Katniss é quem tem mantido a família. De que forma eu não tenho nenhuma ideia. Ela tem um amigo que também trabalha nas minas. Eu peço para que os investigadores mantenham o olho nele.

Enquanto isso, dentro da arena, Katniss ainda lamenta a morte da menina do onze. Quanto cinismo, eu penso. Ela é realmente muito convincente. Anseio pela hora em que ela morre pega por uma matilha de criaturas mutantes de Seneca ou quando ela pisará em uma mina explosiva e se transformará em pedaços. Mas nada disso vem. O que ouço é a voz de Claudius Templesmith anunciar que agora podem haver dois vencedores, contanto que sejam do mesmo distrito.


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