Pan, the Devil escrita por Lu Falleiros


Capítulo 1
Prólogo - Uma vida que só começaria com 16 anos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. É o prólogo, mas acho que já é super divertido. Espero que acompanhem. Deixem um review. Fico muito grata.
Vamos a história, sim?
Beijos~~



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16/08/19XX

- Ahh... Ahhh. – Ouvia os anseios de minha mãe para que a dor cessasse. O que estava havendo? Eu não conseguia entender aquilo direito. Ter filhos doía tanto assim?

- Mamãe. Respira. - Tentei falar batendo algumas vezes no vidro. Meu pai, como sempre, ignorante quanto às situações que minha mãe passava apenas negou algumas vezes com a cabeça.

Pegou-me pela mão, deixando minha mãe entre o sangue e os gritos. – Vamos para casa. Por hora. – Ele pediu caminhando para a entrada do hospital. Com um sorriso me levou até em casa, onde, ajudando-me a me trocar de frente para a janela, sorriu me mostrando as estrelas.

- Pai. Por que existem tantas estrelas? – Perguntei, apertando e esfregando os olhos com sono.

Bocejei. – Cada estrela é um mundo, os lugares se conectam... – Os olhos de meu pai brilhavam enquanto continuava a contar histórias mágicas. Com sono, não mais o ouvia. Até que seus olhos brilhantes como as estrelas escureceram como o céu durante a guerra. – O único problema, é que lá fora nem tudo é bom... – Ouvi-o dizer. Jamais perceberia que isso significaria tanto para minha vida mais para frente. Adormeci.

05/05/19XX

Meu pai acordou, ele havia adormecido ao meu lado. Meus irmãos choravam. Nunca imaginei que pessoinhas tão pequenas teriam tanta força. Minha mãe, após quase um ano, estava finalmente recuperada. O parto havia sido difícil, e eu tentava ajudar no que pudesse, mesmo tendo apenas 9 anos.

- Tchau pai... – Meus olhos entre abertos perceberam a movimentação até a porta.

- Bons sonhos, fadinha. – Ele sorriu, girando de leve a maçaneta e deixando meu quarto iluminado novamente apenas pela lua.

10/04/20XX

Estávamos todos sentados para o café. Meus irmãos mais lançavam comida de um lado para o outro que comiam. - I...mã... – Disse Daniel apertando a mão - suja com algum tipo de para - contra a carne de minha perna. Ótimo. Sujou meu uniforme.

- Oi. Garoto. – Sorri para ele, forçosamente para que não implicassem comigo. Estava cansada. Tinha prova e finalmente minha mãe tinha me dispensado das tarefas. Por que meus irmãos não largavam do meu pé?

- Leite. Leite. Leite. – A outra, Diana se repetia bebericando do leite gelado que estava - se lambuzando. Quero dizer... - tomando.

- Qual é criança? – Falei irritada com sua insistência em falar tanto e significar tão pouco.

Meu dedo preparava-se para piparotear o braço da garota, quando meu pai me impediu segurando meu pulso. Ele vestia a farda. Não o veria por algum tempo. Provavelmente só me deixaria na escola e partiria para mais uma viajem. Minha mãe beijou-o por um longo período e balbuciou. "Cuide-se!" – Vamos garota. – Meu pai riu, fazendo com que eu relaxasse. Corri para junto dele entrando no carro e gritando. – Tchau família!! – Ri um pouco, colocando o cinto e direcionando-me para a escola. Eu teria que dar tchau para ele na frente de todos. Para desejar boa sorte.

16/08/20XX

É aniversário dos dois. Quero dizer, de Diana e Daniel. Os irmãos que finalmente começava a achar divertido, estavam com seis anos. Logo eles estariam maduros e parariam de me irritar. Pelo menos contar histórias para eles era divertido, lembrava de quando meu pai o fazia. Ele deveria voltar hoje. Por que estava demorando?

- Parabéns para vocês. Nessa data querida. Muitas felicidades. Muitos anos de vida... – A música e a alegria seguia. Os problemas começariam quando tudo aquilo acabasse, os pratos finalmente ficassem vazios e as risadas cessassem.

- Filha, faz um favor para mim? – Perguntou minha mãe, sorrindo e puxando as mangas de seu vestido para conseguir lavar a lousa sem se molhar. Ela forçou um sorriu. Aposto que também pensava no retorno de papai. Ele iria chegar. Logo. Eu sei... Ele vai chegar.

Concordei com ela, sorrindo fraco. Subi as escadas com meus irmãos. Troquei-os, ajudei-os a deitar e li uma história, “A pequena sereia”. Eles sorriam enquanto caiam no sono e seus sonhos os levavam para as estrelas, outros mundos, outras realidades, onde seu pai já havia voltado para casa.

Fechei a porta calmamente para não acordá-los. Foi em vão. Um prato se quebrou na cozinha. O que houve? Eu tentei entender. Corri para a base da escada, olhando minha mãe ao pé da porta, mesmo estando de costas para mim, sentia que o brilho de seus olhos não mais existiam por debaixo de suas pálpebras. Havia lágrimas escorrendo.

– O que houve? –Quis saber, vendo um homem de farda do outro lado da porta.

– Seu... Seu... Seu pai. – Minha mãe tentava respirar mas não conseguia. O homem parecia envergonhado segurando seu chapéu esverdeado.

– Senhoritas. Com licença. – Ele pediu. Curvou-se para nós. – Minhas condolências... – O jovem disse novamente, virando-se de costas e deixando minha mãe, e eu, estagnadas na porta.

- Richard... – Ouvi minha mãe balbuciar, sua tristeza transparecia. Soltei-a. Corri para o meu quarto. Algo estava errado. Aquilo não estava acontecendo. Sentei na cama, tentava respirar. Não conseguia. Eu sabia. Era verdade, o conto de fadas, finalmente, acabou. Sem o tão esperado final feliz. Felizes para Sempre? Não.

Minha mãe correu, parecendo assustada sem querer aceitar o que havia ocorrido. – Você já entendeu? Sei que o amava, não é mesmo? Eu também. – Ela suspirou. – Desde que seus irmãos nasceram... – As lágrimas jorravam novamente, e desta vez, em mim também. Ela correu saindo de meu quarto para o dela. Desabou ao pé da cama, chorando, tentando abafar o som para que meus irmãos não acordassem.

Fui ao seu encontro. Ela deveria estar mais machucada que eu. - Mãe. – Abaixei para junto dela abraçando-a e chorando também.

- Filha. Desculpe... – Ela se interrompeu sem conseguir falar. Concordei. E assim, o aniversário de meus irmãos acabou.

14/03/20XX

Finalmente, mais um ano quase na metade. O começo é sempre o pior. A noite já recaia sobre o além. A lua mal era vista, e tudo que queria era ir deitar. Meus irmãos deitados não se decidiam quanto a história como em todas as outras noites. Eles riam e riam, sem lembrar que nosso pai não havia morrido há quase dois anos. Eles finalmente pediram em uníssono: “Pinocchio”. Sorri para eles, peguei o livro. Li. Apaguei a luz e fechei a porta. Contos de fadas. Que sonho. Que lástima, que lorota.

- Boa noite mãe. – Segui para o meu quarto passando pelo dela. Ela sorriu, me deu um beijo e desejou boa noite, fechando-se também em seu quarto, onde a cama de casal agora era usada só por ela.

As luzes todas apagadas. Troquei minha roupa, olhei pelo vitral as lindas estrelas. – Nada, nenhum lugar, é perfeito. Deve de haver um demônio, e não um cavaleiro de armadura brilhante... – Repeti como meu pai um dia fez por entre seus devaneios. Adicionando um pouco do que eu sentia. Fechei a cortina, deitei e adormeci.

Sem sonhos, sem brilho, sem pai, sem final feliz, sem nada.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem~~ Estou preparando o próximo capítulo~~ Beijos! Até. Lucy.