Pela primeira vez, eu fui o primeiro a chegar ao trabalho. Okami sempre chega primeiro, pois é a que mora mais perto daqui. A ideia de Okami demorar a vir trabalhar me assusta, nunca se sabe o que ela pode estar fazendo, ainda mais hoje que terei que cumprir a penalidade daquela aposta infeliz.

Bem, não fiquei sozinho por muito tempo, logo Naoto e Mizuki apareceram. Assim que vi que eles vieram juntos, lembrei que Naoto passou a noite na casa de Mizuki. Estava tão curioso para saber o que aconteceu!

Mizuki foi até o banheiro para colocar seu uniforme. Eu nem me preocupei em vir de uniforme, aliás, eu teria que me vestir de empregada hoje...

Assim que ele fechou a porta do banheiro, Naoto veio correndo até mim e disse:

– Shun-chan! Tenho muita coisa pra te contar!

– Ai meu Deus! – me empolguei – O que aconteceu ontem? Quero todos os detalhes!

Sentamos-nos no sofá que fica perto da porta, e então Naoto começou a falar:

– Tá, vou contar desde o começo. A gente chegou, jantou, e depois fomos tomar banho.

– Vocês tomaram banho juntos? – perguntei surpreso

– Não! – respondeu ele – Eu tomei banho primeiro, e depois ele.

– Ah... – fiz uma cara desapontada.

Naoto riu, ele sabia que eu estava apenas brincando, então ele continuou:

– Só que quando ele saiu do banho, ele só vestiu uma calça e ficou sem camisa, deitado na cama. Aposto que estava tentando me seduzir!

– Você estava deitado na cama também? – perguntei

– Sim! A gente ia ver filme... Aí eu fiquei puto, né? Ele queria que a gente ficasse na mesma cama, com ele com pouca roupa e eu não sentisse nada?

Nesse momento, Mizuki saiu do banheiro, já com seu uniforme. Ele viu que estávamos conversando, então foi até o balcão preparar as louças para servirmos os doces. Naoto abaixou o tom de voz, e continuou:

– O pior foi que ele ficou brincando comigo. Passando a mão nas minhas pernas e arranhando a minha nuca...

Olhei para Mizuki para checar se ele não estava ouvindo. Depois de garantir que ele estava concentrado no trabalho, comentei:

– Ele queria te pegar, ué! – eu ri – Mas e depois?

– Depois disso... Eu... Perguntei para ele porque ele tinha me beijado ontem. Queria saber se ele só estava curioso, ou se ele sentia algo a mais por mim.

– Você perguntou mesmo? – fiquei surpreso – E depois?

– Eu me declarei para ele...

Controlei-me para não gritar de emoção. Olhei para ele com olhos curiosos, esperando que ele prosseguisse.

– Eu disse tudo que eu sentia. Que estava aflito há dias sem saber o que ele sentia por mim. Ele disse que sentia o mesmo, que também estava apaixonado – Naoto tinha um sorriso bobo no rosto – E tinha o mesmo dilema que eu. Ele não sabia se eu gostava dele ou era apenas atuação.

– Depois disso, o que vocês fizeram? – perguntei

– Ah... Bem... A gente começou a se beijar... Ele foi pra cima de mim... E o resto você já sabe – ele me olhou maliciosamente.

Coloquei a mão na boca para não acabar gritando! Eu sabia que aquilo ia acontecer! Sabia! Então eu disse, animado:

– Não acredito que vocês fizeram mesmo isso! Como foi? Doeu?

– Bem, um pouco. Mas ele me preparou direitinho! O que doeu mesmo foram as mordidas que ele me deu no meu corpo todo.

– Hhhmmm! – olhei maliciosamente para ele – Então foi selvagem, é? – eu ri

Ele riu de volta e então desabotoou os botões de cima de sua camisa social para me mostrar seu pescoço. Estava com uma grande marca de chupões e logo abaixo, marca de dentes também.

– Tem disso pelo meu corpo inteiro – disse ele com um sorriso malicioso no rosto, abotoando de volta sua camisa – Levei um susto quando me olhei no espelho de manhã. Mas eu também acabei com as costas dele sem querer...

– Mas... Foi bom? – perguntei indiscretamente.

– Claro que foi! – ele voltou com aquele sorriso bobo – Foi muito bom... Ele me fez ficar louco... Mas fiquei morrendo de vergonha quando demos de cara com os vizinhos no elevador. Eles olharam estranho para nós... Acho que fiz muito barulho – ele riu.

Nesse momento, Katsu-chan tinha chegado. Estranhei o fato de Okami ainda não ter aparecido. Katsuo é sempre o último a chegar, pelo fato de morar mais longe.

– Katsu-chan! – corri para a direção dele e o dei um abraço.

– Olá, Shun-chan!

Ele afagou minha cabeça e me deu um beijo na bochecha. Depois cumprimentou Naoto e Mizuki com um abraço.

De repente, o sorriso no meu rosto desapareceu. Eu estava muito feliz por Naoto ter sido retribuído, mas será que eu seria também? O medo ainda tomava conta de mim. Se eu me declarasse e ele não sentisse o mesmo, as coisas ficariam muito estranhas entre nós.

Antes que pensasse mais sobre isso, Okami apareceu, com um sorriso diabólico no rosto. Fiquei até com medo. O que ela estava planejando?

– Bom dia, meninos! – disse ela, com os olhos brilhando – Desculpe a demora, eu estava procurando uma coisinha lá em casa, mas já achei. Então vamos abrir a loja!

Ué, ela não ia me obrigar a me vestir de empregadinha antes de abrirmos? Bem, resolvi não questionar e coloquei meu uniforme diário, para começar o trabalho.

Algum tempo passou, e a loja já estava cheia. Eu estava até feliz, pensando que Okami havia se esquecido do nosso trato. Mas para acabar com minha alegria, ela subiu numa cadeira e disse alto, para todas as clientes ouvirem:

– E aí meninas? Quem quer ver o Shun-chan vestido de empregadinha?

As garotas gritaram histericamente, dizendo que queriam muito ver. Já eu só queria um buraco para me enterrar! Que humilhação! Ela esperou a loja estar cheia para me fazer vestir aquilo! Okami tinha mesmo que fazer tudo isso?

Okami me arrastou para o balcão. Ela pegou sua mochila, e então me levou para o banheiro. Ela tirou uma sacola da mochila, e lá estava uma muda de roupas.

Tinha um vestido preto de Maid, com um avental branco todo rendado e um grande laço atrás. Meias 7x8 pretas também rendadas, um sapato social feminino, e até uma tiara de empregada.

– Tenho mesmo que usar tudo isso? – resmunguei, estendendo o vestido na minha frente para dar uma olhada melhor nele.

– Claro que tem! Eu não passei horas procurando isso lá em casa pra nada!

Ah, então era por isso que Okami tinha demorado. Reparando melhor no vestido, vi que ele era bem parecido com os que Okami usava para trabalhar, só que bem mais curto. A saia dele era quase a metade dos que ela usava.

– Mas tem que ser tão curto assim? Isso é vergonhoso!

Antes que ela respondesse, dei mais uma vasculhada nas coisas da sacola e achei uma coisa estranha.

– O que é isso? – peguei aquele pedaço de pano preto.

– Uma calcinha! Você vai usar isso também! – ela riu malignamente.

– O QUÊÊÊ??? – gritei – Isso não estava no acordo!

– Estava sim! – retrucou ela – Hoje você vai fazer tudo que eu mandar! E a primeira ordem é que você se vista como eu quiser! Muahahahah – ela deu uma risada diabólica

Eu não podia contrariar. Lembro-me de ter concordado em fazer tudo que ela mandasse por um dia caso perdesse a aposta.

– Ta bom! Mas sai daqui pra eu poder me trocar em paz! – resmunguei.

Com muito desgosto, coloquei aquela calcinha, e depois o vestido. Coloquei as meias que vinham até metade da coxa, os sapatos e a tiara. Olhei-me no espelho completamente envergonhado. Eu estava parecendo uma menininha, e agora?

Enrolei para sair do banheiro, mas eu não podia ficar lá para sempre. Uma hora Okami perceberia e me arrancaria de lá. Saí timidamente do banheiro e me assustei com o que vi.

Várias meninas estavam na porta me esperando sair para ver como eu ia ficar. Foi só eu abrir a porta que todas elas gritaram e começaram a tirar fotos de mim. Sério... Eu queria morrer.

– Aaiiinnn que lindinho! – uma das Fujoshis disse – Eu preciso chamar minha amiga para cá! Ela vai adorar ver isso!

Vi que várias outras meninas ligaram para suas amigas para que viessem correndo para a lanchonete. Okami magicamente apareceu do meu lado e disse:

– Isso também foi uma jogada de Marketing! Quem não daria tudo para ver um Uke fofo vestido de empregadinha?

– Okami!!! – choraminguei – Isso é humilhante! Esse vestido é muito curto... E... A calcinha fica entrando – terminei a frase num tom mais baixo.

– E daí?

– Daí que todo mundo vai ver minha bunda, porra! – me estressei, mas ainda tomando cuidado para ninguém além dela escutar.

Depois de rir muito, ela disse:

– Mas você tem uma bundinha sexy, então qual o problema?

Sério, eu queria matar Okami naquele momento. Nunca mais aposto nada na minha vida, nunca mais!

– Muito bem, meninas! – disse Okami para as outras Fujoshis – Voltem para suas mesas que o Shun-chan vai trabalhar agora! E chamem suas amigas!

Todas as meninas foram se sentar, com seus telefones. Eu fiquei completamente envergonhado só de pensar que mais pessoas iriam chegar para me ver.

– Que gracinha! – disse Naoto, rindo como se não houvesse amanhã.

– Cala a boca! Isso tudo é culpa sua! – fiquei estressado e saí de perto dele.

Olhei para o lado, e percebi que Katsu-chan estava me olhando fixamente. Quis morrer naquele momento! Ele teria que me ver desse jeito constrangedor o dia inteiro?

– Shun... Chan... – disse ele, parecendo em choque.

Achei que ele fosse rir de mim, ou talvez ficar com nojo, mas ele simplesmente disse, com os olhos brilhando:

– Você está tão fofo!!!

– N-não me chame de fofo – desviei o olhar, ficando completamente corado.

– Mas... Você está tão lidinho! Eu preciso te morder! – disse ele, se aproximando de mim rapidamente.

Ele me abraçou e me jogou no sofá de espera, caindo por cima de mim. Acabei soltando um gemido sem querer, devido ao ato repentino. Percebi que várias meninas se aproximaram para ver melhor a cena, e até para gravar com seus celulares.

Katsu-chan realmente me mordeu, na minha bochecha. Não foi muito forte, então deixei que ele continuasse. Ele foi descendo, dando leve mordidas no meu pescoço e logo em seguida, na minha orelha.

Arrepiei-me completamente, e não consegui segurar um gemido. Ter Katsu-chan me atacando assim era tão bom! Eu queria que ele não parasse.

– Gente! – uma das meninas disse – Olha só a bundinha do Shun-chan!

Corei completamente e empurrei Katsuo de cima de mim. Saí do sofá batendo os pés, puxando o vestido para baixo, para que ninguém mais visse coisas que não devem ser vistas! Aquilo era humilhante!

– Toma – Okami apareceu do nada na minha frente, me entregando um pano. – Quero que você limpe as janelas! Lá no alto. Muahahaha! – riu malignamente

Peguei o pano da mão dela, fuzilando-a com os olhos, e fui até uma das janelas. Tive que subir numa cadeira para limpar as partes mais altas. Eu sabia que Okami só me fez fazer aquilo para que as meninas me vissem de baixo com aquele vestido obsceno.

Vi que algumas meninas estavam me olhando maliciosamente. Não importava o quanto eu puxasse o vestido para baixo, ele era curto de mais.

Decidi ver o que Naoto e Mizuki estavam fazendo. Esperava que eles desviassem a atenção de mim.

Naoto estava atendendo as mesas normalmente, e de repente Mizuki chegou para fazer uma cena. Ele abraçou Naoto por trás, e disse:

– Sua bunda ainda ta ardendo?

Naoto arregalou os olhos e ficou corado, enquanto as meninas das mesas mais próximas riam e pediam que Naoto respondesse.

– Não estaria se você não fosse tão agressivo! – ele entrou na cena.

– Eu não sou agressivo! – Mizuki começou a simular uma discussão – Você que é fresco!

– Fresco? – Naoto ficou boquiaberto – Olha só o que você fez comigo!

Naoto desabotoou seu colete preto, e depois sua camisa social, mostrando seu tórax e abdômen completamente cheios de marcas de chupões e dentes.

As meninas gritaram, e até eu fiquei surpreso. Naoto tinha me mostrado apenas o pescoço, e eu não imaginava que realmente fossem tantas marcas.

– Tem disso nas minhas pernas também! – comentou ele, para as meninas – Ele é um bruto!

– É assim? – Mizuki começou a desabotoar o colete e a camisa.

Mizuki tirou tudo que era vestimenta da parte de cima, exibindo seu corpo bem definido. Mas foi apenas ele virar de costas, que todas as meninas ficaram boquiabertas. As costas de Mizuki estavam repletas de marcas de unhas. Arranhões profundos, e alguns pareciam até ter sangrado um pouco.

– Olha o que você fez! – disse Mizuki, ainda encenando uma discussão.

– Eu não teria feito tudo isso se você fosse mais devagar! – respondeu Naoto

– Como eu poderia ir mais devagar com você gemendo tão alto para que eu fosse mais rápido? – Mizuki sorriu maliciosamente

Naoto corou completamente e desviou o olhar. Nesse ponto eu não sabia mais onde ele estava atuando, ou se isso realmente aconteceu na noite passada. Naoto é mesmo um safadinho!

– Admita... – Mizuki continuou, vendo que Naoto não ia responder nada – Você estava me arranhado assim porque estava sentindo muito prazer...

Mizuki puxou Naoto pela cintura e o beijou em seguida, sem deixá-lo responder nada. Todas as meninas gritaram loucamente. Dois homens lindos se beijando de língua, seminus e cheios de marcas de sexo... Até eu fiquei seduzido.

– Já terminou aí? – Okami mais uma vez surgiu para me perturbar – Agora quero que você limpe o balcão!

– Você só pode estar de sacanagem! – fiquei irritado.

– Hoje você é minha empregadinha! Então faça tudo que eu mandar! – disse ela com superioridade.

O maior problema de limpar o balcão, é que temos que nos esticar para limpar lá no fundo, onde é difícil de alcançar. Como eu sou pequeno, tenho que ficar empinado para chegar até o fundo. Não teria problema se eu estivesse com uma roupa normal! Mas não! Eu tinha que estar com um vestido super curto!

Com uma mão eu tentava chegar até o fim do balcão com o pano, e com a outra, eu segurava a saia do vestido para que ninguém visse minha calcinha. Só que era muito difícil limpar tudo só com uma mão.

Esperei um momento em que Naoto e Mizuki estivessem fazendo cena para que pudesse usar as duas mãos para limpar. Eu sabia que estava dando para ver tudo lá embaixo, mas eu rezava para que todas as meninas estivessem concentradas em Naoto e Mizuki.

De repente, eu senti alguém dando um tapa na minha bunda. Olhei para o lado e vi Katsu-chan passando, segurando uma bandeja com apenas uma mão. Ele me deu uma piscadinha e um sorriso malicioso.

Acho que nunca fiquei tão corado na minha vida. Eu sabia que ele estava apenas brincando comigo, mas aquilo me deixou muito envergonhado. Ele ficou olhando para mim naquela posição obscena? Eu queria me matar!

Um dia nunca demorou tanto para passar. Okami me fez limpar tudo quanto é coisa, só para abusar de mim. Katsu-chan tentou me atacar várias vezes, e ficava me chamando de fofo e lindinho só para me deixar constrangido.

Quando tudo finalmente acabou, a primeira coisa que fiz foi trocar de roupa e depois me joguei exausto no sofá.

– Aahh... – suspirei – Achei que esse dia nunca fosse passar...

Katsu-chan, que estava perto, riu e se sentou ao meu lado no sofá, dizendo:

– Você foi muito bem, Shun-chan! Fez o maior sucesso com as meninas!

– Mas foi tão... Cansativo... – bocejei – Eu estou... Exausto...

Sem conseguir aguentar, deitei a cabeça no ombro de Katsu-chan e acabei adormecendo. Só fui acordar quando senti Okami me cutucando.

– Ei! Shun-chan! Acorda!

– Hã? O quê? – levantei desesperado – Por quanto tempo eu dormi?

– Ah... Só uns 15 minutos. Todo mundo já foi embora, eu já estou indo também, então vim aqui te acordar.

– Ah... Obrigado... Você acabou comigo hoje!

– Nem foi tão ruim assim, vai! – ela riu – Pelo menos você conquistou o coração do seu amado!

Fiquei corado e meu coração deu um pulo. Ela estava falando de Katsu-chan, como ela sabia que eu gostava dele?

– Do que você está falando? – perguntei.

– Ah... Shun-chan! Você tem que confiar mais em mim. O instinto de uma Fujoshi nunca erra! Da última vez que você duvidou de mim, acabou num vestido de empregadinha! – ela riu novamente.

– Então... Você sabia que eu...

– Gosta do Kaya? – ela me interrompeu, completando minha frase – Sabia desde o começo. E sabe do que mais eu sei? Que ele gosta de você também.

Meu coração disparou e eu corei novamente. Será que ela tinha razão? Será que ele realmente gostava de mim? Okami sempre acerta quando se trata de Yaoi...

– Como tem certeza disso? – perguntei

– Enquanto você dormia, ele ficou o tempo todo acariciando seus cabelos e te olhando de um jeito tão fofinho! Tava com aquela carinha de apaixonado, sabe? E quando ele foi embora, tomou todo o cuidado do mundo para tirar sua cabeça do ombro dele e colocar na almofada. Além de ter te dado um beijinho na testa.

Aquilo era mesmo verdade? Katsu-chan tinha sido tão carinhoso comigo assim? Como eu queria estar acordado nessa hora!

Pensando bem... Naoto arriscou, ele se declarou, e conseguiu. O sentimento dele era recíproco! E se Katsu-chan tem o mesmo medo que eu? De não ser retribuído e as coisas ficarem estranhas entre nós. Depois do que Okami me disse, eu fiquei ainda mais disposto a arriscar... Tenho que dizer para ele tudo que eu sinto!

E assim se passou mais um dia, no Maid Café Yaoi...