As escolhas que fazemos escrita por Nanda Boinne


Capítulo 15
Conversa




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Eu ainda não acreditava no que meus olhos estavam vendo. Eram meus desenhos ali na parede do quarto de Edward. Eu me vivei para ele em uma clara pergunta muda. Mas ele ainda mantinha as mãos no bolso e ficou em silêncio. Eu me virei novamente, olhando para os desenhos. Eu não estava entendendo nada. Eu caminhei até a parede, onde os desenhos estavam. E os toquei com certa estranheza. Como se nem fossem meus, como se não me pertencesse mais.

— Foi o professor Marcus que me deu esse caderno. — Disse Edward por fim quebrando o silêncio.

E então eu olhei para baixo e vi na mesa de vidro meu caderno. A princípio eu toquei superficialmente, até que peguei em minhas mãos e o abri, vendo o primeiro desenho. Era de um grupo de meninas rindo sentadas na quadra. Lembro do sentimento que tive quando fiz aquela desenho: inveja. Inveja da felicidade delas, da normalidade delas. Eu queria ter aquilo.

Fui virando as paginas e com cada desenho era arrebatada para aqueles sentimentos de quando eles eram feitos. Nem me lembro em que momento, nem ao menos percebi, mas quando fechei o caderno vi que estava sentada na cama de Edward.

— Porque está me mostrando isso? — Perguntei o olhando e ele estava encostado na porta de vidro me olhando, agora, de braços cruzados.

— Bella. — Disse ele respirando fundo logo em seguida. — Eu me sinto muito mal por aquele dia. — Disse e eu balancei a cabeça em negação me levantando em um rompante.

— Não. — Disse com raiva. — Nós combinamos não falar sobre Forks. — Eu disse decidida a ir embora, pegando minha bolsa e jogando nos ombros.

— Não, espera. — Ele disse me segurando pelo braço me fazendo virar para ele. — Me escute, por favor. Eu espero por essa oportunidade há anos. — Suplicou com os olhos marejados.

Eu ainda neguei com a cabeça sentindo meus olhos também marejados, mas me sentei na cama novamente deixando a bolsa de lado. Fiquei com a cabeça baixa olhando para minhas mãos. Eu não estava entendendo Edward. E não sabia bem onde ele queria chegar. Ele vinha me surpreendendo desde que nos encontramos e mais uma vez ele me surpreendeu quando se ajoelhou na minha frente.

— Me perdoa, Bella. — Implorou ele deixando as lágrimas rolarem livremente do seu rosto e eu fiquei sem ação.

— Por favor, não faça isso. — Pedi me sentindo mal por vê-lo assim humilhado. Era até irônico, esse meu sentimento de pena dele. Quantas vezes ele não me humilhou?

— Só me escuta, por favor. — Pediu ele fazendo um gesto como se fosse rezar e eu me calei. — Naquele dia, Bella, eu fiquei com tanta raiva de você. — Disse ele me olhando nos olhos, mas eu desviei o olhar.

E mais uma vez é como se eu tivesse sido arrebatada para aquele episódio. As lembranças vieram com força total e eu simplesmente me levantei e fui até a porta de vidro ficando de costas para ele. Eu nem ao menos prestava atenção em nada na minha frente. Era como se um véu me impedisse de ver algo. Eu senti um movimento atrás de mim, mas não me virei.

— Eu me senti tão humilhado. As pessoas rindo de mim, meus amigos... — Disse ele com sarcasmo na voz. — Tirando com a minha cara. E depois as palavras do professor. Aquilo foi o ápice porque lá no fundo, eu sabia que era verdade. Eu sentia tanta raiva. Eu queria descarregar. E depois minha turma foi até mim, eles me pilharam... Tyler me incentivou a fazer algo, a não deixar barato. E eu me lembrei de um caderno que vi com você algumas vezes. Imaginei que fosse um diário. — Disse ele rindo em seguida. — Mas eu pensei que fosse encontrar ali, sei lá, alguma coisa, tipo um garoto que você gostava ou algo bem estúpido. — Ele fez uma pausa e eu fechei os olhos sentido lágrimas já molhar meu rosto. — Mas conforme ele foi lendo aquilo, Bella, eu me senti horrível. Eu não imaginava aquilo. Eu não poderia sequer pensar em algo do tipo. Suas palavras... — Ele ficou quieto e então eu me virei, o encarando. — Eu me senti um monstro. A realidade caiu sobre eu ter expor daquela forma, na frente de todos. E depois que você saiu correndo, eu queria ir atrás de você, mais eu estava petrificado. Eu mal me lembro das minhas ações. E quando olhei para minha família, meus irmãos, cunhados... Eu vi a decepção no olhar dele. Repreensão. — Ele falou enxugando uma lágrima que caiu pelo seu rosto. — Quando uma garota apareceu no refeitório, correndo e gritando que alguém ia pular... — Disse ele passando a mão no cabelo. — Eu sabia que era você. Ao mesmo tempo em que eu desejava que não fosse. Eu sabia que era você e quando saí, eu tive minha confirmação. Eu não queria olhar, eu não queria ver, mas estava preso naquilo. E quando você se jogou... — Disse ele balançando a cabeça negativamente e um soluço rompeu minha garganta. — Deus... — Disse ele de forma tortuosa. — Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu juro que senti meu coração perder algumas batidas quando te vi caindo. Como se estivesse em câmera lenta. E depois só o baque, os gritos dos alunos. Mas tudo se apagou quando nosso olhar se encontrou. Lembra, Bella? — Perguntou ele e eu enxugava meu rosto em vão, pois as lágrimas não pararam de cair. — Você olhou pra mim por alguns segundos. Olhou para mim. — Disse ele como se para sim mesmo. — Depois daquele dia, tudo foi um inferno. As pessoas me culpavam. — Disse ele sorrindo sem humor. — E com razão. — Disse ele me olhando. — Meus pais, quando descobriram, se decepcionaram mais ainda. Eles diziam sentir vergonha de mim. — Ele disse apontando para si mesmo. — Eu ficava desesperado por noticias suas, Bella. Qualquer que fosse. Eu não dormia direito, não comia e sempre sonhava com você. — Disse ele por fim e aquilo me chocou.

Edward estava fazendo isso comigo: me chocando várias vezes. Eu não o reconhecia mais.

— Nos meu sonhos... — Disse ele sorrindo para mim. — Em muitos deles, nós conversávamos como amigos. Nós nos gostávamos. Você confiava em mim. Eu te protegia, Bella. — Disse ele ainda sorrindo e eu sequei o últimos requisitos de lágrimas e o fitei. — Mas tinha os pesadelos, também. Você morria e me culpava. Ou então, eu tentava te salvar, mas não conseguia. — Disse ele com tristeza. — Quer saber de uma coisa bem louca? — Perguntou ele enxugando o rosto e passando a mão no cabelo, parecendo ansioso e nervoso. Eu não respondi nada, somente dei de ombros. — Eu vi você quando estava em coma. Em toda parte. Era como se estivesse sentindo sua presença comigo. — Disse ele e então eu senti algo estranho dentro de mim. Algo no meu peito. — E um dia, uma única vez, eu a visitei no hospital. — Disse ele pra mim.

— Eu nunca soube disso. — Eu disse por fim, não reconhecendo minha própria voz.

— Acho que foi a primeira vez que passei tanto tempo perto de você. — Disse ele sorrindo. — E foi bom ficar ali, perto de você. Eu senti uma paz que fazia tempo que não sentia. Eu me sentia intimo de você. Eu já te conhecia tão bem. Eu sabia de seus gostos, suas musicas preferidas... Depois de conversar com os professores, eu passei até a te conhecer e me senti um idiota por nunca ter me permitido fazer isso antes. — Disse ele por fim.

— Eu nunca poderia imaginar isso. — Eu disse o olhando e então ele se aproximou de mim. E por incrível que pareça, eu não me afastei. Então eu me lembrei de um pesadelo que tinha tido.

Eu corria na chuva fugindo. Eu tinha corrido tanto... Estava tão cansada. Eu me via no meio do nada, uma pequena igreja. Eu queria chegar até lá, mas então não tinha forças. Até que Edward me pegou no colo. Ele me olhava de uma forma e eu sabia que estaria segura.

— Eu também sonhei com você. — Eu disse o olhando nos olhos e ele se aproximou mais.

— Mas foi um sonho...? — Ele se interrompeu, e eu entendi o que ele iria perguntar.

— Foi um sonho bom. Foi quando eu estava em coma, ainda, eu acho. Mas agora eu me lembro. — Disse olhando nos olhos dele.

— Como era? — Perguntou ele me olhando como se me analisasse. E eu me senti vulnerável com o olhar.

— Você.. — Hesitei. — Você me protegia. — Eu disse dando os ombros.

— De quem? — Perguntou ele e eu senti um calafrio na espinha.

— Pessoas ruins. — Eu disse por fim.

— Bom saber que de vilão, me converti a mocinho. Salvando a donzela. Mas ainda não te contei tudo. — Disse ele pegando uma mecha do meu cabelo, me surpreendendo mais uma vez. — Depois que você acordou, eu fiquei tão feliz e tão aliviado. — Disse ele sorrindo, mas logo seu sorriso sumiu. — Mas também lamentei, porque pensei que nunca teria a oportunidade de olhar em seus olhos e pedir perdão, porque nunca poderia nos dar uma chance de nos conhecer melhor, de sermos amigos, de te mostrar... — Ele se interrompeu.

— Me mostrar...? — Eu repeti o incentivando a continuar.

— Que eu não sou mais o mesmo de antes, Bella. Que eu mudei... Por você. — Disse ele me olhando nos olhos. — Me dê uma chance, Bella, pra provar isso. Para fazer diferente dessa vez. Para me redimir. — Implorou me olhando, ainda segurando uma mecha dos meus cabelos.

— Sei que mudou, Edward. Eu notei isso. — Disse para ele. — Não tem que me provar nada, Edward. — Disse virando o rosto e sua mão antes no meu cabelo agora estava no meu ombro e eu senti algo estranho, como uma corrente elétrica.

— Por favor, olhe pra mim. — Pediu ele segurando meu rosto com uma das mãos, me fazendo virar para ele de forma delicada, até que nossos olhos se encontraram.

— Eu te perdoo, Edward. — Eu disse e ele ficou uns minutos me olhando. Vi pelo seu rosto passar vários sentimentos: confusão, choque, descrença. Mas depois, felicidade e alívio.

— Bella... — Disse ele sorrindo bobo e então me puxou para um abraço e foi tão estranho. Eu senti como se pertencesse àquele lugar. Sentia-me protegida ali. Eu fechei os olhos e somente aproveitei o aconchego. Senti que ele afagava meus cabelos de forma lenta e carinhosa, até que ele se afastou um pouco de mim. Mas sem me soltar por completo.

— Bella. — Disse ele ainda sorrindo torto.

— Edward, por favor, não vamos mais falar disso, ok? Vamos começar do zero. — Propus a ele que assentiu ainda sorrindo.

E mais uma vez pegou nos meus cabelos, mas dessa vez tirando do meu rosto e pondo atrás da minha orelha. Ficou uns minutos em silêncio somente me olhando. Até que comecei a sentir algo meio estranho. E então me afastei dele e comecei a inspecionar o quarto. Fui até duas enormes prateleiras e olhei seus livros e CDs. Ele tinha uma coleção deles. Vez ou outra, eu via que ele me olhava transitar pelo seu quarto. Realmente tínhamos muito em comum: gosto por música e livros. Algo que eu jamais poderia sonhar. Circulei o enorme quarto até que algo me chamou a atenção. Um piano em um espaço que mais parecia outro ambiente, embora ainda ligado ao quarto. Eu fiquei tão concentrada nos desenhos que o ermo e lindo piano negro me passou desapercebido.

Na outra sala tinha somente o piano, as janelas de vidro que clareavam o outro ambiente. Eu o olhei e vi que ele me olhava. Então corei e de repente me senti envergonhada. Tinha mexido em suas coisas, parecendo até que fazia uma investigação.

— Me desculpe. — Disse por fim tirando a mão do piano e ele franziu o cenho.

— Porque está se desculpando? — Questionou-me ele vindo até mim.

— Eu aqui mexendo nas suas coisas... — Disse balançando a cabeça.

— Não me incomoda, Bella. De verdade. — Disse ele sorrindo torto.

— É que nunca imaginei... — —u ia dizendo.

— Que tivéssemos tanto em comum. — Disse ele completando minha frase e eu assenti. — Vem! Senta aqui. — Disse ele pegando minha mão e mais uma vez a corrente elétrica estava ali.

Ele me fez sentar na banqueta de frente ao piano e logo se sentou ao meu lado.

Eu compus essa musica há alguns anos. — Disse ele me olhando parecendo envergonhado. E então ajeitando sua postura e começou a tocar a melodia, que logo preencheu o ambiente. A linda música soava pelos meus ouvidos. Fechei os olhos e apreciei cada som harmonioso e belo. Depois de minutos, fui percebendo que estava acabando. E voltei a abrir os olhos. Ele não olhava para as teclas. Mas, sim, pra mim.

— É linda, Edward. — Eu disse suspirando em seguida.

— Que bom que gostou. Essa musica é sua. — Disse ele olhando para mim. Eu abri e fechei a boca algumas vezes.

— Como assim: minha? — Perguntei franzindo o cenho e minha cara devia estar mesmo engraçada, pois ele riu com vontade.

— Sua. Eu compus pensando em você. — Disse ele dando os ombros.

— Obrigada. — Disse sorrindo para ele e então pra minha surpresa eu me inclinei e depositei um beijo em seu rosto. Assim que me afastei, tomei consciência do que eu fiz e me senti envergonhada. O que fez com que eu me levantasse um pulo.

— Acho melhor eu ir. Já está ficando tarde. — Eu disse ainda sem graça e Edward parecia estar meio que aéreo.

— Mas já? — Perguntou, parecendo acordar.

— Sim. Quero dizer, acho que já tá na hora de ir. — Eu disse tentando soar mais firme e ele assentiu. Peguei minha bolsa na cama e saí do quarto e Edward seguiu do meu lado, até que senti sua mão nas minhas costas, me guiando. Quando descemos, vimos a conversa na sala cessar e todos os olhares se viraram pra nós. Esme se levantou rapidamente nos olhando.

— Está tudo bem? — Perguntou ela preocupada.

— Está sim, mãe. — Disse Edward e a princípio eu não entendi. Mas logo que olhei pra cara de Edward, a consciência me tomou. Nossas faces denunciavam nosso choro e desabafo de algumas horas atrás. E olhando para o rosto dele, percebi que minha aparência devia estar péssima.

— Esta tudo bem, sim, Esme. — Disse lhe dando um pequeno sorriso e ela somente assentiu e sorriu de volta.

— Eu vou levar Bella de volta para faculdade. — Disse para todos ali e me encolhi um pouco com todos os olhares sobre nós.

— Não quer ficar para o jantar, querida? — Perguntou Esme sorridente e eu me perguntei como alguém podia mudar de humor tão rápido.

— É muita gentiliza, mas realmente tenho que voltar para o campus. — Disse buscando o olhar de Edward que ficou uns segundo olhando para mim.

— Ela está cansada, mãe. Outro dia eu a trago de novo. — Disse ele ainda me olhando.

— Foi um prazer, querida. E não se esqueça do que conversamos, ok? — Disse ela no meu ouvido, mas com certeza os outros escutaram. Depois que saí do abraço dela, cumprimentei Carlisle e Jasper com um aperto de mão. Por fim, fiquee parada na frente de Alice. Dei um baraço nela, que pareceu lhe pegar de surpresa, mas logo ambas estavam relaxadas no abraço.

— Até segunda. — Disse me separando dela que sorriu para mim, animada. — Vamos. — Disse Edward me puxando pela cintura. Saímos do campo de visão e todos.

O caminho foi feito em silêncio. Nós dois estávamos agora absorvendo as ultimas horas que foram bem intensas. Diferente da vinda, a ida foi rápida e logo estávamos estacionados em frente a faculdade. Ficamos ainda uns minutos dentro do carro.

— Então, eu.... — Eu não sabia bem o que dizer, nem mesmo entendia o que estava acontecendo comigo.

— Me dá seu número. — Disse ele de supetão. — É claro que se você quiser. — Disse ele passando a mão nos cabelos. Eu peguei o celular dele e gravei meu número e ele fez o mesmo com o meu. Rimos um para o outro.

— Agora, sim, eu tenho que ir. — Disse já soltando cinto.

— Espera. — Disse ele e eu então fiquei parada a tempo de o ver abrir a porta e sair dando a volta, abrindo minha porta. Fiquei o olhando por uns segundos e somente balancei a cabeça e sorri. — Eu faço isso. — Disse ele sorrindo torto.

— Obrigada. — Disse para ele. — Eu tenho que ir, Edward. —Disse mais uma vez, mas ele estava parado na minha frente bloqueando meu caminho. — Edward, você está na minha frente. — Disse sorrindo e ele então se tocou, parecendo envergonhado.

— Me desculpe por isso. — Disse ele ainda sorrindo e então se aproximou de mim e me deu um beijo na testa. — Nos vemos segunda. — Disse ele e eu assenti.

— Sim. Até segunda. — Disse a ele que abriu caminho pra mim. Caminhei para longe dele que agora estava encostado no carro me olhando. Por fim, somente acenei para ele, que acenou de volta. Dei as costas, e fui embora.


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Notas finais do capítulo

Por favor, leiam as notas. Urgente...
A parti de agora peço a colaboração de um força tarefa para dar um final a todas as histórias da Nanda Boinne. Mais informações, leiam ou o perfil dela ou o blog Amigas fanfics. http://amigasfanfics.blogspot.com.br/2014/03/ajudem-para-que-as-historias-da-boinne.html