A garota acordara novamente aos prantos, lagrimas escorriam por todo o seu rosto, a fronha já se encontrava levemente molhada.

“De novo” ela reclama por entre as lagrimas e soluços, abraça um travesseiro apertado e se senta na cama, esfrega o dorso das mãos nas bochechas para limpar as lagrimas enquanto tenta se recompor.

Acende o abajur e se joga pra fora da cama, cansada de não conseguir dormir todas as noites.

Ela caminha em direção ao banheiro, lava o rosto e caminha até a mesa do quarto. Abre a gaveta e retira de lá o papel de carta e as canetas. Olha indecisa sobre o que escrever, pega a caneta preta e escreve a primeira linha:

"Ás vezes, simplesmente acontece"

Ela deixa uma lagrima escorrer enquanto pensa em como continuar.

"Acontece de eu pensar em você,

Acontece de eu querer estar por perto.

Às vezes acontece.

Acontece de eu sonhar e acordar procurando por você.

Acontece de eu criar diálogos imaginários só pra te contar as coisas novas que eu descobri.

Ás vezes acontece de eu sentir falta,

Sentir falta do seu cheiro,

Sentir falta do seu gosto,

Sentir falta do seu calor,

Sentir falta de você por perto.

Acontece de eu te querer por perto,

De chorar com medo de nunca mais nos vermos,

Acontece, principalmente, de eu sorrir ao constatar o quanto alguém se parece com você.

Acontece de me pegar lembrando tudo que você me disse.

Cada palavra, cada gesto, Acontece de eu lembrar de tudo isso.

Desculpe,

Se ainda acontece.

Eu sei que já deveria ter parado,

Parado a tempos.

Já deveria ter esquecido mas

Acontece.

Acontece que você se tornou grande parte de mim.

Acontece que eu simplesmente não consigo virar de costas e seguir em frente sem nunca olhar pra trás.

Mas, acontece que eu não fiquei parada esperando, assim como você também não ficou.

Então, acontece de eu virar de frente pro passado e andar de costas,

Só pra seguir no rumo certo e não deixar de te olhar.

Por todos esses acontecimentos eu realmente me desculpo.

Pois sei que nada disso deveria, mas acontece."

Ao fim de seu pequeno texto, ela ergueu os olhos vermelhos, secou as lagrimas e avaliou as páginas escritas com as letras finas e firmes, que em nada representavam seu estado de tremedeira provocada pelo choro. Ela, mesmo em meio as lagrimas, sorriu ao constatar as letras perfeitas, embora o papel estivesse manchado pelas lagrimas.

Dobrou os papéis, e pegou uma nova folha, começou então sua carta.

“Oi, você ainda se lembra de mim?

É provável que não, né? Principalmente por que eu ainda não disse a você quem eu sou.Bom, vamos começar essa carta do princípio então:

Oi, aqui é a Mari, sabe, aquela criaturinha pequenininha, estranhinha, que um dia você disse que amava.

Talvez, você não entenda o porquê desta carta depois de tanto tempo, mas, eu decidi escrever, por estar cansada demais de me pegar pensando em você, e decidi que esta carta seria o meu “ponto final” pra essa história.

Eu, escrevi algo, então, por favor, leia, ou não leia, e jogue isso fora, não vai fazer diferença, você sabe, né? Eu nunca me importei muito com a sua resposta.

Engraçado, não? Eu não me importar nada com a sua resposta, com a sua opinião, e mesmo assim te enviar essa carta só pra explicar o que estou escrevendo, na verdade, é engraçado até mesmo o fato de eu estar te escrevendo por qualquer motivo que seja.

Bem, agora você já sabe o porquê de eu estar te escrevendo e quem sou eu. Então, eu acho que já posso deixar que leia o que eu escrevi.

Vá lá, leia:”

Ela mais uma vez sorriu com o resultado de sua escrita apressada.

Pegou outra folha em branco.

Em seu início, escreveu:

“Desculpe, vou seguir seu último conselho.”

Sorriu aproximando a caneta preta da última linha da folha rosada:

“Eu, definitivamente, vou me deixar de te amar.”

A garota juntou todas as suas folhas, organizou-as, sorriu com aquilo, era seu ponto final.

Pegou o pequeno envelope branco e guardou as folhas cuidadosamente dobradas dentro dele.

Fechou as folhas dentro do envelope e selou-o com um pequeno adesivo coloridinho que formava a figura de um bonequinho dizendo adeus.

No verso, ainda deixando sua ultima lagrima por aquele ser escorrer rosto abaixo, ela escreveu-lhe no lugar do destinatário:

“Para: Jean C.”

Mariane deitou-se novamente na cama e pegou o primeiro livro que viu em frente, sabia que não conseguiria voltar a dormir, leu algumas páginas antes que amanhecesse.

Quando os primeiros raios de sol bateram em sua janela ela decidiu se arrumar e terminar de vez aquela história.

Após deixar a carta na correspondência alheia, deu meia volta e fez o caminho de poucas quadras que a separava de sua casa.

Mariane sorria vitoriosa consigo mesma, finalmente, depois de tantos anos ela conseguira colocar um ponto final em toda aquela história.

Digitou apressadamente em seu aparelho telefônico as palavras“Finalmente Livre” e enviou a mensagem para o numero decorado, podendo imaginar o sorriso gêmeo ao seu no rosto da melhor amiga.