_ Ryan, como você deixou isso acontecer? – Pergunto desesperada, andando de um lado ao outro sem saber o que fazer, ele tinha se apaixonado por mim, por que meu Deus, por quê?

_ Não podemos evitar essas coisas, simplesmente aconteceu. – Responde ele, ele estava se sentindo meio culpado?

Jogo as minhas coisas para um lado e vou a sua direção, ele estava com as mãos no bolso e olhando para o chão, mas logo desvia os seus olhos para mim, era tão fácil me perder naqueles olhos, era como se todo o universo estivesse resumido apenas ali dentro.

Paro a centímetros de seu corpo magro e alto.

_ Ryan, você sabe por quem eu realmente sou apaixonada, eu te amo, mas não desse jeito, eu preciso tanto de sua ajuda nesse momento, eu preciso salvá-lo antes que seja tarde demais. – Sussurro em sua direção, algo quente estava escorrendo pelo meu rosto, ele envolve o meu rosto com suas duas mãos grandes e extremamente macias, passando o polegar sobre as lágrimas que insistiam em sair.

_ Eu sei Joana, mas isso é mais forte do que eu, eu sempre irei te ajudar, eu te amo tanto. – Sussurra ele de volta.

Ficamos assim por alguns minutos, perdidos em nossos olhares, até que instintivamente ele coloca sua mão esquerda sobre a minha cintura e me cola em seu corpo, juntando a sua testa sobre a minha, sua respiração é tão doce, fecho os olhos sem pensar em mais nada, e apenas sinto o momento, com certeza quando aquilo acabasse eu iria me sentir um monstro por ter feito algo totalmente errado, pelo menos a meu ver, ao meu padrão de relacionamento.

A cada milésimo de segundo que se passavam os seus lábios ia se aproximando mais e mais dos meus, e então o momento chega, sua boca já está tocando a minha, que começa a formigar automaticamente, não passamos disso, sem aprofundar ainda mais o beijo, ficamos apenas com os lábios se tocando, ele apertando um pouco mais a minha cintura e nossos lábios, e eu sem conseguir demonstrar qualquer tipo de reação.

Os seus lábios eram muito mais macios do que eu sequer tinha imaginado, como um veludo, o melhor veludo de todos os tempos, era delicado, um beijo de sensações.

Mas o que eu estava fazendo ali, ainda tinha uma vida para salvar, a vida do meu amor, empurro Ryan para longe de mim, o pegando de surpresa que cambaleia um pouco até se estabilizar.

_ Ryan, me desculpe, mas eu não posso.

Sem esperar qualquer tipo de resposta, pego as minhas coisas e corro em disparada, ele não veio em minha direção para tentar impedir, olho rapidamente para trás e vejo-o parado, sem reação, com o polegar tocando os seus lábios, e quando ele se dá conta que eu tinha fugido, já era tarde demais, eu estava muito longe para ser alcançada.

O meu plano? Bem, eu não tinha um plano, eu não sabia para onde estava querendo ir, apenas que a minha cabeça estava a mil e a sensação dos lábios de Ryan sobre os meus insistia em querer ficar.

Paro repentinamente e vejo que estou em frente ao castelo, o que tanto eu tinha temido.

Eu realmente estava ficando louca, mas sem pensar entro pela enorme porta, estava vazio lá dentro, mas eu me lembrava do salão que tinha visto David perder a memória, então sigo para lá.

Também estava vazio, vasculho toda a extensão da sala, então me deparo com uma porta, pequena se comparando as outras que eram um monstro de grandes, entro por aquela porta e dou de cara com uma escada em espiral, o final da escada se dava bem na torre do castelo, e sem pensar duas vezes começo a subi-la.

Suor pingava de minha roupa, eu devia ter emagrecido uns 100 quilos depois dessa jornada, me deparo novamente com mais uma porta de madeira, a maçaneta de ferro toda desenhada, abro-a e prendo a respiração, aquele quarto era de tirar o fôlego de tão linda que era, as cortinas eram de um vermelho vinho, que iam do chão ao teto, extremamente pesadas, a cama era com dossel feito de mogno, o colchão aparentava ser tão macio, sem pensar duas vezes me jogo ali mesmo, e então ouço um pigarrear e dou um salto para bem longe, não tinha percebido que havia duas pessoas naquele quarto, e uma era a que eu menos queria ver naquele momento.

_ Ora, ora, se não é a querida Joana. – Diz Lúcifer sentado em uma cadeira, apoiando os braços na escrivaninha, e do outro lado da mesa estava David, com os cabelos molhados, e roupas totalmente antiquadas, em que época que eles estavam vivendo? No século XIV? – O que te faz vim aqui? Na toca do seu inimigo?

_ Eu me entrego. – Respondo. Alguém poderia me ajudar, por favor, eu não sabia o que estava dizendo.

_ Se entrega? – Questiona Lúcifer com um sorriso nos lábios.

_ Eu não tenho outra saída, então eu quero me aliar a você. – Alguém poderia calar a minha boca?

_ E que garantia eu tenho que posso confiar em você? – Pergunta ele se levantando imediatamente.

_ Minha palavra. – Respondo imediatamente. – Mas com uma condição?

_ E qual condição seria?

_ Quero poder ficar com David, como uma dama de honra, mas com alguns privilégios, poder dormir em seu quarto, se quiser, pode ser em uma cama separada, poder acompanhá-lo em suas jornadas.

_ Estou preparando-o para ser o meu sucessor. – Diz Lúcifer sem deixar escapar a satisfação em sua voz.

_ E quem disse que irei atrapalhá-lo, pelo contrário, irei fazer de tudo para ajudá-lo.

_ Me deixa ver. – Fala Lúcifer andando de um lado a outro com a mão no queixo, onde estão os seus amigos?

_ Eu não sei dizer, fugi para cá o mais rápido que pude. – É claro que eu tive que mentir aquela parte, afinal, não poderia deixá-los em perigo, mas uma coisa eu sabia, um pequeno plano estava se formando em minha cabeça.

_ Feito. – Diz ele estendendo a mão em minha direção, o aperto rapidamente e logo solto. – Caso você esteja me enganando, todas as pessoas que você ama serão destruídas em um estalar de dedos, ouviu bem?

_ Sim.

_ Lúcifer, eu mal conheço essa garota. – Se manifesta David, sua voz era tão gélida que me provocava calafrios, tão diferente de como era antes.

_ Irá conhecer a partir de agora, não é mesmo Joana. – Diz Lúcifer saindo imediatamente do quarto, e nos deixando sozinhos, como eu tinha sonhando há dias.

Espero alguns minutos, pelo caso de Lúcifer estar escutando, e vou a sua direção.

_ David, eu senti tanto a sua falta.

_ Não pense que porque Lúcifer deixou que você ficasse em minha companhia que irá poder conversar comigo ou algo do tipo, eu irei ser o novo rei, e nada e nem ninguém irá atrapalhar isso.

_ Eu só... – Mas não consigo terminar.

_ Agora eu preciso descansar. – Interrompe ele indo para a sua cama.

Dou um pesado suspiro, isso com certeza seria uma longa jornada.

Não deixo de reparar em seus enormes olhos cor de sangue, a prova de que as suas verdadeiras memórias tinham se perdido em algum lugar.

Um pensamento vem e minha mente, era a voz de Hiley “O amor Joana, nunca se esqueça disso”, era isso o que ele estava querendo dizer, que o amor cura as pessoas.

Eu teria que despertar o amor que ainda restava em David para tê-lo de volta, e era isso que eu iria fazer durante os momentos que passaríamos juntos, era a minha única chance.