Acordo de um sonho extremamente horrível, com David, é claro! E ouço um barulho vindo da porta do quarto. Como é que eu tinha apagado desse jeito? É claro que eu estava cansada, mas não com todo aquele sono, e nem tinha sido um sono bom, daqueles de descansar até a alma.
Olho para o meu lado e vejo um lindo anjo dormindo tranquilamente, levo minha mão ao seu rosto, e como prevista, sua pele era totalmente macia. Tiro a mão rapidamente, não, aquilo não estava acontecendo, eu amava David e nada iria mudar isso, nada.
Fecho os olhos tentando voltar a dormir novamente quando ouço um clique vindo da porta, abro discretamente meus olhos e vejo a velhinha que tinha nos atendido entrando em nosso quarto, o que ela estaria fazendo aqui? Finjo ainda estar dormindo e ouço ela se aproximando lentamente de nossa cama e então ela para.
A minha curiosidade acaba por vencida e abro os olhos, vejo a velha parada com uma faca a 1 centímetro de meu rosto, levo um susto e me levanto correndo da cama, sentindo algo queimar a minha pele, com certeza tinha sido a faca.
Olho para ela que vem em minha direção e dou um grito.
_ Ryan, levanta dessa cama. O que você quer? - Pergunto bem alto para a velha e com a intenção de que o Ryan acordasse.
_ Recebi ordens de te matar. Sua voz rouca e arrastada chicoteia em minha direção.
_ Você não pode me matar, eu prometo que quando eu consegui sair daqui irei fazer de tudo para poder ajudá-la, para que possa sair daqui também. Digo desesperada, e tentando achar algum caminho de chegar a direção ao Ryan e acordá-lo para que fossemos embora daquele lugar o mais rápido possível.
A velha vem para cima de mim, e como um reflexo a empurro fazendo com que ela caia no chão e corro em direção a cama, sacudindo Ryan para que acordasse.
_ Vamos Ryan, acorde, estamos correndo perigo, temos que achar o portal para ir ao mundo das almas. Ele começa a se mexer preguiçosamente e abre os seus olhos olhando para mim assustado. Levanta seu preguiçoso, você está dormindo assim porque essa velha colocou uma poção pra gente dormir e poder me matar.
_ O quê? Pergunta ele se levantando rapidamente. Você está bem? Que anjo da guarda eu sou, temos que sair daqui.
_ É isso o que eu estou tentando falar.
A velha se levanta vindo em nossa direção
_ Vocês não vão sair daqui, eu tenho ordens para isso!
_ Joana, vá, eu fico e tomo conta dela! O portal fica na lareira, é só você entrar!
_ Não Ryan, eu não posso te deixar aqui!
_ Joana, você sabe que eu não posso ir com você até lá, além do mais eu sou um anjo e tenho os meus truques. Agora vá! Diz ele apontando para a porta, e sem pestanejar pego as minhas coisas e vou em direção a saída.
_ Ryan, eu prometo que irei voltar! Dito isso, saio do quarto olhando em volta a procura da tal lareira.
Enquanto ando vejo várias pessoas andando pelo corredor, o pior é que aquelas pessoas pareciam mesmo humanas, algumas até trabalhavam ali.
Lembro-me que antes mesmo de entrar naquela cabana eu tinha visto uma chaminé que se localizava bem no fundo da casa. Então resolvo perguntar para uma das pessoas que trabalhavam ali. Uma moça estava passando ao meu lado então a paro, ela aparentava ser muito bonita, com os cabelos pretos e encaracolados que batiam até a cintura e com algumas mechas caindo sobre os seus olhos.
_ Ei, você poderia-me dizer onde fica a lareira? Ela levanta os olhos e seguro a minha exclamação de surpresa, metade do seu rosto era marcado por uma linha rosada, como se alguém a tivesse cortado.
_ Fica no porão. Sussurra ela.
_ Muito obrigada. Respondo. Os porões sempre se localizam no canto da casa e provavelmente não seria tão diferente nesse. Depois de alguns minutos andando pela casa eu encontro uma porta pequena localizada bem no canto mais obscuro do corredor. Abro-a e vejo uma escada que ia até o subsolo daquele porão, desço-a ignorando o cheiro de mofo que estava penetrado entre as paredes.
Ouço algo crepitando e vejo a lareira queimando vivamente. O Ryan estava falando mesmo sério quando disse que eu teria que entrar naquela lareira?
Aproximo-me da lareira sentindo a minha pele ficar um pouco mais quente, então eu pensei, se eu já estava no inferno, o que poderia ocorrer de pior, comparando aquela lareira ao que estava por vim, eu poderia considerar aquilo café pequeno.
Sem pensar duas vezes, fecho os olhos e me jogo na lareira, a minha pele começa a formigar, mas não era como se estivesse queimando. E então tudo ao meu redor desaparece se tornando um mero borrão e logo em seguida sumindo.
A imagem ao meu redor começa a ficar mais nítida e então a minha cabeça começar a queimar insuportavelmente, aquilo só poderia significar uma coisa.
Que eu estava no mundo das almas.