A pedra no meu sapato escrita por Johanna


Capítulo 31
O fim


Notas iniciais do capítulo

Bom gente, esse é o último, muito obrigada por tudo.
A todos meus leitores que me acompanharam, queria que pelo menos os fantasmas aparecessem agora. Deixem um comentário, pelo menos um pra dizer "Ei, eu sempre estive aqui".
ENFIM, MUITO OBRIGADA A MELLIE TAMBÉM, DIVA QUE ME DEIXOU UMA RECOMENDAÇÃO DEPOIS DE EU SER SUPER OFERECIDA!! AMO VOCES, LEIAM AS NOTAS FINAIS. BJS



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LEIAM AS NOTAS FINAIS E INICIAIS

Abri meus olhos. Minha barriga doía, o que não era de se surpreender de alguém que não come há um dia. Ou pelo menos, quase um dia.

Ontem a noite antes de dormir eu acidentalmente descobri que o amor da minha vida deixou uma carta junto com uma foto em baixo da minha cama, e, agora que eu estava conseguindo superar a perda — afinal já fazem quatro meses que ele se foi — encontro tudo isso e não consigo pensar em mais nada além dele.

Quando encontrei aquilo e li, reli diversas vezes. E então fiquei aqui até agora. Chorando. Até cair no sono. E acabei de acordar. É de dia. Quando estava amanhecendo eu peguei no sono.

Ouvi barulho da porta da frente se abrindo e logo fechando.

Ou era Julie, ou Henry, já que quando Peter morreu eles fizeram cópias das chaves daqui, pois temiam que eu tentasse alguma coisa, e ficavam o dia todo comigo. Ouvi passos subindo as escadas. Logo vi a sombra por de baixo da porta e ela se abriu.

— Oi. — A ruiva me cumprimentou.

Não respondi. Me sentei no chão, pois antes estava deitada. Eu estou com fome. Julie sentou do meu lado. Era comum que ou ela ou Henry chegassem aqui e eu estivesse jogada por algum canto.

— Sarah... Você está bem? Quer dizer... Você parecia estar maravilhosamente bem nos últimos meses... Aconteceu alguma coisa?

— Eu... — Recolhi a carta e a foto que estavam ao meu lado e estendi para ela. — Achei isso.

Ela me olhou, depois olhou o que eu segurava. Suspirou e pegou-as de minhas mãos. Enquanto ela lia, eu apenas continuei com o olhar focado no chão. Eu realmente não conseguiria mais fazer nada agora. Porque todos os dias eu lembraria.

— Sinto muito. — Julie sussurrou.

— Você sabe... — Deixei escapar uma lágrima. — Eu estava esquecendo... Eu estava seguindo em frente e agora...

Ela não falou nada. Apenas me abraçou enquanto eu me derramava.

Julie é mais que uma amiga para mim. Ela e o Henry tem sido meus irmãos. Eu jamais poderei agradecê-los.

Eu continuei abraçada na minha melhor amiga por um bom tempo. Quando finalmente parecia que as lágrimas não sairiam mais, eu me afastei.

— Vamos sair pra dar uma volta? — Ela sugeriu.

— Claro. — Me levantei. — Só tenho que tirar esse pijama.

Ela sorriu e sentou-se na minha cama.

Tirei a blusa e abri o guarda-roupa, movendo os olhos a procura de algo.

— Sarah?

— Oi? — Perguntei sem encará-la.

— Você não come a quanto tempo? — Ela perguntou, encarando minha barriga.

— Hm. — Encarei Julie e depois a mim mesma. — Desde ontem a noite. Bom... Você sabe o que a psicóloga disse... Que o meu enjoo faz parte da depressão. E ansiedade também, por isso tenho comido tanto.

Ela se aproximou e colocou a mão na minha barriga.

— Você diz que está com essa barriga por comer tanto? — A ruiva perguntou, encarando a barriga e depois a mim.

— Sim, ela disse que é norm....

Calei minha boca quando percebi o que minha amiga tentava me dizer.

— Está dura. Sua barriga, Sarah...

Minha boca se abriu e meus olhos se concentraram ali. Mas, a psicóloga havia dito que era normal que eu sentisse enjoos pela depressão...

Não. Isso não pode estar acontecendo. Suspirei lentamente e me encarei.

— Sarah... — Ela engoliu em seco. — Quando foi a última vez que você e o Peter fizeram... sexo?

— Quase cinco meses. — Engoli em seco.

Senti as lágrimas se preparando para descer.

— Vocês usaram camisinha? — Ela perguntou.

— … — Olhei para as lágrimas descendo do meu rosto no espelho. — Não...

— Geralmente, leva quatro meses pra aparecer... — Ela tentava me dizer.

— Não. — Suspirei. — Não. Não pode. Não pode ser. Julie, eu... Não. Eu não consigo acreditar... Não. Eu não estou carregando uma criança na minha barriga.

— Sarah... — Ela se levantou e me abraçou.

Eu continuei chorando... Quando eu achava que as coisas iriam se resolver... A vida se torna cada vez mais difícil pra mim. Eu não posso acreditar que isso... Isso tudo, não pode acontecer justamente comigo.

Esse pesadelo nunca vai ter fim.

(…)

— É uma menina. — O médico trouxe alguns papéis em sua mão.

Eu não pude sorrir. Peguei o que ele trazia e saí logo de dentro daquela sala. Não é que eu não esteja feliz por ter um filho... Mas... Eu não consigo, não nessa situação.

Na rua estavam Henry e Julie me esperando. Saí pela porta transparente do consultório e fui de encontro deles, que estavam escorados no carro de Henry.

— E aí? — Julie sorriu.

— Uma menina.

— Legal. — Henry sorriu também.

— É, quase. — Sorri sem graça.

Os dois me encararam espantados.

— Desculpa. Mas vocês são meu tudo agora, não vou mentir. Eu não estou feliz com isso. — Desabafei.

— Eu entendo. — Julie disse.

Sorri fraco novamente e entramos dentro do veículo. Henry nos levou até a minha casa e chegando lá descemos.

Todos eles ficaram por aqui mesmo. Sentamos no sofá da sala.

— Preciso de um favor de vocês. — Disse.

— Pode falar, Sarah. — Henry falou e Julie logo sorriu.

— Eu quero o número do pai do Peter.

— Pra quê? — Julie parecia surpresa.

— Ele precisa saber que vai ser avô.

— Ah... Sim. — Ela sorriu.

— Eu tenho. — Henry estendeu o celular pra mim. — O Peter usou pra ligar para ele há muito tempo atrás e eu salvei. Aqui está.

Peguei o celular da mão do loiro e disquei aquele número no meu. Apertei no botão de ligar e larguei de volta o celular do Henry no sofá. Andei lentamente até a cozinha e saí pela porta dos fundos, indo até o pátio enquanto ainda chamava.

De repente ele atendeu.

“Alô?”

“Frank, sou eu, Sarah.”

“Olá.”

“Precisamos conversar sobre algo muito sério.”

“Merda.”

“Que foi?”

“Nada Sarah, nada. O que você quer?”

“É... Precisa ser pessoalmente. Quando você me ver vai entender.”

“Eu estou aqui na cidade, no apartamento do... Peter... Se você precisar falar comigo, venha outro dia. Agora eu não tenho tempo pra falar por telefone.”

“É urgente.”

“Eu estou ocupado.”

“Frank, por favor. Você precisa saber disso.”

“Ah...” Ele suspirou. “Tem a ver com o Peter?”

“Sim. Muito.”

“Eu não quero falar dele.”

“Você vai ter que.” Insisti. “Eu vou aí amanhã.”

“Você é uma menina insistente.”

“A que horas?”

“Sete. E seja breve Sarah.”

“Obrigada.”

Ele desligou e eu apenas suspirei. Ele realmente parece tentar o mesmo que eu: esquecer uma das coisas que mais amou na vida.

Mas eu quero que ele saiba e assuma o papel de avô. E por mais que doa, eu serei obrigada a continuar com essa criança inocente dentro de mim.

Crescer sem o pai é uma das coisas mais dolorosas que existem. Eu realmente não imaginava isso pra mim... Na verdade, absolutamente nada do que anda acontecendo comigo ultimamente jamais passou pela minha cabeça.

Ter filhos, é claro, sempre planejei ter filhos... Ter um namorado que fosse a primeira pessoa que eu mais amei. E ele morreu. Ter um filho com quem eu mais amei. E ele morreu. E agora eu teria uma criança em meio a depressão? E se acontecesse algo?

Não deixei de cogitar a possibilidade imediatamente de abortar. É horrível, mas nessa situação eu não deixaria de maneira alguma de me desesperar. Mas eu já estou grávida de cinco meses.

Como eu não notei? Como merdas tem uma criança crescendo dentro de mim há cinco meses e eu NUNCA percebi?

Me sentei na grama. Ouvi alguém se aproximando. Droga. Eu não queria conversar com ninguém agora. Eu não posso acreditar nisso... Droga. Droga, droga, droga!

— Tá se sentindo melhor? — Ouvi a voz masculina.

— Como eu vou me sentir melhor, Henry? — Olhei para cima e o encarei. — Não é você que está carregando um feto que tem um pai morto.

Me virei para frente de novo.

— Desculpa. Mas eu não sei como posso ajudar... Eu realmente queria...

— Me ajudar? — Ri. Me levantei. — Ajudar como? Ninguém pode me ajudar! Você pode trazer o Peter de volta?

O loiro me encarava com um olhar tristeza. Eu não podia me controlar.

— Achei que não. — Sorri.

Caminhei até dentro de casa e passei correndo pela Julie. Subi até o segundo andar e corri para o meu quarto.

Fechei meus olhos e suspirei. Eu quero que eles dois sumam daqui. É tudo que eu quero: ficar sozinha.

(…)

Estacionei meu carro que quase nunca uso em frente ao apartamento. Puxei o freio-de-mão e desci. Depois de fechar a porta, andei até o grande portão e apertei um dos botões no painel.

Ouvi o barulho de sinal enviado e logo alguém atendeu.

“Quem é?” Um homem atendeu.

“Sarah. O Pe... Frank está?” Quase me emaranhei nas palavras.

Ouvi uns resmungos do outro lado da linha.

Tirei meu celular do bolso da minha calça e chequei: eram sete horas e cinco minutos.

“Espere um minuto.”

“Não tenho muito tempo.” Respondi.

Aguardei por vários minutos e o portão se abriu. Entrei, e passei logo pela porta de entrada. O elevador descia. Em menos de dois minutos chegou no térreo e eu entrei. Um homem com um grande moletom de capuz na cabeça e óculos escuros cobrindo totalmente o rosto saiu da grande caixa de metal.

Passei por ele e entrei no elevador. Coloquei para ir ao tal andar e as portas se fecharam. Lembranças invadiram minha mente. Eu não conseguia parar de lembrar. Desse prédio. Desse elevador. Das coisas que aconteceram aqui dentro. E das coisas que aconteceram dentro da sala em que logo vou entrar.

Quando as portas se abriram eu respirei fundo e andei até a frente da porta. Eu tenho que bater. Fechei o punho e coloquei-o em frente ao olho mágico. Qual a dificuldade para bater numa porta? Se bem que... Eu entraria no lugar onde ele vivia. Eu poderia suportar?

Antes que eu batesse ela se abriu, o que me deixou surpresa.

— Entra. — O loiro velho expandiu a abertura da porta e eu pisei dentro daquele lugar.

Imediatamente eu senti seu cheiro. As lágrimas se acumularam mas eu as segurei.

— O que é isso? — O homem perguntou ao ver os papéis que eu segurava.

— É o que eu vim falar. — Respondi, me sentando no sofá.

— Vai discursar algo? — Ele perguntou irônico, sentando-se numa poltrona em minha frente.

Eu estava sentada ali. Onde eu beijei Peter pela primeira vez...

— Olhe por si mesmo. — Estendi os papéis para ele.

O homem me encarou e depois a minha mão. Logo pegou toda a papelada e olhou a primeira folha. Só coisas escritas, ele passou para a próxima. Assim foram com as cinco primeiras... Até chegar no ultrassom. As fotos ali. De mim. E da minha filha.

— É uma menina. — Comentei.

Ele riu. Sorriu, e me encarou.

— É sério? — Ele perguntou.

— Por que eu mentiria?

— Nossa... Isso é... — Temi o que ele diria depois. — Maravilhoso!

— Quê? — Me surpreendi.

— Eu poderei, assim... Ter uma lembrança do meu filho... — Ele desfez a expressão feliz.

— Vendo por esse lado, é realmente uma coisa boa. — Sorri.

— O que... Você não está feliz com isso? — Ele parecia surpreso.

— Eu queria ter alguém comigo. Mas eu já sei que vou ter que me virar sozinha. — Falei, me levantando.

— Se você precisar de mim, eu estarei aqui para qualquer coisa.

— Obrigada. — Caminhei até a porta. — Mas, sinceramente? Não era você quem eu queria.

Ele sorriu fraco e eu saí do apartamento. Eu já estava engolindo o choro. Por mais que estivesse tentando me conter e não prestar atenção nos detalhes, não conseguiria ficar ali mais tempo... Uma onda de lembranças invadia minha mente, o que já estava me perturbando, por isso saí de lá o mais rápido possível. E deixei as imagens do ultrassom com ele.

Cheguei no carro e dirigi até em casa. Já estava escuro. Quando saí, Henry e Julie não estavam, então provavelmente não estarão agora. Peguei as chaves que havia deixado no vaso de plantas ao lado da porta e a destranquei. Entrei dentro de casa e de volta tranquei a porta.

Acendi a luz da sala e me sentei no sofá. Encarei o teto por um tempo. E como eu tenho repetido a cada segundo ultimamente: Isso é demais pra mim.

Ajeitei a postura e ao olhar para a frente vi a foto que Peter deixara junto da carta. Em cima da lareira, ela estava escorada. Por que Julie a colocou ali? Encarei aquela foto... E lembrei daquele dia na casa da Julie. O dia em que eu pulei na água.

Nunca me esqueci daquele momento. Eu me atirei lá, como sempre fiz. E me sentei no fundo. Como sempre fiz. E encarei o meu redor. Vazio. Ninguém para me amar, ninguém ali comigo. Porque eu sempre fui sozinha. E naquele momento eu continuava. Sozinha. Como sempre.

Mas aí algo mudou: Eu vi descendo dois corpos. Estavam lá Peter e Julie. Como nunca fiz, fiquei ao redor de alguém. Pela primeira vez, eu tinha alguém comigo. E quando olhei para eles, pela primeira vez senti amar alguém. Pela primeira vez, tinha duas pessoas ao meu lado que eu realmente queria que estivessem lá, que realmente estavam lá comigo porque gostavam de mim.

E eu não consegui conter as lágrimas ao lembrar do sorriso dele naquele dia. Ao lembrar do beijo que ele me deu.

Como ele poderia ser tão perfeito? Lembrar dele é a melhor coisa que existe, já que não posso mais vê-lo, nem tocá-lo. Eu o amo. Droga, eu o amo mais do que qualquer coisa. Eu não posso viver sem ele.

Eu não tenho mais porque viver. É, eu tenho razão. Não há razão pra que eu continue aqui.

Corri até meu quarto enquanto a enxurrada de pensamentos tomava conta de mim. E se o céu existe? Eu posso encontrá-lo? Isso é baboseira. Mas, não há razão pra que eu continue aqui.

Entrei no cômodo e abri o guarda-roupa. Olhei para o lustre no teto, longe da cama. Perfeito. Retirei o cinto de quase dois metros que eu achei que nunca serviria pra nada dali de dentro e fechei a porta.

Peguei a cadeira da minha escrivaninha e a coloquei embaixo do lustre. Subi em cima e amarrei o cinto ali. Aproximei-o do meu pescoço, mas algo chamou minha atenção.

Olhei para o espelho ao meu lado. Eu me via de perfil. E minha barriga... Estava grande. Me encarei por dois minutos e soltei o cinto.

Há uma razão para eu viver.

Há uma vida que implora para que eu continue viva. Desci da cadeira e me deitei na cama.

Como eu cheguei tão perto de fazer uma coisa dessas? Eu jamais faria isso... Eu....

Então me lembrei da frase que o Peter me disse no primeiro dia em que o vi: “Ah... O que você fez comigo?

Soltei uma lágrima.

Senti um vibrar na minha coxa e percebi que o celular no meu bolso chamava. O retirei de lá e me surpreendi ao ver o número que eu ligara mais cedo: Frank.

Sem hesitar atendi.

“O que você quer?” Perguntei.

“Você está em casa?”

“Sim.”

“Venha até a rua, rápido.”

“Frank, o que...”

“Sarah, apenas venha até aqui. E traga sua carteira.”

“Por que diabos eu levari...”

“Venha.” Ele disse, desligando.

Velho imbecil. Por que eu levaria minha carteira? Mas, mesmo sem saber por que, levei.

Saí na rua e do outro lado dela havia um lindo carro. Bem de rico mesmo.

Ele abaixou o vidro e pediu que eu entrasse.

Isso está soando ruim.

Entrei no banco do carona e fechei a porta.

Ele levantou o vidro que havia aberto e me encarou.

— Algo sério vai acontecer. — Ele alertou.

— Você tem um tom sarcástico igual ao seu filho. — Falei, séria.

— Sarah. — Ele suspirou. — Eu comprei duas passagens para partirmos em uma hora até os Estados Unidos.

— Interessante. — Dei um riso. — E agora me diga porque eu iria.

— Seu pai. Ele foi condenado a morte.

Sorri.

— Ele foi preso por causa de você. Não acha que um homem como ele desejaria se vingar?

— O que você quer dizer? — Eu perguntei, confusa.

— Que não acho que ele vai deixar barato e provavelmente vai te caçar. — Ele engoliu em seco. — E eu não posso deixar nada acontecer com minha neta.

— Obrigada, mas — Abri a porta do carro. — Isso é loucura.

— Me escute, Sarah! — Ele gritou.

— Droga. — Bufei.

De repente ouvi um som de algo se aproximando com alta velocidade. Era um carro. Negro. Rapidamente chegou, e estacionou em frente a minha casa. Dois homens desceram.

— Entre. — Frank chamou.

Entrei dentro do carro sem nenhuma palavra e observei.

Os homens se dirigiram até os fundos.

Não demorou muito e eles voltaram, entrando para dentro do veículo que acabara de chegar e dirigindo para sabe-se lá aonde.

— Eles não podem entrar na minha....

Eu ia terminar de falar quando tudo explodiu. Vi minha casa voar pelos ares... Minhas lembranças... Minha casa... Meu carro...

E agora eu... Eu não tenho casa, tenho uma filha para criar e nem um pai para ela. Minha vida fica cada vez melhor.

— Trouxe a carteira? — Ele me encarou, sem nenhum espanto.

— S-sim. — Respondi ainda surpresa.

O homem ao meu lado girou a chave e deu partida. Eu não consigo entender a maneira que ele age tão naturalmente. Como se eu não tivesse acabado de ver minha casa voar pelos ares.

Me inclinei até encostar a cabeça em cima do painel do carro. Fechei meus olhos. Isso só pode ser um pesadelo.

Pensando bem nisso agora, o que eu vou fazer, quando minha filha nascer? Quando ela ver os amigos, colegas e todas as outras crianças ao redor dela com seus pais, mães, vivendo uma família feliz e eu não vou poder dar isso a ela... Por que comigo? Podia ter sido com qualquer pessoa. Qualquer pessoa com um bom psicológico para enfrentar isso. Eu não tenho a saúde mental necessária para passar por isso. O que eu acabei de fazer? Antes de minha casa explodir eu quase tirei a minha própria vida... Eu...

Meu celular começou a vibrar novamente. Reafirmei minha postura e enxerguei a foto de minha melhor amiga na tela. Eu não sabia o que fazer... Peguei o celular e quando estava prestes a deslizar o dedo na tela e contar a ela tudo o que aconteceu...

— Você não pode contar a ninguém. — Frank alertou.

— O quê?

— Sarah, é uma situação delicada. Você não pode confiar em ninguém.

— Mas, eu não posso simplesmente sair assim e....

— Você está morta agora.

Meus olhos se arregalaram. Eu... Quer dizer que então eu....

— Nunca mais poderei voltar para cá? — Conti as lágrimas.

— Eu sei que é difícil. Mas, sim. Você vai ter que esquecê-los.

— Eu não posso....

— É para o bem deles.

Me calei. Ele tinha razão.

— Além do mais, não vai levar tempo pra ligarem tudo ao seu pai. Assim ele morre mais rápido.

— É... — Engoli em seco. — Pelo menos uma coisa boa acontece na minha vida.

— Tudo vai melhorar. — Ele sorriu.

O encarei incrédula e me calei. Não posso discutir com a única pessoa que pode me ajudar a dar um futuro para essa criança na minha barriga agora.

Em alguns minutos de silêncio, chegamos ao aeroporto. Lá, Frank deu o carro a um chofer e me entregou uma identidade e passaporte. E eram... Meus documentos... Como ele?

Bom, já não sei mais de nada a essa altura. Subimos pelo elevador até o terceiro andar, andar de embarque e descida. Fomos até a recepção e o homem que me acompanhava fez em meia hora toda a apresentação de documentos e pegou as passagens. Fomos até uma sala com várias cadeiras de espera, onde haviam várias pessoas sentadas. Encontramos uma fileira vazia e nos sentamos.

— Eu tenho que falar que... — Frank começou a frase.

— Que? — Perguntei.

— Preste a atenção. — Ele suspirou. — Eu gostaria muito... De dizer que, o Peter forjou a própria morte.

Meu coração começou a acelerar. Como assim?

— D-Do que você está falando? — Sorri sem graça.

— Gostaria de dizer que o Peter forjou a própria morte para se livrar de todas as ameaças. Para que ele pudesse fugir de tudo isso, de alguma maneira. — Ele me encarou, ainda sério. — Que ele está vivo, e que vocês vão viver felizes para sempre.

Sorri.

— Você quer dizer que...

— Eu gostaria de dizer tudo isso. Mas infelizmente eu não posso. Porque, como você sabe, ele está mor...

— Tudo bem, Frank. — Sorri. — Eu entendi.

Mas meu sorriso não se foi. Isso realmente faz sentido. Peter realmente pode estar vivo e...

Pela primeira vez em meses, me sinto bem. Ele não diria isso do nada.

Ele sorriu de volta e me entregou minha passagem. Uma voz saiu pelas caixas de som espalhadas pelo salão, dizendo “Vôo 178 sai em cinco minutos, dirigir-se ao portão 5”.

Estava na minha frente, então só me levantei. Estava preparada para ir.

— Vou pegar um refrigerante. Vai indo. — Ele falou, saindo do meu campo de visão.

Assenti e fui até a mulher na porta. Entreguei minha passagem, ela checou, pediu o passaporte e a entreguei.

— Você é que vai viajar com o senhor Johnson? — Ela perguntou.

— Sim.

— Boa viagem. — Ela sorriu.

Agradeci e andei pelo longo corredor até dentro do avião. Localizei o número da minha poltrona, que para minha surpresa ficava na primeira classe. Sentei-me na minha poltrona, ficava do lado da janela.

Passaram-se cerca de quinze minutos e nada do Frank. Até que chegou um homem alto com capuz e óculos de sol escuros, que sentou do meu lado.

— Com licença. — O chamei. — Já tem gente aqui.

Ele não respondeu. Estava com o corpo inclinado para o lado do corredor e eu não via sua face. O homem fez um “certinho” com a mão.

— Acho melhor você sair. — Falei.

Ele deu um risinho e nisso o capuz foi um pouco para atrás. Vi os cabelos loiros dele e não pude conter um sorriso.

Me inclinei para trás deitando todo o corpo na poltrona macia.

— Você demorou hein. — Comentei.

Ele me encarou e tirou o capuz totalmente. Tirou também os óculos, revelando seus olhos azuis. Sorri e ele sorriu também. Coloquei minhas mãos em seu rosto e o puxei para perto de mim. Colei nossos lábios no que foi o melhor beijo da minha vida. Quando nos afastamos pelo ar, ele sorria. Então, lembrei que o Johnson a qual a moça se referiu não era o Frank.

— Enfim, mal posso esperar pra que a gente viva em família. — O loiro disse, sorrindo.

E pela primeira vez em cinco meses, eu pude dizer o que desejei o tempo todo:

Eu conheço aquela voz”.

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Notas finais do capítulo

Bom, aqui está a Novos Horizontes: http://fanfiction.com.br/historia/514371/Novos_Horizontes/
Minha nova web, passado ou futuro da Sarah, estou decidindo. Não vai envolver esses personagens dessa fic aqui, mas vão aparecer de vez em quando.
AH, LAURENHA, PARABÉNS, VOCÊ ADVINHOU O FIM DA FIC. HAHAHHA.
E como eu disse antes, aceito recomendações, porque significa que a fic realmente agradou alguém. Não cai pedaço recomendar, nem que seja uma frase dizendo "Gostei. Leiam".