(Pov Gerard)

O tempo passava de um modo extremamente perceptível e o tédio já rondava o ambiente há algumas horas. As paredes amareladas com algumas manchas circulares de umidade já estavam me enjoando e o cheiro de livros velhos penetrava as minhas narinas de modo intenso e perturbador. Fiquei imaginando o que levava uma pessoa a trabalhar em um ambiente como esse. De todos os fatores que não promoviam o meu conforto, nenhum deles era mais irritante do que o barulho das páginas amareladas sendo reviradas uma atrás da outra. Já não aguentava mais fingir que estava lendo para que o baixinho não me irritasse. Suspirei, antes de fechar o livro em um movimento rápido.

- Já chega. – Notei o olhar incrédulo e penetrante que ele me lançava, como se quisesse que eu lhe fizesse alguma coisa, algo estava escondido atrás de seus grossos fios de cabelo negro.

- Você está certo. Já chega. – Fechou o objeto que estava em sua frente e começou a empilhá-lo com os seus semelhantes.

- Não vai me contraria? Dizer que não faço nada ou algo do tipo? – Apoiando meus pés, que estavam cobertos pro um coturno preto, sorri sarcasticamente.

- Não. Não desta vez. – Ele sumiu do meu campo de visão por alguns minutos – Mas sabe de uma coisa, Gerard? – Ele se aproximava rápido demais, ousado de mais. Apoiou suas mãos na mesa para que ficasse mais perto de mim. - Você realmente não faz nada.

- Cale a boca – Joguei meu corpo para trás levantando-me daquela cadeira e sumindo por entre as estantes de livros. Ele veio atrás de mim. Senti uma fonte de irritação começar a surgir, sabia que meus olhos denunciariam meu sentimento, porém ele não apresentava nenhum sinal de receio. - Algumas pessoas não sabem quando não são bem vindas, não é? – Respondi ríspido.

- Concordo com você. – Virei-me lentamente para encará-lo.

- Foi uma indireta.

- Foi uma direta na verdade. Mas estou acostumado com isso. – Apesar de não conseguir decifrar os olhos amendoados agora, sentia que o que viria a seguir seria bem pior.

- Onde você quer chegar?

- Sabe, Gerard, pelo pouco tempo que passei com você, sozinho. Devo dizer que estou a ponto de descobrir muito mais do que seus amigos descobriram em anos de convivência.

- Você é louco ou o que? – Minhas palavras saíram bruscas, minhas mãos se fecharam em um punho, exatamente como eu queria.

- Digamos que sou um pouco mais ousado. O que se esconde por trás desses olhos verdes? Medo? Insegurança, talvez? – Frank jogava sujo, sujo demais para alguém do seu tamanho – Não sei quem você é, mas sei que não é esse cara que se faz de durão, Gerard...

Lancei-me em sua direção colocando-o contra a parede fazendo um contato visual extremamente penetrante. Sentia a raiva percorrer a minha veia, ninguém havia ido tão longe. Nem mesmo Michael havia sido tão ousado comigo. Desde que havia colocado meus olhos naquele garoto, desde que havíamos trocado palavras pela primeira vez, eu senti sua ousadia para comigo. Ninguém havia ousado tocar no caderno, exceto ele. Era extremamente fatal a raiva que eu sentia naquele momento. Mas mesmo estando contra a parede, sem qualquer chance de reação, ele ainda sustentava meu olhar.

Eu sabia que ele não iria desistir, muito menos reagir. Analisei a pequena criatura que estava sobre meu poder agora e ainda encarando seus olhos amendoados, que agora possuíam um brilho diferente, senti a raiva se modificando aos poucos. Observei as bochechas rosadas, o nariz moldado, os lábios delicados e um pouco carnudos... E seus cabelos negros que caiam sobre seu olho direito. Perdi-me no brilho de seu olhar, que agora já não me despertava mais raiva, mas sim desejo.

Aproximei-me lentamente de seu rosto, sentindo a sua respiração quente vacilar com a minha chegada, fechando os olhos. Não tinha certeza do que estava para acontecer e nesse momento me identifiquei com ele, pois tinha certeza que ele também deveria estar se sentindo confuso com a minha reação.

Aos poucos senti nossos lábios se encontrarem até que minha língua invadisse sua boca. O desejo era instantâneo e insaciável. Quanto mais nossas línguas roçavam-se uma contra a outra, de modo selvagem, explorando nossas bocas, mais sentia vontade de tê-lo apenas para mim. Sua respiração tocava minha pele de modo sedutor, e por um momento pouco me importava se estávamos em publico ou sozinhos, eu só conseguia enxergar o baixinho.

Após alguns minutos, nós afastamos. Seu olhar era perplexo, assim como o meu.

– Nunca mais ouse fazer isso comigo!

- Fazer o que? – Disse sem ar.

- Seduzir-me – Respondi, afastando-me de seu corpo quente.