Saga Entre Anjos e Demônios escrita por Aless Stemb


Capítulo 4
Capitulo III - Verdades a posta.


Notas iniciais do capítulo

Bom Dia pessoas lindas, tem capitulo novinho saindo pra vcs, que tal ter o ponto de vista do Dominc da estória????



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Capitulo III - Verdades a posta.

"Estou cansado de viver como um cego

me sinto doente por dentro

sem sinal de sentimentos

E é assim que você me lembra

E é assim que você me lembra do que eu realmente sou."

How you remind me - Nickelback.

–Ora, ora, ora... Então o senhor resolveu dar o ar da graça? –O homem cruzou os braços junto ao corpo estreitando os olhos enquanto observava Dominic Weiss passa por entre os alunos.

–O senhor sabe que eu não resisto a esse lugar! –Dominic abriu seu sorriso de escárnio estendeu os braços, respirando fundo e olhando a paisagem em sua volta. Davis, o diretor o encarou com reprovação.

–Senhor Weiss, está muitíssimo encrencado meu caro rapaz!

Dominic sorriu abaixando sua cabeça, fazendo seus cabelos caírem sobre seus ombros e então enfiou as mãos nos bolsos de seu jeans, e quando tornou a fitar o diretor, o escárnio estava ali presente, ele caminhou tranquilamente em direção ao homem, detendo-se em frente a ele.

–E quando é que eu não estou? –Ele maneou a cabeça estreitando os olhos como se tentasse se lembrar de algo. –Ah, é mesmo, nunca!

–O senhor poderia deixar as piadas de lado e tratar de se explicar?

–Claro, claro... Sabe como minha querida mãezinha é solitária, eu não resisti em passar por lá e ficar um pouco com ela.

–Ótima explicação... Se eu não soubesse que o senhor é órfão! –A voz grave do diretor não intimidou o garoto, que manteve o sorriso debochado nos lábios. –Sabe o que eu deveria fazer senhor Weiss, eu deveria expulsá-lo da minha escola.

–E por que é mesmo que o senhor não me expulsa? –Dominic encurvou-se levemente para frente, estreitando os olhos a espera de uma explicação.

–Maldita hora que eu fui aceitar o trato da rainha! –Murmurou o homem. -Está de castigo senhor Dominic, terá de fazer algumas coisas para mim, a primeira é limpar as vidraças da biblioteca, a segunda é tratar de limpar as folhas secas da escola... Por que tinha de ser você a salvar a filha da condessa?

–Sorte senhor Davis, muitíssima sorte! –Murmurou Dominic irritando ainda mais ao homem.

–Olá eu vim para uma visita!

Murmurou um garoto, Dominic se virou para observá-lo, era vários centímetros mais baixo e parecia bem magro também e alem do mais usava preto o que lhe deixava com a aparência ainda mais estranha.

–Quem meu jovem! –Murmurou o diretor depois de observá-lo por um longo tempo.

–Alessa Stembell! –Murmurou o garoto olhando para Dominic que tornava a encará-lo.

–Ah sim, a garota nova... Ela está no quarto, vou chamá-la, pode aguardar na sala de visitas, e você Dominic Weiss, trate de fazer as tarefas que eu lhe dei, as quero prontas até amanha!

O diretor ajeitou o paletó unindo as sobrancelhas e deu as costas, Dominic gargalhou fazendo uma reverencia e então se virou para o garoto.

–Você é o namorado da garota Stembell?

–Quem? Less? –Ele sorriu. –Claro que não! Somos somente amigos. Sou Gavin. –Ele estendeu a mão direita e Dominic a olhou por um estante, antes de sair com as mãos nos bolsos sorrindo.

De que aquilo o interessava? Em nada. E era justamente isso que Dominic se interrogava. Passou pelos corredores quase vazios e se encaminhou para a ala dos garotos e assim que entrou em seu quarto fechou a porta.

Caminhou lentamente até a janela observando a movimentação de carros do lado de fora, sexta era o melhor dia para ele, era o dia que ele se via isolado naquele lugar, longe da convivência de humanos. Estavam todos de folga, exceto os guardas, os alunos da detenção, e o diretor. Mas eram tão poucos que Dominic não necessitava ter de encontrá-los toda hora.

Fechou os olhos por um instante, sentindo um leve raio de Sol tocar-lhe o rosto e então sentiu aquela forte vibração, aquela coisa estranha e chata que acontecia desde que a garota Stembell chegara ali, ele podia senti-la, sempre que fechava os olhos era como se uma luz continuasse a brilhar, se tornava ainda mais forte quando ela estava por perto.

E então vinha todo o resto, a ardência insuportável em suas costas, bem sobre o traço invisível que suprimia suas asas, as escondendo dos olhos humanos. A ardência aumentava à medida que a luz se tornava brilhante, ela deveria estar perto. Dominic abriu os olhos e olhou sobre a janela de vidro, vendo-a descer os degraus da entrada e se atirar nos braços do garoto magricelo.

Dominic cerrou os punhos com força, ela o lembrava do que ele mais detestava, ela o fazia lembrar o que ele era, um anjo caído, um renegado, um traidor. Suas mãos agarraram o cortinado puxando-o para cobrir a janela. Deu alguns passos para trás e com uma única mão agarrou a camisa, puxando-a e a retirando.

Sentiu uma fincada rasgar-lhe a pele e então elas surgiram, aos poucos elas passaram pela a pele tombando majestosamente sobre o ar, as pontas arrastando-se no chão, e ele as ergueu, tal como se faz quando vai voar, o sombreado negro cobriu-lhe, lá estavam elas, a cor da escuridão.

Dominic arfou. Durante décadas vivera escondido sobre as sombras, buscando maneiras de ficar sozinho, longe dos humanos, longe dos outros anjos, mas era impossível, não tinha um dia se quer que ele conseguisse ficar sozinho, ter um tempo somente para si, de uma maneira ou outra eles o achavam e quando isso acontecia Lúcifer tentava de todas as maneiras fazer com que Dominic juntasse a ele.

Mas ele estava decidido a manter o seu caminho, e em um belo dia ensolarado, enquanto Dominic passeava pelas ruas de Londres, pensando em uma maneira de se ver livre daquele inferno, algo aconteceu. Em um momento Dominic olhava o belo casarão, no outro ele via uma garotinha ser raptada.

Tudo aconteceu depressa e de uma maneira inesperada, Dominic reconheceu o descontrole do homem enquanto ele puxava a garotinha consigo, a pequena chorava desesperada e Dominic resolveu segui-los por mera curiosidade. Então o homem estava prestes a matá-la quando algo o fez mudar de idéia, ele simplesmente a abandonou em um beco não movimentado.

E novamente por curiosidade Dominic se aproximou, vendo-a, olhando-a nos olhos azuis e hipnotizantes. Anjos não possuem sentimentos como magoa tristeza e amor. Aquilo era para os humanos, por isso Deus os criara de uma maneira diferente.

Ela tinha os olhos mais azuis que ele havia visto em toda sua vida, era algo brilhante, era como ver o oceano em um dia ensolarado e ela parou de chorar assim que o vira, Dominic ajoelhou-se perante a menina observando-a atentamente, vendo as lagrimas transparentes rolarem sobre a pele alva e então ela se levantou e o abraçou.

Seus pequenos braços envolveram o pescoço de Dominic e ela se jogou sobre ele em um abraço, jamais ele soubera o que aconteceu depois disso, mas então a garotinha estava envolvida em seus braços e ele a levava de volta para o casarão que ele vira mais cedo.

A condessa juntamente com o restante da família real ficou ternamente agradecida pela boa ação de Dominic e prometeram que o recompensariam, foi então que ele teve sua idéia, havia visto um folheto sobre o Saint Edgar´s School, ficava próximo a cidade de Stamford em Lincolshire, e ele pediu que dessem uma bolsa de estudos a ele.

E assim se deu, ele fora aceito no internato devido à carta da rainha, usara um pouco de seu poder para isolar aquele espaço, anjos de nenhuma espécie poderiam adentrar no recinto, não enquanto Dominic estivesse ali.

Então apareceu a garota Stembell e com ela as lembranças de sua origem e o desconforto, definitivamente ela era o tipo de humana que ele odiava, o tipo que ele esperava e fazia de tudo para se manter longe.

Fora por isso que Dominic causara a tempestade de segunda, ele pretendia fugir e fora isso que ele fez assim que todos voltaram para seus quartos, normalmente não usava seus poderes, mas desta vez fora inevitável, ele precisava ficar longe.

Dominic até que tentou, até que Lúcifer fora ao seu encontro e deteve-o por muitos dias, mostrando-o como ele poderia governar o mundo se estivesse ao seu lado.

–Os humanos são importantes para Deus e Miguel, sem eles, essas divindades não passam de mito ou lenda, agindo da maneira correta Dom, poderemos roubar-lhes toda honra e louvor, o mundo inteiro nos adorará e teremos pleno controle!

Dissera Lúcifer, mas Dominic negou e fugiu. A única maneira de se afastar de tudo aquilo fora voltar para o Saint Edgar´s School, e foi justamente o que ele fez.

Dominic deixou seu corpo cair sobre o colchão macio, escondeu o rosto entre suas mãos enquanto tentava diminuir a ardência em suas costas, se concentrasse para prestar a atenção, podia ouvir a conversa da garota Stembell e de seu amigo, eles falavam sobre uma garota internada no hospital e como Alessa odiava aquele lugar.

Mas Dominic não queria ouvi-la, gostaria que ela fosse para casa assim como qualquer outro aluno da Saint Edgar´s School. Mas ao contrario dos outros, ela poderia ir e jamais voltar.

Houve duas batidas na porta e Dominic tratou de esconder as asas rapidamente, então se encaminhou até lá a abrindo e vendo a figura do diretor em sua frente.

–O que está fazendo aqui? Eu não lhe dei tarefas a serem realizadas?

–Eu já estava a caminhou...

–Estou vendo! –O homem gesticulou e apontou para um Dominic sem camisa.

–Só estava me trocando... –Dominic deixou a porta aberta enquanto foi até uma prateleira apanhando uma camisa cinza e vestiu-a, então seguiu o diretor por entre os corredores desertos.

...

–Aqui não é tão ruim Less... Até que a paisagem é legal! –Murmurou Gavin, aproximando de Alessa para empurrá-la levemente para o lado.

–Claro, considerando que só tem verde em volta!

–Quer dizer que você sente falta da civilização, sabe carros correndo, cheiro de fumaça e os batuques em cada esquina, dos gritos da sua mãe...

–Não é isso! –Alessa lembrou-se então da cena estranha que tivera com Helena naquela manha e do pesadelo que tivera no primeiro dia. –Aqui... Bem acontecem coisas estranhas aqui!

–Ah claro, com certeza! Pessoas loucas porque tiraram um B... –Alessa encarou-o seria.

–È serio Gavin... -Ele se deteve virando-se de frente para Alessa, observando o jardim em sua volta e depois a encarou.

–Desculpe... Eu percebi que você não está legal, o que está acontecendo? –Alessa encolheu-se, ela queria contar sobre o que houve, afinal eram amigos a tanto tempo, mas não podia, não se sentia a vontade com toda aquela situação.

–Não é nada, acho que estou ficando meio maluca aqui! –Ela forçou um sorriso e Gavin a puxou para si abraçando-a.

–Está tudo bem, em mais dois anos e você se forma, não tem motivos para ficar nessa paranóia. Mas se algo estiver acontecendo é só você me dizer, eu estarei sempre ao seu lado! –Ele afagou os ombros de Alessa assim que ela se afastou. –Acho que está na minha hora, o diretor vem ai parecendo um general.

Alessa se despediu de Gavin e ficou ali parada vendo-o adentrar no carro e partir pelo caminho que levava a rodovia. A sensação de tédio a invadiu novamente e ela decidiu voltar para seu quarto onde passara o dia todo alegando não se sentir bem.

Sentou-se em sua escrivaninha, adiantando alguns exercícios de calculo, perdida me números que nunca foram seu forte, uma musica ecoava pelo ambiente e ela cantarolou algumas estrofes, agradecida por Gavin ter lhe dado esse presente.

Um raio de Sol banhava parte de seu quarto aquecendo o lugar, o internato devia estar vazio em uma hora como aquela, Alessa estava quase se arrependendo de não ter ido para casa, ao menos lá ela poderia sair e esquecer a semana infernal que tivera.

Levantou-se e caminhou até o pequeno aparelho de som, o mais novo acessório de seu quarto, graças a Gavin, e aumentou o volume, rodopiou pelo quarto, cantando e em um momento curto seus olhos pousaram na janela e ela se deparou com Dominic.

Ele estava recostado em um enorme rastelo, logo abaixo do imenso carvalho com um sorriso brincalhão em seus lábios, encarando-a, como se estivesse ali já há um tempo, divertindo-se em vê-la cantar e rodopiar pelo quarto.

Alessa sentiu as bochechas corar, seu coração disparou ao ver que foi pega em cena tão ridícula. Marchou, nervosa, pelo quarto até a janela e puxou o cortinado tapando a janela.

Suas bochechas ainda adiam e seu coração disparava com a surpresa. Seus olhos se detiveram no exemplar de Orgulho e Preconceito, ainda intacto sobre o criado mudo. Sem pensar o apanhou, desligando o som e caminhou para fora.

...

Dominic não esperava por ela ali, mas quando a viu atravessar o gramado, ele entendeu que Alessa é do tipo de garota imprevisível, daquelas que se pode esperar sempre o contrário do comum.

Ele sorriu olhando-a sobre os ombros, e continuou a juntar as folhas do carvalho. Alessa estancou a alguns passos de distancia e pondo as mãos na cintura, bateu o pé feito uma criança. Nada típico da garota Stembell, pensou consigo, então se lembrou, espere sempre o contrário e se surpreenda.

–Sabia que é falta de educação ficar espiando? –Ele parou o que estava fazendo e a encarou com um sorriso zombeteiro nos lábios.

–Não se preocupe, eu só estava me divertindo com sua voz desafinada!

Alessa trincou os dentes, juntando os braços ao corpo corou as bochechas e ao contrario do que ela imaginava Dominic registrara tudo, cada movimento da garota, detalhadamente.

Deu-lhe as costas e voltou ao seu trabalho, tentando ignorar a dormência em suas costas. Uma leve brisa fria soprou naquela tarde morna e Dominic viu Alessa encolher. O que ela ainda está fazendo aqui? Questionou-se.

–Já terminou a leitura do livro? –Alessa deu alguns passos e se recostou em um galho baixo.

–Mal comecei! –Ela agitou o livro em suas mãos, desconcertada com o fato de Dominic estar conversando com ela. –A senhora Pestle nos disse para fazer um relatório sobre os primeiros capítulos.

–Quer dizer que você presta atenção as aulas quando não estou por perto? –Alessa pôs-se de pé em sinal de indignação e raiva.

–Já vi que é impossível dialogar com você! –Ela lhe deu as costas se afastando.

Mal havia dado dois ou três passos quando ele a deteve pondo uma mão sobre seu ombro direito, Alessa olhou para os dedos de Dominic surpresa e ele logo recuou franzindo as sobrancelhas.

–Desculpe! –Ele deu um sorriso amarelado quando ela se virou para encará-lo. –Sei que sou meio difícil de se lidar. –Ela permaneceu imóvel analisando-o. –Então a senhora Pestle disse que os relatórios serão em duplas?

Alessa assentiu ainda imóvel e muda.

–Que tal começarmos hoje mesmo? –Continuou ele. –Te vejo em duas horas na biblioteca? Quer dizer, se você não for para sua casa esse fim de semana.

–Não, tudo bem, na biblioteca em duas horas!

–Hei senhor Weiss! –Disse o diretor indo de encontro á eles. –Eu disse para limpar e não conversar...

Dominic sorriu e levou a mão sobre a testa, fingindo uma saudação, tal como fazem os soldados, o diretor uniu ainda mais as sobrancelhas e Alessa se segurou para não soltar uma gargalhada bem ali.

–Senhorita Stembell, acho que precisamos ter uma conversa... Sobre suas aulas de hoje.

Alessa abaixou os olhos e a descrença tomou conta dela, isso tudo por se lembrar do episodio estranho que tivera com Helena.

–Se importa de me acompanhar até minha sala? –Alessa deu um passo a frente e o diretor lançou uma ultima olhada para Dominic antes de continuar andando.

Alessa adentrou, juntamente com o diretor, na sala bem decorada e se sentou na cadeira, sabia que levaria uma bronca, onde estava com a cabeça em pensar que poderia matar aulas sem nenhuma conseqüência?

Não estavam mais na Phoenix Hing School, ali era bem diferente do seu antigo colégio, as coisas que aconteciam, as aulas, professores, alunos e punições eram reais, ao contrario do que ela estava acostumada.

–Você faltou as suas aulas hoje. Quer me contar o que aconteceu? –Ele cruzou as mãos de maneira formal sobre a mesa e a encarou.

Alessa olhou em sua volta, e agora? O que diria? Afundou-se um pouco mais na cadeira e esfregou as mãos fortemente sobre seu jeans, estava nervosa, estava suando e ela nem sabia por qual motivo, e o diretor ainda estava ali, fuzilando-a com os olhos a espera de uma resposta.

–Senhorita Stembell, sei que as coisas estão difíceis para você... Essa troca de escola, a expulsão o acidente, sei que todas essas coisas só complicam ainda mais sua adaptação.

–Não... Não é isso! –Murmurou ela. –È que eu não me senti muito bem depois da aula da senhora Flowers e precisei retornar para meu quarto...

–Eu soube disso... Mas, é mesmo isso que aconteceu? –Ele estreitou levemente os olhos e Alessa se afundou ainda mais na cadeira, alguns minutos se passaram em extremo silencio até ela assentir.

–Desculpe, eu devia ter voltado as aulas, prometo que isso não irá mais acontecer.

–Eu sei que isso não vai acontecer. E para ter certeza eu quero te apresentar uma pessoa.

A porta se abriu e Alessa se virou para ver uma mulher alta e branca de cabelos longos e ondulados, adentrar na sala. Ela estancou ao lado de Alessa e abriu um cordial sorriso.

–Esta é a doutora Marion, ela é a psicóloga do nosso colégio e gostaria muito que você pudesse conversar um pouco com ela...

–Mas eu não preciso disso! –Alessa tinha os olhos arregalados e as mãos grudadas nos braços da poltrona.

–Acalme-se está bem Alessa... –Murmurou a mulher pondo uma mão sobre o ombro da garota. –Estou aqui apenas para ajudá-la a se adaptar com o internato.

–Eu não preciso da sua ajuda! –Alessa estava de pé e encarava a mulher com as sobrancelhas unidas.

–Alessa, eu só quero ser sua amiga e conversar um pouco com você...

–Doutora perdoe-me, mas acho que a senhorita Stembell não compreendeu, esse é um método nosso e a senhorita precisa passar por ele. –Disse o diretor, Alessa bufou derrotada e então voltou a se sentar na poltrona sem nenhum humor. –Vou deixá-las mais a vontade.

O diretor saiu e Alessa cruzou os braços junto ao corpo franzindo a sobrancelhas, a mulher deu a volta na mesa de madeira e se posicionou onde outrora estava o diretor. Ela se encostou no estofado macio e observou a garota emburrada em sua frente.

–Sei o quanto tudo isso é difícil... –Ela se inclinou levemente para frente e continuou a encarar Alessa. –Toda essa coisa de mudar de escola e deixar os amigos para trás...

–Eu não me importo! –Alessa empinou o nariz.

–Claro que não se importa... Eu sei da sua ficha, sei quantas escolas você já esteve e sei da encrenca que você se meteu dessa vez! –A mulher observou a postura de Alessa se transformar, ela se endireitou na cadeira e franziu o cenho encarando a psicóloga.

–Você não sabe de nada! –Resmungou entre dentes.

–Acalme-se Alessa! Eu não estou aqui para julgá-la, estou aqui para entender o que aconteceu... Sei que não foi à culpada, sei que você deve estar confusa... Só quero ser uma pessoa com que você possa contar.

Alessa suspirou desviando seus olhos dos da medica, seu coração estava acelerado e lagrimas ardiam em seus olhos, a cena do acidente envolvendo Ashley atormentava-lhe a mente. Eu não sou culpada, eu não fiz nada. Gritava sua mente.

–Tudo aconteceu tão depressa... –Alessa abaixou a cabeça e cerrou os olhos com força segurando as lagrimas, suas mãos subiam e desciam sobre a calça jeans no formato de seu joelho, ela estava totalmente insegura.

–O que aconteceu naquela noite Alessa? –A doutora se curvou novamente sobre a mesa estreitando os olhos em direção a garota.

–Eu... Eu não quero falar sobre isso! –Alessa abriu os olhos encarando-a. Empurrou toda a sua insegurança e as imagens estranhas daquela noite para dentro de si e trancafiou-as lá no fundo.

–Tudo bem... Eu entendo. Mas quando quiser falar com alguém, contar o que houve, saiba que estou aqui... E vou ficar ao seu lado sempre que precisar. –A doutora se virou e apanhou uma pequena agenda de capa de veludo negra e a pôs em frente a garota. –Sei o quão é difícil e doloroso falar as coisas, mas é preciso colocar toda a nossa angustia para fora Alessa, guardar isso só nos faz mal. Quero que fique com essa agenda, e escreva nela as coisas que você não pode contar a ninguém, ela será uma espécie de deposito para pensamentos ruins e segredos secretos.

Alessa fitou a agenda em sua frente e revirou os olhos. Achava que estava grande demais para ter um diário. Ela cruzou os braços e desviou seus olhos da agenda, mostrando-se disposta a negar o presente.

–Vamos, ninguém mais precisa saber disso, somente eu e você.

Alessa tornou a fitar a agenda, a cor não era tão desagradável, assim como a idéia. Mesmo assim ela não aceitaria não se rebaixaria a tal ridículo.

–Leve com você... –A doutora deu um leve empurrão na agenda em direção a garota.

Ela apanhou a agenda com desdém e levantou-se para sair. Dando as costas a medica e segurando a maçaneta da porta, mas antes de ela sair a medica lhe disse algo:

–Te vejo na segunda Alessa!

Ela bateu a porta atrás de si, mostrando a raiva que ela sentia. Quem essa doutorazinha pensa que é? Ela não sabe de nada, não sabe nada sobre mim. Alessa olhou a agenda em suas mãos, e a primeira coisa que fez foi atirá-la em uma lata de lixo, deu um ou dois passo e parou. Não seria má idéia ter algo para escrever, ela poderia usar a agenda para colocar a letra de suas musicas, não precisaria ser necessariamente um diário.

Deu meia volta e apanhou a agenda, certificando-se de olhar para os dois lados e então marchou até o seu quarto, abandonou a agenda sobre a escrivaninha e se atirou na cama, aquele seria um longo fim de semana.

...

Dominic andou despreocupadamente até seu quarto, estava empapado de suor, aquilo o deixava extremamente irritado, um corpo débil, um corpo frágil, um corpo ridiculamente humano.

Trancou a porta e fechou o cortinado, arrancou a camisa e a atirou em um acanto qualquer, depois adentrou no banho, terminando de despir de suas outras roupas, ligou o chuveiro e se atirou em baixo da ducha morna.

O diretor fez com que Dominic limpasse todas as vidraças imensas da biblioteca e juntasse todas as folhas do jardim dos fundos, onde ficava o velho carvalho e a janela da garota Stembell.

Afundou a cabeça sobre a ducha e cerrou os olhos sentindo a água banhar-lhe a face. Tinha que pensar em uma maneira, uma maneira eficiente de se livrar da garota Stembell, não poderia aturá-la, não suportaria mais.

Então algo aconteceu, enquanto ele imaginava nas possibilidades de afastá-la dele, imagens surtidas surgiam diante dele, a pele alva dela, os pares de olhos negros e grandes como duas pedras de ônix, a cascata de fios negros que emanavam em volta de seu rosto.

Uma ardência irrompeu em suas costas, a mesma dor que ele sentia quando estava junto a ela. Que droga era aquela? Agora se ele se lembrasse dela também sentiria dor? Ele a odiava, cada dia mais, cada vez mais.

Desligou o chuveiro e apanhou a toalha próxima, envolveu a na cintura e saiu para seu quarto, à dor aumentava cada vez mais, à medida que o rosto da garota Stembell ainda aparecia em sua mente, ele tinha que esquecê-la. Que coisa mais imbecil, pensar que alguém que se odeia.

Apanhou uma camisa branca e a vestiu juntamente com o jeans e apanhou sua jaqueta de couro. Logo em seguida saiu, passou pelos corredores desertos e adentrou no refeitório, Alessa estava sentada em uma mesa perto as janelas, de cabeça baixa e comendo seu jantar.

Dominic revirou os olhos e a ardência atormentou-lhe novamente, apanhou a bandeja e se serviu, então caminhou até a garota e se sentou em frente a ela, puxando a cadeira ao contrario e se sentado. Assim que sua bandeja tocou a mesa Alessa se sobressaltou como se não tivesse o notado ali.

Ela o encarou com as sobrancelhas unidas enquanto ele despedaçava um pãozinho. Ela abaixou os olhos revirando sua comida sem nenhum humor. Atrás dela um crepúsculo laranjado ardia no céu e os primeiros indícios de noite surgiam.

–Sim, você pode se sentar aqui! –Murmurou ela e Dominic a encarou enfiando um pedaço de pão na boca e sorrindo.

–O que há com você? –Perguntou ele.

–Nada! –Alessa continuou revirando sua comida, olhando-a sem se importar com Dominic.

–Você é quem está sendo uma chata agora... –Alessa sustentou seu olhar, fitando-o com desprezo.

–Eu não quero falar com você! –Rebateu ela.

–Hum, está mal humorada... O que seu namoradinho fez para deixá-la assim?

–Namorado? -Perguntou ela sem entender.

–È... aquela coisa magricela que veio te ver hoje! –Alessa abriu um meio sorriso. Parecia que “coisa magricela” era um ótimo descritivo de seu amigo.

–“Aquela coisa magricela” tem nome, é Gavin! –Dominic maneou a cabeça revirando os olhos enquanto abocanhava um legume.

–È, tanto faz...

–Ele não é meu namorado!

–Ah sim, claro, me esqueci de Trevor Dickson. –Rebateu Dominic abrindo um meio sorriso enquanto a fitava com os olhos verdes. –Você é bem rápida em garota, mal chegou e já conseguiu agarrar um!

–Trevor não é meu namorado! –Sibilou ela entre dentes e sua pele branca corou imediatamente, fazendo Dominic sorrir.

–Aham, o colégio inteiro só fala como você e ele não se desgrudam um segundo se quer.

–Quer saber de uma coisa?! –Ela se pôs de pé e se curvou levemente sobre a mesa para encarar Dominic. –As pessoas daqui já estão me irritando e você é o primeiro da lista!

Alessa apanhou sua bandeja, mas antes de sair ele a segurou, sua mão envolvendo fortemente o punho dela, o contato não ficara indiferente para nenhum deles, a ardência nas costas de Dominic aumentara com intensidade tamanha que fez com que ele a soltasse imediatamente em um gesto abrupto, já Alessa sentira um choque percorrer todo o seu corpo, e assim que Dominic a soltou ela envolveu o pulso com a outra mão, sentindo a pele quente.

–Desculpe! –Sussurrou ele abaixando os olhos e Alessa, ainda pasma, tornou a se sentar fitando o prato intocado em sua frente.

Dominic não ousou olhá-la, mas podia ouvir o coração dela martelar mais rápido e a respiração acelerar. De fato ela havia sentido algo, mas ele não sabia decifrar. O pior de tudo, era que o garoto não sabia como agir nesta situação, não entendia o porquê de Alessa ter ficado tão transtornada, ele nem se quer podia entender o porque de ele mesmo sentir coisas tão estranhas quando estava perto dela.

Pensou se deveria pedir desculpas, de novo, ou se deveria ir embora e deixá-la sozinha. Sua cabeça girava em um zilhão de possibilidades, e a cena que acabara de acontecer estava em seus pensamentos. Um barulho fez com que Dominic olhasse em direção a Alessa, mas para sua surpresa, ela ainda estava imóvel, mas algo, além dela se moveu novamente.

Um vulto havia se locomovido entre a escuridão, um vulto entre as arvores que circundavam os muros do internato. Dominic estreitou levemente os olhos, mas não conseguiu distinguir nenhuma forma.

Pôs-se de pé e andou lentamente até a gigantesca vidraça, e dali observou a sombra imóvel próximo a uma arvore. Eles estavam ali? Mas se aquilo era um anjo, por que Dominic não sentia sua presença, não sentia seu foco de poder?

Ele manteve seus sentidos atentos. Um vento silencioso balançava arvores ao oeste dali, a água do riacho se movimentava constantemente e o cheiro das arvores eram os mesmos.

Mesmo assim aquela sensação de que havia algo ali, algo desconhecido e ao mesmo tempo comum para Dominic, não o abandonou. Algo estava ali os observava algo os perseguiam.

Dominic estreitou os olhos ainda mais, usando seus sentidos aguçados para identificar aquela sombra. Havia uma forma desconhecida refletida, e dois pares de asas, estava imóvel, como se não quisesse ser notado e sua sombra começou a ficar cada vez mais transparente até que desapareceu.

–O que foi? –Ele se sobressaltou e quando se virou Alessa estava de pé logo atrás dele.

–Nada! –O garoto abaixou os olhos evitando olhá-la e pode perceber que Alessa fez o mesmo. –Te vejo na biblioteca mais tarde?

Ela assentiu e Dominic se retirou.

...

Alessa respirou fundo antes de adentrar na biblioteca, o espaço ali era grande, havia dezenas de fileiras imensas com livros, e cadeiras com mesas espalhadas por todo a ambiente, as luzes estavam amenas e rapidamente ela o encontrou.

Dominic estava sentado em uma mesa afastada próxima a grande vidraça que dava para o jardim lateral do internato, as luzes daquela mesa estavam acesas, iluminando parcialmente o rosto concentrado do garoto.

Algo revirou o estomago de Alessa e suas pernas não obedeceram ao comando de se moverem. Ela ainda se lembrava da estranha sensação de quando Dominic a segurou pelo pulso, ela não entendia aquilo, não entendia o porquê de ter sentido aquela estranha energia, e também não entendia o porquê do garoto ter se afastado tão depressa.

Ela inspirou o máximo de ar que cabia em seus pulmões, procurando encontrar muito mais do que oxigênio, queria encontrar a coragem, de fato nunca fora uma garota medrosa, nunca temeu nada, mas Dominic parecia ter o poder de fazê-la ser totalmente o contrario do que se esperava.

Ela pensava o contrario, agia o contrario... sem falar do turbilhão de idéias e pensamentos que invadiam-lhe a mente sempre que estava com ele, ou a mudança de humor que ele era capaz de instigar nela.

Eram coisas que agora ela teria de suportar, porque não havia possibilidades dela voltar para casa, e pelo jeito, Dominic também não sairia dali. Estavam encurralados, presos um ao outro por aqueles imensos muros que circuncidavam o internato Saint Edgar´s School.

Mas não preciso encará-lo hoje, não há nada de mal em adiar um relatório Alessa. Teimou sua mente medrosa, a Alessa que ela não conhecia. Então deu as costas e antes que pudesse se retirar dali Dominic a viu.

–Hei Stembell! –Chamou ele. Alessa cerrou os olhos com força e puxou o ar mais uma vez antes de se virar e fingir um sorriso.

–Eu não havia visto você... –Mentiu ela forçando suas pernas a se aproximarem.

–Serio? Porque parecia que você estava indo embora... –Ele abriu um leve sorriso para ela.

–Vamos terminar logo isso! –Alessa puxou uma cadeira de frente para Dominic e colocou sobre a mesa suas coisas.

Ambos começaram a trabalhar, mas era impossível que Alessa deixasse de olhá-lo às vezes. Sempre que podia ela erguia os olhos de sua folha de papel para vê-lo folhear despreocupadamente algumas paginas do livro.

Sentia um frio na barriga sempre que o fazia, pois a sensação de olhá-lo era reconfortante ao mesmo tempo tinha o medo de ser pega. Mas observá-lo sem ele notar era magnífico.

A luz amarelada do abajur sobre a mesa deixava os olhos de Dominic ainda mais verdes, sua pele branca e os cabelos negros como a noite, que banhava a paisagem do lado de fora, davam um contraste ainda mais belo. Tudo em Dominic parecia bonito e perigoso aos olhos de Alessa, desde a forma como seus olhos moviam sobre as fileiras de palavras até a maneira como ele segurava o livro, parecia que cada gesto do garoto era preparado e planejado.

Como se ele estivesse atento aos mínimos detalhes que acontecia em sua volta, e por mais que Alessa tivesse a estranha sensação que ele sabia que ela o observava, ainda assim não conseguia desviar seus olhos ou sua atenção.

A cada pequeno movimento Alessa tornava a fitar sua folha de papel temerosa e assustada com o fato de ter sido quase pega. E assim os minutos passaram, o silencio reinava entre ambos, mas os olhares trocados furtivamente, sem nenhum dos dois perceberem, passaram a ser cada vez mais freqüentes.

Dominic também não conseguia deixar de olhá-la, a maneira como seus longos cabelos negros caiam sobre seu ombro direito, deixando a pele de seu pescoço exposta, como seus lábios rosados tremiam a cada vez que ele quase a flagrava olhado-o, a maneira como seu busto se movia rapidamente sobre o algodão do suéter branco que ela usava, a maneira delicada que suas longas unhas pintadas de preto batiam sobre a mesa ou como ela rabiscava rapidamente palavras surtidas na folha de papel, tudo aquilo parecia algo novo para ele.

Era como observar pequenos detalhes, fúteis, pela primeira vez. Sim, eram detalhes fúteis, pois Dominic já havia visto milhares e milhares de humanos até mesmo estava lá quando estes foram criados, mas cada detalhe da garota chamava sua atenção e o deixava em uma espécie de transe, ela era única, especial e diferente, ele reconhecia isso.

Era novidade, a maneira como ele se sentia quando estava com ela, não somente pela ardência no ponto que suprimia suas asas, mas a revolta, a insegurança a sensação de dependência, tudo isso chegava a ele em um misto maluco que jamais havia sentido antes.

E aquilo era extremamente ridículo, porque ao mesmo tempo que Dominic ansiava para que ela desaparecesse, ele simplesmente não conseguia deixar que ela fosse. E ela chamou a sua atenção desde a primeira vez que a viu.

Estava escuro, e a maioria dos alunos dormia menos Dominic, ele não precisava de descanso naquele dia, mas lembrou-se de sentir o desconforto e a dor no fim da tarde, e aquilo o deixou agoniado, andando de um lado para o outro, Dominic se aproximou da janela a tempo de vê-la sair do carro.

Ele a observou por um longo tempo, os detalhes, os detalhes fúteis e percebeu naquele momento que ela era o motivo pelo qual ele se sentia estranho. E naquela noite, na primeira noite de Alessa no internato, Dominic não resistiu em observá-la de perto. Retirou a camisa, expôs as asas e saiu escondido pelo jardim.

Não foi difícil voar sobre os guardas dorminhocos, muito menos abrir a janela trancada do quarto da garota e ela dormia tranquilamente. Ele não resistiu e ficou ali por um longo tempo observando-a, observando as múltiplas caretas que ela fazia enquanto sonhava.

Mas então Alessa acordou assustada banhada de suor e ela pode notar a presença dele, mesmo ele estando camuflado na escuridão do quarto e ela falou com ele, disse que sabia que havia algo ali e perguntou o que ele estava esperando.

Temeroso Dominic abandonou o local, ninguém nunca o havia notado antes quando ele estava utilizando suas asas. Elas faziam com que a presença dele ficasse menos perceptível aos olhos humanos. Naquela noite Dominic entendeu que ela era capaz de fazê-lo se lembrar do que ele era e jurou que a odiaria.

Mas estes eram pequenos detalhes da primeira impressão. Então a cada vez que se encontravam a situação era sempre diferente, sempre uma novidade e talvez fosse por isso que Dominic sentia algo diferente. Em sua qualificação como anjo, jamais poderia ficar acostumado com uma vida comum e tediosa.

Nos dois anos que Dominic passou no internato Saint Edgar´s School, ele quase viveu como um humano passou a se acostumar com a rotina de estudos e do internato, mas a presença da garota Stembell revirou tudo aquilo. Estar com ela dava da Dominic a sensação de surpresa, porque ela nunca era uma pessoa com uma única personalidade, que fazia as coisas na maneira que todos podiam prever.

Ela o fazia se lembrar daqueles quadros antigos feitos por mãos humanas, tão perfeitos que pareciam reais, o autor retratava jovens belas e misteriosas, era assim que Dominic classificava Alessa, uma jovem bela e misteriosa, que fazia com que anjos tivessem sentimetos. Que espécie era aquela?

E enquanto ele pensava nisso observando-a, Alessa sustentou seu olhar e ambos se encararam por uma fração pequena de segundos, mas para ambos foi suficientemente grande para deixá-los desconcertados.

–Acho que está tarde... –Murmurou ela encarando suas mãos. –Se não se importar, acho que poderíamos...

–Terminar depois... –Completou.

Alessa sustentou seus olhos e eles se encontraram com os de Dominic mais uma vez. E ele percebeu que os olhos grandes e negros da garota pareciam ser capazes de desvendá-lo, como se enxergassem por de trás da nevoa confusa dos humanos e visse que ele realmente era diferente.

–Então eu já vou... –Alessa apanhou suas coisas as enfiando rapidamente e de maneira desajeitada na mochila e quando ela se pôs de pé, Dominic fez o mesmo.

–Eu também... –Ele pigarreou. –Eu também vou para aquele lado.

Ela abriu um sorriso amarelado e ambos andaram silenciosamente um do lado do outro.

–Então... –Continuou ele. –Está gostando do internato?

–Sim! –Murmurou ela cerrando os dedos na alça da mochila.

–Não parece. –Ela o fitou nos olhos, confusa com o fato de ele ter acertado em cheio o que ela sentia e ao mesmo tempo isso a deixou decepcionada, achava que mentia bem quando a questão era fingir gostar de algo. –Quer dizer... Vi você hoje com seu amigo, parecia que você não estava se sentindo a vontade aqui!

–Acho que é só questão de costume... –Murmurou ela e então fitou o chão sobre seus pés novamente.

–Aqui não é o pior lugar do mundo... Vai por mim, já estive em um zilhão de lugares diferentes. Com o tempo você se acostuma. –Ela assentiu silenciosamente e então se deteve em frente ao corredor da ala feminina, aquela era à hora de dizer boa noite.

–Então... –Alessa suspendeu seu olhar e abriu um meio sorriso.

–Nos vemos amanha... –Ele se virou, dando a ela as costas e saiu pelo corredor oposto.

Alessa ficou ali por um longo momento, observando-o, vendo-o ir embora e desejou que ele não fosse, desejou poder observá-lo novamente, de vê-lo distraído, de ouvir sua voz e naquela noite ela sonhou com ele...

Um vento fresco soprava pela janela de seu quarto, aberta, Alessa estava deitada em sua cama e tinha a estranha sensação de ser observada e quando abriu os olhos Dominic estava ali, a luz da lua iluminava parte de seu rosto e seu tórax despido, seus músculos tinham um tom prateado e ele se parecia com uma estatueta de anjo, em tamanha beleza.

Seus olhos verdes lampejavam para ela e um brilho terno os iluminava, ele permaneceu ali, olhando-a observando-a e Alessa teve vontade de tocá-lo, de sentir qual era a textura de sua pele, uma vontade imensa de abraçá-lo tomou conta dela.

Seu corpo agiu involuntariamente e vagarosamente, sem demover seus olhos dele, Alessa levantou, seus pés descalços tocaram o chão frio e ela se aproximou hesitante, aquilo parecia tão real.

Sua mão se moveu vagarosamente e a ponta de seus dedos tocaram a face fria de Dominic, e ele não recuou, não moveu um milímetro se quer se não fosse sua pele macia Alessa diria que ele era uma estatua bem feita.

A pele alva era macia e perfeita, na textura exata que Alessa imaginara, ela deu outro passo para se aproximar ainda mais, e dessa vez ele se moveu, seus dedos gélidos tocaram uma mecha do cabelo da garota afastando esta de seus olhos, e então sua mão deslizou pelo rosto dela e aquilo causou um leve tremor no corpo da garota.

A mão de Alessa deslizou do rosto de Dominic, passando por seu pescoço e atingindo seu peitoral exposto, levemente iluminado pela claridade vinda de fora, e deslizou levemente para os ombros largos e fortes do garoto, tocando-o como se ainda não acreditasse que ele fosse real.

Foi aquele momento que ele segurou o queixo de Alessa, puxando para que ela o fitasse nos olhos, e os de Dominic estavam estranhos, estavam semicerrados e observavam Alessa com necessidade e ansiedade, como se quisesse registrar cada pequeno detalhe.

Sua mão afagou um ponto sensível no pescoço dela, ele se aproximou mais, ficando a milímetros de distancia da garota, sondando-a, Alessa cerrou seus olhos e deixou se levar, sentindo as mãos de Dominic afagar-lhe a face.

Mas então o toque se foi e quando Alessa abriu os olhos estava deitada em sua cama. Sentou sobre o colchão macio e fitou o quarto deserto, seus dedos tocaram o interruptor do abajur e de fato ela constatou que havia sido um sonho, um maravilhoso sonho que parecia extremamente real, até mesmo pelo fato de ela se lembrar como era a textura da pele do garoto e sentir as mãos dele sobre seu rosto.

Levantou-se e caminhou apressada até o banheiro olhando-se no espelho, suas bochechas estavam levemente corada e o suor banhava sua nuca e pescoço. Debruçou sobre a pia e atirou água sobre o rosto. E quando tornou a deitar, suspirou, as imagens de seu sonho não lhe abandonava e ainda podia sentir os dedos gélidos de Dominic em seu rosto e pescoço.

...

Dominic cerrou os dedos com força desnecessária sobre a bola e a atirou para o alto, esta por sua vez chocou-se contra a parede e pelo estouro Dominic percebeu que havia destruído mais uma.

Idiota, idiota. Gritava seus pensamentos. Ele não podia ter feito aquilo, não podia ter sido tão estupidamente humano. O que deu nele afinal? O que aquela garota ridícula e desengonçada enfiada em roupas pretas, tinha de tão especial? Nada. Era isso que Dominic pensava agora, não havia necessidade de ter ido vê-la na noite passada, mesmo assim ele foi e cometeu a estupidez em ficar quando ela acordou e o viu.

Suas mãos apanharam mais uma bola, os dedos apertaram o couro duro e depois ela foi lançada, batera na parede e caiu murcha ao chão. Dominic se curvou para apanhar mais uma e nesse momento a porta do ginásio fora aberta, ele permaneceu agachado enquanto a via entrar.

Ele permaneceu ali, agachado temendo ser visto por ela, desejando observá-la novamente. Alessa aproximou-se da piscina e retirou o roupão, mostrando-se apenas com o maiô justo e negro sobre sua pele branca.

Não se preocupou em colocar a touca, os longos cabelos negros, tão negros quanto o céu a noite, caiam-lhe pelas costas com leves ondas devido ao repicado nos fios lisos. Ela ergueu os braços esticando-os em um alongamento e todo seu corpo esticou-se junto, era a figura mais bela que Dominic já havia visto, ela era de uma beleza incomum, durante milênios, Dominic vira poucos humanos tão belos assim.

E ainda assim a garota Stembell era diferente de todos eles, havia algo a mais nela, algo além de beleza, algo que fazia Dominic odiá-la e ao mesmo tempo querer tê-la por perto. Ela se aproximou da borda da piscina, inconsciente da presença do garoto ali e se preparou para atirar sobre a água, e antes que o fizesse de fato, um barulho detraiu sua atenção e ela se virou a tempo de ver as costas de Dominic abandonando o lugar.

...

O vento gelado e o crepúsculo laranja traziam um típico fim de tarde de outono, Alessa apertou os braços em torno de si e olhou o jardim imenso e vazio, aquilo era lindo, aquela paisagem era estranhamente bela. Desde o chão parcialmente coberto por folhas laranjas até a copa alta da arvores.

Cada detalhe enchia Alessa em admiração, a maneira como o céu laranja dava uma bonita cor para as arvores, deixando-as douradas e como o restinho de raio de sol banhava elegantemente o gigantesco prédio sem cor, como o gramado salpicado ainda de verde estava iluminado e brilhante.

O céu também se mesclava. Atrás de Alessa a escuridão jazia trazendo consigo os primeiros indícios da noite. Começava em negro e avançava clareando-se no azul até chegar ao branco, logo acima da garota, então vinha o vermelho, o amarelo e o laranja, e uma única, pequena e brilhante, estrela brincava nesse céu espantosamente colorido.

Era sábado, um final de tarde de sábado. Antes Alessa estaria se preparando para sair ela e Gavin arrumariam algo para fazer e ficariam nisso a noite toda, agora ela estava presa em um internato sem absolutamente nada para fazer a não ser ter que aturar duas horas em uma biblioteca com um garoto que muda de humor com a mesma freqüência que muda de roupa.

Ela não o viu pela manha, não o viu no almoço e não o viu no jantar, a única vez que seus olhos posaram em Dominic, fora a três horas a trás quando ela resolveu nadar um pouco e o viu abandonando o ginásio provavelmente de mau humorado.

Agora estava sentada no gramado, logo abaixo ao velho carvalho que se via pela janela de seu quarto. Estava sentada ali e decidia se deveria ou não ir a biblioteca para terminar o relatório.

Não entendia como podia haver um humano assim, que em um momento era a pessoa mais dócil e no momento seguinte olhava para ela com um misto de fúria e sarcasmo. Ainda assim, embora ela odiasse essa maneira de ser de Dominic, ainda assim havia algo nele que a encantava, que fazia com que Alessa grudasse seus olhos nele e não conseguisse retirar.

Alessa sempre gostou de aventuras perigosas, e Dominic parecia oferecer a ela o perigo e o mistério em meio aquele lugar pacato e tedioso. Era isso, só podia ser, ele era a distração dela, algo para não deixá-la tão entediada assim.

Um vento ainda mais gélido soprou e os ultimo raios de Sol banhou seu rosto. Alessa tentou imaginar com que cor ficaria os olhos verdes de Dominic. Teria eles o mesmo brilho terno que ela vira em seu sonho? Ela fechou os olhos em seus dedos ainda havia a textura fria e macia daquela pele alva, e ainda havia o contorno de seus músculos, seu rosto também ardia ao se lembrar de como fora tocada por ele, aquilo havia sido tão real.

Um sonho tão vivido, Alessa fechava os olhos e podia se lembrar com perfeição daquela cena. Desde o momento que abriu os olhos até o momento que os fechou, tudo ainda estava em sua memória, o brilho verde a pele alva, o cheiro doce, os lábios traçados em uma linha rígida.

Ela queria poder voltar a dormir e ter o mesmo sonho, com as mãos fortes de Dominic sobre ela e queria poder tocá-lo novamente. Alessa abriu os olhos e a escuridão já havia tomado conta de grande parte. Estava na hora de revê-lo, estava na hora de se encontrarem novamente, ela temia isso.

Ela atravessou a porta e viu-o de imediato sentado na mesma mesa que antes. Ali estava ele, a mesma figura de seus sonhos, o mesmo rosto perfeito, involuntariamente seus dedos se estenderam sentindo a textura, sentindo o toque. Mas aquilo tinha sido apenas um sonho e ela devia se contentar com isso, se contentar com a irrealidade quando na verdade desejava tocá-lo.

Puxou uma cadeira e se sentou. Dominic não retirou os olhos da folha que rabiscava, Alessa sentiu seu estomago revirar na expectativa. Apanhou seu caderno e ocupou-se em rabiscar sua folha novamente, copiando palavras de um livro sem ao menos entendê-las.

Seus olhos se erguiam vez após vez para observar o rosto a sua frente, e a cada vez que isso acontecia ela encontrava a mesma cena, os olhos semicerrados, as sobrancelhas juntas, os lábios travados em uma linha rígida, todo o corpo de Dominic estava rígido e tenso assim como o dela, Alessa notava isso na maneira como ele se portava, tentando parecer calmo.

–Você desapareceu hoje... –Dominic permaneceu de cabeça baixa, mas seus dedos param de se movimentarem e quando ele tornou a rabiscar a folha Alessa sentiu a necessidade de continuar, arrancar-lhe uma palavra que seja, precisava ouvi-lo. –Quer dizer, você não estava no almoço, nem no jantar.

–Estive ocupado! –Disse ele rispidamente. Alessa maneou a cabeça ainda insatisfeita e começou a debater sua caneta entre os dedos.

–Ainda está cumprindo as tarefas que o diretor ordenou? –Ele soltou a caneta sobre a mesa e a encarou com os olhos tão duros e severos que Alessa recuou encostando-se na cadeira.

–Sim. Mais alguma pergunta? –Alessa abaixou os olhos em negativa, apanhando sua caneta voltou a escrever.

Seu coração palpitava. Por que ele agia daquela maneira? O que ela havia feito a ele? Antes Alessa não se importava com a rispidez de Dominic, na verdade aquilo lhe deixava zangada. Mas desta vez fora diferente. Como se no intimo ela desejasse que seu sonho fosse real, que aquele garoto belo de olhos verdes ternos, que a tocara de maneira tão carinhosa fosse real. Mas não era, aquilo havia sido um sonho um Dominic que não existia.

–Desculpe... –Murmurou ele, desviando seu olhar quando ela sustentou o dela. –Tive um dia ruim... E uma noite pior ainda. Desculpe ter descontado em você.

Alessa tornou a abaixar seus olhos para a folha de papel, não porque se importava com o dever, mas porque ainda se sentia decepcionada.

–Hoje eu li algumas partes do livro... –Murmurou ela tentando controlar o nervosismo em sua voz. Dominic olhou-a tentando demonstrar interesse, mesmo assim ainda havia os lábios travados e as sobrancelhas juntas. –Achei que Darcy é tão impertinente e orgulhoso quanto você...

Ela abriu um leve sorriso e Dominic relaxou em parte seu corpo.

–Orgulhoso? Eu? –Ele levantou uma única sobrancelha e abriu um leve sorriso que fez Alessa perder o fôlego. Então ele franziu as sobrancelhas em interrogação. –O que foi?

Ela sentiu que suas bochechas ardiam, ela devia estar vermelha, logo na frente de Dominic.

–Nada, só quero terminar isso logo! –Ela abaixou o olhar e tornou a escrever, sentindo que ele ainda a observava.

–Parece que vai chover...

Murmurou ele depois de um longo tempo em silencio. Alessa fitou a paisagem do lado de fora, nuvens ainda mais negras que o céu tomavam grande parte deste e um vento forte sibilava do lado de fora.

Alessa sentiu-se doente, o corpo doeu e sua cabeça latejou. Ela detestava chuvas, detestava raios e relâmpago espalhando-se no céu.

–Você não gosta de chuva? –Perguntou ele. Alessa o encarou como se de repente se lembrasse da presença dele. –Deu para perceber... Sabe, na sua primeira noite e o jeito como ficou agora...

Um relâmpago cruzou o céu lançando luz para dentro da imensa biblioteca, Alessa juntou a sobrancelhas olhando para a paisagem lá fora novamente.

–Gosto da chuva na mesma proporção que gosto desse lugar... –Sibilou ela ainda olhando o céu negro e a chuva que se aproximava.

Dominic via o pavor acumular-se na garota e ele desejou poder parar com aquela chuva, mas entendia que não deveria gastar seus poder com coisas desnecessárias, afinal ele ainda tinha milênios e milênios de anos pela frente e ainda queria manter-se longe de Lúcifer. Alem do mais a cada milênio que se passava ele se sentia mais fraco, mais debilitado, mais humano.

–Será que conversar ajuda? –Perguntou ele. Alessa assentiu, sem retirar os olhos da janela. –Tudo bem me deixe ver... Você mora onde?

–Stanford...

–Hum, não está assim tão longe de casa. Deixe-me adivinhar, veio obrigada e detesta esse lugar por ser tão restritivo e chato?

–Acho que quase isso... –Murmurou ela abrindo um leve sorriso. –Eu detesto esse lugar porque realmente fui obrigada a vir para cá. Mas não por ser restritivo ou chato, acho que o detesto pelos motivos que me trouxeram aqui...

Um estrondo se deu fazendo Alessa sobressaltar no susto, suas mãos se grudaram em torno da mesa de madeira e ela cerrou os olhos com força respirando fundo.

–Você está bem?

–Só... continue falando Ok? –Murmurou ela ainda de olhos fechados.

–Eu ouvi falar dos motivos de você estar aqui... algo sobre um acidente de carro.

Outro relâmpago ecoou ao céu fazendo as vidraças estremecerem e em seguida um raio cortou o céu parcialmente enegrecido. As luzes fraquejaram ameaçando se desligarem. Dominic olhou para as lâmpadas e em seguida para o rosto pálido a sua frente.

–Você não tem cara de quem tem medo de chuva... –Retrucou ele.

–Cale a boca! –Alessa trincou os dentes e fincou as unhas cumpridas na madeira da mesa. –Só diga que não vai acabar essa maldita energia.

–Não sei não... –Dominic voltou a olhar as luzes que piscavam ensandecidas. –Acho que vai acabar a energia.

–Seu pessimismo é admirável! –Alessa o encarou semicerrando os olhos.

–Ao menos está dando certo... –Ele apontou para ela que já tinha uma postura meio relaxada. Alessa se olhou e abriu um meio sorriso, enquanto prendia, nervosamente, uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Então as luzes se apagaram no mesmo instante que um novo raio atravessou o seu seguido por um trovão, a escuridão se estabeleceu. Dominic ouvia uma respiração pesada a batidas de coração aceleradas.

–Dominic... –Sussurrou Alessa aos gemidos.

Dominic se pôs imediatamente de pé e atravessou o espaço da mesa que os separava fincando lugar ao lado da garota. Levemente e calmamente tocou-lhe o ombro e sentiu que ela estava tensa.

–Estou aqui Alessa.

Outro raio cruzou o céu, iluminando rapidamente o local, iluminando o necessário para que Alessa visse Dominic e se jogasse, em um ato irracional, sobre ele, envolvendo-lhe a cintura em um abraço, enquanto afundava o rosto no peito do garoto.

E ela arfava, amedrontada, temerosa. Dominic não sabia o que fazer, abaixou os olhos para ver a garota grudada em seu corpo. Então se lembrou da filha da condessa. Aquilo era medo, o mesmo que a garotinha havia sentido, mas ao contrario desta Alessa não chorava.

Dominic passou seus braços em torno de Alessa, um gesto de impulso, de desejo. Ele estava ansioso para tocá-la novamente e ali estava ela. Tal como na noite passada, entregue a ele. Devia por um fim naquilo, sabia que devia, não era certo.

Tentou puxá-la a fim de levá-la para outro lugar, para o salão interno aonde todos iriam em uma tempestade. Mas não havia chuva, ao menos ainda não.

–Alessa vamos...

–Não! –Implorou ela, com a voz abafada entre a camisa de Dominic. –Só fique comigo um minuto, por favor, eu prometo que irá passar.

Disse ela com a voz embargada de pavor. Dominic estreitou seus braços entorno dela e os pingos despencaram em uma única torrente, chocando-se violentamente contra a janela de vidro, acompanhados por raios e trovões e a cada um desses Alessa se agarrava ainda mais a ele.

Dominic a puxou para a primeira fileira e então caminharam rapidamente até o fundo, e encostaram-se a uma parede. Alessa ainda estava em seus braços, agarrada a ele, as unhas fincadas em sua camisa negra.

Ele a aconchegou em seus braços, ela era tão pequena, tão frágil que ele temia ser capaz de reparti-la ao meio com sua força, segurava-a assim como um inexperiente, segura um recém nascido aos braços. E ela arfava com o medo, o coração aos pulos.

–Acalme-se está bem? Vai ficar tudo bem, logo vai passar, essa chuva logo vai passar...

Murmurava ele aos ouvidos dela. E seu frágil corpo tremia ao ouvir a voz rouca do garoto, tremia pelo medo e por ter a sensação maravilhosa de ser tocada por ele. Seu cheiro, sua pele fria e alva, tudo era como Alessa havia imaginado em seu sonho.

Agora ela já não tinha mais tanto medo da chuva, em parte já havia se esquecido que ela estava lá fora, debatendo-se loucamente contra as fortes paredes e as vidraças barulhentas.

Sentia-se bem aos braços dele, sentia-se protegida e tranquila. E aos poucos seu medo foi passando, mas seu corpo ainda continuava tenso e debilmente tremulo. Alessa sustentou seu olhar, fitando a escuridão, mesmo assim ela podia imaginar o rosto de Dominic ali a sua frente.

–Obrigado... –Sussurrou ela.

Dominic afagou-lhe o braço com delicadeza e ela pode sentir que ele também estava tenso e que suas mãos mexiam como em gestos detalhadamente programados.

–Só... Procure se acalmar está bem... Logo isso irá passar.

Alessa se estreitou aos braços de Dominic. Mesmo com a escuridão ele podia vê-la, os lábios rosados unidos e apertados, lábios rosados chamativos e deliberantes, Dominic teve vontade de tocá-los, saber se eram tão macios quanto à pele dela.

Mas não podia, já bastava à estranheza do fato de ela não estar com medo, os humanos tinham uma repulsa natural contra Dominic, mas ela não, Alessa parecia satisfazer-se a cada vez que se estreitava para mais perto dele.

Ela era perfeita, a maneira como ela se encaixava delicadamente aos braços dele, como se fora feita sobre medida, especialmente para ele. A energia voltou, embora ainda fosse fraca demais. E Alessa flagrou Dominic observando-a, fitando-a com os mesmos olhos esmeraldinos e indecifráveis que ela vira em seus sonhos.

Ela não se soltou, embora agora o fitasse de frente, aconchegada entre as pernas dele, ambos sentados ao chão. Dominic ainda tinha seus braços em volta dela e Alessa ainda tinha suas unhas cravadas na camisa.

E ele era ainda mais belo com aquela luz esverdeada, era ainda mais belo quando visto assim de tão perto. Os dedos apertados de Alessa se afrouxaram e vagarosamente uma de suas mãos subia pelos braços de Dominic rumo a sua nuca, ela manteve seus olhos cravados nos dele, como se estivesse em hipnose.

Dominic sentiu a ardência em suas costas aumentarem, logo agora que ele já estava se acostumando com o incomodo na presença de Alessa. Mas algo novo acontecia, ela se aproximava dele, olhando-o, fitando-o nos olhos, aproximava-se como uma serpente cautelosa. Uma de suas mãos segurou sua nuca, como que para prendê-lo nela, enquanto seus lábios rosados caminhavam em busca dos dele.

Seus olhos vagavam entre os lábios e os olhos de Dominic, não sabia ao certo o que estava fazendo, já não tinha ar em seus pulmões, mesmo assim ela prosseguiu, mesmo com os dedos trêmulos, mesmo com o coração acelerado e a falta de ar. Ela prosseguiu, sedenta por um beijo.

Seus lábios se detiveram a milímetros de distancia dos dele e ela os abriu vagarosamente, cerrando os olhos e inspirando o hálito doce que a respiração dele jogava em sua pele.

–Você não precisa fingir um medo desses para tentar me beijar... –Murmurou ele e como se a hipnose fosse desfeita Alessa recuou rapidamente abrindo os olhos e soltando-o.

–Eu... não... –Ela o olhou confusa. Mas Dominic tinha os olhos baixos, fitando o nada.

–Sinceramente Alessa, eu não estou interessado em você! –Disse ele.

–Mas eu...

Alessa sentiu suas bochechas arderem, e ela respirava com dificuldade, o que fizera? Onde estava com a cabeça? Ela fitou o chão, o espaço vazio entre eles, onde antes ela estava, atirada aos braços dele, onde por milésimos de segundos ela julgou que ele a queria. Agora estava zangada, havia feito papel de idiota.

–Desculpe!

Ela se pôs de pé e marchou até a mesa, ignorando os raios e trovões que causava-lhe tanto espanto, apanhou suas coisas e dirigiu-se para seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Haaaaaaaaaa a Less é muito corajosa, coitadinha dispensada dessa maneira (rum garoto mal humorado)... Turminha estou feliz porque minha estória já possui 3 pessoas acompanhando, mas estou triste pq ninguém deixou sua opinião aqui :( plissssss deixem sua opinião, ela com toda a certeza vai me ajudar muitoooo bjus e até mais.



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