Stereotypes escrita por Bruna


Capítulo 6
Alice.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado ao Eric Boop!



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Alice Stamford.




A música eletrônica estava alta. Encostada na parede em um canto, dividia uma garrafa de Whisky (um legítimo Johnnie Walker) com seu amigo delinquente que insistia em contar mais uma das suas piadas sem graças.

— Charles, você é um grande idiota! — Zombou do garoto alto e magro e de intensos olhos verdes.

— É Chuck! — Ele a corrigiu sorrindo de lado. — Pelo menos sou seu idiota favorito, né gótica?

Gargalhou balançando a cabeça e dando um selinho nos lábios finos dele.

— Você calado é um poema. — Sussurrou no ouvido dele. Abriu uma porta e o empurrou, a trancando em seguida. Ligou o interruptor.

Chuck deu um gole na garrafa e a prensou na parede, passando os lábios pela curva do seu pescoço. Passou a mão pelas costas dele, retirando a jaqueta e em seguida o despiu da camiseta. Observou as várias tatuagens que ele tinha. O beijou com volúpia, enquanto Chuck tirava a blusa dela.

O fitou. Ambos apresentavam um desejo carnal no olhar.

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Estacionou o seu Porsche preto de qualquer jeito. Seus reflexos não estava dos melhores.

Desceu do carro e tropeçou em seus próprios pés, se não tivesse se apoiado a tempo no capô. Riu achando graça na sua quase queda. Estava muito bem, melhor do que quando sóbria.

Com um sentimento de liberdade começou a cantarolar numa voz arrastada de bêbada a música ‘Singin' In The Rain’.

Colocou a chave na fechadura e girou a maçaneta, fechando a porta atrás de si. Estava na sala-de-estar em completa escuridão da mansão Stamford. Já era acostumada.

The sun's in my heart, — A canção a fazia lembrar do filme ‘Cantando na chuva’. Um grande clássico do cinema. — And I'm ready for love. — Além, de se lembrar de ‘Laranja Mecânica’. — Let the storm clouds chase ever… — A luz da sala foi acesa, para sua surpresa. — … yone…

Duas figuras foram reveladas: Elizabeth e George (ambos que se auto titulavam ‘pais’) a encarando de braços cruzados.

Por essa surpresa não esperava.

— Mamãe! — Mirou para a loira de cabelos acima dos ombros e de orbes azuis frios como gelo. — Papai! — Olhou para homem de cabelos grisalhos e roupa de executivo com expressões duras e rígidas na face.

Jogou-se no sofá.

— Vocês estão de volta! — Exclamou não contendo a sua alegria em vê-los. — Como foi a viagem? — Perguntou genuína.

Eles não fizeram questão de lhe responder.

— Onde você estava Alice Rachel Stamford? — Inquiriu a sra. Stamford, com sua habitual postura de advogada.

— Estava numa festa com… um amigo. — Escapou da sua boca. — E tipo… foi muito divertido!! — Não conseguia controlar as palavras arrastadas que proferia. — Vocês não vão acreditar no que aconteceu… Teve uma garota que…

— Nos poupe do detalhe. — Ordenou entre dentes o sr Stamford, que mexia desconfortável em sua gravata listrada, numa tentativa de conter a sua aparente irritação.

Sua mãe a observava decepcionada.

— Mas que foi uma noite BEM LEGAL, foi! — Admitiu, pulando do sofá e indo na direção deles. — Boa noite, George! Boa noite, Elizabeth! — Passou por eles. — Tenham uma boa noite! — Segurando o corrimão, foi subindo a escadaria.

Escutou vozes discutindo ao fundo. Não conseguia decifrar as palavras.

Andou pelo corredor do segundo andar, parando em frente a uma porta que tinha uma placa amarela com um desenho de uma caveira contornada de preta.

Pegou a chave no bolso do seu short e entrou.

O cansaço a consumia pouco a pouco.

Não se importando com o escuro do quarto, tirou seus coturnos e se jogou na cama contudo. Esperou até que Hipnos fizesse seu trabalho.

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Os olhos cinzas infantis de uma garotinha por volta de 6 anos, prestava atenção atentamente as frases pronunciadas pela voz calma do adulto que lia um livro grosso. Ela adorava ouvir histórias antes de dormir.

— … E foram felizes para sempre. Fim! — Ele terminou sorrindo docemente para a menina e colocando o livro no criado-mudo.

— Ahhhh…— Ela estava desapontada por a história já ter acabado. — Mas eu ainda não estou com sono. — Falava com a voz infantil.

O bocejo a denunciou.

— Não está com sono, princesa? — A pequena negou. — Tudo bem, que tal fazemos uma brincadeira?

— Que brincadeira? — Ela tinha feito a pergunta errada…




Acordou sobressaltada após cair da cama. Agradeceu internamente por ter levado a queda e não ter sonhado de novo com aquilo.

“Isso não aconteceu. Fim!”, uma voz infantil ecoava na sua mente, “Mentirosa! Mentirosa!”

Colocou a mão na sua cabeça latejante, “Ai”.

Seu corpo estava extremamente cansado. Com um pouco de dificuldades se levantou e se sentou na pontinha da sua cama desforrada.

“Mentirosa!”

A noite anterior apareceu como um flash em sua mente.

Sentia como se tivesse caindo em um abismo sem fim.

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“Eu estou de parabéns! Não acredito que ontem dei ouvidos para o idiota do Charles. Argh… Como pude me embebedar? DROGA! Eu sou uma grande IRRESPONSÁVEL.”

Primeiro corte.

“O pior é que Elizabeth e George resolveram voltar de viagem mais cedo e me viram bêbada. E não deu para me inventar nada. Como fui estúpida.”

Mão tremendo.

“A culpa é sua! A culpa é sua!”

“Cala a boca!”

Segundo corte.

“Estúpida! Estúpida!”

Respiração descompassada.

“COVARDE!”

“Se controle… Se controle… Se controle”

Terceiro corte.

Três linhas horizontais, uma embaixo da outra, feitas por uma pequena gilete. O líquido vermelho escuro escorria lentamente por entre as finas fendas, levando todos os fantasmas.

Inspirou e expirou o ar calmamente, sentindo o alívio preencher o vazio de suas entranhas.

“Alice Stamford está no controle.”

Limpou o pequeno utensílio cortante, o embrulhando num paninho, o escondendo logo em seguida. Afinal, não queria que Elizabeth e George descobrisse o seu precioso objeto.

Entrou em baixo do chuveiro. Para tudo ficar bem, precisava curar a ressaca.

Ainda bem que era sábado.

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Desceu os degraus serena e pomposa.

Desloucou-se em direção a cozinha, mas foi impedia no meio do caminhão pela figura loira da sua mãe.

“O que ela está fazendo aqui?”

— Seu café está na Copa! — Informou a sra. Stamford, a olhando de cima abaixo em sinal de reprovação seu estilo grunger.

Não querendo contrariar ela, deu meia-volta e foi para a sala-de-jantar. A mesa já estava ocupada com várias guloseimas, que na sua opinião, dariam para sustentar um exército.

Se sentou sendo imitada pela matriarca, que havia decidido se sentar em sua frente. A empregada que estava em pé no canto, se aproximou e a serviu com um pouco de café em sua xícara.

— Seu pai está chateado com você. — pronunciou sua mãe.

“Que pena! Não existe a palavra ‘desculpar-se’ em meu vocabulário.”

Bebericou um pouco do café.

— Nós conversamos sobre o seu comportamento desadequado ontem, — continuava Elizabeth. — e, chegamos a conclusão que Verona High School e esses novos amigos— “Que amigos?” — com que tem se associados não estejam fazendo bem a sua conduta. Eventualmente, você deverá voltar ao internato. — Encarou assustada a mais velha.

“Meus pais amorosos estão querendo se livrar de mim mais uma vez.”

— Nós termos um acordo, Elizabeth! — Retrucou. — Eu estou seguindo a minha parte de tirar A+ em todas as disciplinas que curso. Então, é seu dever cumprir com a sua palavra em não me mudar de escola.

— Isso é o que te salva, Alice. — Replicou a matriarca. — Mas não digo o mesmo para a sua punição. — Olhou para o seu prato. Estava sem fome, porém necessitava de chocolate. — Agora tenho que bater em outro ponto importante: Suas ausências na consulta de Psicologia nesses últimos dois meses. O que você tem a dizer sobre isso?

Fitou atentamente sua mãe. Teria que pensar em vários argumentos antes de dar uma resposta que a convencesse. Uma palavra errada e estava tudo acabado.

— Bom, não requisito de um tratamento psicológico. — Sra. Stamford a encarava com sua habitual expressão fria e impenetrável. — Pois, tenho a certeza que o Prozac está sendo o suficiente para os meus sintomas depressivos. Devo acrescentar também, que se vocês dois insistirem em me levarem para me consultar com a doutora Prescott, estarão perdendo tempo e dinheiro.

— Seu pretexto está formidável, quase me persuadiu. — Elizabeth não era fácil de convencer. — Entretanto, perdendo dinheiro ou não você irá se orientar com a psicóloga.

— Isso é ridículo. — Resmungou num fio de voz.

— Sabe o que é ridículo? — Questionou sua mãe aparentando estar um pouco descontrolada. — Ridículo é ver sua filha fazendo lavagem estomacal por que ela tentou se suicidar por meio de abuso de substâncias.

Deu um sorriso cínico.

— E adivinha? Hoje você irá vê-la.

— Hoje é sábado.

— Ela concordou em atender você. — Elizabeth se levantou e a puxou pelo braço. Iria levá-la a força.

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“Ridículo! Não tenho o maior interesse em me abrir com uma desconhecida. Ainda mais que ela não entende que segredos são segredos!”

— Eu estou aqui para te ajudar! — Insistia a Prescott.

Olhou para o relógio na parede.

“Falta 10 minutos para o fim, vou ter que enrolá-la.”

— E então doutora? Quer ouvir uma história? — Indagou sem emoção para a psicóloga com traços latinos e que aparentava estar na faixa de 30 anos.

Prescott a encarava com a face cansada por já a conhecer.

— Alice, eu só quero ser sua amiga…

Ao ouvir a última palavra seu corpo enrijeceu e os punhos se fecharam como se fosse socar alguém.

“Todas eles são iguais!”

A respiração acelerou.

— Amiga? Sério que quer ser minha ‘AMIGA’. — Esbravejou se levantando estupefata. — Eu já tive uma amiga. Mas ela não fala mais comigo. — Bateu o punho na mesa. “A culpa é sua! A culpa é sua! A culpa é sua!” — E você Sabrina Prescott, irá fazer o mesmo.

Sentia como se fosse um vulcão que estivesse entrando em erupção.

— Você está bem? — A médica perguntou a observando com um misto de susto e preocupação. Percebeu que estava se deixando levar pelos sentimentos.

Se sentou e apanhou um bombom no bolso da jaqueta. Abriu a embalagem e fechou os olhos. Saboreou a mistura de chocolate e leite condensado no céu da boca. Abriu as pálpebras.

— Sim, eu estou bem. — Cruzou as perna e voltou a fitá-la com indiferença e frieza. — Quer ouvir uma história?

Ao escutar pela segunda vez a pergunta, a doutora Prescott concordou.

— Era uma vez uma garota que adorava usar um capuz branco, seu nome era Clarisse, mas todas a chamavam de Capuzinho Branco. — Deu uma pequena pausa e bebeu um pouco de água do copo sob a mesa. — Ela vivia com um casal de lobos que não davam atenção a ela. Para eles, a Capuzinho era um tipo de prêmio que gostavam de exibir para as alcateias de fora. — Manteve o contato visual. Não podia quebrar. — Junto dela, também vivia um grande urso-castanho, chamado Teddy. Os dois adoravam passar o tempo junto, pois era com ele que a pequena Clarisse se sentia segura e amada. Porém, os dois lobos, sempre faziam questão de se livrar do urso na maioria dos meses, então não tinha como ela gozar da companhia dele por muito tempo. — Espiou o relógio. Faltava cinco minutos.

“De vez em quando, os lobos recebiam a visita de um jovem feiticeiro na floresta. Certo dia, esse feiticeio convindo Capuzinho Branco para ir passear na cidade. Ela aceitou, porque preferia a companhia dele do que os dos lobos.Como o casal confiava nele, a deixaram ir. O que a garota não esperava é que esse feiticeiro fosse… fazer… certas… coisas...— Tamborilou os dedos na mesa. — Ahn… ele a obrigou a praticar… — “Não!” — … magia negra. Clarisse não queria fazer isso, no entanto, por confiar tanto nele, foi persuadida. Capuzinho Branco havia se tornado um monstro, por culpa dela. Só… dela.

Mutio tempo se passou, até que o segredo de Capuzinho e do feiticeiro foi descoberta. Ele foi declarado como vítima, mas ela não teve a mesma sorte, infelizmente. A garota era um monstro perante a todos, principalmente para seu amigo urso, que não queria mais amizade com ela, pois a odiava. Como o casal de lobos, Teddy a condenou, a matou e a devorou. E assim, todos foram felizes para sempre. Fim!”

Esvaziou o copo.

— Qual a porcentagem dessa história ter uma relação com a sua realidade?

— Você que cursou doutorado de psicologia, não eu. — Falou venenosa. — Fique tranquila doutora, era só uma ficção.

— Tenho minhas dúvidas.

O ponteiro grande chegou ao 12.

— A consulta acabou!

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No seu celular, olhava uma foto em que ela estava abraçada com um garoto loiro e de olhos azuis.

Yesterday

All my troubles seemed so far away

Now it looks as though they're here to stay

Oh, I believe

In yesterday

A letra e a melodia da música dos Beatles se espalhava por seu quarto, trazendo uma nostalgia do dia que tinha tirado a foto por insistência do seu irmão James, antes de ele ir cursar medicina na Universidade de Oxford.

“Queria que você estivesse aqui, Jimmy!”

Suddenly

I'm not half the man I used to be

There's a shadow hanging over me

Oh, yesterday

Came suddenly

Passou o dedo na tela. A próxima imagem mostrava três pré-adolescentes em pé, perto de uma árvore. Na lateral esquerda estava ela com sua velha blusa marrom e com uma trancinha, no centro tinha uma menina acima do peso e que usava óculos quadrados, era Dominique. Do lado da loira, estava o baixinho do Andrew. Foi Charles que havia tirado a fotografia, muito antes de se tornar ‘amiga’ dele.

Isso a fez se lembrar que precisava acabar com a farsa do Miller. Tudo bem que não falasse mais com Domique, mas ainda tinha uma certa empatia pela loira.

Why she

Had to go I don't know

She wouldn't say

I said

Something wrong now I long

For yesterday

Alguém bateu na porta. Pulou da cama e deu pause na música. Destrancou a porta, encarando a governanta da mansão.

— Olá, sra. Read!

— Boa noite, Alice! — Cumprimentou a boa senhora. — Seus pais estão lhe esperando para o jantar.

“Pais?”

— O George está presente?

— Sim. O sr. Stamford chegou mais cedo da empresa.

— Então… eu já vou descer. — Sra. Read se despediu e se afastou pelo corredor.

“O que aqueles dois estão planejando?”


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Notas finais do capítulo

O que acharam da 'historinha" da Alice? Alguma teoria?



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