Stereotypes escrita por Bruna


Capítulo 5
Jeremy.




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Jeremy Murphy.

Ofegante, pediu desculpas para o senhor que acabara de esbarrar e apanhou o jorna havia sido jogado no chão por sua causa. Voltou a correr como se sua vida dependesse disso e, para falar a verdade, dependia.

Vermelho. Olhou o relógio no pulso. Dois minutos para chegar no próximo ponto e não perder o ônibus escolar. De novo.

Ignorando o brilho avermelhando na calçada oposta, atravessou a faixa de pedestres ligeiramente, tomando o máximo de cuidado em se desviar de cada carro que tinha sido obrigado para não passar por cima de um “moleque maluco”.

Virou na primeira esquina e atravessou mais um faixa, dessa vez liberado para os pedestres. Passou num cruzamento e pegou a segunda esquina, sentindo que estava ficando cada vez mais lento.

Chegou no ponto gritando “aleluia”, felicíssimo consigo mesmo por conseguir chegar a tempo. Quem diria que aquelas fugas desesperadas de uma Lauren possuída na infância não serviriam para alguma coisa?

Se apoiou no joelho e começou a respirar calmamente para controlar as batidas do coração. Algumas pessoas o olhavam para ele desconfiado.

O ronco do motor se tornou cada vez mais alto. Levantou a cabeça a tempo de avistar o ônibus amarelo cada vez mais próximo. Suspirou aliviado.

O ônibus parou e abriu a porta.

— Olá, Mark! — cumprimentou o motorista, ainda um pouco ofegante e com o rosto extremamente quente.

— Jeremy? Você nesse ponto? — perguntou surpreso o motorista, apertando o botão para fechar a porta.

Arrumou os óculos que desciam pelo seu nariz suado.

— É legal conhecer outros lugares… — respondeu, sorrindo amarelo.

O que deveria dizer? Que havia acordado atrasado porque o despertador tinha quebrado? Que quando foi preparar panquecas e acabou, acidentalmente, colocando fogo no fogão? E que acabaria morrendo dolorosamente pelas mãos de sua vozinha por causa disso? E que teve que voltar na metade do caminho ao perceber que tinha vindo com dois pares de tênis diferentes? Sem contar o fato ter batido a cabeça na porta e o pé na cama… era melhor que achasse que ele fosse um idiota do que tivessem certeza.

De longe, identificou o boné dos Yankees e o cabelo ruivo da Lauren. Se despediu de Mark e pôs-se a caminhar até o fundo, cumprimentando Rich antes que chegasse lá.

— Olá, Lauren! — a saudou animado, tratando de ocupar o lugar vago ao lado dela.

— Oi. — Ela respondeu seca, sem nem sequer tirar os olhos do skate desgastado com o tempo.

— Tudo bem?

Lauren virou o rosto e balançou a cabeça positivamente. Ela tinha um olhar vago a observar o movimento da rua pela janela.

Ops! Essa não era a Lauren mal-humorada que conhecia. Cadê os xingamentos? O Berry? O Paspalho Idiota? Cadê os socos carinhosos, mas doloridos, em seu ombro? Era um masoquista por está sentindo falta disso e a culpa do estado melancólico da Lauren tinha nome e sobrenome: Ryan Miller.

— É ele que te deixou assim! — acusou, um tom acima do normal — Ele ainda não fez aquilo que iria fazer, não é?

Lauren virou a cabeça mecanicamente.

— E daí? O que você tem a ver com isso? Vai espalhar para todo mundo como fez há alguns dias?

— Tá bem, aquilo não foi muito legal. Juro que não era a minha intenção! Desculpa!

Não aguentou ver a cara de apaixonada que ela estava fazendo ao olhar o Miller lá com a namorada dele. Não entendia o que ela poderia ver naquele 100% massa corporal, 0% massa cinzenta.

“Aquilo foi legal. Era a minha intenção e faria mil vezes se fosse preciso!”, se corrigiu mentalmente.

— Mas, — continuou, limpando as lentes dos óculos no suéter cashmere amarelo — não quer dizer que ele talvez não esteja usando você para mais uma de suas intermináveis conquistas. Quem sabe isso não é uma aposta e você caiu feito uma patinha, Lauren? Se você-sabe-quem gostasse mesmo de você, ele já teria feito aq…

— CALA A BOCA! — Lauren urrou, o fuzilando.

Suspirou chateado. Só queria abrir os olhos dela em relação ao Miller. Esse “namoro” ─ como doía pensar nessa palavra ─ estava fadado ao fracasso e não queria vê-la chorando. Lauren mereci alguém que mentia para os tios sobre “reforço de álgebra”, enquanto ela iria se encontrar com aquele patife.

— Desculpa! — Sussurrou, colocando o braço por cima dos ombros dela.

Lauren não disse nem que aceitava ou não, apenas apoiou a cabeça em seu ombro. Ela ainda tinha o mesmo cheiro de shampoo de maçã.

Quando é que Lauren iria perceber que o cara certo era ele?

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A senhorita Armstrong era uma professora de química bem jovem e, por isso, era conhecida por ser bem “amiguinha” da maioria dos alunos. Porém, ao invés de isso ajuda-la na parte de ensinar estequiometria, arruinava as aulas.

Pobre Armstrong! Já tinha dado uma olhada em volta da sala e tinha visto o quanto o pessoal era desinteressado pela matéria. Não entendia como eles poderia achar mais interessante dormir pesadamente sobre a mesa, escutar músicas e conversar em tom bem alto, ignorando os apelos da professora.

Não sabia muito bem aonde que iria usar estequiometria, mas sabia que se prestasse atenção na aula, em algum futuro bem próximo, seria o chefe de todos os alunos do fundão. Yumi também seria, já que ela estava fazendo dupla com ele e escutava, ou tentava escutar, as explicações vindas da voz aflitiva da senhorita Armstrong.

Yumi bocejou e esticou os braços. Fez o sinal para ela fazer silêncio.

— Eu desisto! — anunciou a já cansada professora de Química, pegando uma garrafa de água ao se jogar exausta na cadeira — Ninguém está querendo prestar atenção na minha explicação. Não vou gastar a minha voz com vocês.

Levantou a mão para dizer o quanto estava interessado o quanto achava o que ela estava falando importante e o tanto que queria ter uma boa nota. Sra. Armstrong apanhou um livro grosso e algumas folhas, parecendo não ter visto seu dedo indicador ou ter ignorado mesmo. Abaixou o braço, desistindo. Não iria querer ser alvo de bolinhas de papel.

— Ufa! Ainda bem que ela parou de falar.

— Yumi! — censurou a amiga de cabelos róseos.

Por instinto, olhou para a professora rezando internamente que ela não tivesse ouvido isso, já que ambos se sentavam na primeira carteira.

— Que foi? Não tenho culpa se a voz dela dá sono.

Balançou a cabeça negativamente.

— Sério! Preferia o sr. Funny de ciências forenses! — Yumi fitou o teto, soltando um longo suspiro — A aula dele não era tediosa e era impossível não prestar atenção na aula dele.

— Na aula ou no corpo dele?

— O corpo dele só era um detalhe. Um detalhe que meu lado hétero gostava muito de admirar

Balançou novamente a cabeça, não querendo imaginar os lados pervertidos da amiga.

— Vamos mudar de assunto, por favor? — Implorou.

— Já que insiste. — Yumi concordou se aproximando dele e sussurrando. — O que vem achando do namoro da Lauren com ‘você-sabe-quem’?

Preferia continuar no assunto do professor bonitão e dos lados pervertidos.

— Vamos tocar em outro assunto.

— Ai Jeremy, você fica tão bonitinho com ciúmes. — Sua amiga deu um tapinha amigável em seu ombro. — Prefiro LaRemy.

— Laremy?

— Lauren com Jeremy. Fofo não?

— Não existe Lauren com Jeremy. Nós somos primos.

— Ela é adotada!

— Isso não muda nada, ela está apaixonada por aquele idiota.

— Isso talvez sej…

Yumi não tinha sido capaz de terminar sua frase, visto que, ela teve que parar de falar ao ver que Armstrong tinha subido na cadeira para dizer algo:

— ATENÇÃO SALA! Eu vou passar um trabalho que vai ser a nota final de você em química. — Alguns alunos a fitaram meio preocupados. — Vai ser eu dupla, mas será EU que irá escolher.

Houve protestos gerais da sala, cada estava mais indignado que o outro ─ estava dentro desse grupo, pois estava com medo de ser prejudicado pela nota, caso caísse com alguém que não queria nada da vida─, ainda tinha alguns que estava a chamando pelo primeiro nome, Katie, tentando convencê-la a mudar de ideia sugerindo que fosse de livre escolha e que a dupla fosse de quatro.

Armstrong colocou a folha na frente da cara e começou a chamar. Cadeiras eram arrastadas no chão, protestos e vários palavrões eram ouvidos, gritos de raiva. E dentro daquele caos, cruzava os dedos esperando ficar com a sua amiga japonesa.

— Ishida…

— Eu! — Respondeu Yumi de dedos cruzados assim como ele.

— … com Snow!

Yumi Ishida fez uma careta estranha ao escutar o nome de sua dupla. Ela se levantou contrariada e caminhou para o fundo da sala.

Infelizmente, não tinha sorte de ser a dupla da Yumi. Tinha esperança que pelo menos sra. Armstrong o juntasse com a Redfox, ou Brad Field, ou até mesmo o garoto que fazia parte de um grupo que se denominava: Matletas. Se fizesse o trabalho com algum desses três, com certeza tiraria um grande “A”.

— Murphy — A fitou apreensivo. — com Elliot!

Virou em câmera lenta para trás, posando o seu olhar na garota que tinha a “risada monstro” que poderia ser ouvido a um quilômetro de distância.

Lentamente, foi guardando seu material escolar espalhado pela mesa. A caneta azul caiu. Abaixou para pega-la e acabou batendo a cabeça na mesa. O lápis caiu. Pegou esse também e quando estava prestes a colocá-lo no estojo, acabou deixando a borracha quicar em direção ao chão. Parecia que sua mão estava furada, pois quando percebeu tinha caído tudo: corretivo, estojo, caneta preta, vermelha, caderno, livro, apontador, dignidade…

Por fim, conseguiu juntar todo material e assim, caminhou até a garota de longos cabelos platinados que era do fundão.

Elliot estava com fone de ouvidos branco e cantarolava alegremente e meio aérea, à medida que, pintava as unhas com um tom de rosa bem chamativo

Se sentou e cutucou o ombro dela.

— Olá! — Falou com a garota, com um tom seco na voz.

— Oi!?

Elliot tirou os fones e o encarou com os orbes azuis brilhantes, num misto de curiosidade e confusão.

—Não querendo ser grossa, mas… o que você está fazendo aqui?

— Eu? — Ajeitou os óculos. — Eu sou sua dupla.

— Dupla?

Bufou impaciente e pediu para que Deus desse muita força, perseverança e muita paciência.

— Do trabalho de Química. — Explicou.

— Que trabalho de Química?

— O trabalho que a sra. Armstrong vai passar.

— Sério? — Acenou positivamente. — Nossa! Então era por isso que o pessoal estava trocando de lugar.

— Pois é.

Ela estava olhando em volta da sala.

— Ai, que falta de educação a minha. — a garota disse — Eu sou Larissa Elliot.

Ela estendeu a mão sem esmalte.

— Murphy. — Com cautela, apertou a mão dela. — Jeremy Murphy.

— Nome legal! — Exclamou Larissa bem alegre. — Posso te pedir um favor, Jeremy?

— Claro. — Apoiou o cotovelo na mesa.

Ela mostrou a mão com as unhas pintadas

— Você pode anotar a explicação da professora sobre a pesquisa de química? Sabe como é, né? Tenho que passar esmalte na minha outra mão e não posso borrar.

— Ok. — Consentiu desanimado com a falta de interesse dela.

Larissa voltou a sua atenção para o esmalte.

Chateado, olhou para a frente e esperou sra. Armstrong terminar de formar as duplas.

Abaixou a cabeça, já prevendo o seu futuro com a trilha sonora de “Psicose”:

“Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F! Você tirou um F…”

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Com a seta do mouse, selecionou o texto que dava um exemplo de experiência com estequiometria, copiou e colou na página do Word. Salvou.

Pronto, já havia pesquisado tudo que iria precisar para o seu trabalho, agora era só botar decorar e apresentar o seminário e a experiência. Estaria tão otimista em receber o primeiro “A” dessa matéria, se sua dupla não fosse a patricinha da Elliot.

Apanhou um pedaço de papel no bolso e pôs-se a fitar os números do telefone da Elliot. Para que iria querer ajuda dela. Fez uma careta, fez uma bolinha e o jogou para trás. Elliot só iria atrapalhar e se ela quisesse tirar uma boa nota, era melhor não se meter em seu caminho.

— JEREMY! — escutou a voz super potente da sua mãe, vindo lá do andar de baixo — TELEFONE PARA VOCÊ!

Telefone para ele? Isso só podia significar que era Lauren. De rosto iluminado, saltou da cadeira e correu o mais rápido possível para falar com a Lauren. Não a tinha visto na hora da saída e estava querendo e muito ouvir a voz dela, nem que fosse para ser xingado.

Parou na metade da escada. E se fosse para encobri-la novamente para que ela pudesse sair e beijar o Miller? Entreabriu os lábios para soltar um suspiro indignado ao imaginar os dois juntos, de mãos dadas, se abraçando, beijando e fazendo coisinhas a mais…

“NÃO!”, pensou atordoado demais para imaginar uma cena dessa.

Lauren não faria isso. Desceu dois degraus. Não faria.

Encontrou a sra. Murphy, com seus cabelos castanho-claro amarrados em um coque malfeito, segurando o telefone e tapando uma parte dele. A televisão na sala estava ligada, dali, podia avistar a careca do seu avô.

— Uma tal de Larissa Elliot. — sussurrou Scarlett Murphy.

Seus ombros murcharam, ao acabar de escutar que a garota com o nome que começava com L, não era a com que queria falar.

Tomou o telefone das mãos de sua mãe e quase o deixou escorregar pelos dedos, quase.

— É sua amiga? — Perguntou Scarlett, com os olhos castanhos brilhando de curiosidade.

— Ela não é minha amiga.

— Então é sua namorada?

— NÃO! É claro que não.

— Ah, já sei. A moda agora é ficar então deve ser sua ficante!

— MÃE! Nós só vamos fazer um trabalho de Química juntos.

— Trabalho de química? Sei… — ela piscou o olho esquerdo, marota. — Sei que tipo de química é essa.

— Não! Não quero nada com ela, nem mesmo fazer essa droga de trabalho que a Armstrong pediu! — rangeu os dentes — A senhora não deveria estar lá no restaurante trabalhando?

Sra. Murphy ergueu as mãos em sinal de rendição.

— Certo, é bom ir mesmo para não me atrasar! — ela ficou na ponta dos pés para beijar a testa dele — Não cozinhe novamente, não quero voltar e ter que encontrar a casa do seu avô em chamas e caso precise, sabe onde encontrar preservativo.

— MÃE! — a repreendeu, já sentindo suas bochechas assumirem um tom vermelho.

Scarlett riu e saiu pela porta.

Quando voltou sua atenção para o telefonema da Larissa-risada-monstro-Elliot, percebeu que tinha esquecido de tapar o microfone do telefone durante a conversa constrangedora com a mãe de alguns segundos atrás. Ou seja, Elliot tinha escutado tudo. Tudo! TUDO! T-U-D-O!

Bateu a mão na testa, mal acreditando o quanto tonto poderia ser.

Aproximou receoso o telefone do ouvido e falou:

— Alô…

— Ei… Jeremy!

Silêncio.

— Então?

— Então… — repetiu debilmente.

— Então, o trabalho, Jeremy?

Saiu do transe.

— Certo, o trabalho!


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Notas finais do capítulo

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