Stereotypes escrita por Bruna


Capítulo 1
Nicky.


Notas iniciais do capítulo

O primeiro capitulo vai ser sob o ponto de vista de Nicky. Espero que gostem.



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Nicky Jones.

Foi com as batidas contagiantes e o ritmo alegre de Get Lucky que de súbito acordara. Até poderia ser considerada uma ótima maneira de acordar, pena que odiava acordar cedo por causa da fome de leão com que acordava.

Tirou as rodelas de pepinos sobre as pálpebras e os colocou na bacia do criado-mudo.

Com apena um toque, calou a voz de Pharrel Williams. Se espreguiçou ao sentir o silêncio reinar no quarto lilás. Estava com uma visão turva, mas isso não a impedia de notar, por mais que tivesse que apertar os olhos, o mural de fotografias ao lado de sua cama.

O mural apresentava as melhores lembranças que teve desde que entrou no Ensino Médio. Havia uma com as melhores amigas, Mel e Lari, da primeira vez que usou o uniforme vermelho e branco das líderes-de-torcidas, uma dela recebendo o primeiro pedaço de bolo no aniversário de 5 anos de sua irmã e, a sua preferida, a foto dela de mãos entrelaçadas com o namorado Ryan, ambos tinham ganhado o “Rei e Rainha do Baile de 2011”.

Eram ótimas e inesquecíveis lembranças.

Deixou o mural de lado e decidiu-se, por fim, levantar-se. Afinal, não queria se atrasar para a aula, além de que não acordava uma hora mais cedo que todo mundo para ficar enrolando na cama, muito pelo contrário: acordava super cedo para ir decente para escola.

Abriu a porta do quarto e de cabeça levemente abaixada, para não tropeçar em nada que estivesse no chão, cruzou rapidamente o corredor e entrou no banheiro, certificando-se de trancá-lo.

Apoiou-se no lavatório e encarou o seu reflexo no espelho. Estava com a aparência horrível.

Odiava o nariz desproporcionalmente grande que tinha herdado do pai, não combinavam com o seu rosto em formato de maçã. Não gostava muito dos seus olhos castanhos avelã, pois achava que os esverdeados combinariam mais com o tom loiro de seus cabelos. E por falar em cabelo, suas madeixas loiras clamavam por uma hidratação urgente, afirmavam a falta de cuidados de ultimamente. As rodelas de pepinos somente tinham suavizado as olheiras, mas não estava do jeito de que gostaria. E para piorar ainda mais, nessa manhã havia nascido duas espinhas novas.

Há três dias, havia comido dois cupcakes de chocolate. Sabia que não deveria tê-los comido. Olha só no que tinha dado: duas espinhas novas e o gosto achocolatado ainda grudado no céu da boca. Isso sem contar nos quilos que devia ter engordado ao consumir as 1170 calorias. Precisava se pesar urgentemente.

Tirou os brincos, a pulseira de dadinhos roxos e sua camisola.

Fechou com força as pálpebras, contou até 3 e subiu na balança. Segurou um pouco da respiração descompassada.

1, 2, 3 e já. Abriu os olhos e apertou a vista. 49,300 kg.

Suspirou aliviada. Já tinha perdido cerca de 200g essa semana. A cada dia estava próxima de sua primeira meta: chegar ao 49kg.

Depois poderia ir para a sua meta nº2: 48kg.

47kg era a sua terceira meta.

Emagrecer. Engordar jamais.

Garotas boas não comem.

Garotas populares não engordam.

Ryan Miller gostava de garotas magras.

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Estava em pé sentindo a brisa trazendo o cheiro verde e recém-cortado da grama, não parava de assistir dois jogadores de futebol se atracaram, ao passo que a bola era lançada para o Running Back do time. Fechou os olhos e escutou um urro e um baque no chão. Não via nenhuma graça em um esporte violento como o futebol americano. Claro, que nunca falaria isso em voz alta na frente do Ryan, seu namorado.

Ryan Miller era o capitão do time de futebol americano e, em sua opinião, o melhor jogador. Com o corpo definido pela academia semanal, o cabelo um pouco raspado em estilo de fuzileiro naval e a combinação de olhar doce e sorriso cativante o tornava um dos garotos mais charmosos e cobiçados da escola. Contraiu os lábios ao lembrar que essa última parte lhe causava enormes dores de cabeça por causa de “umazinhas” ficarem dando em (cima?) do SEU namorado na maior cara de pau.

Nesse momento, observava Ryan bebendo uma garrafa de água. Ao perceber que ele a viu, acenou sorridente.

Ryan se aproximou.

— Olá, amor! — deu um beijo de leve nos lábios dele.

— Ahn… oi! — ele a cumprimentou com o sorriso forçado. — Tudo bem?

— Melhor com você agora!

Querendo matar as saudades que teve a todo momento, colocou os braços em volta do pescoço dele. Ryan fingindo não entender, tratou logo de retirar os braços rapidamente.

O que tinha feito? Será que ele estava a achando gorda? Sabia que ter perdido 200g não seria suficiente.

— Desculpa — tentou o quarterback concertar o erro que acabara de cometer —, mas… eu… Estou suado.

— Eu nunca disse que tinha problemas com o seu suor.

— Bem… mas eu… ahn… — Miller coçava o nariz, olhando de um lado para o outro. — Ah… acho melhor voltar ao treino… sabe como é, né? O Sr. Gold pode… me dar uma bronca. Então… tchau!

— Tchau! — despediu-se seca, enquanto ele voltava apressado para o treino.

Franziu a testa tentando achar uma resposta do problema de Ryan Miller? Desde que ele voltara do acampamento de verão que estava agindo estranho e distante.

— Oi colega! — saltou para o lado, assustada.

Era somente Melissa Fuentes, sua amiga, balançado o rabo-de-cavalo castanho de um lado para o outro.

— Ai que susto! — Mel ainda não trocara de uniforme desde a última vez que a viu no treino das líderes. — O que foi?

Melissa já havia a chamado para conversar sobre algo “super sério”, mas como tinham aulas de horários diferentes e depois durante o treino das líderes só se focar nas acrobacias, não permitindo nenhuma conversa, nem acabou falando com ela direito.

— Ah sim... Tenho grandes N-O-V-I-D-A-D-E-S! — foi forçada a sentar na arquibancada pelas mãos da amiga. — Sabe ontem eu estava no Facebook quando o Peter me chamou para conv…

Havia discutido com o namorado antes de ele ir para o acampamento. Tudo começou quando ele pôs na cabeça que iria ao acampamento e tentou convencê-la a acompanhá-lo na “aventura”, aceitou ao vê-lo tão alegre. Ao passar dos dias, mudou de opinião e foi comunicar a ele sobre a decisão de não ir. Explicou que não gostava de viver rodeada por mato, odiava mosquitos e preferia deitar em sua cama aconchegante a dormir no chão frio e duro da floresta. Ryan não ficou muito feliz.

— Você está bem, Nicky? — a voz aguda de Melissa a tirou dos seus pensamentos

— Claro que estou — forçou um largo sorriso na face. — Por que não estaria?

— Não sei. Talvez por ter concordado quando a chamei de vadia loira mais rodada que pratinho de micro-ondas. — Sua boca formou um grande “o”. — Brincadeirinha! Mas... você não estava prestando atenção no que eu falava.

— Desculpa é que eu estou com a cabeça em outro lugar. — se encostou na arquibancada e cruzou as pernas. — Prometo prestar atenção dessa vez.

Ou tentar pelo menos.

— Não — negou a morena. — Me fala o que aconteceu.

— Nada! — mentiu.

— Nada? Mesmo? — Melissa tinha um olhar cheio de preocupação. — Vamos lá. Você sabe que pode confiar em mim, colega.

Por mais que a Mel tivesse um tom enjoativo ao falar “fofa, colega, queridinha” talvez… devesse contar para a morena as suas desconfianças. Ainda mais quando não está falando a um bom tempo com a 1ª opção. Por que não?

— Hum… É que o Ryan vem agindo tão estranho comigo ultimamente, sabe?

— Não, não sei! Me conta isso direito.

— Bem… desde a volta daquele acampamento de verão, que ele está agindo meio distante e frio comigo.

Mel a olhou com pena. Odiava esses olhares de pena, odiava ser o centro desse tipo de olhar, era frustrante.

— Hum… Vocês já…? — Melissa fez alguns gestos.

— Não… claro que não. Eu…— o rubor tomou a sua face. Subia e descia a pulseira no pulso, constrangida.

Amaldiçoava o dia que tinha jogado verdade e desafio com a Mel e outras colegas. Deveria ter desconfiado que naquele dia iriam fazer esse tipo de pergunta. Por que não escolheu desafio?

Melissa deu um sorriso vitorioso.

— Há! Está explicado.

— C-como?

— Querida Nicky— Mel colocou o braço sobre o seu ombro —, ele quer sexo com você.

Não, não podia ser isso. Realmente não podia ser isso! Tudo bem que o Ryan já a tinha pressionado a… a ‘fazer’, mas quando ela explicou seus motivos, ele a prometeu esperar.

— Não, não…— Murmurava, sentido suas bochechas esquentarem.

— Não adianta negar, Nickyzinha!

Queria ser um avestruz para enfiar a cabeça na terra.

— Mas…

— “Mas”, nada! Há quanto tempo vocês namoram? Um ano, certo?

Assentiu vagarosamente.

— Ele deve estar achando que você está fazendo doce e….

— Eu não estou…

— É, eu sei que não. Mas entenda fofa, o Ryan não vai te esperar a vida toda. Ele é homem.

— Mas… eu… eu… não te…

— E se ele quiser trocar você por outra, hein? — sugeriu Melissa.

Não queria imaginar isso.

— Pois é, amiga. Se você não parar com esse medo bobo, Ryan vai partir para outra.

Abaixou a cabeça, observando o par de all stars brancos que, nesse momento, pareciam tão interessantes. Eram tão trabalhosos deixá-los brancos para o dia seguinte.

— Já está na minha hora, tchau flor. — as duas trocaram um beijinho na bochecha. — Pense no que eu disse.

Acenou positivamente com a cabeça.

Não queria perder o Ryan. Muito menos, queria ser trocada por qualquer vadiazinha da escola. O amava muito.

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Fez uma careta ao dar um gole da Heineken. Respirou profundamente e recapitulou o plano mentalmente. Bem, ela já havia convidado e convencido seu namorado a ir à sua casa. Não revelou o motivo principal, é claro. Ryan era bem fácil de enganar, as vezes.

Felizmente seu pai e sua madrasta tinham aula de salsa hoje e já haviam saído, então a casa estaria livre. Abriu um pequeno sorriso ao imaginar seu pai dançando salsa, desengonçado. Deveria ser muito engraçado assistir pessoalmente.

Já a terceira parte do plano estava quase completa. Tinha convencido o seu irmão mais velho a levar Brits ao cinema. Isso custou uma mesada.

Porém, Britney bateu o pé e disse que não iria a lugar nenhum com o Chuck

— Não! — negava a pequena de 5 anos.

— Por que não? — questionou.

— Porque ele é chato e fica roubando o meu nariz. — Brits a olhou. — Já você é super legal!

Não podia culpa-la por não querer ir com ele. Chuck em matéria de irmão mais velho era uma negação.

— Legal? — exclamou indignado o seu querido irmão, sentado no sofá e com a velha jaqueta preta de motoqueiro. — Eu que sou o irmão mais legal e engraçado. Duvido que a Dominique saiba fazer isso. — Ele se aproximou perto da Britney e tirou uma moeda da orelha da pequena. — WOW! Olha só que temos aqui, baixinha.

Chuck e os truques de mágica de sempre.

— Nossa!

Britney era tão ingênua que sempre era enganada pelas brincadeiras idiotas do Chuck.

— O que você fez? — questionou Brits, os olhos brilhando cheios de curiosidades.

— Se for comigo ao cinema, eu falo o segredo.

— Certo!

Brits se levantou e deu um beijinho em sua bochecha. A baixinha era muito fofa.

— Tenham uma boa noite! — se despediu após vê-los sair pela porta, não sem antes trocar um olhar severo com o Chuck que dizia “Nada de confusão. Por hoje”. Ele piscou e sorriu zombando da sua cara.

Chuck era um grande cretino que tivera a sorte de a genética ter sido favorável com ele e assim ter nascido com a cor da íris verde.

Se jogou no sofá e ligou a TV. Rezava para que os dois estivessem de volta antes da meia-noite, antes que seu pai chegasse e descobrisse seus planos. Sabia como Fred Jones poderia ficar possesso com certas “coisas”.

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Ótimo. A casa era somente sua.

Tomou mais um banho. Passou um perfume. Colocou um vestido vermelho. Guardou alguns preservativos na gaveta do criado-mudo. Jogou pétalas de rosas vermelhas na cama. Colocou um CD no Home Theater, pronto para tocar uma música romântica. É, estava tudo pronto e perfeito!

Se olhou no espelho pela milésima vez. Suas madeixas loiras estavam lisas por causa da hidratação e escova que fizera no Betty’s Hair, seu salão de beleza preferido. Tinha colocado uma sombra clara nas pálpebras e um batom vermelho chamativo nos lábios.

Sua respiração estava descompassada de tanto nervosismo. Ele sabia que não estava pronta, mas que também não queria perder o Ryan.

“É ele. É ele. E agora o que eu faço?”, pensou desesperada ao ouvir a campainha. Seu coração estava batendo muito forte, parecendo que queria sair pela boca. Suas pernas pareciam feitas de gelatina.

Respirou profundamente e caminhou rumo à porta da sala.

Contou até 3 e abriu a porta.

Ryan estava ali parado em sua frente, usando uma camiseta polo azul e calças jeans. Estava lindo.

— Olá, querido!

Beijou de leve os lábios do garoto surpreso.

— O que achou? — Perguntou à ele, dando uma rodadinha.

— Ahn… você está bem bonita. Se… seus pais estão em casa?

O puxou para dentro, empurrando a porta em seguida com o pé.

— Não. — Ryan engoliu seco. — Estamos a sós em casa.

Entrelaçou seus braços em volta do pescoço dele e o beijou apaixonadamente.

— Sabe Ryan, nesses últimos dias andei pensando muito — andava muito mentirosa nesses últimos dias. Pegou as mãos do seu namorado e começou a guiá-lo escada acima — e quer saber? Acho que já estou pronta para darmos um passo importante na nossa relação. — fingiu um sorriso confiante.

Tentava ao máximo não mostrar suas inseguranças e seus medos.

Abriu a porta do seu quarto revelando a decoração “especial”.

— Puxa! Você f…— Calou a boca dele com um beijo. Quanto mais cedo acabasse, melhor.

Com as mãos tremendo, tirou a camiseta dele e o empurrou em direção à cama. Ele caiu de costas e se deitou ao lado dele o beijando.

Ryan inverteu as posições e ficou em cima dela e distribuiu beijos por toda a região do seu pescoço. Passou as mãos por suas costas, abrindo lentamente o zíper do vestido. Tremeu e segurou sua vontade de empurrá-lo.

— Eu amo você! — sussurrou no ouvido do moreno, tentando ao máximo controlar seu nervosismo.

Esperou que ele também respondesse à sua declaração, para acalmá-la e a fazer acreditar que aquilo era certo. Mas Ryan não disse nada. Ele parou o que estava fazendo e se levantou.

— E-eu… acho que... não posso fazer isso. — O quarterback pegou a camiseta no chão e a vestiu. — Melhor paramos aqui… seus pais podem… bem… desculpa. — Ele bateu a porta do seu quarto a deixando sozinha no quarto lilás.

Por um lado estava bem aliviada, mas… pelo outro se sentia um completo lixo. Será que ela não era linda o suficiente? Magra e popular o suficiente para ele?

Escutou um barulho de porta batendo. Ryan já havia saído.

Levantou-se da cama e encarou o espelho do guarda-roupa. Abafou o grito. Uma figura gorda e quatro-olhos a encarava.


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Notas finais do capítulo

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