Marshall Zephyrum escrita por Rosaly Herrick


Capítulo 2
Capítulo 1 - "Século XXI - A filha de Lúcifer!"




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– ... E se você falhar dessa vez... - Disse uma voz grave e cheia de mal. Parecia a voz de um demônio. Não... Era a voz de um demônio! Era Mephistofeles, que havia convocado novamente Zephyrum para uma missão. - ... você volta direto para o inferno, muleque! Não é difícil: é só matar a menina e trazer a alma dela! Ela provavelmente nem sabe quem ela é de verdade! - Completou a voz. Parecia irritado, e realmente estava, afinal não se alimentava direito de nenhuma alma há muito tempo.
– Eu já entendi, roxão. Mato a menina, prendo a alma dela em um vidrinho e trago para você. Mas me diga, e se o pai dela descobrir alguma coisa? Eu me visto de coelhinho da páscoa e finjo que fui dar ovos para ela? - Disse Zephyrum. Como de costume, o garoto deboxava do demônio. Não achava justo ter que matar pessoas porque foi julgado impuro por uma besta que come a alma de pessoas puras.
– Você dá um jeito, seu idiota. Agora, some daqui!
Após as palavras do demônio, um buraco se abriu logo abaixo dos pés de Zephyrum. Ele caiu em uma imensidão negra, um vazio sem fim, mas logo chegou ao seu destino final: Inglaterra, século XXI. Zephyrum arrumou sua roupa, que estava amassada por conta da difícil viagem do inferno à Terra, e logo pôs-se a caminhar, à procura de seu alvo.
Sua missão era: matar uma das trocentas filhas de Lúcifer. Era uma criança ainda, se tivesse 12 anos era muito. Seu nome era Mitsue. O sobrenome? Ninguém sabia. Tudo o que Zephyrum sabia era que ele deveria matar essa menina e levar sua alma para Mephistofeles. E se Lúcifer chegasse para defendê-la? Bom, ele tera que correr... e muito!
Com medo de Lúcifer, o menino se apressou. Não foi difícil: Mitsue deveria sair da escola em mais ou menos meia hora e, em quarenta e cinco minutos, ela passaria em frente à um parque. Alí, ela seria abordada pelo rapaz e sequestrada, até que chegassem à um local seguro para que sua morte fosse executada.
Eram cinco e quarenta e cinco da tarde. Chovia muito, e estava frio, mas Zephyrum vestia apenas uma blusa e uma calça. Por sorte, em um dos seus bolsos havia um gorro. E, por mais sorte ainda, a menina não se atrasou um segundo: passou pelo parque no horário previsto. O rapaz andou em sua direção e, como se fosse um desentendido, perguntou:
– É, por favor... Você sabe aonde fica o Castelo da Rainha? Eu queria... Tomar um chá!
Era uma pergunta idiota. Tão idiota que a reação da menina foi de total desentendimento do que o rapaz queria com aquilo. O Castelo da Rainha? Quem, em sã consciência, desejaria ir lá se não fosse por questões políticas?
– É... Eu não sei. Mas eu sei onde fica uma boa clínica para loucos! Posso te levar lá, é só me acompanhar. - Disse Mitsue com um sorriso no rosto.
A menina tinha os cabelos negros como o céu da noite e os olhos tão azuis quanto o céu de um dia ensolarado. Seu tom de voz era claramente deboxado, e seu sorriso de canto confirmava seu tom. Isso irritou Zephyrum, mas ele não reagiu de forma alguma. Ele apenas sorriu de canto, como ela, maliciosamente, e continuou a falar como um desentendido.
– Ah, tudo bem. Eu não preciso de um sanatório, eu preciso apenas de um chá. Será que você não quer vir comigo, pequenina? Parece que você está cansada. Um chá poderia te animar.
Ela exitou por um tempo. Mas acabou aceitando o convite ao cometer o terrível erro de olhar nos olhos azuis do garoto. Ele era tão sedutor! Isso fazia tudo ser fácil, principalmente levar uma vítima para longe quando ele queria matá-la.
Andavam ombro a ombro. Os passos eram lentos, apesar da garoa que caia, e conversavam como se fossem amigos há muitos anos. Chegaram à uma espécie de praia deserta. Zephyrum sentou-se na areia e esperou até que a menina fizesse o mesmo. Um longo período de silêncio tomou conta no local. Zephyrum sorriu de canto maliciosamente e riu baixinho, consigo mesmo. Agora, não parecia mais que os dois haviam alguma vez em suas vidas conversado como amigos nem nada do gênero.
– Você sabe porquê está aqui, menina? - Perguntou ele.
– Para tomar chá... Não é mesmo? - Respondeu ela.
– Não. - Zephyrum riu baixinho e aproximou-se da menina, ainda com aquele sorriso sombrio em face. - Você sabe quem é seu pai?
– Sim, claro. Ele se chama Lúcifer. Eu nunca o conheci, mas eu sei quem ele é.
A resposta da menina assustou Zephyrum. Ele realmente acreditava que ela não sabia quem era seu pai. Isso dificultaria um pouco as coisas... Afinal, um filho do diabo, quando toma consciência de quem é, é porque passou por algo sobrenatural.
– Hum... Então você sabe porque eu...
– Todos os nossos irmãos também têm os olhos azuis, como você e eu? - Perguntou a menina, que fitava o rapaz. - É... Digo. Eu sei que você é meu irmão, eu sinto, porém nunca conheci ninguém como "nós".
Zephyrum exitou. Achou que a menina podia estar blefando, mas, olhando em seus olhos não encontrou nenhum vestígio de falsidade. Ele recuou e sentou-se ao lado da menina. Virou-se de frente para o mar, calmamente, e voltou a apenas conversar com ela como fazia antes de chegar alí.
– É. Todos temos... - Zephyrum ficou em silêncio. Fechou os olhos por alguns segundos e, quando os abriu novamente, passou a fitar a jovem. Um de seus olhos azuis agora era vermelho como um rubi e o outro era roxo e sombrio. - Todos temos os olhos azuis, enquanto não conhecemos nosso verdadeiro poder. Depois que o conhecemos, alguns, como eu, aprendem a matê-los azuis, ao invés de vermelhos como os de um filho de demônio. O meu outro olho, o roxo, significa que sou servo de Mephistofeles. - Ele suspirou e fez outra pausa. - E hoje, eu vim atrás de você para levar sua alma para aquele demônio asqueroso chamado Mephistofeles.

Mitsue não parecia assustada. Estava... indiferente quanto ao fato. Ela ficou em silêncio por alguns instantes, apenas olhando para o rapaz, até que sorriu. Sorriu de canto e deitou-se no chão. Ela observava as estrelas com um sorriso no rosto, parecia mais que o rapaz havia dito a ela que ela tinha passe livre para o paraíso.

– Ótimo! Até que enfim alguém veio me tirar desse mundo. - A menina abriu os braços e os mecheu no chão, em sincronismo com suas pernas, fazendo um "anjo". – Agora faça logo o que...

– Eu não vou levar sua alma. - Interrompeu Zephyrum. – Você é minha irmã... E eu vou te proteger mesmo que isso custe a minha vida.

O sorriso da face da menina desapareceu. Ela sentou-se novamente e passou a encarar o rapaz, o qual sorria agora assim colo ela fazia antes. Lágrimas vieram aos olhos da menina e ela começou a socar o peito do rapaz enquanto chorava.

– Eu NÃO quero que você me proteja! Eu não preciso disso! Vá embora, ou leve-me desse mundo! Você não tem noção de como é difícil a minha vida... Ser julgada por todos, ser chamada de estranha!

A atitude da garota assustou o rapaz. Como era possível alguém desejar tanto assim ir para o inferno?! O sorriso de Zephyrum sumiu rapidamente. Ele se limitou à uma expressão vazia e silênciosa, até que ela parasse de chorar e de bater nele.

Zephyrum abraçou forte a menina e então simplesmente se levantou sem dizer uma palavra sequer. Deu alguns passos para frente e colocou as mãos nos bolsos das calças. Tirou de lá um maço de cigarro, e aproveitou para fumar. Tanto ele quanto ela permaneceram em silêncio até que o cigarro se apagasse, e até que sua fumaça toda fosse embora.
– Você tem certeza do que você quer, princesa mimada? - Disse ele, sério.

– Princesa mimada?! Olha aqui, você não sabe o que é passar por tudo que eu passei! A minha vida é...

– CALADA! - Zephyrum gritou com raiva. As lamentações da menina eram tantas que estavam começando a dar dor de cabeça nele. – Você sabe o que é ser punido por um pecado mortal e acabar, por causa disso, se tornando um monstro?! ISSO sim é insuportável! Ter que conviver consigo mesmo, todos os dias, pelo resto da eternidade! Isso sim é doloroso! Você tem uma vida perfeita e se faz de vítima!

Zephyrum avançou rapidamente em direção a menina e a empurrou para o chão novamente. Colocou os joelhos ao lado da cintura dela e apertou o pescoço da menina com força suficiente para deixa-lo marcado com seus cinco dedos, como se fossem um colar.
– É... conviver consigo mesmo eternamente... - Disse ele. Após essas palavras, saiu de cima da menina, sorrindo. – E essa é sua sentença, mesmo que isso custe minha estadia eterna no inferno: já que você também é um demônio, boa sorte se aturando eternamente!

Zephyrum virou-se de costas e sumiu em uma fumaça roxa. A menina ficou alí, deitada no chão, sem saber nem entender o que havia acontecido. Mitsue levantou-se e foi para casa. Anos e séculos e milênios se passaram, mas os dois nunca mais se encontraram novamente.


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