Momentos de percabeth escrita por CarlaAn


Capítulo 2
Capitulo 2: Percy




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Quando Percy acordou, estava deitado de pijamas em sua cama. Levantou-se sobressaltado e olhou em volta. Estava na sua cabine.

__ Não pode ser! __ falou.

Fechou os olhos e olhou novamente. Deveria estar sonhando. Ou será que...

Não, pensou atordoado, não pode ter sido um sonho. Eu e Annabeth...

__Não, não. Mil vezes não! __ Urrou Percy jogando o travesseiro na parede.

Ele se levantou da cama.

Calma, Percy Jackson, pensou, deve haver alguma explicação, a sua vida nunca foi muito racional mesmo.

Percy coçou a cabeça. Lembrou da noite anterior. Ele estava para baixo por causa dos amigos que deixara no Tártaro. Annabeth tentou consolá-lo. Beijaram-se e, por um momento, Percy sentira uma vontade de ir mais adiante, mas não tivera coragem de declarar aquilo para a namorada. No entanto, Annabeth, como sempre, tomara a iniciativa. Convidara-o para sua cabine e então...

__ Nós dormimos juntos! __ Falou Percy com olhar sonhador como se começasse a lembrar de cada detalhe dos momentos com Annabeth. __ Quer dizer, dormimos só depois!__ Constatou sorrindo com aquele seu sorriso sarcástico.

De repente, uma nuvem passou pelos seus olhos e Percy ficou sério.

__ Como posso ter acordado aqui na minha cabine! Não me lembro de ter vindo pra cá!

Percy levantou-se ainda meio desnorteado.

__ Vou tomar uma ducha. Preciso colocar as idéias em ordem.

Depois do banho, enquanto voltava para a cabine, Percy teve vontade de conversar com sua mãe. Não diria a ela, é claro, o que tinha acontecido entre ele e Annabeth, ficaria constrangido. Mas sentia uma grande necessidade de ouvir a mãe naquele momento. A voz suave e calma de Sally sempre tivera o poder de acalmá-lo, tanto quanto os doces azuis. No entanto, pensou:

Como mandar uma mensagem de Íris agora?

Foi então para a parte de trás do navio, aonde raramente ia alguém. Além do mais, estava muito cedo e os amigos certamente ainda não tinham acordado. O sol despontava no horizonte, o céu claro e brilhante convocava a um banho de mar que naquele dia tinha o mesmo tom de verde dos olhos de Percy. O garoto sentiu uma vontade imensa de mergulhar ali mesmo, afinal o mar sempre o acalmara, mas se conteve, precisava falar com a mãe.

Convocou então um jato de água do mar, o suficiente para formar um arco-íris.

__ Oh, deusa, aceite minha oferenda! __ Disse jogando um dracma de ouro. __ Sally Jackson, Upper East side, Manhattan.

Imediatamente a imagem da mãe surgiu na névoa. Ela estava deitada em uma cadeira de descanso no quarto de Percy. Tinha os olhos fechados e um livro aberto no colo. Parecia ter pegado no sono enquanto lia. Percy riu. Sua mãe sempre fazia aquilo. Mas o garoto estranhou o fato de Sally estar no quarto dele.

Minha mãe deve estar morrendo aos poucos de preocupação com a falta de notícias! refletiu angustiado.

De repente sentiu-se o mais egoísta de todos os filhos. Preocupara-se mais com o grande acontecimento da noite anterior, que na verdade não sabia nem se realmente tinha ocorrido, do que com a pobre mãe que ficara tantos dias sem notícias dele. Annabeth dissera que, pouco antes de zarpar no Argo II a fim de encontrá-lo, estivera com Sally para tranquilizá-la e pegar algumas roupas para Percy. Mas tantas coisas aconteceram depois que, sinceramente, Percy não se lembrara de mandar notícias. Ficou ainda mais arrasado.

__ Mãe! __ chamou baixinho para não assustá-la.

Sally abriu os olhos ainda um pouco sonolenta.

__ Percy! É você? __ perguntou confusa. __ Filho! Deus do Céu! É você mesmo? Ou ainda estou dormindo?__ Falou tentando tocar a névoa como se conseguisse acariciar o rosto dele.

Os olhos de Percy encheram-se de lágrimas, mas o garoto conseguiu conter o choro. Sally, no entanto, chorava copiosamente.

__ Mãe! Eu estou bem. __ Falou, como sempre, preferindo omitir as partes deprimentes da história. __ Estamos agora indo para Atenas. O Argo II é lindo, uma tirreme enorme! Sabia que eu tenho a minha própria cabine? __ Revelou com um sorriso, tentando distrair a mãe.

Sally pareceu ficar mais calma.

__ E Annabeth? Ela está com você? Meu filho, você não sabe o quanto essa menina sofreu todo esse tempo! Pensei que ela não fosse aguentar. Ela te ama muito, querido.

Percy sentiu seu coração apertar.

__ Ela está aqui comigo sim, mãe. Estamos todos bem.

Sally olhou fixamente nos olhos do filho. Ele sentiu que a mãe o analisava.

__ Alguma coisa mudou em você, Percy. Tem algo mais a me dizer?

Percy emudeceu. Por mais que tentasse, nunca fora muito hábil em esconder seus sentimentos da mãe.

__ Percy. __ Chamou Sally enfática. __ Paul colocou algumas coisinhas na bagagem que mandamos pra você.

O garoto sentiu seu rosto queimar. Como pudera esquecer o pequeno pacote que encontrara debaixo de suas roupas?

__ Ah, tá. __ conseguiu falar constrangido. __ Vocês pensam em tudo não é?

__ Você já vai fazer 17 anos não é mesmo? Além do mais, alguém tem que pensar por vocês jovens. Às vezes são tão sem juízo! __ Exclamou ainda olhando para Percy como se quisesse que ele confessasse algo. __ Mas confio na criação que te dei e sei que você saberá se cuidar. Aliás, vocês dois. Afinal, Annabeth sempre foi tão responsável, não é?

Percy não tinha palavras. Pensou que se ele e Annabeth tivessem mesmo feito aquilo que ele pensava que tivessem feito, a última coisa de que ele se lembrara foi de usar as coisinhas que Paul enviara. Tentou parecer natural.

__ Claro mãe, fique tranquila que o seu filho aqui sabe se cuidar muito bem. Agora preciso ir, pois meus amigos já devem ter acordado e precisamos traçar planos para a missão. Lembranças para o Paul e __ Fez uma pausa para respirar__ Obrigado pelas... ham, ham __ pigarreou sem jeito. __ Você sabe.

__ Que seu pai lhe abençoe. Mande notícias assim que puder e já sabe, use a ...

De repente, a conexão caiu. Percy respirou fundo. Tinha a melhor mãe e o melhor padrasto do mundo e era o semideus mais desajuizado do planeta.

Enquanto isso, os outros tripulantes do Argo II reuniam-se no refeitório para o café da manhã. Após se recuperar da conversa com a mãe, Percy passou pela cabine de Annabeth, mas ela já não se encontrava. O garoto resolveu entrar a fim de verificar algum vestígio de sua estada na noite anterior, mas infelizmente Annabeth já havia feito a cama. Tudo estava em plena ordem como sempre.

Esse é o lado ruim de ter uma namorada organizada, pensou ele contrariado.

Saiu da cabine e seguiu para o café da manhã.

No caminho, ouviu uma conversa animada que vinha do refeitório. Aparentemente, todos falavam ao mesmo tempo. Percy ouviu a gargalhada de Leo e Jason e vozes femininas, mas não identificou a de Annabeth. Mas ela estava lá.

__ Bom dia a todos! __ Cumprimentou.

Imediatamente, todos pareceram notar o rosto de preocupação de Percy. Hazel se adiantou.

__ Será mesmo um bom dia, Percy Jackson? __ Ela interrogou olhando fixamente nos olhos do rapaz como se procurasse o motivo daquela ruguinha que aparecera na sua testa.

__ Bem, tendo em vista que estamos no meio de uma guerra. __ Respondeu irônico, depois se arrependeu. __ Só não dormi bem. É isso. __ Ele tentou se desculpar com um sorriso. Mas Hazel, que já o conhecia bem, notou que algo estava muito errado com o amigo.

Devem ser as lembranças do Tártaro, pensou, sentindo dó do garoto.

__ Annabeth também disse que não dormiu bem. O que aconteceu com vocês dois, hem? __ Tentou saber Piper preocupada. __ Já temos muitos problemas, não precisamos de uma briga de casal. Tratem logo de fazer as pazes! __ Ordenou usando o charme.

__ Não é nada disso que vocês estão pensando. __ Manifestou-se Annabeth.__ Acham que depois de tantos meses separados e mais não sei quantos dias no Tártaro, nós ainda íamos perder tempo brigando um com o outro! __ Piscou para Piper, já sabendo que o feitiço da amiga funcionara, pois aquelas foram as primeiras frases completas que ela conseguira pronunciar desde o início da manhã.

Percy que até então estava de cabeça baixa, parecendo arrumar coragem para morder o seu primeiro pedaço de pão, olhou para a namorada. Ela estava como sempre linda, com seus cabelos loiros caindo-lhe nos ombros. Só uma coisa ele percebeu: seus olhos estavam mais cinzas do que nunca, nublados melhor dizendo.

Ela também não está legal. , constatou Percy.

Annabeth pegou na mão dele e a expressão facial da garota fez Percy entender que ela queria que conversassem a sós. Mas não podiam se ausentar naquele momento, já que era geralmente durante as refeições que a equipe de semideuses traçava os planos para as batalhas. Seus amigos certamente gostariam de ouvi-los. Então o caso deles ia ter de esperar. Percy afagou os cabelos loiros de Annabeth e falou-lhe ao ouvido:

__ Mais tarde, tá? Eu também preciso conversar com você.

Ela assentiu com um meio sorriso. Percy estranhou. Sua namorada não era mais a racionalidade em pessoa. Aquela que deixava os assuntos particulares para segundo plano. Alguma coisa havia mudado em Annabeth, mas algo na mente de Percy lhe disse que aquilo não era ruim. Teria ficado imerso em seus pensamentos mais alguns minutos, se Jason não o tivesse chamado à realidade.

__ O que você acha Percy? Concorda com o plano que eu e Frank bolamos? __ O filho de Zeus olhava-o fixamente. Aqueles olhos azuis inquiridores deixaram Percy constrangido. Afinal não ouvira nada do que eles estavam falando. E agora? O garoto precisava sair daquela situação sem demonstrar que deixara outras preocupações, que não eram sobre a missão deles, tomar conta de seus pensamentos. Olhou para Annabeth pedindo ajuda. Os olhos cinzentos da garota de repente brilharam. Ela havia percebido a enrascada em que Percy se metera. O pior é que ela não parecia estar em condições de ajudar. Percy percebeu que a garota também ficara alheia às discussões por um bom tempo. Mas era filha de Atena. Percy tinha que confiar nela. E sua namorada mais uma vez não o decepcionou.

__ Deixe que eu responda, Percy. __Falou mostrando segurança. __ Afinal, minha mãe é a deusa das estratégias, não é? __ Argumentou tomando fôlego.__Acho que Percy vai concordar comigo que para uma boa visualização do plano, vocês devem... __ Fez uma pausa olhando em volta, aparentemente procurando algo.__ Desenhar aqui. __ Mostrou uma folha de guardanapo de papel. Suas palavras denotavam tanta autoridade e certeza no que diziam que, por mais que achasse estranho, ninguém ousou discordar. Annabeth continuou. Sem olhar para Percy nem uma vez.

__ Assim vocês podem nos explicar o plano novamente só que de forma didática. Afinal, não pode haver dúvidas. __ Falou enfática e com uma expressão tão séria e responsável que todos a olhavam admirados. Inclusive Percy.

Depois de breve silêncio, Ele conseguiu se manifestar.

__ Pois é, antes de eu concordar ou não, é necessário que todos entendam muito bem o plano e os riscos a que cada um estará sujeito. Assim, após a exposição de vocês. __ Ele olhou para Annabeth. __ colocamos o plano em votação, afinal somos uma equipe. Não há líder. Acho que todos nós aqui já mostramos nosso valor e cada um sabe quais são seus pontos fortes e que somos sim, capazes de saímos vencedores de situações difíceis.

__ Falou o meu chapa, Percy Jackson! __ Leo saudou eufórico, levantando a mão para Percy bater. Ao que o amigo retribuiu.

Percy deu um suspiro que aparentemente só foi percebido pela namorada ao seu lado. Eles se entreolharam e sorriram aliviados.

Após uma hora de explanação do plano, com breves intervalos para elucidar as dúvidas que ora surgiam, Jason e Frank encerraram. Como Percy recomendara, a missão não teria um líder, mas equipes que sairiam com funções determinadas. Desta forma, pensaram, uma equipe poderia ir ao socorro de outra que estivesse em apuros. E sempre haveria uma equipe de plantão para tomar conta do navio e zarpar caso houvesse necessidade de uma fuga imediata.

Percy e Annabeth, graças aos deuses, fariam parte da mesma equipe. Assim, com a desculpa de irem arrumar as coisas para a missão, conseguiram finalmente ficar a sós para conversar. Foram para a cabine dela.

Percy abraçou a namorada com força.

__ Deuses, que sufoco! Achei que nunca íamos conseguir conversar.__ Seu peito ardia de tanta ansiedade .

Annabeth lançou-lhe um olhar triste.

__ O que você tem? __ Perguntou ele.

__ Estou angustiada Percy. Acho, quer dizer, pelo que entendi, nós dois tivemos o mesmo sonho.

Ele olhou-a com espanto. Não acreditava que Annabeth pensasse que tudo aquilo que viveram naquela noite e parte da madrugada fosse apenas um sonho.

__ Sonho? __ Perguntou indignado. __ Annabeth, você sempre foi mais esperta do que eu. O que está acontecendo com você, hem? __ Falou pegando a sua mão e levando-a para a cama. __ Não lembra? Nós nos sentamos aqui. Eu te toquei... __ Enquanto Percy falava, ele ia repetindo os mesmos gestos que havia feito na noite anterior: Ele tocara nos cabelos dela, depois no rosto, aí eles se beijaram.

Percy repetiu cada movimento até que Annabeth caiu em prantos.

__ Não pode ser! Foi real demais! __ Lamentou-se enquanto enxugava as lágrimas.__ Mas eu amanheci aqui nesta cama sozinha. E vestida!

Ela olhou para ele.

__ A não ser que você tenha saído daqui sorrateiramente para não me acordar, mas... __ Duas rugas se formaram na testa dela. __ Como você poderia ter me vestido sem que eu acordasse?__ Fez uma pausa para pensar. __ Não, isso é ridículo.

Percy a examinava como se buscasse nela as respostas, como sempre fazia quando estava em apuros, mas dessa vez não iria conseguir, a garota estava tão confusa quanto ele.

__ Alguma explicação deve ter. Mas uma coisa é certa, Annabeth: O que aconteceu entre nós dois aqui neste quarto não foi um sonho. E agora que eu estou aqui com você é que eu não tenho mais dúvidas.

Ela olhou para ele com tanta ternura que Percy não se conteve e a abraçou.

__Foi a segunda noite mais importante da minha vida. Não vou aceitar que seja só um sonho.

__ Segunda noite? __ Perguntou ela como se já soubesse a resposta__ E qual foi a primeira?

Percy sorriu.

__ A noite em que você me beijou de verdade pela primeira vez, Sabidinha. E a que nós começamos a namorar.

Eles se beijaram.

De repente, uma grande claridade invadiu a cabine. Percy e Annabeth sentiram uma suave brisa entrando, mas estava tudo trancado. Um perfume que Annabeth costumava usar quando ainda tinha 12 anos invadiu o ambiente. Percy inspirou nostálgico. Certamente aquele cheiro suave ficara marcado em sua memória. Uma voz conhecida de ambos surgiu do nada.

__ Como vão os meus pombinhos preferidos? __ A voz era doce e delicada e Percy jurava que já tinha conversado com a dona dela.

Annabeth abraçou-se ao namorado assustada.

__ Quem é você? Mãe? __ Falou esperançosa, mas depois percebeu que não poderia ser Atena. Ela com certeza não tinha aquela voz doce. Mesmo perturbada como estava na última vez que a vira, Annabeth lembrava que a voz da mãe oscilava: Ora grave e decidida ora engasgada e melancólica.

Percy já se preparava para sacar contracorrente quando uma névoa fina surgiu fazendo revelar através dela uma linda mulher.

__ Afrodite. __ Disseram ambos.

A deusa usava um vestido de gala como se estivesse pronta para um baile. O vestido era verde safira. Dele emanavam uns fachos de luz na mesma tonalidade como se Afrodite tivesse ligada na tomada. Os cabelos eram ora loiros como os de Annabeth, ora ruivos, ora pretos. Era difícil escolher com qual dos três a deusa ficava melhor. Percy desistiu de tentar.

__ Vai a alguma festa? __ Perguntou com ironia. Embora a deusa não merecesse. Ela sempre o ajudara. Percy lembrou quando tinha quatorze anos e Ares o levou para uma conversa com a namorada Afrodite. Ela dissera estar interessada em Percy porque sabia do verdadeiro motivo da sua missão na época: Annabeth, um amor que ele não confessava nem para ele mesmo.

__ Meu querido! __ Disse a deusa, aproximando-se do rapaz e segurando o queixo dele, o que deixou Percy sem graça, afinal ela era a deusa do amor e da beleza, era impossível ficar indiferente a Afrodite! __ Estou sempre pronta para uma festa. O amor é um evento! Você não acha?

Antes que Percy pudesse responder, Annabeth se manifestou:

__ Podemos saber o motivo da sua visita, senhora? __ Perguntou afastando o namorado do alcance da deusa.

Afrodite deu um sorrisinho que Percy considerou sensual. Mas tentou manter-se alheio ao charme dela. Tinha mais medo da fúria de Annabeth. Afrodite, no entanto, gostava daquela brincadeira de sedução. Deu uma rápida olhada pelo quarto e reclamou:

__ Minha querida! __ falou desapontada. __ Não acredito que você não tenha um espelho aqui!

__ Não tenho tempo pra isso, Afrodite! __ Annabeth respondeu indignada. __ Estamos no meio de uma guerra. Você se lembra?

A deusa pareceu entediada.

__ Ah, heroínas! Sempre pensando em guerras!__ Ela parecia flutuar enquanto falava. __ As guerras, meus jovens, são inevitáveis. Mas elas acabam. O Amor é eterno.

Quando ela disse aquilo, Percy percebeu que a deusa olhava fixamente nos olhos deles. Parecia que Afrodite queria mesmo é desvendar o íntimo de cada um. Percy, que já tinha passado por aquela experiência antes, sabia que não podiam esconder nada dela, mas percebeu que Annabeth já estava ficando incomodada com aquele encontro. A garota tentou falar, mas Afrodite se adiantou.

__ Veja você, Annabeth. Acaba de passar pela melhor experiência da sua vida e ainda não endireitou este cabelo!

Percy olhou para Annabeth. Ela parecia apavorada.

__ A que experiência você se refere? __ Ele questionou. Era difícil para o garoto olhar Afrodite nos olhos, mas tentou encará-la com naturalidade.

__ Meus docinhos, vocês sabem do eu estou falando. Mas se querem que eu mostre. __ Ela disse aquilo apontando para a parede a frente dos dois semideuses assustados.

Subitamente uma tela se formou e através dela uma cena podia ser vista.

__ Somos nós! __ Disseram os dois namorados perplexos.

A cena mostrava o momento em que Percy e Annabeth entravam na cabine na noite anterior e seguiu revelando tudo o que acontecera: os beijos, as carícias... Afrodite assistia a tudo sentada na cama de Annabeth e de pernas cruzadas com tanto entusiasmo como se estivesse numa sessão de cinema. Percy e Annabeth, por sua vez, assistiam às cenas imóveis, sem conseguir expressar qualquer reação. Ao mesmo tempo em que gostavam do que estavam vendo, afinal fora um momento único, não se sentiam à vontade de compartilhar aquilo com outro alguém, mesmo que esse alguém fosse a deusa do amor.

Afrodite teria assistido mais se Percy não se posicionasse na frente da tela tentando esconder as partes mais constrangedoras. Ele implorou:

__ Já chega! Por favor, desligue isso!

__Ah! Desmancha prazeres! __ Reclamou a deusa desanimada. Fez um gesto com a mão e a tela desapareceu. Afrodite olhou para eles. __ E agora? Acreditam que não foi um sonho?

Annabeth encarou o namorado. Ele entendeu o que a garota estava pensando: Afrodite estava por trás de tudo. Percy respirou fundo.

__ Afrodite, __ Tentou falar com cuidado. Não queria ferir a suscetibilidade daquela deusa. Seu namoro com Annabeth dependia de um bom relacionamento com a deusa do amor.__ Você tem alguma coisa a ver com o fato de nós dois termos acordado separados esta manhã, não tem?

A deusa deu de ombros.

__ Claro que sim, meu bem. Eu já te disse que acho você o mais fofinho de todos os heróis?

Percy corou. Olhou para Annabeth de rabo de olho. A menina queria esquentar. Agora Afrodite tinha um herói predileto e era logo o namorado dela.

__ Pode nos contar, por favor, o que você fez. __ Annabeth falou entre os dentes.

Afrodite pareceu ignorar Annabeth e voltou-se para Percy.

__ Você sabe, meu benzinho, o que a sua namorada estava pensando ontem, entre um beijo e outro?

Annabeth quis dizer algo, mas Percy fez sinal para que não falasse. Temia que ela brigasse com a deusa. Afrodite continuou.

__ Com certeza foi uma experiência dos deuses! __ Brincou. Em seguida olhou para uma Annabeth estarrecida. __ Pois ela chegou a desejar que vocês não precisassem mais lutar contra Gaia.

Percy olhou para Annabeth com ternura. Ele a abraçou.

__ Isso é ruim por acaso? __ Mostrou-se solidário.

A deusa olhou-o fixamente outra vez. Percy precisou se esforçar para não desviar o olhar.

__ Na hora do amor, Percy Jackson, __ O garoto notou surpreso que aquela fora a primeira vez que Afrodite pronunciara seu nome. __ Tudo que pensamos ou desejamos pode se tornar realidade. É a magia do amor! __ Explicou a deusa entediada, como se tivesse tentando ensinar algo muito importante a pessoas jamais capazes de entender.

Bem, eles eram muito jovens, pensou Percy, ainda estavam descobrindo o amor.

__ Quer dizer que o que Annabeth pensou poderia ter se tornado realidade? Mas isso não seria bom? __ Percy quis saber.

A deusa rodopiou nos calcanhares.

__ Ah não benzinho! Se o que ela desejou acontecesse, vocês sairiam da jogada e a profecia não se cumpriria.

Percy caiu em si.

__ É verdade. __ Olhou para Annabeth e falou baixinho: __ A profecia dos sete.

A namorada assentiu. E não se conteve em perguntar:

__ Mas o que tem a ver o que eu pensei com o fato de acordarmos separados. Já sabemos que foi você quem providenciou o transporte de Percy para o quarto dele e que nos vestiu. __ Annabeth pareceu constrangida. __ Você nos viu pelados, Afrodite? __ perguntou indignada.

Percy, por sua vez, queria se esconder em baixo da cama.

__ Ah minha querida! Acostume-se. Onde existe amor verdadeiro, lá eu estarei. Portanto, verei vocês pelados muitas vezes! Espero. __ A deusa deu uma risadinha. __ Mas não se preocupe, vocês estão em forma. Se vocês pudessem imaginar o que uma deusa do amor tem que presenciar... Ah! Mas o amor é cego, não é?

Percy ouvia tudo aquilo perplexo. Fez um esforço para falar:

__ Annabeth tem razão. Por que nos separar? Por que interferir desta forma em nossas vidas? __ De repente lembrou-se de como Hera manipulara a vida dele e de Jason, causando tanto sofrimento em nome de uma causa.

A deusa pareceu solidária.

__ Veja bem, querido, não quis interromper o momento tão romântico de vocês, porque isso seria um sacrilégio. Quando Annabeth começou a ter aqueles pensamentos, eu fiz uma névoa envolver vocês dois, para impedir que os pensamentos dela se esvaíssem e se tornassem realidade. Mas acordar juntos. Ah, não! Isso é perigoso. É a concretização do amor. É o momento em que os enamorados revelam seus mais íntimos desejos, fazem planos juntos de uma vida a dois, etc, etc. Ah! __ Suspirou Afrodite. __ Um perigo!

__ Então você colocou cada um no seu quarto para que a profecia pudesse ser cumprida. Igual a Hera! __ Percy não pode deixar de comparar. Afrodite, portanto não gostou.

__ Não me compare àquela... Ah! Deixa pra lá. __ Disse penteando os cabelos com um pente que Annabeth deixara em cima da escrivaninha. __ O importante é que a profecia está salva e que vocês estão juntos finalmente.

Aquilo realmente acalmou os ânimos de Percy e Annabeth. Afrodite sabia certamente como convencer alguém. Percy pensou em Piper. Teria que ter cuidado com a menina.

__ Bem, agora que está tudo esclarecido. Já posso ir embora. Nunca se esqueçam, meus anjinhos, cuidado com o que desejarem na hora do amor.

Já ia desaparecendo quando se lembrou:

__ Ah, querido, não se esqueça de usar aquelas coisinhas que seu padrasto sabiamente lhe enviou! Acredite, os mais velhos sempre tem razão. __ Falou para Percy, dando uma piscadinha. Enquanto isso, um pequeno pacote se materializava em cima da cama.

Percy e Annabeth se olharam. A deusa desapareceu deixando o perfume de Annabeth no ar. Ficaram calados por um momento.

Percy pensou em como seus destinos eram frágeis. Como os deuses podiam manipular as suas vidas para o bem ou para o mal. Pensou nos pobres mortais seduzidos pelos deuses. Ele e Annabeth eram frutos de um romance de que seus pais mortais certamente não teriam conseguido fugir mesmo se quisessem.

Agora ele tinha certeza de que eram peões não só nas mãos dos deuses, mas também de todos os imortais. De repente pensou se teria sido melhor não ter recusado a oferta de Zeus e se tornado logo um deus também. Então olhou para Annabeth. A garota parecia, assim como ele, imersa em seus próprios pensamentos. Os raios solares que penetravam da janela faziam os cabelos louros dela cintilarem como se pequenos diamantes o enfeitassem. Seriam seus olhos? Ou Annabeth parecia ali, sentada na cama a sua frente, mais bonita que Afrodite? Para ele era sim. Amava-a com todas as forças. Suportaria tudo, até a derrota para Gaia, desde que não fosse separado dela nunca mais. No mesmo instante, Percy agradeceu aos deuses por continuar mortal. Um ímpeto de otimismo tomou conta do semideus: Iam sobreviver àquela guerra. E quem sabe no futuro, outros semideuses iriam surgir, tão poderosos ou mais do que ele; e assim talvez os imortais os deixassem em paz. Chegou mais perto da namorada e a abraçou.

__Quer dizer que não foi um sonho. __ Constatou ela aliviada.

__ Eu não te falei? __ Ele olhou o pacote em cima da cama, depois para o relógio na escrivaninha.__ Ainda temos umas duas horas para o navio atracar. Que tal continuarmos o que começamos ontem? __ Sussurrou ao ouvido dela. A emoção transbordando em sua voz.

__ Só cuidado com os pensamentos! __ Aconselhou Annabeth.

E entregou-se aos braços de Percy...


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