Naquele momento, Annabeth só queria ficar ao lado de Percy. Sentir o calor do corpo dele e agradecer aos deuses por estarem ali vivos e juntos. Sempre estivera ao lado de Percy nos principais momentos de suas vidas desde que tinham 12 anos. Compartilharam situações terríveis, alegrias, mas também a tristeza de perderem amigos. Ela perdera Luke. Mas naquele mesmo dia ganhara Percy. E isso decididamente foi a melhor coisa que acontecera em sua vida. Ele era tão bom, tão carinhoso, tão bonito e é claro, um herói. Um herói que não queria os louros da vitória, somente ter uma vida normal e pacata ao lado dela. Annabeth sempre admirara a coragem de Percy, mas o que a garota mais amava nele era o seu defeito fatal: a lealdade. E era isso que o estava matando naquele momento. O fato de não ter conseguido salvar Bob e Damasen. Annabeth queria fazer algo para melhorar o espírito de Percy.

__ Ei! __ disse ela, posicionando-se na frente do namorado. Os olhos verde-mar dele estavam marejados. Annabeth lembrou que nunca tinha visto Percy chorar antes. Enxugou uma lágrima que caía e encostou o corpo dele contra o seu. __ Não quero ver você assim, entendeu? Precisamos estar bem psicologicamente para derrotarmos Gaia. Você sabe que ela nos espreita e que espera alguma fraqueza nossa para nos atacar.

Ele ficou mais alerta com o contato do corpo dela assim tão próximo. O rosto subitamente se iluminou com um brilho mais intenso.

__ Minha namorada como sempre sensata. O que seria de mim sem você?__ Ele conseguiu abrir um sorriso.

__ Provavelmente seria um deus agora. __ falou ironicamente, lembrando da oferta dos deuses que Percy recusara. Recusa esta que ela conhecia muito bem a razão.

__ E nunca mais poder ficar com você?

__ Ora, os deuses namoram mortais, esqueceu?

__ Mas não casam com eles.

Ela olhou-o espantada. Os olhos cinzentos brilharam como as estrelas do céu.

__ Você está me pedindo em casamento, Cabeça-de-Alga?

Percy ficou sério. A luz da lua brilhava em seus cabelos, seus olhos cintilavam.

__ Você sabe que eu te quero pra sempre, Sabidinha. Não me joguei no Tártaro atrás de você? __ disse ele tomando-a nos braços. Ele a beijou. Um beijo longo e bom, mas um pouco mais ardente do que os outros beijos que já haviam trocado. Aquele era um beijo de puro desejo, um beijo maduro, cheio de ansiedade.

Annabeth sentiu a diferença e retribuiu com a mesma intensidade. Pensou que poderiam estar a sós. Mereciam este momento depois de tudo o que passaram no Tártaro e do tempo que ficaram separados. No dia seguinte poderiam nem estar vivos... Depois se lembrou dos amigos que estavam também no convés. Sentiu-se constrangida.

__ Percy, não estamos sós! __ sussurrou no ouvido dele.

Ele caiu em si. Annabeth pensou ter visto o garoto corar.

__ Tenho uma idéia. __ ela revelou baixinho. __ Vamos para o meu quarto. O Hedge não está, lembra?

Na mesma hora ficou envergonhada. O sátiro se arriscara junto com Reina e Nico de Ângelo para levar a estátua de sua mãe até o Acampamento Meio-sangue e agora ela estava dando graças aos deuses por ele não estar lá para atacá-los com o seu taco de beisebol. Arrependeu-se na mesma hora. Percy, no entanto, pareceu gostar da idéia.

__ Isso é um convite?__ perguntou ele animadinho.

Ela se derreteu. O jeito com que ele dissera aquilo, os olhos verde-mar brilhando, a alegria em seu rosto, fizeram-na esquecer de tudo.

__ É uma ordem!__ Falou brincalhona. Venha. Mas seja discreto.__ Implorou ela puxando o namorado pela mão.

No caminho, Annabeth e Percy passaram pelos amigos e desejaram uma boa noite.

__ Não vão jantar? __ perguntou Hazel.

__Se eles quiserem, jantam mais tarde! __ gritou Leo, ainda mexendo nas engrenagens de Festus, sem olhar para eles, mas com aquele sorriso debochado nos lábios.

Piper pareceu entender a mensagem.

__ Eles querem ficar a sós. __ cochichou no ouvido de Hazel que ficou envergonhada, afinal isso era inconcebível nos anos 40.

__ Eles merecem. __ assentiu Frank

Jason balançou a cabeça positivamente.

Annabeth e Percy trocaram olhares constrangidos, mas não disseram nada. Ela conduziu Percy até a sua cabine, mas ele tomou a frente e abriu a porta, dando passagem para a namorada entrar.

__ Entra. __ pediu ela. __ Está com medo de mim?__ falou para ele que ficara parado do lado de fora um pouco sem graça.

Ele entrou e fechou a porta com a chave.

__ Estou com medo de Atena. Será que ela já recuperou a sua personalidade grega?

Annabeth bateu no braço dele.

__ Cale a boca, Cabeça-de-Alga!

Ele sorriu e a abraçou. Percebeu que ela estava mais nervosa do que ele. Tomara a iniciativa de chamá-lo até seu quarto, mas estava insegura. Percy, então, dirigiu-se até a cama e se sentou. Os dois ficaram se olhando por um instante. Ele se encorajou.

__ Venha. __ Ele chamou. __ Deite aqui comigo. Quero sentir você.

O jeito com que ele falava, a voz decidida, mas doce...

Meus deuses,pensou Annabeth, como eu amo este cara!

Ela sentou no colo dele e o beijou. Agora nada mais importava. Nem mesmo se Gaia se materializasse ali bem na frente deles, conseguiria atrapalhar aquele momento.

Toda a vida deles passou pela mente de Annabeth: O dia em que se conheceram; quando ela cuidou dele dando-lhe comida na boca; o dia em que soube que ele era filho de Poseidon; quando conversaram sobre o pai dela pela primeira vez; as inúmeras aventuras e perigos pelos quais passaram juntos; o ciúme que sentiu de Raquel; o primeiro beijo; a dor da saudade; a alegria do reencontro; o Tártaro e enfim...

Quando percebeu, já estava totalmente envolvida nos braços de Percy. Suas carícias, seus beijos, as palavras que ele sussurrava em seus ouvidos faziam-na desejar ficar ali para sempre. De repente implorou que o mundo acabasse, que não amanhecesse nunca! E que não precisassem mais lutar. Não sabia por quanto tempo ficaram ali se amando, mas queria ficar eternizada naquela cama com Percy, escondida de tudo e de todos...

__ Amo você! __ Ele murmurou ofegante no ouvido dela.

Estavam suados. Os cabelos dele colavam no rosto e estava lindo! Percy encostou a cabeça entre os seios dela cansado, sua respiração estava acelerada. Annabeth imaginou que pelo poder que o namorado tinha, era capaz de ter ocorrido um maremoto lá fora, mas nem se importou. Estava zonza, sem noção de tempo e de espaço. Por um momento até esquecera de que estavam na cabine do Argo II.

__ Eu também te amo! __ Conseguiu dizer, acariciando os cabelos dele.

Subitamente uma leve brisa do mar invadiu o quarto. Annabeth, de um sobressalto, olhou a janela, mas estava fechada. Percy riu.

__ Foi você, danadinho! __ Reclamou dando um tapinha no ombro dele.

__ Pra você, só o melhor. __ Falou, dando aquele sorriso irônico que ela amava. __ Você me fez o homem mais feliz hoje, sabia?

Ela estudou seu rosto. Percy realmente se tornara um homem. Para ela era difícil determinar quando ocorrera, uma vez que se conheciam desde criança. Praticamente cresceram juntos. Ele ainda não tinha 17 anos, mas com certeza os últimos acontecimentos, incluindo aquele, haviam contribuído para aquela transformação. Deu um suspiro.

O mesmo deve ter ocorrido comigo, pensou.

Ele endireitou-se na cama e aconchegou a namorada em seu peito. Não disseram mais nada. Não precisava. Quando pegaram no sono, já estava amanhecendo. A súplica de Annabeth não fora atendida. Um novo dia se aproximava. Teriam de se preparar para enfrentar Gaia.