Incontrolável escrita por Samuel Henrique
Se Pâmela soubesse o que estava para acontecer, teria desobedecido a sua mãe.
Afinal, se é para morrer, é preferível que se morra com o namorado em um piquenique romântico a morrer lavando a louça.
Pâmela lavava os pratos, mas sua cabeça não estava na louça suja. Ela não entendia a razão de sua mãe ser tão mandona. Qual era o problema de sair com um garoto, comer algumas guloseimas, ter uma noite romântica? A louça poderia ser lavada em outro horário. Pâmela tinha até se oferecido para lavar de madrugada, mas nada convenceu a ideia fixa de sua mãe de que era muito jovem. E quatorze anos não é idade suficiente para namorar?
Já cogitara várias vezes fugir de casa, mas seu namorado, Matt, não apoiara a ideia. Dizia que perderia totalmente a confiança de sua mãe, o que não seria bom.
Então lá estava ela, suas mãos congelando com a água que por alguma razão não esquentava, lavando a louça e ouvindo a uma música sobre um arranha-céu nos fones de ouvido, quando um estrondo se sobrepôs aos gritos da cantora.
Pâmela tirou os fones assustada, se perguntando de onde viera o ruído. Em sua volta tudo estava em perfeito estado, então nada tinha se quebrado. Então o som se repetiu, e sem os fones de ouvido Pâmela percebeu que vinha do lado de fora, desta vez acompanhado do som de viaturas policiais que provavelmente iam em direção ao barulho.
Ela retirou o avental e saiu da casa procurando avistar o que estava acontecendo, seria um ataque terrorista? Então ela avistou a origem do barulho. Suas pernas estremeceram, sua boca se abriu e assim ficou até ela perceber que corria perigo.
Grandes pedras voavam para todos os lados, pedaços de construções se espalhavam pela rua, e Pâmela se surpreendeu de não ter percebido isso antes. O atirador de pedras se encontrava a uma distância pequena o suficiente para aterrorizá-la.
Pâmela já o conhecia. Seu avô era um amante (ela se perguntava se ele estaria fascinado ou assustado nesse momento), e mostrava a ela quase todos os seus desenhos e suas descobertas. Era um Tiranossauro Rex de 5 metros de altura. Sua pele escamosa tinha uma coloração verde-acinzentada. Ele fazia crateras no chão asfaltado com suas pernas gigantes, e destruía as casas com sua calda e seus dentes poderosos, já que seus braços curtos e finos não o ajudavam.
As pedras que se espalhavam pela rua eram pedaços das casas vizinhas, e tarde demais (com o T. Rex já a menos de 20 metros), Pâmela começa a gritar e correr como se não houvesse amanhã (o que é uma possibilidade devido às circunstâncias).
Por mais que corresse, Pâmela não conseguia se afastar o suficiente do gigantesco dinossauro. Os destroços das casas vizinhas dificultavam seu percurso, e ela quase tropeçou seguidas vezes em um curto espaço. O dinossauro já estava a uma pequena distância, e cada tremor causado pelos passos daquelas enormes pernas fazia com que Pâmela se desequilibrasse.
Olhando a sua volta, Pâmela percebeu que estava muito atrasada. Apenas algumas poucas pessoas saiam de suas casas desesperadas, com o corpo molhado ou com pijama e o cabelo desarrumado. Com certeza quem estava mais atento já estava longe o suficiente. Pâmela se perguntava como estavam sua mãe e seu irmão. Será que eles tinham fugido e ela não tinha percebido? Era isso ou... Algo pior.
Em seus devaneios Pâmela tropeçou em um grande pedregulho, e caiu no chão, machucando a perna direita.
Ela se virou com esforço— sentindo uma terrível dor no tornozelo — e se viu frente a frente com o monstro. Seus olhos de rubi — que seriam bonitos se não tivessem um ar tão assassino — a encaravam, e o dinossauro deu um urro de triunfo, que fez o chão tremer.
— Dino feio! — tentou ela como último recurso, como se estivesse falando com um cachorro de cinco metros de altura que queria devorá-la. — Onde se conta sair para a rua uma hora dessas e ir destruindo as casas das pobres pessoas? Você não devia estar perseguindo o próprio rabo ou cavando buracos no quintal?
O dinossauro pareceu confuso por um tempo, talvez estivesse acostumado a ver suas presas gritando e correndo desesperadamente, e não tratando-o como um cachorrinho mal comportado.
— Vamos fazer um acordo. Seja um bom menino que eu te levo para meu avô, ele gosta de dinossauros e vai te dar a melhor ração de todas! Ouvi falar que ele conhece uma dinossaurazinha que é uma beleza, eu posso pedir pra ele apresentá-los!
Então Pâmela ouviu as sirenes. Aproximadamente vinte viaturas policiais estacionavam de todos os lados da rua e de cada uma saíam vários policiais fortemente armados. Eles atiraram sem hesitar no dinossauro, mas nenhum dos tiros pareceu fazer qualquer dano. No entanto os ataques irritaram o dinossauro, e ele deu um urro de furar os tímpanos e atacou. Pâmela viu a enorme boca lotada de dentes afiados se aproximando de seu corpo, e fechou os olhos esperando a morte.
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