Dare To Dream escrita por Amy Ellie


Capítulo 5
A verdade


Notas iniciais do capítulo

Uhul, Dare to Dream está de volta! Espero que tenham tido ótimas férias e que não tenham desistido da história! (não se sabe o que acontece com quem desiste da fic muahahah) Preparados? Boa leitura!



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Caminho para casa por um atalho pelo parque, olho pro chão de terra com cuidado e me desvio das enormes raízes das árvores e galhos que aparecem pela frente como uma armadilha para eu cair. Não chego ao ponto de ser desastrada, mas não sou a pessoa mais equilibrada desse mundo. Ultimamente, venho descobrindo um novo eu, como se essa minha versão estivesse escondida no fundo de um abismo por todo esse tempo.

Há algumas semanas, nem tinha coragem de entrar nessa trilha sozinha. As árvores muito próximas fazem sombra, dando ao parque, que mais parece uma floresta, um tom obscuro e sombrio. Não que eu tenha medo de escuro, o que eu temia era o alerta de perigo a cada ruído que ouvia entre os troncos. Tinha a impressão de estar sendo seguida, ao olhar para trás e para todos os lados não havia ninguém, mas isso não me tranquilizava nem um pouco.

Depois do ocorrido no Prédio das Torturas, Jake me mandou uma mensagem oferecendo ajuda para "desvendar o caso", pensei nas dúvidas que surgiram somente quando cheguei em casa. Quando estávamos na praça central, estava confusa demais, e não tinha como perguntar a pergunta que fosse, porque (1) o olhar preocupado de Jake sobre mim me deixava nervosa, me desconcentrava, e (2) tudo que aconteceu não fazia nenhum sentido, falar em voz alta faria menos sentido ainda. Então só depois consegui formular perguntas concretas, apesar disso, muitas não tínhamos a resposta, como se sonhos podem virar uma simulação. Jake estava realmente interessado em ajudar, eu me perguntava se seria somente curiosidade.

Jake: Sonho ou pesadelo?

Jake sempre fora na dele, não era tímido, só não falava de assuntos pessoais. Conversamos muito durante as trocas das aulas apesar de sermos de grupos diferentes, ele é do time de lutas marciais, popular e cheio de amigos, enquanto eu sou amiga dos livros. Sou antissocial mesmo, não confio nas pessoas.

Com Jake foi diferente, não precisei fazer o esforço de confiar nele, apenas confiei, espontaneamente. Ele é assim, espontâneo, divertido, nossos olhares e risos me dizem que essa amizade existe, mesmo que sejamos tão diferentes.

Liz: Pesadelo

Jake: O que te assustou tanto assim?

Eu não podia contar, mudei de assunto.

Liz: Por acaso tinha mais alguém nos corredores enquanto estava sob simulação?

Ele sabia que estava falando do tal perseguidor, o que estava fugindo, que gritei para avisá-lo. Ele acharia que o pesadelo se trata disso, por enquanto é o que ele pode saber.

Jake: Não, não tinha mais ninguém

Então o tal perseguidor não era real, fazia parte da simulação. Ficamos trocando mensagens por horas, não queria enchê-lo de perguntas chatas, mas ele insistiu em ajudar, quando olhei para o relógio, a tela piscava duas horas da manhã.

Liz: Boa noite

Digitei rápido e desliguei o celular. Ao acordar na manhã seguinte tinha uma nova mensagem.

Jake: Se algo te assustar, não tema, estou aqui para qualquer coisa. Boa noite, tenha bons sonhos.

Era bom saber que podia contar com Jake. O sonho foi bom, não me lembrava, mas acordei bem, talvez até feliz. E muitas vezes tentei colocar em minha cabeça que não tinha que ter medo, que tinha que enfrentar o perigo de frente, porém nada afastava a sensação de que algo muito errado aconteceria.

Ao chegar em casa, estou cansada da curta caminhada após a aula de defesa pessoal. Em um movimento involuntário vou à sala de estar, sem uso há muito tempo é visível o aspecto de abandono. Acendo o lustre e olho ao redor, a sala transmite solidão, me sentia assim às vezes.

Vou até a lareira com lenha sem fogo, queimada pela metade, acima uma fileira de fotografias está alinhada, dos meus bisavós até a minha foto, a última. Observo uma foto de meu pai jovem. Se não o conhecesse, seria difícil reconhecer, não só porque a foto foi tirada uns 20 anos atrás e ele envelheceu. O menino de uns 19 anos na foto tinha a aparência de alguém que expirava vida, que vivia aos extremos, algo que hoje está extinto. Sento no sofá olhando a foto, talvez ele tenha mudado por causa da profissão, toda a rotina de advogado era muito cansativa. Ao lado da foto dele está uma de minha mãe, séria como ela sempre é.

Acabo pegando no sono e acordo quando ouço a porta da frente bater, passos se aproximam. Ao me ver na sala minha mãe me olha confusa, “o que ela está fazendo aqui? Por que a luz dessa sala está acesa?” Era só uma sala chata, enquanto eu podia estar no meu quarto assistindo televisão ou mexendo no computador, eu estava numa sala comum e sem graça. Sei que ela deve estar pensando nisso, mas não comenta nada e se senta ao meu lado. Ela fica encarando a lareira por bastante tempo antes de começar a falar.

– Faz tempo que não usamos essa lareira. Você se lembra da última vez?

Por um tempo fico tentando lembrar, mas não tenho sucesso. Me impressiono em como minha memória é boa.

– Não consigo me lembrar.

– Faz uns dez anos, estava muito frio e a luz foi cortada. Acendemos a lareira e pegamos todos os cobertores da casa, ficamos abraçados em volta do fogo para nos esquentar.

Enquanto ela contava a história, tinha um semblante nostálgico de uma boa lembrança, então ela fecha a expressão e olha para mim cautelosamente.

– Depois passamos por uma fase difícil e nunca mais entramos nessa sala. Eu só entro para fazer a faxina. Não sabia que você vinha aqui.

– Não venho. Só vim hoje. – fixo o olhar na foto do casamento de meus pais, e continuo a falar, sem olhar para minha mãe – Se fazem dez anos… foi antes de eu ir para o Instituto, certo?

Ela fica em silêncio, sem responder, quando olho para ela está com uma expressão inexpressiva. Sempre pensei na teoria de que quando ela ficava assim era porque ela estava escondendo algo, como emoções.

– Se lembra de como foi no Instituto?

Não gostava de falar em voz alta sobre aquele tempo, me lembrava pouco, mas do que me lembrava, me sentia mal até hoje.

– Só de algumas coisas, as salas grandes e os choques, depois no resto do tempo estava inconsciente ou sozinha num quarto branco.

– Eu sinto muito por isso, sabia? – Por um instante pensei que ela começaria chorar, mas ela respirou fundo e continuou. – Sinto muito até hoje, sei que é difícil para você. E é a pessoa mais forte que eu conheço, se você não conseguir superar, acho que ninguém pode.

– Sério? – Minha mãe nunca tinha me elogiado, e agora eu era a pessoa mais forte que ela conhecia? – Mas você me viu… na cozinha, aquele dia, eu não fui…

Por um momento ela se inclinou e lançou um olhar repreensível, colocou o dedo indicador sobre a boca demonstrando que eu deveria ficar quieta em relação a esse assunto.

– Bobagem, você é forte sim, é o que você é, não pode negar isso.

Confusa, coloco as mãos no ar pedindo para ela parar de falar.

– Calma. O que você quis dizer que eu tenho que superar?

– Se sentir sozinha, o mundo todo está sozinho, cada um por si. Seu pai e eu não somos presentes, e seu irmão agora com o estágio quase nunca está em casa. A solidão não é algo anormal, é uma consequência de nossas vidas corridas. Você é forte e descobrirá como superar qualquer problema.

Achei que ela estava falando sobre emoções, sobre o pesadelo, o fato de eu ser diferente. Ser diferente e não estar sendo torturada. Ela usou a palavra solidão junto com não anormal, como se emoção fosse anormal. E deste lado do país é. Sou anormal, sozinha, como um cômodo diferente do resto da casa, avulso, estranho, sentia-me mal por não poder contar à ninguém o que eu sinto, por ninguém me entender. Acho que por isso gosto da sala, ela é estranha como esse meu eu que chegou com tudo, sem nem pedir licença.

Quem sabe isso seja uma coisa boa… por um lado minha mãe está certa, tenho que ser corajosa diante das situações, superar, eu conseguirei superar. Só queria descobrir o que acontece comigo, no entanto, a verdade, é que eu nem mesmo sei quem eu sou. Porém acho que sei quem quero ser.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Quero saber! Em breve novo capítulo!



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