A Saga de Sirius Black escrita por TonAbsolutto


Capítulo 1
Os Black




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Certificando-se pela enésima vez que estava de fato sozinho em seu quarto, o Sr. Orion Black então se dirige até o seu armário pessoal – o único na casa que possui tal móvel, uma vez que tornara-se famoso em todos os cantos devido a sua psicose por segurança e segredos – e lá da última gaveta, entre panos e objetos obsoletos, ele retira algo que em muito se assemelhava com uma mini-arca, uma caixa metálica embalada num papel de presente, um pouco maior que sua palma aberta. Cautela nunca fora exagero para aquele grande homem, que mais uma vez espiou pela janela e assim tomou certeza novamente de sua privacidade.

Ao abrir aquela pequena arca revelara-se então um elemento bastante singular e curioso. À primeira vista qualquer um diria se tratar de uma pedra, contudo, tanto em essência como em significado, aquilo não era tão simples assim. Possuía a forma de um losango, muito minúsculo para o tamanho de sua caixa, aproximadamente cinco centímetros em ambas as extremidades. Assim que entrou em contato com a palma do homem, o objeto acendeu por alguns segundos, voltando ao brilho fosco natural logo em seguida. Sua breve luz refletiu com categoria nos dentes branquíssimos do Sr. Black quem abrira um sorriso maroto.

Enquanto admirava tal artefato, o patriarca submeteu-se repentinamente a memórias que vieram involuntariamente. As imagens explodiram diante de seus olhos claros que em nada combinava com sua cara rechonchuda. Black assistia agora à cena de um velho homem, demasiadamente suado, muito parecido com ele mesmo, encarando-o com olhos suplicantes e a boca ressecada, encontrando um tamanho real de dificuldade para falar-lhe numa voz rouca:

– Orion... Você já sabe o que fazer com a Pedra...

– Na verdade... Eu não sei, pai – ele respondia, era já um homem, porém bem mais novo que atualmente. Ainda possuía todos os cabelos negros – Estou... confuso.

– Apenas... a guarde, filho. Esconda ela de tudo... e de todos... – uma baba escorria da boca de Arcturus Black quem parecia ignorá-la – Ninguém neste mundo... Ninguém... É digno de nossa confiança.

– Mas, pai... – a voz de Orion soou mais embargada apesar dele tentar ocultar este tom – Eu não sei se sou capaz...

– Você é um Black, Orion. Isso já basta.

Lembrava-se perfeitamente como as lágrimas escorriam de seus olhos naquele dia, e agora, assim como no passado, elas voltavam a tona. Olhar para aquilo que estava em suas mãos era como abrir um elo no espaço do tempo entre o seu presente e o pretérito sombrio. Entretanto, ele não teve o tempo que desejava para reviver aquele momento, pois seus aguçados ouvidos captaram um ruído peculiar. O garoto adentrou seu quarto escancarando a porta no exato momento em que o Sr. Black escondia com apreensão a tal Pedra no bolso interno de suas vestes.

– Paaaaai!!! Eu falo sério desta vez, eu vou... Eu vou... Eu vou acabar com ele!

– O que foi agora, Régulo? – o pai protestou impaciente com um quê de indignação, arrastando a voz para demonstrar que estava cansado daquele papo o qual já previa – O que o seu irmão fez dessa vez?

– O senhor fala como se não importasse... – o menino acusou sem medo, fechando a cara. Era um palmo mais alto para a idade, franzino, de rosto bem apessoado como todos os Black, a julgar seus cabelos lisos jogados para o lado.

– Eu me importo, garoto – o pai respondeu friamente, apesar de não ser de seu feitio falar daquela maneira com o caçula a quem tanto bajulava – Só que, primeiro, você entra nos meus aposentos sem educação alguma, e segundo, todo santo dia vocês se encrencam e depois sobra pra mim.

– Mas pai, ele abusou agora. Ele sumiu com todas as minhas revistas e meus carrinhos de coleção.

– Com um simples feitiço convocatório se resolve isso, Régulo. Não precisa todo esse show.

– “Com um simples feitiço convocatório se resolve isso, Régulo” – ele repetiu desdenhando, fazendo uma horrível imitação da voz abrasiva de Orion Black – Pai, acorda. O senhor resolve isso, eu ainda preciso de mais oito anos pela frente para poder realizar magia em casa.

– Por favor, garotinho, me dê um pouco de paz, sim? – Para total sorte do homem, ambos ouviram o sonoro timbre de alguém que batia a porta com a fivela da mesma – Graças a Merlin! Vá atender a porta, anda. Agora!

Régulo preferiu não replicar, apesar de ter aberto a boca para tal, saindo trotando com um bico na cara de braços cruzados. Era sempre a mesma cena, a cara amarrada e os braços cruzados. O Sr. Black ficava se perguntando às vezes quando é que aquilo iria acabar.

No andar de baixo, mesmo a contra-gosto o menino abre a porta, com um pouco mais de força que o normal. Surpreende-se ao ver que ali em sua frente apresentava-se a figura de uma bela garota, seu rosto fino e os longos cabelos bem cuidados aparentavam uns onze a doze anos. Ela mantinha-se demasiadamente sorridente revelando incríveis maçãs na face.

– Oi. Você deve ser o irmão do “Si”, né? Ele está?

O garoto estava tão impressionado com a beleza da menina que demorou um pouco para processar bem a pergunta dela. Por sua vez, a garota expressou um quê de medo do rapaz, como se ele fosse esquisitofrênico ou por aí.

– Si? – Régulo questionou ainda abobado – Como assim... Si?

– É, Sirius, perdão. É o costume – ela ficou ainda mais encantadora quando sorriu sem graça – Sabe, ele ficou de aparecer lá em casa hoje. De vez em quando... hum... surge uns ratos apovorosos lá e ele sabe muito bem como lidar com eles. Daí pintou mais um e... bom, seria legal se ele aproveitasse a visita para fazer esse favor para nós – visto que o menino ficara ainda mais perplexo com o seu relato, a garota rapidamente acrescentou - Nós, minha mãe e eu. Ela também adora a presença do “Si”.

Outros segundos mais prolongados depois, Régulo respondeu – Ah sim. Desculpe-me, mas meu... irmão não se encontra no momento – pronunciou a palavra “irmão” com um certo pesar – Minhas primas estão passando as férias de verão aqui em casa e, bom... Você já deve conhecê-lo, adora fazer uma presença. No caso, ausência, né?

Ele bem que tentou ser engraçado, rindo inseguro de sua própria piada, mas ela não esboçou reação alguma. Corando de vergonha, Régulo então resolveu apelar.

– Mas se você quiser, colega... Eu também sei acabar com ratos. Posso fazer isso por você.

– Ah... – ela murmurou inexpressiva – Oh não, obrigada, mas você não serv..., digo... É com o Sirius mesmo! – abriu o jovial sorriso outra vez – Bom, depois eu falo com ele então.

E se foi.

Até os dias de hoje Régulo ainda espera o “Tchau” que não acontecera vindo dela naquele momento.

Assim que fechou a porta, ou melhor, a bateu com toda fúria possível, sua mãe surgiu entrando no hall da sala um tanto assustada com o ato imprevisto do caçula. A imagem da imensa Wallburga Black em nada mudou o humor do filho, mesmo sendo ela quem mais lhe paparicava e realizava todas as suas vontades.

– O que foi, Régulo? O que aconteceu aqui? – chegou indagando de forma desesperada.

– Nada que a senhora não saiba. Sirius Black outra vez.

– Affe... Não vejo a hora desse moleque ser despachado pra Hogwarts e sumir daqui! E por falar nele, onde essa criatura se meteu? Há uma paz nessa casa descomunal.

– Saiu com a Bella e a Andrômeda. Quando alguém gritar e puder ser ouvido daqui, saiba que ele está por perto – Régulo respondeu indiferente, sumindo para o seu quarto.

– Oh não, menino filho de uma... De novo não – A Sra. Black murmurou pra si irritando-se sem razão concreta alguma, esbravejando então num volume tão alto e histérico que a Mui Digna Casa dos Black pareceu estremecer – SIRIUS BLACK!!!

Longe do Largo Grimmauld, em um parque vizinho, mesmo tendo sido um potente brado, ele não fora o suficiente para alcançar o seu objetivo: Sirius Black. Na verdade, tanto o som como a visão não o alcançariam naquele momento. Podia-se sim avistar claramente a figura da prima, Belatrix Black, de mãos dadas com um outro rapaz magro e alto. Assim como Sirius, a bela morena estava para completar seus gloriosos onze anos, o que em nada lhe dava jus a sua aparência. Bella – como era mais conhecida – possuía um desenvolvimento precoce, ganhando um desejável corpo ainda menina, volumosos cabelos escuros e perfeitos lábios carnudos, sem dizer o seu par de olhos penetrantes. Mesmo sendo praticamente impecável, a garota não abusava dos pudores como o primo, pretendendo naquele exato momento perder o que se chama de BV: Virgindade Bucal – algo que Sirius já perdera fazia quase dois anos.

O rapaz que estava com ela parecia bastante decidido a cumprir sua parte, um pouco mais ansioso que o normal, até. Magro e ossudo era tudo que lhe descrevia, salvo apenas pelos olhos azuis vivos. Chamava-se Rodolfo Lestrange, conseqüentemente um primo de segundo grau.

– Você tem certeza que sabe como fazer, né, garoto? – ela dizia de forma rude, o encarando sem emoção.

– É claro, minha princesa. Não se esqueça que sou três anos mais velho que você – ele respondeu melancólico.

– Se a sua pessoa me chamar de princesa mais uma vez, eu juro que além do tapa na cara, te farei dizer adeus a isso que você chama de “reprodutor masculino”. Não se esqueça que só escolhi você por que aqui nesse fim de mundo não se tem mais do que pivetes imbecis, e entre imbecis desconhecidos, é melhor um que eu conheça.

Rodolfo engoliu em seco, a resposta da garota soara tão fria e profunda que ele de fato acreditou em seus juramentos. Decidiu que para o seu bem, o melhor que fazia era ficar calado. Bella pareceu ler seus pensamentos, pois abriu um leve sorriso em seguida. Um sorriso guarnecido de malícia que amedrontava mais que seduzia.

– Pois bem, vamos logo antes que a Tia Wallburga dê falta de mim.

O casal estava na mira perfeita. Enfim chegara o momento pelo qual ele tanto esperava. Ao vê-los se aproximar de forma tão apreensiva e sutil, o garoto concluiu pra si mesmo que não poderia perder sequer um segundo. Sendo assim, pegou com delicadeza o gato que estava sobre o seu colo acariciando e, numa contagem rápida de “três-quatro”, o lançou com toda sua força pra frente. Quem visse de longe acharia a cena, no mínimo, inusitada. Um felino literalmente voando de uma árvore pra cima de um casal. A trajetória do animal não demorou mais que três segundos, mal deu o tempo dele miar inconformado. Com isso, no preciso instante em que ambos os lábios se entrelaçariam, o gato pousou categoricamente sobre a cabeça da adolescente, infiltrando suas garras em seus cabelos espessos. Entretanto, como se não bastasse, não tratava-se de um gato qualquer e sim de um mágico. Logo quando sacudiu seus pêlos o bichano expeliu uma chuva de fagulhas de fogo, como ferro sendo usinado numa policorte. Imediatamente Bella abriu a boca e gritou. Rodolfo pulou pra trás no ímpeto do susto. Os dois se desvencilharam numa fração de milésimos.

Ainda gritando, Bella vociferou – SEU IDIOTA, TIRA ISSO DE CIMA DE MIM!

Mas Rodolfo não obedeceu. Estava muito intrigado com algo que via além dela sobre suas costas, nos altos, precisamente. Notando o olhar distante do primo de segundo grau, Bella virou-se também e assim igualmente avistou. Entre as folhagens da árvore ao lado, um garoto de seus cabelos mui negros e lisos caídos quase na altura dos ombros, a face ainda mais bonita que a do irmão, principalmente por sua marca registrada que eram os encantadores olhos acinzentados. Tomado por um ataque de gargalhadas, ele perdeu o equilíbrio de onde estava pendurado e caiu, porém, inacreditavelmente, virou-se como o próprio gato em pleno ar e pousou em pé no chão, voltando a rir. Bella ficou ainda mais vermelha de fúria.

– SIIRIIUUS, SEU ANIMAL! CACHORRO SARNENTO, TINHA DE SER VOCÊ!

– Bella, minha princesa, você está parecendo uma leoa desse jeito – Sirius falou assim que recuperou fôlego das gargalhadas, diferente de Régulo, conseguindo imitar com sucesso o tom meloso de Rodolfo – O gato é macho, vai se apaixonar também.

– AAAAAAAAAAAAAHH, EU VOU TE MATAR! JURO QUE VOU TE MATAR!

E partiu em disparada pra cima dele. Porém, mesmo rindo e quase sem respirar direito, Sirius conseguia ser mais rápido, tomando com classe a dianteira zombando da prima furiosa que vinha atrás. Era por uma dessas e muitas outras que ele ficara conhecido por todo o bairro. Não havia ninguém vivo pelas redondezas do Largo Grimmauld que nunca ouvira falar da Lenda que era o garoto Sirius Black.


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