Finalmente as aulas recomeçaram! Estou ansioso para vê-la. Durante todo o primeiro semestre, fiquei observando-a. Imaginava como seria tocá-la, falar com ela, termos uma conversa, mas ela aparentemente nunca quis falar comigo.

Enquanto isso, durante esses seis meses, eu curti demais. Muitas garotas, festas e garotas. Sim, falo garotas duas vezes, porque havia muitas. A única coisa que me incomodava era quando Lina me via com alguma delas. Mas aí eu balançava a cabeça e falava “que se dane!”

Ok, admito, eu tentei me aproximar dela. Mas Lina não queria conversa comigo. Os caras mal reparavam nela. Ela queria ser invisível, isso eu já tinha notado. Mas depois de olhar naqueles olhos profundos, não tinha como esquecê-la assim tão facilmente. Eu a observava.

O jeito como ela sorria para o próprio caderno quando conseguia resolver uma questão... Ou quando o cabelo dela caía sobre o seu rosto... Eu sentia uma vontade gigantesca de ajeitá-lo. Ou ainda quando ela mordia os lábios quando estava nervosa. Ou o olhar perdido dela. Ou...

Certo, chega, você já entendeu que eu sempre a observo.

O sinal toca. Hora de ir para sala.

Estou com um pressentimento de que esse dia promete.

Entro na sala e vou para o meu lugar de costume. Lina ainda não chegou. Na verdade, nem sei se ela continua nesta turma. Acomodo-me e começo a retirar meu caderno da mochila, quando sinto o perfume dela.

Ergo os olhos para vê-la. Ela está com uma expressão confusa. Encaminha-se para seu próprio lugar e se acomoda. Não olha para mim. Tento não me sentir tão desapontado com isso. Delicio-me recordando todas as trocas de olhares que tivemos durante esses seis meses... E logo estou imaginando o sabor da boca dela.

O som de passos interrompe meus devaneios. Um homem gordinho e baixinho, com cara de bebê, entra na sala, segurando uma pasta. Por um momento, espero que ele comece a falar “gugudadá”, e todos na sala falarem “owwwwnnn”. Ele se senta e todos ficam num silêncio anormal. Então ele finalmente decide falar:

– Bom dia, jovens. Sou Romualdo. Como vocês sabem, e eu espero que saibam mesmo, senão os chuto porta a fora, sou professor de cálculo avançado.

Ele se levanta, o que não faz uma grande diferença. Então começa a balançar a cabeça em sinal positivo, murmurando coisas, do tipo “É isso aí, jovens? É isso aí...” Que cara louco! Deve ter caído do berço e batido a cabeça quando era criança, só pode! O professor observa rosto por rosto.

– A minha CLASSE...tem regras! – diz, gritando algumas palavras e sussurrando outras. – NADA de conversas paralelas! NADA de sair para o BANHEIRO! Faça suas necessidades antes ou faça NAS CALÇAS! – Ele para em pé, as pernas exageradamente abertas. – E na minha classe, TODOS devem ter um parceiro. JOVENS! ACORDEM JOVENS! VOCÊS NÃO TOMARAM CAFÉ, NÃO, FOI?!

Todos riem, e eu rio junto. Ele é um cara louco, e muito legal!

Então ele olha para Lina, e depois para mim. Oh-oh! Lá vem coisa!

– Você aí, JOVEM! QUAL O SEU nome? – o professor grita e se demora falando a última palavra, me observando. Ouço a cadeira de Lina estalar quando ela se vira rapidamente para mim. Contenho um sorriso.

– Klaus, senhor – respondo. Mas não olho para o professor. Olho para ela. E delicio-me vendo-a ficar vermelha. Então, sim, sorrio. Imagino beijá-la enquanto ela está assim.

– Hmmm, senhor... Gostei! Muito bem, Klaus. Sente-se ali, ao lado DAQUELA jovem ali, ó.

Aceno afirmativamente para o professor. Uma sensação diferente dança em meu peito. Sinto-me feliz, tenho que me segurar para não ir saltitando até a carteira dela – até porque isso não seria muito legal. Levanto-me, recolho as minhas coisas e vou até a carteira que, a partir de hoje, dividirei com Lina.

Então...

Estou começando a gostar disso.