Primeiro semestre da faculdade. Galera nova, estou empolgado. Conhecer novas gatinhas, curtir as festas, e claro estudar. No dia da matrícula, já fiz contato com quase todo mundo. Adicionei nas redes sociais, já saímos para dar umas voltas pela cidade. Então não é realmente como se eu me sentisse um peixe fora do aquário.

Sempre fui um cara popular, por que isso mudaria agora?

As meninas logo vêm falar comigo. Beijos e abraços para todo lado. O som das risadas é contagiante. Nada pode acabar com isso. Os caras chegam cumprimentando, falando alto.

- Klaus! Agora sim essa festa vai ficar legal! – diz o mais alto deles, que se chama Bernardo.

- Fala, cara! – Estendo a mão e ele bate. – Já conferiu sua sala?

- Qual é, man! Vamos dar uma conferida nas gatinhas primeiro!

Rio e acompanho Bernardo e o resto da galera pelo pátio. Os caras estão agitados. Bernardo não é novato, participa do time de basquete, então já sabe: as garotas caem matando. Vamos caminhando distraidamente, quando esbarro em alguém, sem querer.

- Ai! – ouço.

Só vejo os cabelos longos, ondulados e negros. Ela está de costas para mim. Um pouco mais baixa que eu. Mal tenho tempo de assimilar todos os detalhes, quando ela se vira bruscamente, com certeza com vários xingamentos na ponta da língua para me dizer.

- Desc... – começo.

Meu sorriso congela na hora. Quando eu olho em seus olhos castanhos e grandes, uma sensação estranha passa por mim. Sei que tenho que dizer algo, mas todas as palavras fogem.

Que droga está acontecendo comigo? Limpo a mente e tento me apresentar:

- Oi, eu...

E ela se foi. Simplesmente assim. Estou atordoado. Nenhuma garota jamais me deixou falando sozinho antes. Meu olhar ainda a segue, enquanto ela caminha rápido pela multidão de alunos. Vai na direção dos banheiros.

Vai lá, seu imbecil!, minha mente grita comigo.

Olho para Bernardo e a turma. Ninguém havia notado nada, nem o motivo pelo qual paramos. Se eu saísse agora, usando a desculpa que quero ir ao banheiro, ninguém me seguiria.

- Galera, vão indo! Preciso ir ao banheiro! – digo.

Bernardo bate em minha mão e segue junto com o resto. Observo até eles estarem em uma distância razoável e corro para o banheiro. Ela deve estar lá, preciso falar com ela. Não sei por que, só sei que preciso.

Chego, e há somente uma porta fechada no banheiro feminino. Considero chamá-la, mas e aí? O que irei dizer?

A sensação do olhar dela fixo no meu volta aos meus pensamentos. De novo, uma sensação diferente passa pelo meu corpo. Tudo parece estar em silêncio.

Tenho que bater na porta.

O sinal toca. Ouço passos vindo em direção ao banheiro.

Desisto. Dou meia volta e corro para a minha sala.

Covarde, diz meu cérebro.

Cale a boca, respondo.

Acelero o passo e chego bem na hora em que o professor está entrando. Não há ninguém conhecido nesta classe. Bernardo e os outros estão em outras salas. Sento-me numa carteira vazia. Todos já possuem um parceiro. Todos exceto o nerd.

O professor começa a falar um pouco sobre si mesmo, quando ela chega. A garota do corredor. A garota dos olhos castanhos hipnotizadores. O professor fala com ela:

- Ah, você deve ser a Lina!

Mas ela parece não querer olhar para a turma. Não entendo. Ela é tão bonita, e quer se esconder. Quanto desperdício...

O professor manda que ela se sente. Vejo os ombros dela ficarem tensos. Cara, como eu queria tocar naqueles ombros... Lina levanta o rosto devagar. Sei que ela deseja não fazer isso. Não sei por que, mas quero que ela faça, e me veja...

Acho que nossos olhares se atraem. Assim que ela encara a turma, seu olhar se fixa no meu. Lina tenta se recompor e observa os lugares disponíveis. Há um ao meu lado, e outro ao lado do nerd. Faço um sinal para ela sentar-se ao meu lado e ser minha parceira. Ela começa a andar, é claro que ela vai me escolher...

Mas ela se vira, e vai em direção ao nerd.

Fico desapontado.

O que está acontecendo comigo?!