Connected Spirits escrita por MidnightDreamer


Capítulo 8
Abrindo o jogo




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Vejo-me em um sonho.

Estou de novo com cinco anos. Catarine saiu para comprar pão, e eu estou sozinha em casa. Olho para a janela, é um dia chuvoso. Sempre gostei de chuva, mas nunca soube explicar o porquê disso, eu só gosto, me sinto bem. Suspiro, olhando para o porta retrato onde está uma foto dos meus pais, no dia do casamento deles.

Vany... Não fique triste.

Eu já comecei a me acostumar com aquela voz, mas ainda assim me assusto quando ele conversa comigo.

— Não consigo... Não consigo ficar alegre. – Limpo uma lágrima que teimou em descer. – Me sinto tão só...

Então eu sinto um leve calor perto de mim, como se alguém me abraçasse. Não vejo nada, mas sinto sua presença em cima de mim, me reconfortando... Era tudo o que eu precisava naquele dia frio.

Jaden foi o único que pode me consolar.

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Lentamente abro os olhos.

Estou enrolada em meu edredom, e me sinto um pouco sufocada. Desenrolo-me e noto que estou com meu pijama. Quando foi que eu vesti isso? Esfrego minhas pálpebras e vejo meu quarto do mesmo jeito que deixei. Mas o que aconteceu?

— Bom dia, Vany.

Jaden aparece sentado em minha poltrona, sorrindo como se tivesse ganhado um milhão de dólares.

— O que você fez comigo? - Pergunto lentamente.

— Fiz o que você chama de "possessão". - Ele ri, fazendo com que seus olhos fiquem enrugados.

— Você... Seu desgraçado! - Arremesso um travesseiro nele, mas é como se não houvesse nada lá. - Por que fez isso?

— Você estava chata demais. - Ele se levanta, andando pelo quarto. - Quando peguei seu corpo emprestado, fiz você tomar um calmante fraquinho e dormir. Ah, aproveitei e coloquei um pijama em você.

Olho novamente para mim. Meu Deus...

— Você é descarado, fica me vendo nua! - Cubro-me novamente com o edredom. - Nunca na minha vida eu tive privacidade?

— Ah, minha nossa... Você é tão pudica! - Ele ri.

— Pudica? Mas que palavra é essa? - Pergunto.

— Envergonhada, Vanessa! - Ele explica. - Eu te vi nua sim. Por favor, eu te vi fazendo sexo! Mas eu não me importo. Eu sou uma alma, não sinto mais tesão nas coisas que antes eu sentia. Sem falar que você é quase uma filha pra mim.

— Filha? - Rio. - Você tem a minha idade!

— Na-não. - Ele balança seu dedo indicador em negativa. - Eu realmente tenho idade pra ser seu pai.

Aí cai a ficha mais uma vez. Ele morreu a mais de vinte anos atrás, e já devia ter seus vinte e poucos quando isso aconteceu. Sua aparência permaneceu a mesma, mas o tempo não parou. Fazendo alguns rápidos cálculos, ele provavelmente tem uns quarenta e poucos. Nossa.

— Nunca mais me drogue. - Advirto-o, e inesperadamente ele assente. - Que horas são?

— Quase meio dia. O calmante era fraco demais. - Ele ri, e não consigo evitar uma gargalhada.

Espera... Jaden me fez rir? Isso é um milagre! Bem, hoje em dia é. Antes, quando eu tinha uns sete anos, eu brincava com ele, nas horas em que ele parava de me perturbar sobre a tal carta. E ele contava várias piadas muito engraçadas!

— Eu adoro quando você sorri. - Ele confessa. - Quando você era criança, não era muito comum eu ver algo assim. Você sempre parecia tristinha...

— Aham. - Suspiro, me lembrando da minha infância vazia. - Meus pais viviam trabalhando, e eles não me deram irmãos. Eu sempre fui bem triste. Bem sozinha.

— E depois que você ficou maior, eu pensava que você ia se divertir mais. Mas depois do que aconteceu com sua mãe...

Minha mãe morreu em um acidente de carro em Milão. Ela estava indo para uma festa publicitária quando o motorista perdeu o controle da direção e se chocou violentamente com um hidrante. O impacto foi tão forte que fez o carro capotar cinco vezes até parar. E quando finalmente pararam, o carro explodiu. Eles morreram na hora. Quando soube do que tinha acontecido, eu tinha dezesseis. Meu pai deu um jeito de trazer o corpo dela - ou o que havia restado dela na explosão - para ser velado e enterrado aqui. Foi nessa época em que eu comecei a fumar. Meu pai também.

— Não entra nesse assunto, por favor. - Peço.

— Tudo bem. - Ele sussurra.

A campainha toca. Será que é Elliot?

— É ele sim. - Jaden responde.

— Você lê pensamentos? - Pergunto, trocando de roupa mais rápido que o Super-Homem.

— Não. Você que é previsível demais. - Ele sorri e desaparece.

Não dá tempo de pentear os cabelos, mas amarro meus cachos com um elástico de dinheiro - nojento? Sim, mas foi a primeira coisa que encontrei. - E vou atender a porta.

— Oi, Vanessa. As aulas terminaram mais cedo do que eu imaginava. - Elliot me abraça, beijando-me. Ele deve ter percebido minha cara amarrotada. - Estava dormindo?

— Não, só cochilando. - Sorrio para ele. - Você me deixou exausta.

Ele ri e me solta, adentrando a casa. Elliot se senta no sofá.

Não se esqueça de dizer a ele que vamos viajar para a Europa, Jaden sussurra, me fazendo arrepiar.

— Elliot, precisamos conversar.

Ele fica com uma cara de pânico estampada em seu rosto.

— Fiz algo de errado? – Ele traz seu corpo para a beira do sofá, olhando para mim e logo formando aquelas ruguinhas entre suas sobrancelhas, indicativas de preocupação. – Foi algo que fiz ontem?

— Não, bobo. - Sorrio. - Pelo contrário.

— Então o que é? - Ele pergunta, aparentando estar um pouco mais aliviado.

Olho para todos os cantos, menos para ele. Depois, consigo tomar coragem.

— Eu vou precisar viajar para a Inglaterra. - Digo, e ele fica espantado.

Ele entorta a cabeça, as rugas da testa ficando um pouco mais visíveis.

— Por quê?

Penso no que vou dizer. Elliot é bom pra mim, não quero magoá-lo, muito menos mentir pra ele. Mas se eu falar a verdade, é capaz de ele me taxar como louca e rir de mim... Ou mesmo me deixar. Eu não sei o que fazer.

— Por quê, Vanessa?

Quando volto a fazer contato visual com ele, explico tudo o que aconteceu na minha vida até ontem, desde o primeiro contato que Jaden fez comigo até sua primeira aparição para mim. Conto também do porquê da minha ida para Inglaterra, encontrar a carta e entregá-la a Alice. Em nenhum momento ele me interrompe, e quando finalmente eu termino, ele suspira.

— Eu sabia que você era perfeita demais para ser verdade.

— Elliot, eu não estou mentindo! - Tento argumentar. – Por favor, acredite em mim...

Eu não falei pra você dizer tudo pra ele, Vany. Jaden me repreende.

— Se você quisesse terminar comigo, teria inventado uma história melhor. – Elliot diz, e eu arregalo meus olhos.

— Não! Eu não quero terminar com você... – Desvio o olhar.

Eu não devia ter falado a verdade. Eu devia ter dito que iria fazer um curso, ou iria visitar algum parente distante... É claro que Elliot não iria acreditar em algo tão esquisito quanto isso, o que eu estava pensando? As lágrimas já estavam prestes a descer por meu rosto quando ele se levantou e veio até mim.

— Ei. – Ele levanta meu rosto e limpa algumas das lágrimas teimosas. – Eu sei que você é criativa, e criaria outra história melhor se terminar comigo fosse realmente seu objetivo. Essa história só pode ser verdade.

Sinto uma pontada de esperança em meu peito.

— Isso significa...? - Questiono-o.

— Que eu acredito em você. Em parte. - Ele sorri, provavelmente por causa da minha cara de alívio. - Como você pode me provar que ele existe mesmo, para eu não ter dúvidas?

Olho ao redor.

— Jaden? Será que você poderia fazer algo para que ele acredite que você existe?

Posso dar um tapa nele?

— Não, imbecil. - Rosno, e Elliot me olha sem entender nada. - Por favor...

Ouço-o grunhir e pegar um bloco de papel que estava na mesinha de centro. Só de ver o objeto se mexer sozinho, Elliot fica muito surpreso. Jaden começa a anotar algo no papel, e depois o entrega. As mãos de Elliot estavam tremendo.

— "Não a faça triste. Ela já sofreu demais, até por minha causa. Ajude-a". - Ele lê o que havia no papel. - Eu ajudo sim, Jaden. Não se preocupe.

Vamos ver quanto tempo ele aguenta.

Muito obrigada, Elliot. - Abraço-o mais uma vez. - Eu adoro você.

— Eu também te adoro, Vanessa. - Ele me beija. - E por mais mirabolante que toda essa história me pareça, eu ainda quero ficar com você.

Agradeço-o mais uma vez e o beijo. Com ele eu voltei a sentir um pouco de paz, ainda mais agora. Sei que se eu contasse isso para qualquer um, ninguém acreditaria, mas ele acreditou. E isso me faz ver o quanto ele é perfeito pra mim, que só ele faria isso por mim. E sei que não posso largar esse homem.

Ele interrompe nosso beijo por falta de ar. Rio, e escuto um "ew" vindo de Jaden. Ah, ele que se foda.

— Vou com você, quer dizer, vocês.

— Isso é sério? - Olho para ele, surpresa.

— Claro! Ele me pediu para cuidar de você, não foi? Então eu vou cuidar. Já comprou as passagens?

— Ainda não. - Falo, ainda surpresa.

— Pois pode deixar que eu compro. - Ele sorri.

Fico encarando aquele homem. Como ele pode ter tanta confiança em mim? Não que eu esteja mentindo, mas e se outra pessoa mentisse para ele, ele acreditaria? Espero que ele não seja tão bobo a ponto disso...

— Obrigada mesmo por acreditar em mim. - Eu o puxo para mais perto. - Eu achei que você ia me achar uma maluca.

— Você é maluca, Vanessa. - Ele ri, me abraçando. - É por isso que eu gosto de você.

Blah, blah, blah. Que baboseira.

— Jaden! - Exclamo, e Elliot se assusta.

— O que foi?

— Esse fantasma idiota. - Acaricio seus cabelos escuros. - Não vejo a hora de me livrar dele.

Ele sorri em consideração.

— Eu vou te ajudar. - Sussurra em meu ouvido.

— Promete? - Pergunto.

Ele enrola um cacho do meu cabelo em seu indicador.

— Prometo.


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Notas finais do capítulo

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