Connected Spirits escrita por MidnightDreamer


Capítulo 14
Revelações




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Depois que ele saiu do banho, vestiu sua - suspiros - cueca preta e pijama... De bolinhas? Tudo bem, eu perdoo. Está tão frio que eu até entendo o fato de ele ter trazido algo tão quebra-clima como esse. Ele se deita ao meu lado, puxa as cobertas para si e fecha os olhos, respirando lentamente.

— Já vai dormir? - Pergunto. - Ainda são oito da noite.

— Estou me sentindo um morto vivo, Vanessa. - Ele se volta para mim e segura minha mão. - Não está cansada?

— Estou, mas... Sei lá... - Acaricio seus cabelos. - A conversa com Jaden agora a pouco me deixou meio frustrada.

— Como assim? - Ele pergunta, olhando fixamente para mim com aqueles olhos negros.

Sento-me novamente na cama, mas Elliot permanece deitado.

É, Vany... Como assim? Jaden também indaga.

— Jaden ainda não me falou o que raios ele fez para ter virado uma alma penada.

— Uh... Morrido? - Elliot sugere, e eu reviro os olhos.

Medroso, louco, desprovido de inteligência... A lista só aumenta. O que. você. viu. nele?

— Não, bobo. - Sorrio. - Ele não me disse o que fez antes de morrer para não ter merecido o paraíso.

Meu namorado se senta na cama e começa a massagear meus ombros, e agora eu percebi o quanto meus músculos estavam enrijecidos.

— Oh, agora eu entendi... Ora, Vanessa, por que não pergunta pra ele? - Ele sugere. - Em vez de ficar esperando ele abrir o jogo espontaneamente, deveria colocá-lo contra a parede e tirar logo essa dúvida.

— Eu não quero ser tão invasiva assim. - Encolho-me.

De repente ele para de me massagear e solta um suspiro frustrado.

— Meu Deus, ele está morto! - Elliot exclama. - Não vai se sentir mal ou nada do tipo. Além disso, ele foi bem invasivo durante sua vida toda, não? Por que você não tem o direito de ser na dele, mesmo que não exista mais?

Penso em tudo o que ele fala. E não é que ele tem um pouquinho de razão? Eu não posso ficar esperando Jaden decidir quando me contar, pois eu tenho todo o direito de saber, já que estou ajudando ele a resolver seus problemas...

— Agora eu quero mesmo dormir. - Ele boceja. - Boa noite, docinho.

— Boa noite. - Levanto-me da cama e desligo a luz, voltando a me deitar com ele.

Vany, Vany...

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Abro os olhos lentamente e vejo Elliot babando no travesseiro.

— Ei, Elliot... - Lentamente o cutuco. - Acorda.

— Só mais cinco minutinhos... - Ele resmunga, abrindo um olho só.

Medroso, louco, burro, preguiçoso...

— Anda, não quer conhecer a cidade? - Tento animá-lo. - E já são quase nove. Sabe que o café da manhã é só até as dez, não sabe?

— Sei. - Ele finalmente toma coragem em se levantar.

Ah, Elliot... Eu lembro exatamente do dia em que conheci ele. Estava todo melado de tinta, e quando a instrutora do curso pediu para trocarmos de quadros, não tive dúvida em escolhê-lo para ser meu parceiro. E digamos que a obra prima dele não era lá essas coisas. Que nada, eu estou sendo é boa! A pintura dele mais parecia ter sido feita por uma criança de três anos usando os polegares... Eu ainda me pergunto o que ele estava fazendo lá.

Ele veste seu jeans e sua camisa branca, logo antes de seu casaco pesado. Eu só ponho uma legging por baixo do vestido que estou usando, botas e um casaco. Estamos prontos para enfrentar o início de inverno europeu.

— Está linda. - Ele me beija. - Como...

— ...Sempre. Linda como sempre. - Sussurro.

Eu nunca gostei de elogios do tipo. "Ah, como você é bonita!", "Mas que bela jovem!", "Tão parecida com a mãe..." e outros do tipo. Mas é claro, me derreto toda quando eles saem da boca de Elliot. É sério, pense na pessoa mais sexy da terra. Agora acrescente um sotaque sulista, olhos escuros e cabelos mais ainda. Esse é Elliot.

— Vamos, Nessinha. - Ele me agarra pela cintura.

Caminhamos até o elevador e de lá vamos até o andar restaurante. Nossa, tem tanta variedade aqui que não faço a mínima ideia de por onde começar... Bem, mas logo depois que terminamos nossa refeição, seguimos para o centro da cidade.

Decidimos que nosso primeiro ponto turístico seria a Catedral de Leeds, a St. Anne's Cathedral. Oh, tão linda... Nunca fui religiosa nem nada, mas algo que sempre me fascinou foram as construções pertencentes a igreja; e essa catedral tem tantos detalhes que quase se passam despercebidos... Se eu tivesse vocação para arquitetura, com certeza eu planejaria uma igreja. E colocaria meu nome nela. Tipo, santa Vanessa, apesar de eu ter quase certeza de que essa santa não existe.

Esse lugar... Jaden diz, e é quase como se eu pudesse sentir seu sorriso.

— O que foi, Jaden? - Sussurro, temendo que as outras pessoas escutassem.

Foi aqui onde me casei com Alice. Nós dois queríamos um grande casamento, então decidimos fazer aqui. Eu adoro esse lugar.

— Realmente aqui é um lugar ótimo para se casar. - Sorrio.

— Você acha? - Elliot pergunta, provavelmente achando que eu estava falando com ele.

— Sim. - Passo lentamente minhas mãos pelos bancos de madeira. - Não é linda?

— É. - Ele dá um leve suspiro. - Anda, o dia vai ser longo.

Depois da catedral, vamos para o próximo ponto (não são muitos, mas são tão bonitos quanto qualquer outro), o Prédio da Prefeitura de Leeds, depois para o Leeds Civic Hall e por último ao Prédio do Antigo Correio. Existem outros, mas são longe demais do centro e não pretendemos passar o dia fora. Assim que nosso tour termina, Elliot decide ir até a agência rodoviária pegar nossas passagens.

— Aqui está, senhor White. Uma passagem em seu nome e outra em nome de Vanessa Miller. A saída é as sete da manhã com previsão de chegada na Rodoviária de Garsdale as oito e cinquenta.

— Obrigada. - Ele fala, segurando um riso. Se tem algo que eu aprendi sobre Elliot nesse mês, foi que ele acha o sotaque britânico hilariante. Saímos da rodoviária.

— Elliot, essas passagens são para Gars-sei-lá-o-quê, e não para Gayle! - Exclamo.

Ele solta um risinho.

— Calma, não houve erro algum. - Ele tenta me acalmar. - Gayle é tão pequena que nem rodoviária tem. Quando chegarmos na rodoviária, a gente vai pegar um táxi e ir direto para a casa da senhoritaa Hills.

— Nossa, você quase me deu um susto! - Abraço-o. - Vamos pro hotel, a gente tem que descansar bem. Eu não acordo antes das oito faz alguns anos...

Ele cai na gargalhada enquanto fazemos sinal para um táxi.

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Já é noite. Pela janela, consigo ver um pouco da luz da lua entre as pesadas nuvens. Pelo canto do olho, vejo Jaden andando pelo cômodo.

— Vany, eu quero conversar contigo. - Ouço Jaden me chamar, e noto que Elliot já estava dormindo.

— O que foi? - Olho para o fantasma loiro encostado na parede.

— Desculpa por eu não ter te falado logo o que eu fiz. - Ele sussurra. — O que eu fiz para permanecer aqui.

— E você vai me dizer? - Pergunto, e ele solta um longo suspiro. - Jaden...

— Eu vou. - Ele abre o frigobar e tira uma cerveja de lá. - Na minha vida, meu nome era Matthew, mas eu nunca gostei desse nome. Como eu já disse, eu era apaixonado pela Alice, uma simples professora de música. Mas, para a minha infelicidade, Anna Hills era apaixonada por mim. Não que ela fosse feia, muito menos chata, mas eu não sentia nada por ela. Só que ela não entendia isso de maneira nenhuma.

Ele dá um gole, mas a bebida atravessa seu corpo e mancha o chão.

— Não sinto nem o gosto direito e já sujei o piso...

— A camareira limpa amanhã. - Sussurro. - Continue.

— Bem, acho que já deu pra perceber que eu era um beberrão, não? - Ele brinca e assinto com a cabeça. - Teve um dia que eu fiquei bêbado demais, e Anna Hills se aproveitou disso.

— Como assim? - Pergunto, ajeitando-me na cama.

— Eu estava voltando para minha casa, que ganhei de meu pai para viver com Alice. Anna morava perto, e devia ter me visto se aproximar... Ela me agarrou a força e me beijou. Bem na hora que Alice estava abrindo a porta para mim. — Ele cerra os olhos. — Eu podia muito bem ter empurrado Anna, mas eu estava bêbado demais para entender a situação.

— Oh, meu Deus... - Murmuro.

— Ela me expulsou de casa. Claro, ela tinha razão, contando que ela só havia testemunhado metade da história. Se bem que... Às vezes eu acho que eu estava construindo isso por muito tempo, e aquilo tinha sido somente a gota d'água. - Ele esfrega os olhos. - Aí eu voltei para a casa da minha mãe. Eu escrevi milhares de cartas pedindo perdão a Alice, mas nunca tive coragem de mandá-las para ela. Eu não merecia aquela mulher.

— Jaden... - Eu já estou com lágrimas nos olhos.

— Mas houve um dia em que eu tive coragem. Não de mandar a carta, mas de ir lá pessoalmente. Eu precisava explicar tudo para ela, mesmo que ela não me perdoasse. E eu fui, Vany. Eu fui.

Há um minuto de silêncio entre a gente depois dessa afirmação.

— O que aconteceu?

— Eu estava bem em frente a casa, quando um assaltante apareceu do nada e quis levar tudo o que eu tinha, só que na hora a única coisa que estava comigo era vontade de rever Alice. E ele não me perdoou por isso.

Meu coração estava acelerado, minha respiração estava pesada.

— Ele te matou só por que você não tinha dinheiro? - Pergunto, chocada.

— Pelo visto... - Ele franze os lábios. - Mas mesmo depois de dez facadas, a coisa que mais me doeu foi ver Alice abrindo a porta e me vendo ensanguentado no chão, agonizando e por fim, morrendo.

— Oh minha nossa... - Eu me levanto e vou direto para o lado dele. - Eu sinto muito mesmo...

Ela dá um leve sorriso.

— Já faz mais de vinte anos, Vany. — Ele fecha os olhos. — Não precisa sentir nada.


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Notas finais do capítulo

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