Connected Spirits escrita por MidnightDreamer
Estou organizando os últimos preparativos para a viagem. Essa semana que passou foi bem... Estressante, principalmente quando ia dormir. Os pesadelos eram os mesmos: O acidente, eu recebendo a notícia, a cremação macabra onde somente os braços e a perna esquerda dela foram queimados para depois ser depositado em um jarro que foi logo depois enterrado. Assim como tudo que tinha relação a ela.
Não foram todas as noites que Elliot pôde estar comigo, então eu passava horas conversando com Jaden sobre a sua maravilhosa e curta vida. Filho único de pais separados, apaixonou-se perdidamente por uma jovem professora de música chamada Alice Carter. Não foram nem três meses de namoro e já estavam se casando.
— Ela era a mulher mais linda do mundo... - Ele sorriu feito um bobo. Como é possível ele ser tão apaixonado por essa mulher mesmo depois de morto?
— Você era feliz com ela? - Perguntei.
— Sim, apesar de a gente brigar muito. Muito mesmo. - Ele suspirou. - Eu pedia para ela parar de trabalhar, mas ela não aceitava.
— Mas é claro! - Resmunguei. - Ela que devia decidir se deve ou não largar o emprego. Por que você queria isso?
— Ela não precisava trabalhar. Eu tinha condições de cuidar dela sem que ela precisasse se expor tanto.
— Como um emprego de professora pode expor alguém? - Indaguei, e ele me olhou com uma cara de desapontamento.
— Gayle é uma cidade minúscula, Vany. As pessoas ainda se comportavam como se estivessem no começo do século vinte. Bem, mas eu a amo muito, e eu me arrependo de não ter pedido perdão antes.
— E o que você fez de tão grave que fez com que você ficasse preso aqui?
Ele não me respondeu. Nem naquela noite, nem nas outras.
Fecho o último zíper e ponho a mala de volta no chão. Elliot está me encarando, meio pensativo, e aquela ruguinha entre suas sobrancelhas me deixou preocupada.
— O que foi? - Pergunto.
— Você está quieta demais, desde aquele dia. - Ele suspira. - Eu fiquei bem preocupado com você.
— Obrigada mesmo por se preocupar comigo. - Sento-me em seu colo e o abraço. Na maioria das vezes eu detesto que fiquem preocupados comigo, mas quando quem está é ele, deixo passar. - Eu preciso de alguém que se preocupe comigo.
— Não fica triste. - Ele faz carinho em minhas costas. - Sabe que, no fundo, você amava aquela mulher, não sabe?
Afasto-me dele, mas penso um pouco em suas palavras. Eu não quero admitir isso, na realidade nem faz sentido pra mim, mas... Eu amava aquela mulher. Ou pelo menos amava odiá-la.
— Isso é normal, Vanessa. Eu aposto que você adorava assistir aos desfiles para ver ela andar com umas roupas extravagantes...
— Eu gostava sim. - Levanto-me e ele faz o mesmo. - Era uma maneira de eu ficar perto dela, sabe...
— Aham. - Ele me beija e vamos para a sala. - A gente precisa ir agora, se não a gente perde o voo.
Ele me ajuda a descer a mala - sim, só uma mala, já que pretendo passar poucos dias, mas ainda sim está abarrotada de casacos e cachecóis e meias. Detesto frio. Bem, depois de colocar a mala junto com a dele no porta-malas, ele sorri.
— Onde está a mala de Jaden? - Ele ri de sua piadinha, mas eu não.
— Ele está mais para outra mala minha. - Sussurro.
Você acha que eu não posso escutar, não é? Ele diz. Suas ironias só são engraçadas quando você está bêbada.
— Haha. - Murmuro, e Elliot olha para mim com uma sobrancelha arqueada. - Foi mal. Sei que eu pareço uma esquizofrênica conversando com o nada.
— Eu não me atraio por mulheres sãs mesmo. - Ele me beija mais uma vez antes de acelerar.
Quarenta minutos depois chegamos ao Aeroporto Municipal. Quando descemos, vejo Arthur, o irmão mais velho de Elliot, acenar para a gente.
— Seu irmão estava esperando a gente? - Pergunto.
— Ele vai levar o carro para casa. - Ele explica e passa seu braço ao redor da minha cintura.
— Então, mano. - Arthur dá leves tapinhas em seu ombro. - Oi, Vanessa. Que horas é o voo?
— Daqui a duas horas. - Ele responde. - Não se preocupe, eu ligo assim que chegar. Mas lembre-se de que são mais de quatro mil milhas até lá.
— Gostaria de saber o que Leeds tem de tão especial... - Arthur fala, sorrindo para mim. - É melhor vocês irem indo, o aeroporto está lotado.
— Até mais, irmão. - Elliot se despede e eu também.
Andamos mais rápido e assim que entramos, vamos fazer o check-in na American Airlines. É, a fila está enorme mesmo. Pelo menos dá tempo de conversar com ele e ocupar minha mente.
— Seu irmão não achou estranho você estar viajando para o outro lado do atlântico com uma quase desconhecida? - Sussurro. Não quero que as outras pessoas fiquem escutando.
— Claro que achou, mas como ele não pode me obrigar a nada... - Ele sorri. - E você não é desconhecida.
— Mas eu nunca fui jantar com sua família. - Retruco.
— Nós estamos namorando oficialmente há pouco mais que uma semana, e visitar a casa dos sogros é um programa de duas semanas de namoro.
— Não sabia que tinha regra. - Sorrio. - Mas viajar pra fora do país é aceitável, né?
— Com certeza. - Ele me dá um selinho.
Logo conseguimos despachar nossas malas e, ufa, já está quase na hora de embarcar! Quando finalmente conseguimos encontrar nosso portão, já é hora de entregar nossos tickets e irmos para o avião. Assim que fazemos isso, sentamos nas nossas poltronas, eu na janela e ele ao meu lado.
— Estou nervoso. - Ele confessa. - Digamos que eu tenho um pouco de medo de altura.
Minha nooossa, Jaden exclama. Você tinha que gostar de um medroso desse?
— Nunca andou de avião? - Ignoro o fantasma.
— Já, mas nunca saí do continente. - Ele explica. - Eu fazia questão de tomar calmantes antes do avião levantar voo.
Calmantes. No plural.
Caramba. Jaden suspira. Diz pra ele que eu falei caramba.
— Jaden falou "caramba". - Sorrio.
— Hahaha, vocês são muito engraçados. - Ele cruza os braços. - Ficam de conversinha mental aí. Pode deixar, Vanessa...
— Está com raiva de mim? - Sorrio ainda mais. - Primeiro, não tenho conversinhas mentais com ele, ele que fica falando seus pensamentos alto demais. Segundo, - Faço-o virar sua cabeça para mim, e sussurro. - Eu adorei você com ciúmes.
Beijo de leve a lateral de seu queixo, mas ele me agarra antes que eu pudesse pará-lo, beijando-me calorosamente e parecendo até que estávamos em um motel.
— Para, Elliot. - Consigo murmurar o pedido, e ele obedece. - Deus, você sabe que não pode fazer essas coisas comigo.
— Como assim eu sei? - Ele sorri triunfante.
Uma coisa era falar da urgência que sinto para estar íntima com ele para a Isabel, outra totalmente diferente era confessar isso para ele. O sorriso dele ao esperar a minha resposta estava me deixando mais ruborizada.
— Se você continuasse com esse beijo, eu morreria de vergonha. Estamos em local público!
— Conta outra. - Ele fica sério.
— Tá. - Começo a falar bem baixinho. - Eu ia querer agarrar você e te levar para fazer uma inspeção no banheiro.
A senhorinha que estava do outro lado dele se volta para mim, franzindo o cenho. Deus, não diga que falei alto demais...
— Você falou alto demais. - Elliot ri e beija minha bochecha. - Eu realmente quero dormir agora, antes que eu tenha um ataque de pânico.
— Tudo bem, meu medrosinho. - Sussurro, e ele tenta se recostar na poltrona.
Você gosta de palermas, né?
— Gosto. - Sussurro. - Tenho dois ao meu redor.
Engraçadinha.
Não respondo, e o avião levanta voo.
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Nove horas e quarenta e cinco minutos depois, chegamos em Leeds. Relativamente, foi rápido.
— Acorda, Elliot. - Empurro-o de leve até ele acordar da sua terceira soneca.
— Chegamos? - Ele pergunta e boceja.
—Sim. - Suspiro. - Chegamos.
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