Reasons to be Missed escrita por NallaTonks


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

:P



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No momento em que fechei os olhos, senti como se estivesse em um carrinho de montanha russa. Em ‘queda livre’ a muitos metros do chão. O frio no estomago, a sensação de estar quase em gravidade zero, levitando, me fez agarrar com força os braços de Finn - ou seja lá quem ele for -, apavorada.

O que pareceu durar vários minutos levou cerca de um segundo.

Abra os olhos, Lucy.

— Não. - Não havia nenhuma maneira na Terra que alguém pudesse estar sentido mais medo que eu. Diga que estou exagerando, mas tenho motivos. Muitos.

Minhas pernas tremiam ao ponto em que, se não fosse o aperto de morte que minhas mãos exerciam em seus braços e o firme par de mãos em minha cintura, eu, provavelmente, cairia.

Não tenha medo, criança. Não lhe farei mal algum.

Eu senti a mão direita de Finn, - eu realmente precisava descobrir o nome dele, já estava ficando confusa -, lentamente avançar e pousar na lateral do meu pescoço. Instantaneamente o sentimento de paz e conforto retornou e, só então, pude sentir o vento refrescante, com cheiro de mar, que agitava meus cabelos e roupas.

Um rosto sereno foi, aos poucos, entrando em foco quando, relutantemente abri meus olhos. Tentei identificar onde estávamos - definitivamente os banheiros do McKinley não se pareciam com uma praia deserta. Uma praia muito bonita por sinal.

— Que lugar é esse? - Eu perguntei admirada. Nunca tinha visto um lugar tão belo. Estávamos em cima do que parecia ser uma rocha coberta de musgo, não muito grande. A faixa de areia incrivelmente branca se estendia alguns poucos metros à frente e muitos quilômetros para os lados. Algumas outras rochas, como aquela em que estávamos, formavam uma espécie de cinturão ao longo da praia.

Uma cadeia montanhosa,coberta por arvores, formava um semicírculo atrás de nos, de modo que o único caminho para chegar ou sair dali era através do maravilhoso mar. Um mar de um azul claro com pequenas ondas que quebravam a poucos quilômetros de onde estávamos e encontrava com o oceano, quase negro, seguindo interruptamente até encontrar o horizonte. Onde o sol caía, luzes vermelhas, azuis e violetas riscavam o céu salpicado por nuvens que pareciam tão macias quanto plumas num pôr-do-sol magnífico.

O vento que agitava as ondas, as árvores e nossas roupas, trazia o cheio da brisa marítima e enchia meus pulmões de energia como os ventos de Lima nunca fizeram.

Uma beleza tão profunda e natural que eu sentia uma vontade absurda de chorar apenas pela culpa de não ser pura ou boa o bastante para ser digna de presenciar tamanha obra prima da natureza.

É um lugar que aprecio visitar quando sinto-me confuso, ou triste, e necessito pensar. Imaginei que agradar-lhe-ia.

Ele estava sentado na rocha em posição indiana, com as mãos segurando a ponta dos sapatos, admirando o pôr-do-sol com um leve sorriso.

Sua postura o fazia parecer como um menino. Puro, indefeso.

Senti meus lábios desenharem um sorriso antes de imitar a posição ao seu lado.

— Como você se chama? - Eu perguntei sem tirar os olhos das ondas quebrando na arrebentação. A julgar pela mancha levemente mais escurecida da região, deveria ter um pequeno recife de corais ali.

Acredito que, na sua língua, a tradução mais adequada seja algo como Levy.– A voz ecoou, tranquila, em minha cabeça.

O que é você? - Não sabia por que meu corpo e minha mente pareciam tão relaxados com o fato de manter uma conversa que, aos olhos dos de fora, era unilateral, enquanto a voz dele sai da minha cabeça e não seus lábios imóveis. Sem esquecer como magicamente saímos do banheiro de uma escola pública para uma praia incrível em milésimos de segundo.

Já disse-lhe isso, Lucy. Sou um anjo guardião. Seu anjo guardião.

— Isso é loucura. É irreal.

Loucura, talvez. Irreal, não. Se crê, tudo é possível.

Os minutos se arrastaram em silêncio entre nos. Eu queria saber o que estava acontecendo comigo. Ter respostas, mas tinha medo delas.

Levy deu um suspiro profundo.

Contar-te-ei tudo o que precisas saber, Lucy. Nada mais. Compreende?

Acenei positivamente, fechando os olhos.

Todos os seres humanos descem ao plano terrestre com um anjo guardião. Este anjo tem o dever de zelar por sua alma e evitar que sofra danos irreparáveis, seja por descuido do próprio humano, seja por tentativas das forças ocultas. Ao anjo cabe apenas observar, cuidar e proteger. Jamais interferir.

“Todo humano possui alma e coração puros, imaculados, dados por Ele no momento de sua criação. Com o passar do tempo, os humanos esquecem seus verdadeiros objetivos e valores dados por Ele. Neste momento as forças ocultas buscam de todas as maneiras corromper-lhes a alma para que a esta jamais seja permitida a entrada no reino de Deus outra vez.

“Um anjo guardião nada pode fazer se o caminho da perdição o humano, por sua livre vontade, escolher. Cada desvio cometido trará à alma dor, sofrimento e solidão, cabe ao anjo tentar evitar que a agonia a deturpe. Uma alma maculada significa coração impuro. Aos corações impuros, negada será a paz divina. Condenados ao castigo do submundo serão por todo o sempre.

“Porém, raras vezes, por mais danos que sofra, a luz da bondade e da salvação, dada pelo Senhor, continua a existir na alma e no coração maltratados, mesmo que sob grossas camadas de angústia, ira e dor. À esta alma é dado o nome de Espírito Guerreiro. Um espírito capaz de lutar, por Ele, contra as forças ocultas e garantir o equilíbrio em todos os planos.

“Seu coração e alma muito sofreram, Lucy. Danos quase incuráveis que, por mim, não puderam ser evitados. Todo mal que em ti caiu, foi por ti procurado.

“Os humanos possuem algumas sabedorias que admiro e respeito. Aquela que corresponde mais corretamente à capacidade de humana de destruir à si mesmos, é que a mais vezes se torna verdade: ‘A cada vez que apontas um dedo para o outro, três dedos apontam para ti.’ Cada momento de dor que aos outros causaste. Cada alma por ti enfraquecida. Cada ato por ti cometido, que lhe desviou do caminho da bondade, fê-la golpear a própria alma com mais intensidade. Uma alma qualquer há muito teria sucumbido e o castigo eterno seria o destino.

“Tua alma e coração à tudo suportaram sem que a luz jamais se apagasse. Teu coração e alma, por mais danificados, são tão puros como quando desceu ao plano terrestre. Você, criança, é um Espírito Guerreiro e a ti uma segunda chance foi concedida.

“Minha missão, agora, é guiá-la e ajudá-la a reparar todo mal que causou e, por isso, podes me ver. É seu dever perdoar e conseguir o perdão por todas as suas transgressões. Faça isso, será salva. Dê à Ele uma razão para ser digna de sua morada. Dê a todos aqueles que ama uma razão para ser alegremente lembrada com amor e não pesarosamente esquecida com rancor.

Cada palavra que ecoava em minha mente era como um soco no estomago. Era como se finalmente o martelo tivesse batido e o julgamento havia sido ‘Culpada’.

O que eu poderia esperar? Já fiz tanto mal a tantas pessoas que é uma surpresa não estar ardendo no inferno agora mesmo.

Uma pequena chama de esperança começou a brotar quando ele terminou.

Um Espírito Guerreiro? Eu nunca tinha ouvido falar disso. Seja lá o que for, é minha única chance. Não quero ser castigada pela eternidade.

— O que devo fazer? - Eu olhei em sua direção. O par de olhos azuis que me analisava se estreitou com a pergunta.

É isso? Não vai esbravejar? Xingar? Tentar me bater? Convencer-me que estou louco? Nada?

— Como é? - Eu perdi alguma coisa?

Eu. Não. Acredito. Tinha preparado todo um discurso para convencer-lhe. Até efeitos especiais com trovões, luzes e ameaças caso tirasse-me a paciência. Acabaste com toda a gloria e magnitude do momento.– Levy havia pulado da rocha e andava de um lado para o outro na areia agitando os braços.

Espere aí.– Levantei de súbito quando entendi sua revolta. — Você estava planejando me dar outro susto de morte e se divertir às minhas custas? - Minhas mãos estavam fechadas em punhos nas laterais do meu corpo e meu rosto estava quente, vermelho de raiva.

Enxerguei vermelho quando Levy virou-se para mim e um enorme sorriso debochado se desenhou em seu rosto.

Alguma coisa eu tinha que ganhar depois de ter que aturar seu mau gênio e suas birras infantis durante todos esses anos. Nunca em meus quase 700 anos tive uma protegida tão petulante e desrespeitosa com os presentes que o Senhor lhe dera. Se pudesse envelhecer, já estaria de cabelos brancos por vossa culpa.

Eu pulei em cima dele tentando acertar qualquer parte do seu corpo. Ele nem sequer tentou me impedir.

Sabe, podes fazer isso para o resto da vida se quiseres, mas saiba que, como um ser elevado, nada posso sentir.

Soltei um grunhido de raiva antes de lhe dar as costas e sair marchando pela areia.

— EU QUERO VOLTAR. AGORA! - Gritei para ele, sem me virar.

No instante seguinte, senti o puxão no estomago outra vez e, quando me dei conta, estava de volta ao banheiro do McKinley. Suja de slushie, de frente ao espelho, ofegante, meu reflexo me encarava com os olhos arregalados.

Sozinha.


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Notas finais do capítulo

Eu estava com muitas dúvidas sobre este capítulo, por isso demorei para postá-lo. Procurei fazer alguns ajustes, mas o resultado final continuou o mesmo.
Espero que tenha gostado.
Se alguma parte tiver ficado muito confusa é só me avisar.
;)



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