Rua sem saída escrita por Cecília Tomas


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez, finalmente, consegui postar dois capítulos na mesma semana! Uhul!! rs
Espero que gostem, boa leitura sempre!



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Capítulo 4

– Vamos morrer! - gritei com ela e também fechei meus olhos, esperando que acontecesse o melhor. De repente ouvimos alguém abrindo a trinca da porta, o que me faz se arrepiar da cabeça aos pés. Começo então a abrir meus olhos vagarosamente e quando os abro de supetão, vejo que está tudo em seu devido lugar, a não ser pelas janelas ainda abertas e minhas coisas ainda jogadas no chão, com as folhas dos meus cadernos balançando fortemente devido ao vento.

– Ei... parece que não houve nada, que... surtamos - disse para Amanda, que começou a abrir seus olhos também como eu, bem devagar e depois de ver apenas as coisas meio embaçadas, abriu-os rapidamente e percebeu que eu não era a única louca ali, pois ela também tinha visto a casa de cabeça para baixo, toda bagunçada.

– Isso é... - Ela parou de falar assim que viu a empregada entrando pela porta, com muita dificuldade devido a quantidade de bolsas que tentava carregar. - Maria, essa é minha amiga... - Ela parou, pois deve ter esquecido meu nome.

– Sou Natasha, prazer.

– Quer ajuda? - oferece Amanda, provando para mim que só por ser filha de ricos não queria dizer que necessariamente precisava ser fútil e sem humildade. Que se preocupava com os outros, muito diferente de mim. Que percebi que só se preocupava comigo mesma, o que me deixou com certa infelicidade.

Amanda se desvencilhou de nosso abraço, o que deve ter sido estranho para a empregada, e seguiu até a porta, ajudando Maria a carregar as sacolas até a cozinha.

Agachei-me no chão e comecei a pegar meus livros, meus cadernos, meu estojo e minha mochila, além do meu celular, que também estava caído no chão estranhamente.

Por que a casa toda parecia desvirada? Por que só as minhas coisas continuaram caídas no chão? O que será que aconteceu?

Clico no botão de desbloquear do meu celular. A tela demora a acender e quando acende, tudo que ela consegue mostrar em seu último sinal de vida é a mesma frase, repetida várias vezes, de várias cores, tamanhos, mas na mesma caligrafia estranha em letra de forma: "Me salve".

Começo a me preocupar com tal frase. A brincadeira estava ficando mais séria, esses surtos, essas coisas que estavam acontecendo estavam me deixando mais e mais preocupada com a minha "viajem de volta ao passado". Seja lá o motivo, a Amanda deveria estar certa, eu precisava ajudar alguém.

♦♦♦

Tento de todas as formas salvar meu celular, mas pelo jeito aquele foi realmente seu último sinal de vida. Carregador para ele nesse tempo não tem, com certeza não, mas acho que esse não é o motivo, meu celular estava totalmente carregado, pelo que eu me lembro de daqui a quatro anos.

Não aguentava mais esse insano dia de aniversário. Também não aguentava esse frio da cidade de São Paulo. Amanda me emprestou um de seus casacos, que no caso ela tem vários, mas não estava adiantando, pois hoje eu havia decidido ir de short jeans para a escola, por quê? Por que logo hoje?

Ela também não tem o meu tamanho, é muito mais magra e disse que a sua mãe não gosta de calça jeans, então nem adiantava procurar no armário dela.

Estávamos na portaria de seu prédio esperando seu tal amigo que ela me disse que se chama Hugo, que é lindo, que tem uma paixão escondida por ele e que não adianta o quanto ele seja o inverso dela, goste de esportes e odeie rock e metal, ela o ama, mas por enquanto não quer dizer nada, quer continuar o conhecendo mais e mais, continuar o admirando apenas como sua melhor amiga, como ele próprio diz que ela é.

– Como esse seu amigo demora... - reclamei de braços cruzados, balançando meu corpo devido ao frio e dando pulinhos. - Não podemos esperá-lo lá dentro não?

– Claro que não, nós não vamos ficar em casa mesmo, no que adianta esperarmos ele sentadas na portaria? Ficaríamos com preguiça de sair.

– Mas está frio... - repudiei.

De repente, um garoto de olhos castanho claro e cabelos negros meio compridos desfila ao atravessar a rua. Os caros pareciam que só haviam parado para ele passar, pois ele nem parecia interessado em checar se o sinal estava aberto ou não. Suas mãos estavam nos bolsos da calça jeans preta, seu cachecol cinza parecia enforcá-lo, mas na verdade só o deixava parecer ainda mais bonito.

E ele sorri, sorri ao ver a Amanda, o que me faz associá-lo ao Hugo e toda a minha excitação em finalmente ter encontrado um cara que me fizesse suspirar murcha no meu interior e parece morrer, acabar, parece que nunca aconteceu, mas deixa uma tristeza enorme em meu peito.

Ele a abraça e a envolve, como eu gostaria de ser envolvida por ele, depois olha para mim, que viro a cara e volto a encarar a rua. O sinal já fechou e consigo finalmente voltar a ouvir o barulho dos carros, que pareceu terminar assim que o vi.

– Hugo, essa é a Natasha, que eu te falei - disse Amanda apontando para mim, toda sorridente. - Seja gentil, Nat, comprimente o Hugo.

Eu não queria olhá-lo novamente, mas também não queria que ele pensasse que sou mais estranha do que ele já deve ter pensado que sou após saber que vim parar aqui do nada.

– Prazer - digo para ele, sem descruzar meus braços e apertar a sua mão, logo depois volto a encarar a rua, com as bochechas rosadas de nervosismo e de vergonha.

Estava parecendo a minha irmã, vermelha como um tomate toda vez que era apresentada a alguém.

– Então... vamos para onde, Nanda? - pergunta ele após o furo que o dei, não apertando sua mão que estava até estendida em minha direção.

– Não sei, que tal irmos no Zack's apresentar o nosso restaurante favorito para a Natasha emburrada por causa do frio? Lá é quentinho, Nat! - disse Amanda, ainda sorridente.

Ainda bem que ela pensava que eu só estava emburrada devido ao frio e não pelo simples fato de ter tido uma quedinha pelo amor de sua vida.

– Tudo bem para mim - disse finalmente virando-me na direção deles.

– Tá vendo, ela até se animou quando eu disse que lá é quentinho!

E seguimos pela rua na direção desse tal de Zack's, eles na frente e eu atrás, talvez realmente emburrada, mas não pelo frio, por ter sido deixada de lado.

♦♦♦

– Três hambúrgueres duplo de queijo com fritas e refri! - gritou a garçonete após fazermos nossos pedidos. Estávamos sentados na mesa do canto pelo qual podíamos ver a rua, congelante e barulhenta, diferente daqui de dentro, onde eu era acolhida pelo calor do braço do Hugo, que estava sentado ao meu lado, entre eu e Amanda.

O banco a nossa frente, que ficava de costas para a rua estava desocupado. Eu que preferi sentar de frente para a rua, queria assistir aquele evento louco pelo qual estava passando, perdida em uma cidade grande, quatro anos atrás.

Estava do lado de um garoto que roubou meu coração só em atravessar a rua. Ele se mexia enquanto ria e conversava animadamente com Amanda, alisando seu braço no meu.

Tínhamos tirado nossos casacos assim que entramos, pois aqui realmente era quente e calmo, diferente da barulheira que era lá fora.

Os músculos de Hugo sobressaíam-se na camisa dele. Seu cachecol em cima da mesa em frente a mim, que me dava vontade de pegar e agarrar, senti-lo como eu pudesse.

Ai, mas que raiva que estou de mim agora! Que raiva! Por que ele tinha que ser logo a paixonite da Amanda? E por que eu estava me importando com isso, sendo que eu só a conheci hoje, não sei nem seu sobrenome ou sua idade? Por quê?

Tudo bem que ela me cedeu sua casa, um suco de morango maravilhoso e muita diversão enquanto jogávamos um jogo lá antigo para passar o tempo enquanto Hugo não podia sair conosco pois estava em seu treino de Lacrosse.

Ela ainda estava me ajudando a descobrir como e por qual motivo eu vim parar aqui, me acolhendo como se eu fosse sua amiga de longa data, dando-me até apelidos fofos, como Nat, Sasha, entre outros muito loucos pelo qual ela me chamou a tarde inteira...

Isso só me fazia voltar a questão de: Por que aquele deus grego tinha logo que ser a paixonite da Amanda? Logo dela, que disse para mim todos os prós para gostar dele. Sua jogada de cabelo sensacional, seu jeito de andar maravilhoso, que eu já havia visto e aprovado dando nota dez, claro, além de seu jeito de consolá-la quando seus pais brigam e ela tem que ir para a casa da tia, que ela disse que já aconteceu muitas vezes e que é uma coisa pequena que faz seu mundo desabar, mas que só não a faz desistir de viver pois ele está lá, ao seu lado, apoiando-a sempre.

Tem como não se apaixonar? Além de lindo, com um sorriso super brilhante e galanteador, ainda é preocupado, coisa que eu jamais seria.

Ela tem razão em gostar dele, muita razão...

Nossos sanduíches chegaram. Não temos lanchonetes muito famosas como essa lá em Volta Redonda. No máximo é uma lanchonete móvel, que é montada toda sexta na praça e que só vende cachorro quente. Os refrigerantes borbulhavam de tão gelados, as batatas fritas deixavam marcas de óleo no papel fino que havia sobre a bandeja, para evitar de sujá-la e os sanduíches, assim que abríamos as caixas de papelão onde vinham, nos deixavam boquiabertos devido a beleza que era ver aquele queijo derretido em cima do alface, da carne e de muitas outras coisas indecifráveis, mas que faziam o sanduíche ser delicioso.

Dei uma primeira mordida, estava morta de fome, ficamos a tarde inteira jogando e conversando que esquecemos de comer algo ou pelos menos pedir uns petiscos para a empregada, queria saboreá-lo, comendo vagarosamente, mas fui proibida de mastigar assim como queria, pois Amanda me chamou no meio da conversa animada que estava tendo com Hugo.

– Sasha, você já foi num jogo de Lacrosse? O Hugo vai jogar nesse fim de semana, poderíamos ir vê-lo.

– Nunca fui e pretendo já estar em casa nesse fim de semana.

Era uma segunda-feira, segunda-feira! Cinco dias até o fim de semana, é claro que não pretendia ficar tanto tempo assim longe de casa, dependendo do dinheiro e da caridade que a Amanda estava me proporcionando, abastecendo-me com tudo que era de mais caro, como esse restaurante. Não queria ser incômoda e muito menos gastadeira.

– Mas ainda há muita coisa para descobrirmos... contamos agora com a ajuda do Hugo, que pode pesquisar sobre você no computador, vai que você veio de um mundo paralelo e não existe nada sobre você na internet?

– Eu tinha onze anos, não tinha orkut ou nada do tipo e quer algo mais fácil de ser encontrado sobre mim mesma do que na minha casa? Na minha cidade? Aqui não vamos conseguir nenhuma pista sobre minha vida.

– Se você pensa assim... Mas eu só acho que você foi enviada para cá por algum motivo, como eu disse, de salvar alguém ou algo assim, então se você prefere voltar a sua cidade, você que sabe...

Infelizmente ela tinha razão, eu teria que aguentar ficar do lado do Hugo por mais alguns dias, pelo menos até descobrir algo sobre eu ter vindo para cá.

– Ok... você venceu, eu vou ficar, mas só até eu descobrir porque vim parar aqui, depois disso, pretendo ir embora o mais rápido possível.

Amanda então volta a conversar com Hugo e começa a comer seu lanche, aceitando que eu realmente estava com raiva e nem um pouco afim de conversa, deixando-me isolada com meus pensamentos sobre Hugo e o quanto eu devo me afastar dele.


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Notas finais do capítulo

E então? Nem eu me lembrava de ter escrito isso, sério, rsrs
Até o próximo!
Se gostaram ou não, comentem dizendo o que precisa ser melhorado ou para me lembrar de qualquer erro ortográfico, ok? Não fiquem acanhados!
Beijos ;*



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