~Hermione

Nós passamos a noite ali mesmo, no pequeno terreno baldio do shopping, para que eu pudesse me recuperar da queda. Eu estava com um ferimento feio na nuca, que já havia parado de sangrar mas ainda doía. Quando nós acordamos, nós aparatamos para a floresta em que eu havia me escondido com Harry durante a guerra.

Depois da pressão típica de quando se aparata, nós nos vimos num lugar coberto de neve, cheio de árvores sem folhas e sem frutas. Foi aí que eu percebi o quanto ruim era a nossa situação.

Nós estávamos sem um lugar para ficar, sem água, sem comida e sem casacos.

A real era a seguinte: ou nós morreríamos de fome, ou de sede, ou de frio, ou em Azkaban. Nenhuma das possibilidades me agradava muito.

– Olha Mione, me desculpa, por favor.

– Por que?

– Isso é culpa minha. Eu sei que você também percebeu que se não dermos um jeito rápido nós morreremos.

– Qual é, Draco, isso não é culpa sua.

– É claro que é. Fui eu quem te liguei naquela manhã. Fui eu quem colocou você no meio disso.

– Olha só, me colocar no meio disso foi a melhor coisa que você já fez. Eu te ajudei por que eu quis, e faria de novo. Eu te amo, Draco. Nada vai tirar isso de mim.

Ele me abraçou forte, e sentir o calor do seu corpo contra o meu me fez ter alguma esperança de que nós poderíamos sair dessa vivos.

– Como você pode me amar? Eu nunca fui uma pessoa boa, eu te meti nisso, e ainda assim você continua gostando de mim.

– Você pode nunca ter sido uma pessoa boa. Mas você mudou. Olha por quanta coisa você me ajudou a passar. Olha o quanto bom você foi pra mim. Sabe, eu li em um livro que todo mundo tem o direito de fazer as suas próprias escolhas. Eu fiz as minhas, eu escolhi você, eu escolhi amar você e eu não me arrependo disso, ok?- lágrimas começaram a escorrer dos olhos do Draco.

Depois de um tempo, ele me beijou. Me beijou como se fosse a última vez.

– Eu te amo Mione. Eu te amo tanto. Nós vamos dar um jeito, nós vamos consegui. Eu não posso perder você.

– Olha Draco, eu sei que é arriscado, mas nós não temos escolha. E se a gente aparatasse um pouco antes da casa e antes de entrar nós conferíssemos se tem algum auror, sei lá.

– E a gente faz uma mala com o necessário e sai de lá logo depois.

– Exatamente.

– Pode funcionar, não custa tentar.

– Então, vamos agora ou vamos esperar mais um pouco?

– Acho que nós não temos como esperar, né?

Eu estendi a mão pra ele segurar, para que pudéssemos aparatar. O puxão de sempre e nos vimos na praia deserta.

– Nós estamos a quanto tempo da casa?- perguntou Draco, olhando ao redor.

– Não muito. Vamos andar com cuidado até lá.

Eu comecei a andar, então senti uma mão segurar meu braço e me puxar pra trás. Eu me virei e logo depois um beijo. Era o Draco.

– Caso alguma coisa aconteça lá dentro.

– Nada vai acontecer lá dentro- eu sorri e lhe dei mais um beijo.

Andamos devagar sem fazer nenhum barulho por uns cinco minutos até a casa entrar no nosso campo de visão. Havia dois aurores parados de guarda na porta da casa. Nós paramos e nos afastamos um pouco, nos escondendo atrás de uma pedra, de modo que nós pudéssemos vê-los, mas eles não pudessem nos ver.

– E agora? Como passamos por eles?- falou Draco, numa voz quase que inaudível.

Apontei para a janela dos fundos.

– Vamos tentar entrar por ali, não devem ter aurores dentro da casa- sussurrei.

Nós andamos com muita cautela, nos escondendo entre as rochas e tentando não chamar muita atenção. Conseguimos chegar à janela sem sermos vistos, o que já era motivo de comemoração. A janela estava aberta, mais uma vitória.

Espiamos dentro da casa. A sala estava vazia. Acho que eles não esperavam realmente que nós fossemos voltar, então abaixaram a guarda. Nós conseguimos entrar sem fazer barulho e subimos a escada com muita cautela para pegar uma mala e roupas, cobertores, uma barraca e outras coisas, para depois pegar a comida na cozinha e sair pela mesma janela. Ou seja, nós já tínhamos um plano bolado.

Por sorte a escada resolveu colaborar e não fez barulho. Entramos primeiro no meu quarto para pegar uma mala. Eu fiz um feitiço para que pudéssemos colocar mais coisas nela. Pegamos minhas roupas, o máximo possível de casacos, alguns livros e a barraca que por sorte mesmo eu havia levado para a casa.

Depois fomos ao quarto do Draco. Pegamos as roupas, os casacos e lençóis, colchões, travesseiros e essas coisas. Descemos as escadas e pegamos a comida e algumas garrafas de água. O que tínhamos não era o suficiente para muito tempo, mas nós poderíamos administrar bem a comida e fazê-la durar um pouco mais. Foi aí que o plano começou a ir por água abaixo.

Eu abri o armário debaixo da pia da cozinha para pegar umas comidas enlatadas, e quando eu puxei uma lata de sopa, uma panela que estava em cima dela caiu no chão. O barulho foi alto o suficiente para ser ouvido do lado de fora da casa. Logo eu me levantei, fechei a mala e peguei na mão do Draco para aparatar, mas não fui rápida o suficiente.

Os aurores entraram e assim que nos viram começaram a lançar feitiços contra mim e contra Draco. Eu puxei minha varinha e comecei a lançar feitiços contra eles, enquanto Draco desviava dos feitiços como podia.

– Draco, pega a mala e foge! Aparata para a floresta! Eu te encontro lá! Rápido!- eu gritava em meio ao som dos feitiços.

– Eu só vou se você for- ele gritou de volta.

– Segura na minha mão e leva a gente pra lá! Pega a mala também!

Eu continuei desviando dos feitiços e lançando outros até que uma pressão forte me atingiu e o lugar sumiu.

Nós estávamos na floresta de novo. Estávamos salvos. Eu não me segurei e abracei Draco. Abracei tão forte que nós caímos na neve e eu comecei a beijá-lo muito.

Depois de alguns minutos nós nos levantamos e começamos a montar a barraca. O sol estava no céu, bem fraco, quando nós acabamos. Era hora de arrumar tudo lá dentro e se preparar para uma vida nova.