O Diário de Charlotte McTaylor escrita por Charlotte Ramsey


Capítulo 1
Minha vida de cabeça para baixo




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Dia 17/09

Charlotte McTaylor

Este diário foi presente de meu pai quando eu tinha 10 anos, estou disposta a escrever nele para contar o que está acontecendo nas últimas semanas.

Sou reservada e impulsiva. Quando estou nervosa falo tudo o que vem na minha frente e faço tudo por impulso.

Meu pai sempre foi o homem mais próximo de mim, o amei muito mais que minha mãe, era sempre rígida e infeliz.

Nós três fomos um dia a um piquenique, ela jogou toda nossa comida no gramado por conta de eu e meu pai termos comido um salgadinho Cheetos antes dela. Naquele dia meu pai brigou tanto com ela, que ao invés dele ir dormir no sofá, ela que foi.

Oh pai, que saudades que eu tenho do senhor, eu te amo tanto, você era meu porto seguro, o refúgio para quando eu estava triste. Nós dois riamos muito, cada gargalhada ao seu lado era mais um momento bom em minha vida, você era o único que não tratava minha mãe como uma rainha e sim como gente. Ficávamos zombando da Maeve o tempo todo, acho que eram as coisas que eu mais amava em fazer. Você sempre me guiou para o melhor caminho, e como sempre, fui indo atrás com muito medo e sempre olhando para os lados. Não sei se é adequado dizer, mas você foi o melhor pai que eu poderia ter tido. Mesmo sem você agora, eu me sinto bem em ter tido a sorte de o senhor ter me adotado, mesmo tendo que aturar a Maeve agora, agora sem você.

Muitas coisas veem acontecendo de uns meses para cá, tentarei descobrir o que foi necessário para por esse canalha na cadeia. Sem medo entregarei seja quem for à polícia. Tenho uma vida tão atordoada desde quando ele foi embora. Acho até que estou depressiva, ninguém liga, agora sou apenas a garota órfã que é praticamente sem-teto. Choro todos os dias. Olheira é pouco para o que tenho abaixo de meus olhos.

Quando olho no espelho vejo meu pai atrás de mim dizendo o quanto eu precisava de uma escova de dente nova. Eu não dava a mínima para quando ele fala das minhas escovas, mas hoje vejo o quanto necessito de uma escova nova. Não vejo mais prazer na vida, o prazer do meu viver era o meu pai ao meu lado.

Tenho 14 anos. Não sou uma garota aceita na sociedade, nem em minha família. Agora todos me criticam e me odeiam. Sabe por quê? Fui adotada. O único que me aceitava era meu pai. Ele “morreu” há duas semanas e a única que chorou de verdade foi eu, minha “mãe” torcia todos os dias antes dele “morrer” para que ele falecesse. Até hoje creio no fato de que ela tenha assassinado meu pai só para ter a herança dele.

Minha mãe e meus supostos irmãos foram dois dias depois do velório de meu pai na justiça ver sobre a herança dele. Agora me diz que isso não parece esquisito? Para mim parece. Minha mãe chegou à casa toda feliz. Disse que meu pai tinha deixado TUDO, absolutamente TUDO para ela, mas eu sei que não, meu pai já não amava mais ela, não seria possível ele deixar tudo assim, de mãos beijadas. Ela disse que ele deixou uma suposta carta para ela e para meus irmãos. Mas nada para mim. Na carta dizia: “Querida família, queria falar sobre minha herança, já estou ficando idoso e querendo ou não tenho que dizer para quem quero que fique tudo o que é meu, então, quero que fique com minha esposa querida, a que eu tanto amei, e para meus dois filhos homens, minha casa em London e meu dinheiro bancário; beijos e abraços pra minha família amada.”

Olha, sinceramente, meu pai odiava a Maeve, ele queria a separação, mas ela não. Ele sempre me dizia o quanto me amava que queria que as coisas dele ficassem para mim e para meus irmãos, porque querendo ou não querendo, eles eram os filhos dele também, e cá em nós, ele NUNCA deixaria tudo para ela. Meu pai não era de falar assim, dócil com ela, ainda mais em uma carta.

Eu estava procurando no escritório dele, alguma coisa que pudesse me favorecer, não que eu queira o dinheiro dele, não quero, mas não quero também ver a Maeve roubar meu pai assim. Procurei e achei uma carta, atrás dela dizia: “Para a minha flor rara.”. Seria quase impossível eu não abrir aquilo. Uau, flor rara? Fiquei até com ciúmes! Resolvi então abrir, nela falava: “Minha querida filha; estou enfrentando uma crise no casamento com sua mãe, peço que você tenha paciência com ela. Vejo a verdade em seus olhos, vejo o amor adotivo por mim. Tomará que enfrente tudo o que acontecerá com muita naturalidade, não faça nada contra sua mãe, e contra a sua vontade, querida, eu só peço que você seja feliz, e que largue dessa vontade maluca de ir morar sozinha. Aconteça o que acontecer fique com minhas casas fora da cidade, eu te amo muito.” Papi Nick sempre dizia o quanto via a verdade em meus olhos, via que eu amava ele verdadeiramente. Mas ainda não consegui decifrar, parecia que ele já sabia que o mal poderia o acontecer, mas como eu encararia aquilo com naturalidade? Isso é mesquinho porque a morte dele não acontece todo dia e não teria como eu escarar àquilo numa boa. E eu não vou largar NUNCA de querer morar sozinha, ainda mais agora que ele se foi.

Eu amo a letra dele, redonda, suave. Ela me enfeitiça, me deixa calma, era exatamente como sua voz. Eu disse para meus irmãos sobre a carta que ele deixou a mim, procurando uma ajuda neles, mas só achei desprezo e nojo. Eles me levaram para um psicólogo. UM PISICÓLGO? Eles estavam realmente malucos quando me levaram para aquele lugar, não sabiam o que eu poderia fazer contra eles. Mas, ocorreu tudo bem, o psicólogo me entendeu, acho que até agora foi o único. Quando voltei do Sr. Mohammed a Maeve me botou no carro e me levou para uma sorveteria. Fiquei surpresa, porém nada satisfeita. Ela me disse praticamente gritando: “Charlotte, você é a desgraça dessa família, e ainda vem me insultar dizendo que eu te contrariei, que eu menti para justiça”? “Queridinha, ele deixou mesmo uma carta para mim, tá?” Eu olhei com os olhos cheios de lágrimas para ela e disse completamente por impulso: “Eu te ODEIO.”. Falei gritando, peguei, levantei e saí correndo como a sorveteria era perto da minha casa, mas minha mãe foi atrás de mim e puxou meu braço, deu o maior sermão e por final falou que eu era uma ridícula queridinha do papai, eu olhei para a cara de animal dela e gritei bem alto com o objetivo de que o mundo ouça “CALA ESSA TUA BOCA”. Ela me olhou com os olhos arregalados e calada ficou para trás, eu segui em frente. Quando cheguei à frente da minha casa abri a porta o mais rápido possível, bati com toda a força, fui correndo subindo as escadas, entrei em meu quarto, bati a porta novamente e pulei na cama, fiquei pensando por um tempinho até quando eu teria que suportar aquilo. Quando ela chegou a casa também bateu a porta e gritou “CHARLOTTEEEEEEE”, eu levei um baita susto, abri a porta bem devagar, olhei para fora da porta, e ela continuava a me chamar, comecei a descer as escadas muito devagar e meus irmãos, curiosos, foram todos atrás. Maeve falou o quanto eu era irresponsável e medíocre, completamente nojenta. Disse para meus irmãos para me levarem para bem longe, eles me levaram para a casa de uma prima, que eu nunca havia visto na vida.

Ela é bonita, paciente e muito compromissada. Deixa-me sozinha em casa cheia de porcarias para comer, exatamente igual a meu pai. Ela tem meu sobrenome “McTaylor”, se chama Avery McTaylor, tem 19 anos e me adora. Estou há particularmente uma semana com ela, e já me sinto em casa. O apartamento dela é confortável, mas é bem bagunçado, do jeito que eu gosto. Ela não se importa com o fato de eu deixar as toalhas molhadas em cima da cama, e quando não guardo a louça, e as comidas. Ela é meio relaxada, mas é completamente perfeita. Seu cabelo é castanho claro comprido e super liso, seus olhos são tão claros quanto à luz do sol. Seu corpo é bem definido, tipo violão. As roupas que ela usa para sair são EXTREMAMENTE lindas, apesar de não fazerem meu estilo.

Faz mais de uma semana que não como comida caseira, eu adoro isso. Antes era aquela gororoba da minha mãe, não quero fazer desfeita, mas era super nojenta, combinava com ela. Comemos muito hot dog, praticamente todo almoço, é super gostoso, e me satisfaz demais. Avery é a pessoa mais perfeita que eu já vi, suas unhas são compridas e quadradas, ah, é de dar inveja.

Mas voltando ao seu apê, ele tem tudo o que uma pessoa precisa, tem coisas aqui que nem eu, e muito menos ela sabe para o que serve. O quarto de hóspedes onde eu estou dormindo é lindo, e ela me deu $100 dólares para gastar em enfeites no quarto, agora ele está exatamente a minha cara, com luzes que piscam, tem quadros monstruosos, e muitos livros, os livros que meu pai escrevia. Na suíte dela tem uma mega cama, a cama dela é realmente gigante. Esses dias ela me convidou para dormir junto com ela, e vimos uns filmes. Eu escolhi o favorito de meu pai, Sempre ao seu lado, eu chorei, não só pelo filme que emociona qualquer um, mas porque me lembrei do cachorro que meu pai tinha, minha mãe doou ele para alguém quando não estava em casa. Eu chorei muito mesmo naquele dia, não gritei com ela, nem nada, mas minha vontade foi grande.

Ela me faz rir como meu pai, talvez porque eles são da mesma família, os McTaylor são sempre alegres e sua alegria contagia as pessoas ao redor.

Falando nela, acabou de chegar e trouxe lanches.

Espero poder escrever novamente.

18/09

Olá diário...

Tenho más notícias. O conselho tutelar bateu na porta da casa da minha mãe, querendo saber onde eu estava. Acho que a Avery entregou meu caso para polícia, pensou que iria me ajudar, mas só piorou meu estado. Eles disseram que iriam entrar com isso na justiça, para ver com quem eu ficaria. E que eu teria que voltar para meu devido lugar, minha casa. Ninguém quis ouvir meu lado, tudo porque sou menor de idade, queria muito poder falar com quem eu queria ficar.

Dia 23 eles irão decidir tudo isso, eu vou me meter, eu vou querer falar, sem medo. Sempre fui assim, vou fazer isso pelo meu pai. Que falta que me faz falar com meu pai, desabafar com ele. Queria contar para ele o que está acontecendo.

Amanhã vou voltar para casa, vai ser insuportável olhar para o rosto da Maeve, eu realmente a odeio, ainda mais sabendo que ela me suportou todos esses anos porque meu pai queria minha guarda. Ela nunca quis minha existência nessa família, nem neste mundo. A gente não se suporta, não conseguimos ficar em harmonia nem por um minuto, é mesmo difícil conviver com ela.

Ela é tão nojenta, se faz sempre de vítima. Meus irmãos são todos ingênuos, caem sempre na laia dela, e sempre me culpam por tudo. Não os odeio, mas não gosto deles.

A Avery está se sentindo culpada por eu estar triste agora, ela diz que pensou que iria me ajudar. Pensou que era apenas uma briga de família e que quando eu voltasse tudo ficaria bem. Eu a entendo, entendo que ela deva pensar que minha mãe é querida e que me trata bem, mas é tudo tão ao contrário. Eu me sinto triste por ela estar chorando agora, hoje ela disse que nem iria sair para ficar comigo, disse que eu sou mesmo matura, e que foi a melhor companhia que já teve. Eu estou tentando consolar ela, apesar de que deveria ser ao contrário, eu que deveria estar chorando e deprimida. O que eu mais queria agora era meu pai me abraçando e dizendo que tudo ficaria bem como ele sempre me falava.

Não sei o que vou fazer da minha vida depois que voltar-me para casa. Dependendo do lugar, eu vou trabalhar. E na justiça quero falar, e eu vou falar SIM, nem que eu precise gritar lá no tribunal, hoje à noite quero falar com a Avery, queria que ela ficasse comigo, que ela me adotasse. Eu seria muito mais feliz.

Está ficando meio tarde, vou lá falar com a Avery e acalma-la, dizer que vou ficar bem, apesar de tudo. Depois vou ir para meu quarto e assistir “Sempre ao seu lado” novamente.

Vou tentar escrever amanhã de novo, acho bom por meus fatos aqui.


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